29/01/2025

MESTRE LUCAS EVANGELISTA - HOMENAGEM AO MESTRE LUCAS EVANGELISTA (Obra Coletiva)

 Cordelistas do Ceará reuniram-se para render homenagem ao mestre Lucas Evangelista (1937-2025), um dos maiores valores da literatura de cordel daquele estado. Nomes como MESTRE Geraldo Amâncio Pereira(TESOUROS VIVOS), Evaristo Geraldo da Silva, Paulo de Tarso, Paola Tôrres, Dideus Sales, Julie Oliveira, Paiva Neves,MESTRE Pádua de Queiroz(TESOUROS VIVOS), Gerardo Pardal, Vânia Freitas, Rosinha Miguel, Tião Simpatia, Rouxinol do Rinaré, Rafael Brito, Arlene Holanda e MESTRE Klévisson Viana(TESOUROS VIVOS) em setilhas magistrais, revisitam a vida e a obra do lendário poeta andarilho. Instigado por Klévisson, também contribuí com quatro estrofes. O folheto Homenagem ao mestre Lucas Evangelista, que será distribuído gratuitamente entre leitores, fãs do poeta e instituições, foi liberado pelas editoras Tupynanquim para divulgação na íntegra. -
Por Marco Haurélio.

MESTRE PÁDUA DE QUEIRÓZ:

"Eu já conhecia a obra imensurável do Mestre da Cultura do Estado do Ceará, Lucas Evangelista, o que me fez abraçar esta arte e oficio de cordelizar, porém eu não o conhecia pessoalmente. mas Deus que tudo ver e tudo sabe já tinha determinado este momento. Foi no meu primeiro encontro como Mestre da Cultura do Estado do Ceará, ano 2023, no CENTRO CULTURAL DO CARIRI, na cidade do Crato, de 03 a 07 de dezembro(XV Encontro Mestres do Mundo).

Tive a satisfação de conviver neste período ao lado deste grande Mestre, o qual beijei as mãos que criou magnificas pérolas da nossa literatura regional e recebi muitos conselhos que levo até hoje como lição a seguir enquanto eu viver para viver a arte em todo seu conteúdo.

Em 2024, o XVI Encontro Mestres do Mundo foi bem mais breve, de 05 a 07 de dezembro no mesmo local, mas ao lado do Mestre Lucas Evangelista este curto período de tempo vai ficar em minha memória enquanto eu existir, ele me disse: Eu vivi toda minha vida para literatura de cordel! 

HOMENAGEM AO MESTRE LUCAS EVANGELISTA

(Obra Coletiva)


 

 

A poesia entristecida

Chora a morte de um artista

Referência em nossa arte

Um genial cordelista

E a musa mandou mensagem

Pra prestarmos homenagem

A Lucas Evangelista.

Artista que o povo tem

Um carinho especial

Foi ele autor consagrado

De ‘A Carta do Marginal’

O Brasil todo conhece

Tem respeito e enaltece

Seu talento magistral.   

 

No seio de sua gente

Foi artista consagrado

Era Mestre da Cultura

Do Ceará, nosso Estado

Nas páginas da poesia

Cordel, livro e antologia

Pra sempre será lembrado.

 

Pra Canindé, todo ano

Ia para romaria

Na Festa de São Francisco

Mostrava sua poesia

Cheia de belos roteiros

Para encantar os romeiros

Com brilho, encanto e magia.

 

Sabia escrever histórias

Bem ao agrado do povo

Para toda ocasião

Tinha sempre um cordel novo

Grande artista popular

Fazia rir e chorar

Ganhando palmas e aprovo.

 

Quem desconhece as histórias

Do nosso cancioneiro,

Tenta negar o passado,

Escrevendo outro roteiro,

Despreza nossa cultura

E joga a Literatura

De Cordel num atoleiro.


Essa ilusão transitória

É o abrigo tumular

De quem, mesmo vivo, morre

Sem nada de bom deixar.

Portanto, mudando o tom,

Afirmo que se algo é bom,

Nada consegue matar.

 

João Lucas Evangelista,

Nosso bluesman nordestino,

Deu voz a quem voz não tinha,

Fez da sua obra um hino.

