CONSELHEIRO VIVE
Mestre Pádua
de Queiróz
Esferogravura de Pádua Queiróz
Mestre da Cultura Tradicional Popular do Estado do Ceará
Tesouro Vivo - SECULT/CE
Na
antiga Nova Vila
De
Campo maior, enfim
No
mesmo lugar que hoje
É
meu Quixeramobim
Sob
o sol quente e mormaço
No
dia 13 de Março
No
sertão que não tem fim.
Nasceu
este cearense
Decantado
em cordel
Retratado
no cinema
Ilustrado
num painel
Seu
nome virou canção
Liderou
revolução
A
Deus foi sempre fiel.
Antônio
Vicente Mendes
Maciel,
foi batizado
Era
mil e oitocentos
E
trinta, bem no reinado
Do
primeiro imperador
Do
perpétuo protetor
Do
recém império criado.
Logo
no ano seguinte
Dom
Pedro abdicou
Deixando
o seu reinado
Para
um filho, que gerou
Um
brado ecoou no mundo
Viva
Dom Pedro Segundo
Que
um Império herdou.
Como
possuía apenas
Cinco
anos de idade
O
imperador menino
Não
tinha autoridade
Conforme
a constituição
Regentes
foi a opção
Até
a maioridade.
Porém
foi nesse período
Chamado
regencial
Que
criaram no Brasil
Uma
Guarda Nacional
Com
intuito de proteger
E
com a força defender
Os
poderosos em geral.
Tinha
dez anos de idade
O
nosso Antônio Vicente
Quando
Dom Pedro Segundo
Da
Nação tomou a frente
No
Sul a era Mauá
Mas
aqui no Ceará
Era
a seca inclemente.
O
sertanejo esperava
A
Providência divina
O
rico tinha fortuna
O
pobre tinha a ruina
A
lei enxergava um lado
Pois
para o pobre coitado
Era
o não e a lazarina.
Seu
pai um comerciante
Para
não vê-lo em apuro
Já
havia planejado
Qual
seria o seu futuro
Naquele
sertão severo
Fazendo
parte do clero
Estaria
enfim Seguro.
A
sua mãe também tinha
Esse
mesmo pensamento
Seu
filho seria padre
Para
viver sem tormento
Mas
que destino azedo
Sua
mãe partiu tão cedo
Só
restando o lamento.
E
sem o calor materno
Antônio
assim cresceu
A
ler e escrever bem
Ele
logo aprendeu
Porém
naquele cenário
O
sonho do seminário
Até
o pai esqueceu.
Era
um leitor assíduo
De
tudo o jovem lia
Do
místico ao religioso
Da
lei vigente que havia
Era
um sujeito informado
Porém
não era formado
Mas
de tudo ele sabia.
Quando
Antônio Vicente
Fez
vinte e cinco de idade
Era
um sujeito querido
Naquela
comunidade
Porém
de novo o destino
Que
para o seu desatino
Levou
para eternidade.
O
seu pai, e agora órfão
Decidiu
então casar
Com
sua prima Brasilina
Noutro
canto foi morar
E
chegando em Sobral
Numa
atitude legal
Começou
a lecionar.
Em
seguida como rábula
Advogou
com sucesso
Pois
conhecia os atalhos
De
uma causa, um processo
Enfrentando
a vida braba
Morou
em Guaraciaba
Sempre
buscando progresso.
Depois
em Santa Quitéria,
Que
era ainda um povoado
De
lá partiu para Ipu
Onde
tudo deu errado
Flagrou
em plena traição
Seu
amor, sua paixão
Nos
braços de um soldado.
Pra
superar a traição
Partiu
para o Cariri
Naquela
época romeiros
Viviam
zanzando ali
Flagelados
e penitentes
Povos
de fé e carentes
Que
tentavam resistir.
As
intempéries climáticas
O
descaso, o abandono
Porém
sem perder a fé
Em
Deus Pai e Soberano
Viver
“qui nem peregrino”
Pelo
sertão nordestino
Decidiu,
ser o seu plano.
Dali
rumou pra Sergipe
Juntamente
com seus pares
Notícias
suas se ouvia
Em
diversos lugares
Para
ouvir a pregação
Conselhos
e pegar na mão
De
Santo Antônio dos Mares.
Então
chegou na Bahia
Já
com a fama de santo
Era
Antônio Conselheiro
Trajando
um surrado manto
Ali
foi caluniado
Foi
preso e deportado
De
volta para o seu canto.
Pois
prenderam injustamente
Nosso
querido beato
Espalharam
sem Piedade
Contra
ele um boato:
“Ele
se esconde por cá
Porque
lá no Ceará
Cometeu
assassinato!”
Disseram
que ele havia
Matado
mãe e ex-mulher
E
vivia em liberdade
Sem
um julgamento sequer.
Foi
por um júri inquerido
E
depois absolvido
Não
houve crime qualquer.
Quando
sua mãe morreu
Ele
ainda era uma criança
Sua
mulher lhe traiu
Ele
perdeu a esperança
Então
virou peregrino
E
pelo sertão nordestino
Começou
sua andança.
Virou
Antônio dos Mares,
Bom
Jesus e Conselheiro
Pelo
sertão trabalhou
Foi
professor, foi caixeiro,
Antes
de virar beato
Não
houve sequer um fato
Que
o tornasse desordeiro.
Como
era um homem livre
Retornou
para Bahia
Quanto
mais ele pregava
Mais
o povo lhe seguia
Fez
açude, ponte, igreja
E
assim naquela peleja
Vivia
em harmonia.
Foi
proclamada a República
Exilaram
o Imperador
Deram
um golpe de Estado
O
bem não tinha valor
Mais
cada dia aumentava
O
grupo que acreditava
No
conselheiro e senhor.
Que
não era simpatizante
Da
forma que o país
Era
então governado
Maltratando
os civis
E
decide se estabelecer
Para
se proteger
De
tantas forças hostis.
Chegando
então em Canudos
Se
agrada com o local
As
margens do “Vaza Barris!
Funda
então um arraial
Onde
acolhe os excluídos
Ex-escravos
e perseguidos
Sendo
o líder espiritual.
O
arraial foi crescendo
E
também incomodando
Era
autossustentável
Todo
mundo trabalhando
Quem
chegava em Belo Monte
Via
um novo horizonte
Nova
vida começando.
No
jardim quando floresce
A
flor do bem que se faz
É
preciso ter cuidado
Porque
o mal é capaz
Justificando
a ação
O
motivo e a razão
Da
Guerra é obter a paz.
A
paz ali existia
Prosperidade
também
Porque
o bom Conselheiro
Pregava
sempre o bem
Porém
quatro expedições
Embrenhou-se
nos sertões
No
fim não sobrou ninguém.
Foi
em mil e oitocentos
E
noventa e seis travada
Precisamente
em Uauá
Durante
a madrugada
Abençoada
e benta
Numa
batalha sangrenta
A
fé venceu a espada.
O
Tenente Pires Ferreira
Dessa
tropa era membro
Que
bateu em retirada
Em
vinte e quatro de novembro
A
Segunda expedição
Era
mais que um pelotão
Foi
no final de dezembro.
Que
também foi debelada
Pelos
conselheiristas
Que
em questão de Caatinga
Eram
especialistas
O
major Febrônio de Brito
Pinotou
feito um cabrito
E
fugiu sem deixar pistas.
Quem
ficou indignado
Foi
prudente de Morais
Que
convocou com urgência
Seus
melhores generais
Logo
veio a indicação
Para
pôr fim na questão
Quem
tinha as credenciais.
Antônio
Moreira César
O
terrivel coronel
Conhecido
“Corta-Cabeças”
Entre
os pares do quartel
Comandou
esta empreitada
E
teve a vida ceifada
Por
um atirador fiel.
A
Antônio Conselheiro
Pois
já não mais duvidava
Da
santidade daquele
Que
até uma bala guiava
E
o governo federal
Reunido
na capital
Findar
Canudos tramava.
A
derrota de Moreira
César,
compreendia
Canudos
ou era um Estado
No
Estado ou pretendia
Através
de Conselheiro
Em
território brasileiro
Restaurar
a monarquia.
O
arraial de Belo Monte
Tinha
de vez que acabar
E
a quarta expedição
Quem
iria comandar
Com
toda a sua logística
E
não temia a mística
O
general Artur Oscar.
Que
a primeira batalha
Travou
em Cocorobó
Em
junho de mil e oitocentos
E
noventa e sete, o pó
Da
terra se misturou
Com
o sangue que jorrou
Do
sertanejo sem dó.
E
foram inúmeras batalhas
Que
pintou o sertão de rubro
Passou
julho e agosto
Setembro,
chegou outubro
Por
fim, a Guerra acabou
Quando
Canudos tombou
Mas
confesso não encubro.
A
Guerra, a incompreensão
A
atitude cruel
Do
governo federal
Que
recordo em cordel
Deixou
o país manchado
Ao
tomar Partido e lado
Ao
povo foi infiel.
Hoje
conselheiro vive
Voltou
pra Quixeramobim
Conselheiro
é Dona Chica
Conselheiro
é Seu Mundim
Conseheiro
é essa gente
Que
sonhando e segue em frente
Neste
meu sertão sem fim.