05/04/2019

OS KANINDÉS DE ARATUBA - VOLUME 03 "CÍCERO PEREIRA, NOSSO TESOURO VIVO"

CÍCERO PEREIRA 
NOSSO TESOURO VIVO
PÁDUA DE QUEIRÓZ Hoje minha fala escrita
Fica agora registrada
Em literatura de cordel
Arte muito apreciada
O tema mais uma vez
É o trabalho de quem fez
Da sua vida uma jornada.
Herdeiro de Kanindé
Dos Janduís descendente
Seu nome, Cícero Pereira
Nunca quis ser diferente
Mas falando com a razão
Com muita satisfação
Representa sua gente.
Seu pai Lafaete dos Santos
Sua mãe Alzira Pereira
Esposo de Dona Zenilda
Vive à sua maneira
Trocando conhecimentos
Por novos ensinamentos
Empunhando a bandeira.
Do seu povo que outrora
Realmente eram excluídos
Sem voz, sem vez, sem escola
Socialmente esquecidos
Abandono, fome e seca
Seus clamores pela perca
Raramente eram ouvidos.
Lafaete e Alzira
Dezessete filhos geraram
Mas o sétimo que era Cícero
Os bisavós que criaram
Na Aldeia da Balança
Com três meses à criança
Carinho e amor dedicaram.
Pés no chão e seminu
Nas quebradas do sertão
Menino já trabalhava
Na lavoura e criação
Crescer cuidando da terra
Alí no seu pé de serra
Foi sua primeira lição.

Dos seus avós que eram índios
E tinham gosto de ser
Mas naquele tempo era ruim
Se alguém pensassem em dizer:
Eu sou índio! - E declarado
Logo era maltratado
Chegando até a morrer.
Mesmo sem conhecimento
Da escrita e da leitura
Os mais velhos transmitiam
Para os jovens sua cultura
Através da oralidade
Com tanta realidade
Os seus feitos de bravura.
Foi escutado as histórias
De seus povos ancestrais
Narrado por seu avós
E até mesmo por seus pais
Que Cícero reconheceu
Que ele mesmo nasceu
Índio como os demais.
O seu pai sempre dizia:
Você tem que aprender
O que os índios faziam
Antes pra sobreviver
E que o mais importante
É que de agora em diante
Você tem que exercer.
Todos os nossos costumes
E também nossa tradição
Convivendo em harmonia
Pra viver em união
Protegendo a natureza
Somos sim, tenho certeza
Todos filhos deste chão.
Já meninote, crescido
Cícero então decidiu
Em ir morar com seus pais
E para “os Fernandes” subiu
Vida nova, nova vida
Teve uma bela acolhida
E na escola descobriu.
A leitura e a escrita
Da cartilha do ABC
Aprendeu na tabuada
Uma conta resolver
Mas não deu continuidade
Pois tinha a necessidade
Trabalhar para comer.
Cresceu sempre trabalhando
Na lida de agricultor
Casou-se com Dona Zenilda
Seu primeiro e grande amor
O cabra não se aperreia
Se trabalha e semeia
Do fruto é merecedor.
Filhos maravilhosos
Um cantinho abençoado
Cícero concluiu os estudos
Tempos depois de casado
Hoje o seu ideal
É lutar pelo “igual”
Para ver valorizado.
O seu povo, sua aldeia
Que se orgulha e diz que é
Descentes e herdeiros
Legítimos de KANINDÉ
Tem o sangue “Janduí”
Resistência é isso ai
De um índio que tem fé.
Em Tupã deus pai da vida
E de toda natureza
Fauna e flora, dia e noite
Povo de rara beleza
Cícero Kanindé guerreiro
O poeta brasileiro
Reconhece tua nobreza.
Desde mil e novecentos
E noventa e oito eu sei
Que o seu trabalho é sério
Disso eu nunca duvidei
Agora eu sei que é por isso
Que os índios do Maciço
Estão do jeito que sonhei.
A associação indígena
Que por ele é presidida
Não tem nó que não desate
Nem problema sem saída
Eu vejo a prosperidade
Na sua comunidade
Cada vez desenvolvida.
Temos escola modelo
Para nossa juventude
Museu e perspectiva
Pra melhorar a saúde
Um templo à São José
Padroeiro Kanindé
Porque é livre a atitude.
De um Kanindé que é livre
Para viver livremente
De ser gente respeitada
E ser respeitada gente
És incansável guerreiro
Eu me sinto prazeteiro
De lhe chamar de “parente”.
A AIKA, nós sabemos
Tem as suas digitais
Proporciona intercâmbios
Entre os líderes tribais
CRED-08, UNILAB
Hoje muita gente sabe
Os feitos dos ancestrais.
Os quais você é herdeiro
E repassa a tradição
Trocando experiências
Da capital ao sertão
Palestrando com esmero
Sempre ao lado de Sotero
Meu Cacique e seu irmão.
A sua missão é única
Repassar em seus saberes
Recontando suas histórias
De costumes e fazeres
Dos Kanindés que respeita
E jamais fazem despeita
De seus direitos e deveres.
COLEÇÃO KANINDÉS DE ARATUBA:
VOL. 01 - OS KANINDÉS DE ARATUBA
VOL. 02 - CACIQUE SOTERO, O GUARDIÃO DA MEMÓRIA
VOL. 03 - CÍCERO PEREIRA KANINDÉ, NOSSO TESOURO VIVO.