Nas cruzadas dos martírios,

Converteu espinho em lírios,

Foi senhor do seu destino.

 

Legou cordéis e baladas

Numa monumental saga,

Como um rio caudaloso

Que as ipueiras alaga;

Partiu, porém, permanece,

Seu legado prevalece,

Pois nem o tempo o apaga.

 

Lucas da Bíblia nos fala

Sobre Cristo o galileu,

Evangelista é aquele

Que um evangelho escreveu,

Nosso Lucas, cordelista

O nome de evangelista

Colocou no nome seu.

 

Crateús no Ceará

Foi sua terra querida,

Deixou seu berço natal

Para o mundo fez partida,

E fez com força inaudita

Nossa poesia escrita

Ter fama reconhecida.

 

Lucas foi artista múltiplo

Foi músico e cordelista,

Grande mestre da cultura,

Escritor e repentista,

No Brasil em qualquer parte

Não há quem supere a arte

De Lucas Evangelista.

 

Assim como toda vida

Tem o seu ponto final

Lucas parte nos deixando

Uma saudade imortal,

Aqui deixou sua história,

Foi para o trono da glória,

A Corte Celestial.

 

O Lucas Evangelista

Foi um grande inspirador

Além de ser cordelista

Foi poeta cantador

Mestre da nossa cultura

Que lutava com bravura

Dignidade e fervor .

 

Aqui na Terra ele foi

O menestrel da canção

Escrevia seus cordéis

Com bastante inspiração

Foi um vate valioso

Um poeta primoroso

De toda sua geração.

 

Nosso cantador querido

Para outro plano partiu,

Mas sabemos que sua arte

Por todo o mundo expandiu

Conquistar toda uma gente

Através do seu repente 

Nosso Lucas conseguiu.

 

O mundo dos Cordelistas

Acordou entristecido

Com a notícia que o Mestre

Lucas havia morrido.

João Lucas Evangelista

Foi um grande Cordelista,

Famoso e reconhecido!

 

Ao Lucas Evangelista

Segue o póstumo tributo.

Meu mestre você será

Vate sem substituto.

Partiu pro reino Celeste

E hoje este discípulo veste

O triste manto do luto!

 

João Lucas Evangelista

Foi um grande menestrel

Criou histórias e músicas,

Na arte fez seu papel.

Feito um grande timoneiro

Rodou o Brasil inteiro

Divulgando seu cordel.

 

Hoje a musa do cordel,

Vestiu seu traje de luto,

Pois Lucas Evangelista,

Poeta versátil, astuto.

O Mestre imortal, decano

Foi versejar noutro plano,

Num elevado reduto!

 

Um vate quando nos deixa

Voltando a casa do Pai

Deixa imensa saudade,

Mas sua história não vai

Assim nosso cordelista

João Lucas Evangelista

Sua lembrança não sai.

 

Percorreu nosso Brasil

Essa importante figura

Do Nordeste ao Sudeste

Lucas com literatura

Tocava linda canção

Levando assim emoção

De maneira bem segura.

 

Fez da arte o seu viver

Emocionando o povão

Com "Carta de um Marginal"

Bem feita composição

Mostrando a realidade

Da tal marginalidade

Que envergonhava a Nação.

 

Foi chamado pelo Pai

Pra sua Santa Morada

Lá no Céu, Evangelista,

Cumprirá nova jornada

Viverá novo rojão

E cantará seu baião

De forma bem animada.

 

Partiu um grande poeta

Mestre no verso e viola

Levou consigo um ensino

Que não se ensina em escola

Levou a chuva e o tostão

Mais um Mestre do sertão

Levou cheia sua sacola.

 

Com nome forte e profundo

Discípulo do salvador

Lucas, o Evangelista

Lavrou a terra com amor

Plantando sua poesia

Fez chover paz e harmonia

Com seu pinho de valor.

 

Despedimo-nos chorosos,

De Lucas Evangelista,

Poeta, compositor,

Violeiro, repentista,

Da arte, divulgador,

Folheteiro, cantador

E afamado cordelista.

