22/03/2018

O VALOR DA GRAMÁTICA - LITERATURA DE CORDEL - PÁDUA DE QUEIRÓZ

O VALOR DA GRAMÁTICA
ONTEM EU TIVE UM SONHO
MEU CARO AMIGO LEITOR
EM MEU SONHO VI DOIS LIVROS
DISCUTINDO SEU VALOR
DE UM LADO A MATEMÁTICA
E DO OUTRO A GRAMÁTICA
E EU ERA O MEDIADOR.
A GRAMÁTICA TÃO FALANTE
FOI LOGO PARA MIM DIZENDO:
A FONÉTICA É A MÃE DE TODAS
AS PALAVRAS QUE ESTÃO LENDO
A LETRA É O SÍMBOLO GRÁFICO
NESTE MUNDO TÃO FANTÁSTICO
E FIQUE VOCÊ SABENDO...
QUE O FONEMA É O SOM
DA LETRA NESSE MUNDÃO
UMA A UMA VIRAM SÍLABAS
E ASSIM A COMUNICAÇÃO
PRONUNCIADA E ESCRITA
TORNA A PALAVRA MAIS BONITA
DE ACORDO COM A REGIÃO.
PORQUE HÁ VARIEDADES
LINGUISTICAS E VOU LHE DIZER,
DE NORTE A SUL DO PAÍS
É PRECISO COMPREENDER
QUE O IDIOMA FALADO
NEM SEMPRE É PRONUNCIADO
TAL QUAL FORMA DE ESCREVER.
É AÍ QUE A ORTOEPIA
OU MELHOR A ORTOÉPIA
PARA NINGUÉM COMETER
O PECADO DA CACOÉPIA
TRATA DA PRONÚNCIA CERTA
ENSINANDO O POETA
E SUA LÍNGUA SERELÉPIA.
POIS NÃO É CERTO ESCREVER
E TAMPOUCO PRONUNCIAR
BANDEIJA, BENEFICIENTE,
PRÓPIO,REINVINDICAR,
LARGATIXA, MANTEGUERA,
ESTRUPO E ATÉ MANGUERA,
PRAZEIROSO E CONZINHAR.
PORÉM A PRONÚNCIA CORRETA
EU VOU AGORA MOSTRAR:
BANDEJA, BENEFICENTE,
PRÓPRIO, REIVINDICAR,
LAGARTIXA,MANTEGUEIRA,
ESTUPRO, E AGORA MANGUEIRA
PRAZEROSO E COZINHAR.
A PROSÓDIA É IMPORTANTE
E TRATA DA ACENTUAÇÃO
TÔNICA DE CADA PALAVRA
E QUEM ERRAR, MEU IRMÃO
COMETE UMA SILABADA
E PODE LEVAR PALMADA
PARA APRENDER A LIÇÃO.
PÂNTANO, ÔMEGA, ZÊNITE,
PÁDUA, GRÁCIL, REFÉM,
TÊXTIL, ÂMAGO, SÂNSCRITO,
ÁLCOOL, CÁFILA, HARÉM,
OXÍTONAS, PAROXÍTONAS
E AS PROPAROXÍTONAS
ESTUDE E ESCREVA BEM.
A GRAMÁTICA NÃO PARAVA
DE FALAR UM SÓ MOMENTO,
DITONGO, TRITONGO, HIATO
E TODO TIPO DE ACENTO,
ENQUANTO A MATEMÁTICA
OUVIA ATENTA E ESTÁTICA
OS BELOS ENSINAMENTOS.
CONFESSO QUE EU TAMBÉM
