QUEM ACENDEU
LAMPIÃO
Sou
poeta cearense
Sou
artista popular
Minha
poesia é a arma
Que
eu uso pra lutar
Através
de meu repente
Eu
defendo a minha gente
Que
não deixa de sonhar.
Mas
é obrigado a votar
E
escolher seu representante
Que
eleito logo esquece
De
ajudar seu semelhante
No
mundo civilizado
Excluído
e abandonado
Não
tem paz um só instante.
É
tratado como um bicho
Já
extinto no País
Não
tem direito a saúde
Vive
doente e infeliz
Não
tem direito ao direito
Nascer
pobre é um defeito
Hoje
o rico é quem diz.
E
foi por esse descaso
Ou
melhor esse abandono
Que
no Nordeste surgiu
Em
cada lugarejo um dono
Tomando
propriedades
Cometendo
atrocidades
Expulsando a cada ano.
Toda
pessoa de bem
Que
vivia no Sertão
Trabalhando
em sua terra
Na
lavoura e criação
Até
o "coronel" deixar
Ele
era a lei do lugar
E
exigia a submissão.
Quem
perdia o que era seu
Ou
era então perseguido
Se
embrenhava na Caatinga
E
estava protegido
Foi
nesse tempo e espaço
Que
nasceu o tal cangaço
Um
povo desprotegido.
Eu
conheço tanta história
De
cangaceiro valente
Que
agiam sempre em grupo
No
Nordeste antigamente
Mas
só um foi o maior
Não
foi bom, nem foi pior
Não
houve outro igualmente.
O
caro leitor já sabe
Que
eu falo de Lampião
Diziam
que o seu nome
Fazia
tremer o chão
Era
respeitado e temido
Até
pelo maior bandido
Que
existia no sertão.
Através
de depoimentos
De
coronéis e amigos
Oficiais
e volantes
Seus
mais cruéis inimigos
Cangaceiros
e parentes
Que
viveram simplesmente
Acuados
no perigo.
Mas
não é meu esse estudo
E
nenhuma anotação
É
de Frederico Bezerra
Conhecedor
do Sertão
Num
trabalho detalhado
Nos
deixou como legado
A
vida de Lampião.
E
foi mais de trinta anos
Sem
descansar um segundo
De
pesquisas, entrevistas
E
um estudo profundo
Sob
sol, chuva e vento
Viajou
“qui nem Jumento”
Até
os confins do mundo.
Eu
quero neste momento
Pra
lhe deixar bem informado
Da
maneira mais fiel
E
inteiramente baseado
Nos
estudos do pesquisador
Lampiônida
e escritor
Este
retrato falado:
Meia
um e setenta e um
O
nosso rei do Sertão
Uma
a menos que Livino
Outro
a mais que seu irmão
Antônio,
que protegia
Com
coragem e valentia
Virgulino,
o Lampião.
Foi
um cabra do seu bando
De
alcunha Ventania
Que
falou que o seu peso
Ao
de Virgulino equivalia
Pesava
sessenta e dois
Mas
tinha a força de um boi
Com
ele a volante corria.
Ele
era muito magro
Quadris
estreito e estético
Ombros
largos e bem vestido
Aparentava
mais atlético
Fisionomicamente
sério
Parecia
um mistério
Pois
em combate era elétrico.
Tomava
banhos diários
Sempre
andava asseado
Da
Virgem da conceição
Se
dizia afilhado
E
rezava todo dia
Pedindo
a Virgem Maria
Para
livra-lo do pecado.
Hoje então Serra
talhada
Filho de José
Ferreira
Figura ali
respeitada
Maria sua
genitora
Foi também sua
educadora
Do ABC à
tabuada.
Quando
criança brincava
Igual
a qualquer criança
E
foi feliz em seu lar
Cultivando
a esperança
Que
a paz nunca acabasse
E
a coragem não faltasse
E
com a fé fez uma aliança.
Juntamente
com os irmãos
No
comércio ou no roçado
Trabalharia
pra não ver
Faltar
na mesa o bocado
Viveria
do trabalho
Do
sol a gota do orvalho
Em
seu chão abençoado.