 

Autor de ‘Um tostão de chuva’,

De “A carta de um marginal”,

“Foronfonfom”, “Mototaxi”,

Legado exponencial!...

Sem sequer se despedir

Partiu para residir

Na pátria celestial.

 

Muito vasta e conhecida,

Sua produção reluz,

Sendo merecidamente

Aclamado como um dos

Aedos de maior claque

E um dos nomes de destaque

Das artes de Crateús.

 

Um exemplo de amigo,

Probo chefe de família,

Semeador de amizade,

Aparador de quizília.

Em Crateús foi nascido,

Mas tornou-se conhecido

Quando morou em Brasília.


O bardo abraçou a sorte

Como vira-mundo, errante;

Foi nas feiras nordestinas

Uma presença marcante

Com sua lira primorosa

Na fase áurea e saudosa

Do poeta itinerante.

 

Por esse Nordeste imenso

De feira em feira atuou,

E nas praças da Ceilândia

Diversas vezes cantou.

Lá ainda tem família,

Pois o poeta em Brasília

Por doze anos morou.

 

Nas feiras, com sua Kombi,

Ele chamava atenção

Cantando suas toadas,

Tocando seu violão,

Ouvindo as canções bonitas

Pra comprar cordéis e fitas

Juntava uma multidão.

 

Entre as canções mais tocantes

Nascidas de sua pena

Cito “Filho de cigano”,

E, de comovente cena,

“Canção do sentenciado”

E outro clássico afamado

Que é “Lembrança de Helena”.

 

É grande a lista de títulos

De cordéis que publicou.

Cinco LPs, muitas fitas

E CDs também gravou;

Viveu pra se eternizar,

Sua arte singular

Nossa cultura marcou.

 

Foi Lucas Evangelista

Grande mestre da canção

Divulgador incansável

Da popular tradição

Com sua arte soberana

Cantou sobre a lida humana

Em cada composição.

 

 Em "Carta de um marginal"

Expos uma triste história

Assim eternizou um

Exercício de memória

A dor de um excluído,

Um malfazejo e sofrido,

Versando uma vida inglória.

 

Andarilho da poesia

Com suas letras e voz

Lucas foi fonte fecunda

Jorrando versos à foz

Inspirou, foi referência,

Um vate de excelência

Grande exemplo para nós!

 

Deixa saudades o Mestre

De violão ritmado,

Porém na Corte Celeste

O Sarau "tá preparado!"

Pra celebrar sua vida

A sua missão cumprida

E o seu imenso legado!

 

Herdando o nome do santo

Que a palavra ‘desdobra’

O poeta Evangelista

Com as rimas de sua obra

Em sua vida fecunda

De poesia profunda

Mostrou talento de sobra.

 

A inspiração veio cedo

Dos antigos menestréis

Violeiros, cantadores

Que declamavam cordéis

E as historias dos seus pais

Bem guardadas nos anais

Galopa ainda corcéis.

 

À cultura popular

Deu asas e deu alento

Conseguiu com sua arte

Garantir o seu sustento

Foi do romance ao forró

Até em cobra deu nó

E conseguiu seu intento.

 

Parte com missão cumprida

Sua obra ficará

No ‘rela bucho’ ou cordel

Muito além do Ceará

Viaja como Asa Branca

Sua rima alegre e franca

Sempre lembrada será.

 

Meus versos fazem homenagem

A um mestre da tradição,

É Lucas Evangelista,

Da cultura e do sertão.

Cantou com alma e viola,

Rima que encanta e consola,

Nos tocando com emoção.

 

Nas praças fez poesia

De Crateús para o mundo.

Sua voz e seu repente

Ecoaram tão profundo.

Que até no céu seus cantares

São eternos, nos altares,

Como um legado fecundo.

 

Foi um mestre de talento,

Na viola ao improvisar.

Nos folhetos e cantigas,

Fez o povo se encantar.

Na sua arte divina,

Cada verso se destina

A nunca se apagar.

 

Sua lira continua

Brilhando na imensidão.

E nós, que aqui ficamos,

Guardamos sua emoção.

Lucas vive na memória,

Imortal pela história,

Eterno no coração.