ME QUEDEI MARAVILHADO
E O VALOR DA GRAMÁTICA
ESTAVA ENTÃO COMPROVADO.
DE REPENTE A BIOLOGIA,
A HISTÓRIA E A GEOGRAFIA
SENTARAM-SE BEM A MEU LADO.
PARA OUVIR E APRENDER
AQUELA BELA LIÇÃO,
E PARA A MINHA SURPRESA
ESTENDENDO A SUA MÃO
A MATEMÁTICA LHE DISSE:
EU JÁ PENSEI EM TOLICE
MAS SÓ CALCULO A RAZÃO!
NO MUNDO DA ECONOMIA
EU POSSO TER MEU VALOR
MAS AQUI TIRO O CHAPÉU
PRA QUEM É MERECEDOR,
ATÉ ME M.D.C
NADA VALE SEM VOCÊ
"ESPADA DO PROFESSOR!"
CADA PALAVRA SUA
É MESMO PROPORCIONAL
COM A NOSSA LÍNGUA-MÃE
QUE NASCEU EM PORTUGAL
POR ISSO EU QUERO FALAR
QUE EU TENHO QUE CONCORDAR
COM GÊNERO, NÚMERO E GRAU.
FOI UMA SALVA DE PALMAS
QUE SURGIU DE TODO LADO,
ATÉ O LIVRO DE INGLÊS
FALOU MUITO EMOCIONADO
COM UM ARREGALADO LOOCK:
"YES, YES MY BOOK!"
E NINGUÉM MAIS FICOU CALADO.
ENTÃO CHEGOU NO RECINTO
UM LIVRO MUITO ANTIGO,
DIZENDO: EU SOU O LATIM.
E EU SEI QUE FOI COMIGO
QUE MUITA GENTE APRENDEU
HOJE O MUNDO ME ESQUECEU
MAS QUERO SER SEU AMIGO.
ATÉ UM LIVRO DE NOTAS
MUSICAIS FEZ SUA FESTA
TOCANDO MIL MELODIAS
COM SUA BELA ORQUESTRA.
E EU COM O MEU VIOLÃO
NAQUELE ENORME SALÃO
TAMBÉM FIZ MINHA SERESTA.
EM HOMENAGEM A GRAMÁTICA
MUITO PARECIA POUCO
PERDI O DOM DO FONEMA
CANTEI ATÉ FICAR ROUCO
DE REPENTE ME ASSUSTEI
QUANDO UMA VOZ ESCUTEI:
ACORDA MENINO LOUCO!
ESTÁS CANTANDO DORMINDO
JÁ É QUASE MEIO DIA!
ERA A VÓZ DE MINHA MÃE
QUE DISTANTE EU OUVIA.
QUE LOUCURA ESSE MENINO
O QUE PENSA DO DESTINO
QUER VIVER DE POESIA!
ERA UM SONHO,MEU LEITOR
E PARECIA TÃO REAL
MAS FOI UM SONHO, ACREDITE
UM SONHO GRAMATICAL
POR ISSO RESOLVI CONTAR
E EM CORDEL PUBLICAR
PORQUE SEI QUE AFINAL.
A GRAMÁTICA PORTUGUESA
É POR DEMAIS IMPORTANTE
E MERECE UMA ATENÇÃO
ESPECIAL NESSE INSTANTE
E NÃO É PRA SER GUARDADO
E FICAR EMPOEIRADO
NO ALTO DE UMA ESTANTE.
07.03.2004 - Pádua DE Queiroz