Mas
o que fez este homem
Bom
filho, fiel e pacato
Se
tornar um bandoleiro
Ter
um destino ingrato,
Matar
e saquear cidades
Mostrar
sua ferocidade
E
se embrenhar no mato?
Muitas estórias
contadas
Eu mesmo não sei
ao certo
E nem qual delas
relatadas
Deu ao jovem
Virgulino
Simplesmente um
nordestino
Tantas batalhas
travadas.
Dizem
que no inicio
Foi
birra com o vizinho
Outros
contam que foi briga
Por
causa de um namorinho
Eu
só sei que o Nordeste
Conheceu
um cabra da peste
Que
trilhou este caminho.
No
dia quatro de Junho
Essa
data é verdadeira
Que
Virgulino assumiu
O
bando de Sinhô Pereira
Mil
novecentos e vinte e dois
Que
o destino lhe impôs
A
árdua vida cangaceira.
O
cangaço era visto
Aos
olhos dos governantes
Como
uma simples desordem
De
uns coitados ignorantes
E
toda aquela rebeldia
Logo,
logo acabaria
Nada
tinha de importante.
Mas
Lampião era esperto
E
tão bem auxiliado
Era
mesmo imbatível
Com
os seus irmão ao lado
Antônio
na retaguarda
E
Livino na vanguarda
Não
temia ser emboscado.
Foi
numa noite sem lua
Com
um rifle em sua mão
De
repente clareou tudo
Acabando
a escuridão
Pois
em pleno tiroteio
Apareceu
lá no meio
Alguém
com um lampião.
Mas
que lampião que nada
Todos
sabiam quem era
Porque
o jovem Virgulino
Atirava
feito uma fera
O
cano da arma em chamas
Nasceu
a lenda e a fama
Sob
o fogo que impera.
Fez a maior
bagaceira
E do cano de sua
arma
Acenderam uma
fogueira
E na noite do
meu Sertão
Batizara de Lampião
O jovem
Virgulino Ferreira.
Por
ser rápido e eficiente
Feito
uma metralhadora
Foi
entregue a vanguarda
Do
bando para "Vassoura"
E
por esse apelido
Livino
ficou conhecido
Entre
a horda acolhedora.
Antônio
também era dono
De
uma grande liderança
E
cobria a retaguarda
Do
bando numa matança
Por
acreditar que um dia
A
paz enfim reinaria
Foi
chamado de "Esperança".
Inumeráveis
batalhas
Foram
por eles travadas
Porém
três anos depois
Sua
fé foi abalada
Em
uma luta em Flores
Lampião
sentiu as dores
Do
fim de sua vanguarda.
Num
combate de três horas
Balas
raspando no "cuco"
A
polícia entrou em fuga
E
Vassoura, então maluco
Subiu
num grande lajedo
Pra
ver borrar-se de medo
Os
fujões de Pernambuco.
Um
soldado que ficara
Chamado
de "Zé Inaço"
Fez
pontaria e acertou
Vassoura
no espinhaço
Com
esse tiro mortal
Livino
elí se deu mal
Caindo
em seu próprio laço.
E
antes do último suspiro
A
Deus pediu seu perdão
E
para a Nossa Senhora
Lhe
pediu a intercessão
E
por fim pediu Livino
Para
Antônio e Virgulino
Justiça
paro seu Sertão.
E
pra ser corpo não ser
Profanado
pelo inimigo
Lampião
cortou a cabeça
De
seu irmão, seu amigo
E
mesmo pra alguém tão rude
Aquela
macabra atitude
O
deixou tão constrangido.
E
no dia vinte e cinco
Do
Natal de vinte e seis
Esperança,
finalmente
Encontrava
a sua vez
A
sua paz tão sonhada
Em
uma tarde mal fadada
Num
ato de insensatez.
Na
fazenda Poço do Ferro
Um
dos coitos de Lampião
O
seu bando descansava
Das
últimas lutas então
Quando
houve o ocorrido
Antônio
Ferreira ferido
Despediu-se
de seu irmão.