 

Um grande prazer na vida

Foi conhecer Evangelista

Um cantador de viola

Que nunca perdeu de vista

Levar pelo mundo afora

A alegria a toda hora

Era um poeta ativista.

 

Conheci Evangelista

Pela José de Alencar

Sua belina e radiadora

Fazia o povo parar.

Pra degustar do seu verso

Que atingia o universo

De um sublime poetar.

 

A bênção, poeta Lucas,

Nosso Mestre da Cultura

Que levou sertão afora

Com tanta desenvoltura

A cultura popular

Que só tem neste lugar

Por ser terra de bravura...

 

Como um trem, com longo apito,

Deslizando sobre o trilho

Partiu o poeta Lucas

E Crateús perde um filho.

Foi um poeta impoluto,

A poesia está de luto

E o cordel perdeu o brilho.

 

As folhas verdes da mata

Da Caatinga nordestina,

Que já nas primeiras chuvas

Vertem água cristalina

Choram por Evangelista,

Poeta e grande artista

De rima afiada e fina.

 

João Lucas Evangelista

Foi um poeta gigante.

Seu cantar ultrapassou

A fronteira mais distante.

Na viola ou no papel

Seu poema de cordel

É marca muito importante.

 

Mas, Lucas Evangelista

Encanto-se, não morreu.

Teve recital no céu.

Como a musa prometeu,

A alegria foi completa

Com a chegada do poeta

Uma grande festa deu.

 

Ninguém viveu a cultura

Do jeito que ele viveu

Na sua época o cordel

Ficou mais forte e cresceu

O poeta de Crateús

Foi mostrar para Jesus

A rima do verso seu.

 

E por isso digo eu,

Digo sem pestanejar,

Nesta arte tão bonita

Da gente vivenciar

Que Lucas Evangelista

Deixou como cordelista

Um nome pra respeitar.

 

Lucas nasceu com a viola

Desenhada na sua mente

Cresceu e desenvolveu

O verso como semente

No terreno que plantou

A poesia se espalhou

Com a viola e o repente.

 

Tive o prazer de aplaudir

Este grande repentista

Agora foi para cima

Nosso amigo cordelista.

Deixando a sua história

Presa na nossa memória

No nosso quadro de artista.

 

Mestre Lucas foi um vate

Do nosso tempo atual;

Um Aedo – nosso Orfeu...

Referência nacional

No romance de cordel

Excelente menestrel

Na canção tradicional.

 

A “Carta de um Marginal”

Ficou sem o seu autor

Nós ficamos sem o mestre,

No peito tristeza e dor!

Quem seus cordéis cantará?

Nas feiras do Ceará

Tá faltando um tocador.

 

Quem irá cantar a dor

Daquele povo sofrido...? 

O inverno; a invernada

Ou o sertão ressequido

Ou mesmo ler um cordel

Narrando história fiel

Do último fato ocorrido?

 

Aqui, de peito partido

Sou eu quem registra o fato...

Da partida do herói

Que destino tão ingrato!

Bastante triste fiquei     

Mas pra vida eterna, eu sei,

Ninguém assina contrato...

 

Lucas será “sempre vivo”,

Pois além de seus talentos

Também gerou quatro filhos,

Sua prole, seus rebentos,

Gente que ama a cultura,

Sua geração futura,

Frutos de dois casamentos.

 

Lucilane, Luciléa,

Linda Léa e Márcia Linda,

Estes filhos, com certeza,

Farão a linhagem infinda.

Sua vida foi completa

E a memória do poeta

Viverá bem mais ainda!

 

FIM








29/02/2024

CONSELHEIRO VIVE - 194 DE NASCIMENTO DE ANTONIO CONSELHEIRO

 

CONSELHEIRO VIVE

Mestre Pádua de Queiróz

 

Esferogravura de Pádua Queiróz
Mestre da Cultura Tradicional Popular do Estado do Ceará
Tesouro Vivo - SECULT/CE

Na antiga Nova Vila

De Campo maior, enfim

No mesmo lugar que hoje

É meu Quixeramobim

Sob o sol quente e mormaço

No dia 13 de Março

No sertão que não tem fim.