20/03/2018

JOSÉ LOURENÇO, O BEATO DO CALDEIRÃO - POETA PÁDUA DE QUEIRÓZ - BATURITÉ/CE

JOSÉ LOURENÇO
O BEATO DO CALDEIRÃO
No povoado de Juazeiro
Do Padre Cícero Romão
No fim do século dezenove
O povo do meu sertão
Chegou pra ver o milagre
Que ocorreu na região.
Foi a prova que o Padre
Era mesmo milagreiro
E abarrotado de gente
Ficou o seu Juazeiro
E os visitantes ficaram
Conhecidos por romeiros.
Chegou gente do Rio Grande
Do Norte e de Alagoas
De Sergipe, Pernambuco
Que acreditavam na pessoa
Do Padre Cícero Romão
Que a todos abençoa.
Ex-escravos que libertos
Não tinham onde morar,
Homens do campo sem terra
Que não tinham onde plantar
O Santo do Juazeiro
Recebeu sem protestar.
Os retirantes da seca
Homens de bem perseguidos
Homens rudes e homens dóceis
jagunços e foragidos
Na Méca do Cariri
Todos eram bem vindos.
Quem chegava tinha terra
Pra fazer sua plantação
Mas devia obediência
E a crença na religião
Não se tolerava vícios
Ou qualquer desunião.
Uma nova chance na vida
Padre Cícero oferecia
mas tinham que respeitar
Ao padre e a Virgem Maria
O fim do sofrimento
E Juazeiro crescia.
Em mil oitocentos e noventa
O Padre foi procurado
Por um paraibano que era
Filho de escravos alforriados
Chamava-se José Lourenço
E logo foi encarregado.
Em liderar uma missão
Que para o Padre era santa
Na cidade do Crato
Lá no sítio Baixa Dantas
A terra era muito árida
Porém só colhe quem planta.
Então vários flagelados
O Padre Cicero enviou
Aos cuidados de Lourenço
Que aquela causa abraçou
E em pouco tempo as terras
Do sítio então prosperou.
Isso despertou a fúria
Dos fazendeiros dali
Devido a facilidade
Que passou a produzir
Legumes de todo jeito
Milho, arroz, fava e pequi.
José Lourenço cuidava
Com muito zelo de um boi
Que o Padre Cicero lhe dera
E bem cuidado ele foi
Mas espalharam um boato
E prenderam Lourenço depois.
Por fazer naquele sitio
O pecado da idolatria
Cultuar um boi é pecado
Era mais que heresia
Dizer que o boi era santo
E até milagre fazia.
José Lourenço ficou
Conhecido por “beato”
Não sei se por sua fé
Ou por causa daquele fato
E do Sítio Baixa Dantas
Partiu pro rumo do mato.
Levando toda a sua gente
Com a mesma intensão
Plantar a terra e depois
Dividir com seu irmão
Se instalaram na localidade
Chamada de Caldeirão.
Pertencia ao Padre Cicero
Homem “santo, admirável”
E o Caldeirão se tornou
Logo autossustentável
Porém as perseguições
Já estava insuportável.
Mesmo com a proteção
Do Santo do Juazeiro
Que doou aquelas terras
Para o beato romeiro
Sempre eram atacados
Por ordem dos fazendeiros.
Quando em mil e novecentos
E trinta e quatro morreu
Cicero Romão Batista
O pior aconteceu
Mais um inimigo do povo
Na questão apareceu.
Eram os Salesianos
Da mesma congregação
Do Padre Cicero e herdeiros
Que exigiram ação
Do governo federal
No caso do Caldeirão.
Já que o beato não tinha
A documentação da terra
A justiça simplesmente
Sem dar ouvidos encerra
As negociações com o povo
Iniciando uma guerra.
Pois alegava o governo
Que após um logo estudo
Temiam que o Caldeirão
Tornasse uma nova Canudos
Invadiram o Caldeirão
Para acabar de vez com tudo.
Foi no ano trinta e sete
Pela a terra e pelo ar
O governo federal
Botou para massacrar
Utilizando aviões
Pra de vez exterminar.
Mais de mil seres humanos
Brutalmente assassinados
O governo de Getúlio
Mais uma vez foi machado
Com o sangue de inocentes
Naquele solo encharcado.
José Lourenço não foi
Morto como conselheiro
Fugiu para Pernambuco
Sem comida e sem dinheiro
Por dedicar a comunidade
Seu trabalho e caridade
E a fé no Santo Romeiro.

Poeta Pádua de Queiróz
BATURITÉ/CE 20.03.18
Com afeto e gratidão ao amigo Jorge Portela aluno do Curso de História da UECE(Universidade Estadual do Ceará)

16/03/2018

AJURICABA - O TUXAUA DOS MANAÓS - PÁDUA DE QUEIRÓZ



AJURICABA - O TUXAUA DOS MANAÓS

Nasci em Baturité
Interior do Ceará
Eu já morei no Amazonas
Porém hoje vivo cá
Quero contar prazeteiro
A história de um guerreiro
Que um dia escutei por lá.

Seu nome era Ajuricaba
Tuxaua dos Manaós
E mesmo sendo nativo
Da terra de seus avós
Pagou com a própria vida
A invasão desmedida
Do lusitano algoz.

Foi entre mil e setecentos
E vinte e três e vinte sete
Que as lutas ocorreram
Como até hoje repete
De uma forma diferente
De gente oprimindo gente
Onde só ódio reflete.

Manaós significava
Simplesmente mãe de Deus
Os Manauaras viviam
Ali felizes com os seus
Na mais perfeita harmonia
Sem saber que existia
Portugueses Fariseus.

João da Maia da Gama
Governador do Grão-Pará
Autorizou uma expedição
No intuito de capturar
Os nativos da região
Para trabalhar na extração
Da madeira do lugar.

A madeira da floresta
Era de grande valor
Abastecia a Europa
As custas de muita dor
A coroa portuguesa
Contra a Mãe Natureza
Não teve respeito e amor.

