70
anos vivendo
A minha vida é uma rede
Que o destino balança
Eu sei que o tempo passou
Já não sou mais uma criança
Setenta anos de história
Eu trago na minha lembrança.
Nasci em Jaguaribara
Eu não minto pra vocês
No dia quatro de maio
Do ano quarenta e seis
Lá na Cacimba da Pedra
Chegou enfim minha vez.
Por Francisco fui batizado
Francisco Leitão de Sena
Minha vida não foi fácil
Mas eu sei valeu apenas
Quem não ama a família
Esse tem alma pequena.
Foi José de Sena Lima
Meu querido papaizinho
Homem de pouca instrução
Mas me ensinou o caminho
O trabalho faz o homem
Me dizia com carinho.
Adilberta, Rosa, João,
Mônica, Clêton e Geovar,
Geomário, Ana, Astrogilda,
Ana Célia, sem contar
Zé filho e Wellington im memoria
Meus irmãos...vou sempre amar.
Recordo minha família
Minha mamãe Albertina
Monica, a minha irmã
Que ainda era pequenina
Agora vou contar uma
Que me fez essa menina.
Um copo de leite quente
Era todo santo dia
A minha mãe preparava
Me dava, então bebia
Mas minha irmã com ciúmes
Demonstrou sua rebeldia.
E me disse mamãe trata
Você com tanto carinho
Vive sempre lhe mimando
Igualmente a um bebezinho
Ou você divide o leite
Ou não beberá sozinho.
Não aceitei a discórdia
Nem tampouco aquela intriga
Porém ela enciumada
Iniciou uma briga
Tomou meu copo de leite
E jogou em minha barriga.
Eu fiquei todo queimado
Chorei de raiva e de dor
Mas entre nós lá em casa
Não se guardava rancor
Porque mamãe dedicava
Para todos o mesmo amor.
Ainda na flor da infância
Pelo mato eu sai
Para brincar mas, não é
Que por lá em me perdi
A minha mãe quase louca
Ficou, pois desapareci.
Me procurou pelas ruas
Mas em vão sem me encontrar
Fez promessa à São Francisco
Dizendo: se eu achar
Meu filhinho eu vou a pé
Á
Canindé pra rezar.
Junto com toda família
E quem quiser ir também
Porque que sei que São Francisco
Sabe que eu quero bem
Esse menino danado
Sem ele não sou ninguém!
Parece que aquele santo
Minha mãe estava escutando
Logo eu fui encontrado
E todos se alegrando
Mamãe com muita alegria
Me beijou, me abraçando.
Mamãe era uma pessoa
De palavra e de fé
Poucos dias nos partimos
Com destino a Canindé
Numa viagem de ida e volta
Noite e dia e a pé.
No ano de cinquenta e oito
Foi uma seca medonha
O sol castigou sem pena
Numa crueldade tamanha
Bebeu a água que tinha
E a esperança de quem sonha.
Viver naquele lugar
Com a fartura de alimento
Na seca de cinquenta e oito
Só eu sei o sofrimento
Eu tinha então doze anos
Porém o meu pensamento.
Era somente o trabalho
Para ter o que comer
Com minhas mãos de menino
Decidi assim vai ser
Vou pras frentes de trabalhos
Que o governo vai fazer.
E assim eu fui sem medo
Com muita determinação
Catando pedras e empurrando
Um velho carrinho de mão
E depois eu trocava as pedras
Por jabá, arroz e feijão.
Levava tudo pra casa
Dava a minha mãe querida
Que preparava pra gente
Aquela boa comida
E trabalhar desde cedo
Aprendi na minha vida.
Eu era o pai lá em casa
Dos irmão tinha o respeito
Se eu comprasse fiado
Fim de mês era dito e feito
Na mercearia do Seu Luzaniro
Sempre eu pagava direito.
Mas meu irmão Geovar
Certo dia fez uma dívida
Seu Luzaniro com raiva
Pela conta esquecida
Me disse não vendo fiado
A questão está decidida.
A não ser que você pague
O que me deve seu irmão
E eu disse: seu Luzaniro
Está resolvida a questão
Pode riscar essa conta
Pago tostão por tostão!
Nasci na Cacimba da Pedra
Morei em poço Comprido
Depois fui pra Limoeiro
Mas estava decidido
Ir morar na Capital
Lugar mais desenvolvido.
Em mil novecentos e setenta
Sem ter medo de careta
Me mandei pra capital
Escanchado numa lambreta
Só sabia carregar saco
E escrever com caneta.
Me casei com Conceição
Minha querida “Concí”
Tantos anos ao meu lado
E com ela eu aprendi
O real valor da família
Lição que não esqueci.
Sua mãe Dona Matilde
Pra mim foi mais do que sogra
Mulher de caráter forte
E coragem até de sobra
Ajudou criar meus filhos
Um mãe que se desdobra.
Trabalhei muito e estudei
Estudei como eu estudei
Com a mulher da minha vida
Vivo conforme eu sonhei
Tenho quatro filhos lindos
Que com amor eduquei.
Francélio, Fernando Henrique,
Sena Junior e Juliana
Que ao meu lado me faz ser
Feliz entre a raça humana
O amor é universal
E a paz é soberana.
Setenta anos vivendo
Só me resta agradecer
As pessoas que eu amo
Que me fizeram vencer
Setenta anos vivi
Muito mais quero viver.
Um problema de saúde
Afetou minha audição
Até tenho um aparelho
Não faço a menor questão
Eu prefiro o silencio
Para ouvir meu coração.
Eu peço a Deus que proteja
Todos que vivem a meu lado
A minha esposa Concí
E meus filhos tão amados
Meus irmãos, enfim a todos
Mais uma vez, obrigado!
F
I M
PÁDUA DE QUEIRÓZ NASCEU EM BATURITÉ –
CE, EM 16 DE DEZEMBRO DE 1971.
POETA CORDELISTA, CANTOR, COMPOSITOR
E RADIALISTA. É MEMBRO DA CBJE – CÂMARA BRASILEIRA DE JOVENS
ESCRITORES(CORDELISTA CONTEMPORÂNEO – XX)
PRINCIPAIS CORDÉIS PUBLICADOS:
QUEM ACENDEU LAMPIÃO?
O BARBEIRO DE CHAGAS.
BATURITÉ NOS TRILHOS DA SAUDADE.
O PRESIDENTE DOS PRESIDENTES(A VIAGEM
DE LULA, DILMA E OBAMA).
UNILAB, UM ELO CULTURAL.
VALDEMAR CABRAL CARACAS, O PIONEIRO.
PUTIÚ, O MILAGRE.
O ENCONTRO DE DIMAS FILGUEIRAS E
CHIQUINHO DE XANXÔ.
O QUINZE E OUTRAS CONQUISTAS
MIGUEL ARCANJO CONTRA O ANJO DO MAL.
O PADRE E O SACRISTÃO.
O DEMAGOGO.
OS IRMÃOS DO CANGAÇO.
FRANCISCO LEITÃO DE SENA, SETENTA
ANOS VIVENDO.
ENTRE OUTROS...
ME CONTE QUE EU CONTO – CORDEL POR
ENCOMENDA
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paduadequeirozcordelearte.blogspot.com
TELEFONE:85.987924575