 

Nasceu este cearense

Decantado em cordel

Retratado no cinema

Ilustrado num painel

Seu nome virou canção

Liderou revolução

A Deus foi sempre fiel.

 

Antônio Vicente Mendes

Maciel, foi batizado

Era mil e oitocentos

E trinta, bem no reinado

Do primeiro imperador

Do perpétuo protetor

Do recém império criado.

 

Logo no ano seguinte

Dom Pedro abdicou

Deixando o seu reinado

Para um filho, que gerou

Um brado ecoou no mundo

Viva Dom Pedro Segundo

Que um Império herdou.

 

Como possuía apenas

Cinco anos de idade

O imperador menino

Não tinha autoridade

Conforme a constituição

Regentes foi a opção

Até a maioridade.

 

Porém foi nesse período

Chamado regencial

Que criaram no Brasil

Uma Guarda Nacional

Com intuito de proteger

E com a força defender

Os poderosos em geral.

 

Tinha dez anos de idade

O nosso Antônio Vicente

Quando Dom Pedro Segundo

Da Nação tomou a frente

No Sul a era Mauá

Mas aqui no Ceará

Era a seca inclemente.

 

O sertanejo esperava

A Providência divina

O rico tinha fortuna

O pobre tinha a ruina

A lei enxergava um lado

Pois para o pobre coitado

Era o não e a lazarina.

 

Seu pai um comerciante

Para não vê-lo em apuro

Já havia planejado

Qual seria o seu futuro

Naquele sertão severo

Fazendo parte do clero

Estaria enfim Seguro.

 

A sua mãe também tinha

Esse mesmo pensamento

Seu filho seria padre

Para viver sem tormento

Mas que destino azedo

Sua mãe partiu tão cedo

Só restando o lamento.

 

E sem o calor materno

Antônio assim cresceu

A ler e escrever bem

Ele logo aprendeu

Porém naquele cenário

O sonho do seminário

Até o pai esqueceu.


Era um leitor assíduo

De tudo o jovem lia

Do místico ao religioso

Da lei vigente que havia

Era um sujeito informado

Porém não era formado

Mas de tudo ele sabia.

 

Quando Antônio Vicente

Fez vinte e cinco de idade

Era um sujeito querido

Naquela comunidade

Porém de novo o destino

Que para o seu desatino

Levou para eternidade.

 

O seu pai, e agora órfão

Decidiu então casar

Com sua prima Brasilina

Noutro canto foi morar

E chegando em Sobral

Numa atitude legal

Começou a lecionar.

 

Em seguida como rábula

Advogou com sucesso

Pois conhecia os atalhos

De uma causa, um processo

Enfrentando a vida braba

Morou em Guaraciaba

Sempre buscando progresso.

 

Depois em Santa Quitéria,

Que era ainda um povoado

De lá partiu para Ipu

Onde tudo deu errado

Flagrou em plena traição

Seu amor, sua paixão

Nos braços de um soldado.

 

Pra superar a traição

Partiu para o Cariri

Naquela época romeiros

Viviam zanzando ali

Flagelados e penitentes

Povos de fé e carentes

Que tentavam resistir.


As intempéries climáticas

O descaso, o abandono

Porém sem perder a fé

Em Deus Pai e Soberano

Viver “qui nem peregrino”

Pelo sertão nordestino

Decidiu, ser o seu plano.

 

Dali rumou pra Sergipe

Juntamente com seus pares

Notícias suas se ouvia

Em diversos lugares

Para ouvir a pregação

Conselhos e pegar na mão

De Santo Antônio dos Mares.

 

Então chegou na Bahia

Já com a fama de santo

Era Antônio Conselheiro

Trajando um surrado manto

Ali foi caluniado

Foi preso e deportado

De volta para o seu canto.

 

Pois prenderam injustamente

Nosso querido beato

Espalharam sem Piedade

Contra ele um boato:

“Ele se esconde por cá

Porque lá no Ceará

Cometeu assassinato!”

 

Disseram que ele havia

Matado mãe e ex-mulher

E vivia em liberdade

Sem um julgamento sequer.

Foi por um júri inquerido

E depois absolvido

Não houve crime qualquer.