Estratagemas usados
De tudo quanto foi jeito
Chegavam dando presentes
Ensinavam os preceitos
De uma nova religião
E após a conversão
O nativo era sujeito.

De abandonar sua crença
Casamento entre raças
Depois eram escravizados
Pra trabalharem de graça
Mas o chefe daquela gente
Também era inteligente
E assimilou a trapaça.

Era o grande Ajuricaba
Chefe daquela nação
Que consultou o seu povo
E decidiu dizer não
Expulsou os invasores
Portugueses opressores
Daquele sagrado chão.

Foram várias expedições
Batalhas foram travadas
Ajuricaba , seu reino
Não abdicava por nada
De um lado pólvora no ataque
Do outro flecha e tacape
E várias vidas ceifadas.

Entre eles Cucunaça
Filho do grande guerreiro
Foi na quarta expedição
Do invasor estrangeiro
Ajuricaba sentiu
Quando seu filho caiu
Pra não viver em cativeiro.

O Tuxaua Manaós
Não perdeu a esperança
De ver o seu povo livre
Sob sua liderança
E se entregou a batalha
Se fez forte, foi muralha
Resistiu ante a matança

Mais de quinze mil nativos
Jaziam diante o fogo
Da guerra ceifando vidas
E a vida sobre o refogo
Até que o inimigo
Num momento tão fadigo
Enfim venceu o seu jogo.

Ajuricaba foi preso
E levado para Belém
Junto com dois mil nativos
Acorrentados também
Onde seria julgados
E depois executados
Assim para o próprio bem.

Da coroa portuguesa
Que já estava apreensiva
E embora armada e forte
Penou contra a defensiva
Daquele povo tão rude
E que tinha a atitude
Comportamental passiva.

Por ser forte e valente
Entrelaçaram em grilhões
O Chefe dos Manaós
Temendo rebeliões
O grupo vitorioso
O exibia orgulhoso
As demais embarcações.

Ajuricaba na proa
Cansado de tanta disputa
Enfrentou por quatros anos
Uma estupida força bruta
Com o sentimento ferido
Em um ato incontido
Travou sua última luta.

Chegando na desembocadura
Do Majestoso Rio-Mar
Os prisioneiros e seu chefe
Decidiram se rebelar
Muitos se jogaram ao rio
Lutar era um desafio
Difícil de realizar.

Então a maior derrota
Sofreu aquela expedição
No encontro dos dois rios
Escapou de sua mão
O filho daquela terra
O maior troféu de guerra
O grande chefe irmão.

Com o peso dos grilhões
Em que estava acorrentado
Ajuricaba afundou
E ali morreu afogado
E mesmo não tendo sorte
Entregou-se para a morte
Mas nos deixou o legado.

A luta pelo seu povo,
Por sua crença e liberdade
A luta por sua terra
A luta por felicidade
A luta pela justiça
A luta contra a cobiça
Em nossa sociedade.

Manaus, cultue sempre
Este herói do passado
Nomes de ruas não basta
Pra que ele seja lembrado
Mostre aos jovens estudantes
Que um estudo incessante
Sobre os nossos antepassados.

Nos preparam para o futuro
E nos mostram para onde vamos
E nos dizem com clareza
O porque que aqui estamos
A historia da nossa gente
Hoje cantada em repente
É prova que ainda somos.

Um povo que tem raízes
Tem cultura e tem saber
Um povo que não se engana
Não desiste de viver
Sou poeta nordestino
Manaus, meu doce, destino
Meu amor, meu bem querer.

Poeta Pádua de Queiróz
BATURITÉ/CE 16.08.2018

Pádua de Queiroz é poeta cordelista, humorista, compositor e Ilustrador.

É um renomado cordelista baturiteense.
Seus trabalhos sempre voltados à didática
É bastante consultado. AJURICABA, O TUXAUA DOS MANAÓS. O guerreiro Ajuricaba habitava nas terras dos MANAÓS, uma tribo indígena que vivia na região localizada entre Manaus e Manacapuru. Ouvir ou assistir Pádua de Queiróz é maravilhoso. A história recontada por esse poeta serrano, com certeza é algo indescritível.
Este trabalho é uma reedição lançada pela
Casa do Cordel, que em parceria Com este brilhante cordelista, que empunha Com muito orgulho a bandeira da nossa Cultura maior:
a literatura de cordel.

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