02/04/2018

MESSIAS HOLANDA - CABRA BOM DE MISSÃO VELHA - PÁDUA DE QUEIRÓZ


MESSIAS HOLANDA


Chegou lá de Missão Velha
Trazendo um estilo novo
Um forró bem debochado
E caiu no gosto do povo
Mariá, Pra tirar Côco
Forró do Bom, Coma ovo.

Manuel Messias Holanda
No qual eu tive o prazer
De sentar-me a seu lado
Ouvir cantar e conhecer
Seu trabalho, sua história
Que jamais vou esquecer.

Nasceu no mês de Janeiro
Do ano quarenta e dois
Na cidade de Missão Velha
Mas cinco anos depois
Se mudou pra Fortaleza
Conforme o destino impôs.

Trabalhou de camelô

Foi menino de recado
Para não deixar faltar
Na sua mesa o bocado
E o jovem do Carirí
Sempre andava animado.

Com sua cearenssidade
Desinibido e inovador
Decidiu cantar pro povo
Nordestino, sofredor
Canções com aquela pintada
De irreverencia e humor.

Na Ceará Radio Club
E na Radio Iracema
A voz de Messias Holanda
Com seu humorado tema
O ouvinte exigia
Em cartas e telefonema:

Pescaria em Boqueirão,
Vendedora de rapé,
Mariá, Chico Preguiça,
E a Cantiga do Guiné,
Eu queria ser bananeira,
E Forró em Baturité.

No meado dos anos sessenta
A Jovem Guarda ditava
A moda, o estilo de música
Mas isso não ofuscava
O forró “levanta Poeira”
Que Seu Messias  cantava.

E na década de setenta
Os artistas brasileiros
Cantavam musicas em inglês
Tinham nomes de estrangeiros
Morris Albert, Mac David,...
Mas não eram forrozeiros.

O riscado que o povo
Gostava mesmo de ouvir
Era o Forró forrado
Pra dançar, se divertir
Tomar cachaça amarela
A noite toda e não cair.

Veio os anos oitenta
Com o Rock Nacional
Um tal de Ultraje a rigor,
Etecetára , coisa e tal
Mas trepar num Pé de Côco
Era o assunto atual.

Toda essas novidades
Com o tempo passaria
Mas na virada do Século
Talvez até por ironia
O destino quis calar
A voz do grande Messias.

Adicionaram ao forró
Guitarra elétrica e teclado
Era o tal Ôxente  Music
O Forró Estilizado
Que chegou pra substituir
O forrozão do passado.

Faltou palco, faltou loja
Para o forrozeiro antigo
A moda da moda eram bandas
E o artista sem abrigo
Ficou preso a historia
E é por isso que eu digo.

Que a desgraça, minha gente
É a tal da ingratidão
Monstruosamente burra
Que se nega a dar a mão
Pra caminhar lado a lado
Com as raízes do sertão.

Veja só o resultado
A música sem harmonia
É uma batida só
Sem letra, sem poesia
Chegou o forró eletrônico
E foi embora a alegria.

Eu mesmo não perco tempo
Para ouvir tanta besteira
Mas tratam a nossa cultura
Com desdém, dessa maneira:
O que está velho, tá velho
Na vida tudo é passageiro!

Discordo, tenho o direito
O direito de discordar
Messias Holanda morreu
Porém outro igual não há
Sozinho ele era maior
Que todos no Ceará.

Mas respeito o pensamento
De quem pensa diferente
Nem todo gosto é igual
Varia de gente pra gente
Me sinto até constrangido
Neste momento presente.

Fazer esta homenagem
Em memoria de alguém
Homenagem a gente faz
Em vida porque faz bem
Digo isso porque sei
Que assim pensava também.

O homem de Missão Velha
Que nos trouxe algo novo
E hoje eu sinto saudades
E também pena do povo
Que não ouviu Mariá
E nem tampouco Coma ovo!

Poeta Pádua de Queiróz
Baturité/CE 01.04.2018



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