 

Quando sua mãe morreu

Ele ainda era uma criança

Sua mulher lhe traiu

Ele perdeu a esperança

Então virou peregrino

E pelo sertão nordestino

Começou sua andança.


Virou Antônio dos Mares,

Bom Jesus e Conselheiro

Pelo sertão trabalhou

Foi professor, foi caixeiro,

Antes de virar beato

Não houve sequer um fato

Que o tornasse desordeiro.

 

Como era um homem livre

Retornou para Bahia

Quanto mais ele pregava

Mais o povo lhe seguia

Fez açude, ponte, igreja

E assim naquela peleja

Vivia em harmonia.

 

Foi proclamada a República

Exilaram o Imperador

Deram um golpe de Estado

O bem não tinha valor

Mais cada dia aumentava

O grupo que acreditava

No conselheiro e senhor.

 

Que não era simpatizante

Da forma que o país

Era então governado

Maltratando os civis

E decide se estabelecer

Para se proteger

De tantas forças hostis.

 

Chegando então em Canudos

Se agrada com o local

As margens do “Vaza Barris!

Funda então um arraial

Onde acolhe os excluídos

Ex-escravos e perseguidos

Sendo o líder espiritual.

 

O arraial foi crescendo

E também incomodando

Era autossustentável

Todo mundo trabalhando

Quem chegava em Belo Monte

Via um novo horizonte

Nova vida começando.


No jardim quando floresce

A flor do bem que se faz

É preciso ter cuidado

Porque o mal é capaz

Justificando a ação

O motivo e a razão

Da Guerra é obter a paz.

 

A paz ali existia

Prosperidade também

Porque o bom Conselheiro

Pregava sempre o bem

Porém quatro expedições

Embrenhou-se nos sertões

No fim não sobrou ninguém.

 

Foi em mil e oitocentos

E noventa e seis travada

Precisamente em Uauá

Durante a madrugada

Abençoada e benta

Numa batalha sangrenta

A fé venceu a espada.

 

O Tenente Pires Ferreira

Dessa tropa era membro

Que bateu em retirada

Em vinte e quatro de novembro

A Segunda expedição

Era mais que um pelotão

Foi no final de dezembro.

 

Que também foi debelada

Pelos conselheiristas

Que em questão de Caatinga

Eram especialistas

O major Febrônio de Brito

Pinotou feito um cabrito

E fugiu sem deixar pistas.

 

Quem ficou indignado

Foi prudente de Morais

Que convocou com urgência

Seus melhores generais

Logo veio a indicação

Para pôr fim na questão

Quem tinha as credenciais.


Antônio Moreira César

O terrivel coronel

Conhecido “Corta-Cabeças”

Entre os pares do quartel

Comandou esta empreitada

E teve a vida ceifada

Por um atirador fiel.

 

A Antônio Conselheiro

Pois já não mais duvidava

Da santidade daquele

Que até uma bala guiava

E o governo federal

Reunido na capital

Findar Canudos tramava.

 

A derrota de Moreira

César, compreendia

Canudos ou era um Estado

No Estado ou pretendia

Através de Conselheiro

Em território brasileiro

Restaurar a monarquia.

 

O arraial de Belo Monte

Tinha de vez que acabar

E a quarta expedição

Quem iria comandar

Com toda a sua logística

E não temia a mística

O general Artur Oscar.

 

Que a primeira batalha

Travou em Cocorobó

Em junho de mil e oitocentos

E noventa e sete, o pó

Da terra se misturou

Com o sangue que jorrou

Do sertanejo sem dó.

 

E foram inúmeras batalhas

Que pintou o sertão de rubro

Passou julho e agosto

Setembro, chegou outubro

Por fim, a Guerra acabou

Quando Canudos tombou

Mas confesso não encubro.



A Guerra, a incompreensão

A atitude cruel

Do governo federal

Que recordo em cordel

Deixou o país manchado

Ao tomar Partido e lado

Ao povo foi infiel.

 

Hoje conselheiro vive

Voltou pra Quixeramobim

Conselheiro é Dona Chica

Conselheiro é Seu Mundim

Conseheiro é essa gente

Que sonhando e segue em frente

Neste meu sertão sem fim.