16/07/2016

PADUA DE QUEIROZ - O SACRISTÃO E O PADRE

O SACRISTÃO E O PADRE
Meu amigo eu vou contar
Da melhor forma que sei
Essa estória
que escutei
Aqui no meu Ceará.
Se você quer escutar
Então deixe de besteira
Puxe logo uma cadeira
E se sente ai no chão
Aproveite a distração
Mas saiba que é brincadeira.
Essa estória é uma peleja
E sei que vão me criticar
Porque não devo brincar
Com as coisas da santa igreja
Mas se é assim que assim seja
E preste bastante atenção
O padre e o sacristão
Só querendo se dar bem
Qual dos dois a razão tem?
Quem tem dos dois a razão.

Zé Maxixe parecia
Com uma alma penada
Não tinha quem desse nada
Por ele que padecia
Esse menino vivia
Dormindo sob o relento
Mas todo seu sofrimento
Certo dia acabou
O padre lhe adotou
Lhe dando o ensinamento.

Da doutrina de Jesus
Amor e fraternidade
Andar sempre com a verdade
Só a verdade conduz
O cristão que abraça a cruz
Tem uma vida feliz
O padre e seu aprendiz
Foram logo se entrosando
E amizade aumentando
Mas tem um ditado que diz:


Amizade e dinheiro
Separados devem ser
E depois de aprender
Sobre o amor verdadeiro
O menino companheiro
Se tornou um sacristão
Tinha farta refeição
E roupa limpa vestia
Arrumava a sacristia
Com zelo e dedicação.

As ofertas, era sua responsabilidade
Recebia e anotava
Tudo o que o povo dava
Zé Maxixe na verdade
Pra tal contabilidade
Tinha mesmo vocação
Certo dia no Sermão
O padre lhe elogiou
A paróquia prosperou
Com o novo sacristão!

Mas certo mês a coleta
Diminuiu o rendimento
Caiu sessenta por cento
Ficando então incompleta
E foi caindo a oferta
Comparada ao mês passado
O padre desconfiado
Pensou eu vou me esconder
Ai eu poderei ver
Se eu estou sendo roubado.

E quando a missa acabou
Disse o padre ao sacristão:
Vou resolver uma questão
Na casa de um fiel eu vou!
Sua batina tirou
E saiu muito arrumado
Mas num cantinho intocado
Caladinho e escondido
Ficou sem fazer ruído
Feito cabra desconfiado.

O sacristão a sorrir
Disse agora eu me ajeito
E hoje é do meu jeito
Que nós vamos dividir
Não adianta eu pedir
Que o padre não me dar
E santo não vai precisar
De tanto dinheiro assim
Um pra tu, outro pra mim
O do santo vou anotar.

E o padre escondidinho
No lugar aonde estava
O sacristão nem desconfiava
Que o  padre via tudinho
Aquele seu dinheirinho
Era agora de outro dono
A noite perdeu o sono
Pois estendera a mão
Para um pequeno ladrão
Que vivia no abandono.

Bem cedo, muito bem cedo
O padre disse ao amigo
Eu quero falar contigo
Eu descobri um segredo
Vá no confessionário sem medo
Que eu vou lhe contar tudo
Dessa vez eu não me iludo
Meu querido sacristão
Quero a sua confissão
Peço não vá ficar mudo.

O sacristão se sentou
Ali do lado de fora
O padre dentro se ajeitou
E disse: confesse agora
Mas não minta nessa hora!
Você anda me roubando?
Porque eu sei que esta faltando
O dinheiro da caridade
Quero saber a verdade
Deus está nos escutando.


Não estou ouvindo nada
Foi dizendo o sacristão
O padre retrucou: ladrão
Vi você fazer a parada!
Ou tôu com as ouças tampada
Ou aqui padre não dar
Para um cristão escutar
O que o senhor tá falando.
Se não tá acreditando
Vamos trocar de lugar!

Nisso o padre saiu
E o sacristão entrou
E depressa então falou:
O padre conhece seu Bil
Que matou o Jovenil?
Ele paga quem disser
Quem tá pegando a sua mulher?
Olha seu padre eu não minto
Pena do senhor eu sinto
E adeus boquinha em pé!

O padre ficou gelado
Ao ouvir o sacristão
E disse você tem razão
Ninguém ouve desse lado
Oh meu sacristão amado
Vamos deixar pra depois
Sei que a mão de Deus impôs
Nessa conversa em comum
E no prato que come um
Ajeitando come dois.

Zé Maxixe não seguiu
A vida sacerdotal
Lá no Planalto Central
Certa vez alguém lhe viu
Mas depressa escapuliu
Renunciando o mandato
Com medo da Lava Jato

Viva meu grande Brasil.

PÁDUA DE QUEIROZ

Nenhum comentário: