21/01/2012

ANTONIO RIBEIRO

LUIZ GOZAGA  E SAUDADE

Autor: Pádua de Queiróz


Me diga Antonio Ribeiro
Se eu tenho ou não razão
Nem daquí a dez mil anos
Haverá um Gonzagão
Pois o Lua Verdadeiro
Foi cantar noutro terreiro
O jumento é nosso irmão.

Foi falar dos passarinhos
Para o Pai Celestial
Fogo-pagô, Assum Preto
Sabiá do laranjal
Asa Branca que ainda canta
No periodo matinal.

E também contar histórias
Das noites de São João
Do forró do Mané Vito
Tão famoso no sertão
E de como escapou
No forró do Zé Antão.

Agora mesmo Antonio
São três horas da manhã
Estou ouvindo o canto
Da algourenta Acauã
Mas chorando de saudade
Daquele que eu sou fã.

Pois está tudo sem graça
Não tem forró, nem baião
E ainda sou obrigado
A ouvir esculhambação
Dessas bandas de forró
No rádio e na televisão.

A gente do meu sertão
Hoje vive acabrunhada
O tempo acaba com tudo
E não presta conta de nada
Por que foi que ele levou
Quem animava a negrada?

A sanfona está de luto
A mais de trinta e três anos
E a música nordestina
Agora é um amargo engano
E o cantor de forró
É fulano ou beltrano.

Se é que eu posso chamar
Esse ritmo de Forró
Dançarinas seminuas
Mostrando o fiofó
E o cantor se esguelando
Cantando sem ter gogó.

Eu não saio mais de casa
A noite pra me divertir
Ligo minha radiola
E boto um disco pra ouvir
As canções de seu Luiz
Sinto uma lágrima cair.

No meu rosto envergonhado
Pelo povo sem memória
Que desconhece o artista
E não preserva a história
Daquele Veinho Macho
Que nos deu honra e glória.

Em Dezembro vou a Exú
Comemorar o aniversário
Do filho de dona Santana
E do senhor Januário
Pois vai ter festa por lá
No primeiro centenário.

Eu vou fazer um linforme
Quem sabe eu fique bonito
E se me deixar cantar
Eu canto aquele bendito
Pro meu Jesus sertanejo
Proteger lá no infinito.

O nosso Rei do Baião
Que hoje mora no Céu
Mas andou por essas terras
De alpercata e chapéu
Abraçando sua safona
Ao nordeste foi fiel.