Virgulino
que estava
Bem
distante no momento
Quando
ouviu o estampido
Parecia
até com um vento
E
ao chegar encontrou
Antonio
que lhe contou
O
triste acontecimento.
Ao
brincar com Luis Pedro
Seu
amigo de confiança
Disputando
uma rede
Porque
queria Esperança
Nela
poder se deitar
E
começou a brincar
Como
se fosse criança.
Luís
que estava deitado
Com
um rifle em sua mão
Foi
puxado por Antônio
Que
lhe derrubou no chão
A
arma então disparou
E
mortalmente acertou
Porém
sem ter intenção.
E
disse mais: meu irmão
Se
você gosta de mim
Eu
quero que de hoje
Você
goste tanto assim
Do
nosso compadre Luis
Pra
ninguém ser infeliz
Porque
chegou o meu fim.
Meu
compadre Luis Pedro
Não
abandone nosso irmão.
Luís
Pedro disse: eu juro
Olhando
para Lampião
Meu
compadre eu juro a vós
Nem
a morte separa nós
Nas
quebradas do Sertão.
Ao
desprender-se do corpo
De
Antônio já sem vida
Lampião
olhou pra Luís
Que
com a vós estremecida
Disse
para Virgulino:
Me
mate sou assassino.
Mas
Lampião em seguida.
Abraçou com Luís Pedro
Com
tristeza e comoção
Dizendo:
tenha coragem
Me
dê aqui sua mão
Porque
de agora em diante
Você
pra mim é importante
Como
foi o meu irmão.
Luís
você não tem culpa
Não
aumente a desgraça
Antônio
com certeza está
Ao
lado da Divina Graça
Foi
morar com Mãe e Pai
E
com Livino que em paz
Agora
mesmo lhe abraça.
Depois
sepultou Antonio
Junto
a um pé de cajarana
A
dor da sua família
Torturava
sua alma humana
E
com um punhal na mão
Desafiou
a assombração
Por
mais de duas semanas.
E
seguido por seus cabras
Rumou
para o Ceará
E
ninguém compreendia
O
que ele estava a falar
E
nas estradas do Sertão
Vagou
louco o capitão
Que
não podia chorar.
Um
mês depois do ocorrido
A
policia descobriu
A
cova de Antônio Ferreira
E
o comandante pediu
Que
arrancasse com o facão
A
cabeção e então
Municiou
seu fuzil.
E
ordenou que numa estaca
Aquela
cabeça fincasse
Mandando
aos soldados
Que
todos nela atirasse
E
deixaram-na abandonada
Na
beira de uma estrada
E
mostrar pra quem passasse.
Que
o cangaço já era
Que
ele era o melhor
Cangaceiro
não prestava
Não
tinha alma e o pior
Era
filho de chocadeira
Raça
ruim desordeira
Espécie
de marca maior.
Manuel
Neto era o chefe
Dessa
força policial
Que
agia em Pernambuco
Sem
escrúpulo, sem moral
E
assim tão desumano
Profanou
um corpo humano
Dessa
forma irracional.
Assim
era a policia
Grande
força desordeira
Irmã
contrária ao cangaço
Fazendo
à própria maneira
Equipada,
armada e forte
Espalhando
medo e morte
Tendo
a Lei como bandeira.
Muitas
vezes Lampião
Sepultava
os envolvidos
Encomendando
suas almas
Para
serem absolvidos
Porque
não era fraterno
Deixa-lo
sofrer no inferno
Como sofrem os excluídos.
Que
vivem no meu Sertão
Sem
ter direito ao direito
Sem
terra e se comida
Mas
elegendo o Prefeito,
Governador
e Presidente
Depositando
nessa gente
O
seu sonho já desfeito.
No
Brasil de norte a sul
Era
só revolução
O
governo já não tinha
Mais
as rédeas da nação
Era
um tal de Tenentismo
Impulsionando
o comunismo
Buscando
libertação.
No
nordeste brasileiro
Naqueles
tempos passados
A
igreja para não perder
O
controle do povoado
Dizia
que o comunista
Temia
padre exorcista
Pois
era o próprio diabo.
Mas
eu explico ao leitor
O
que é ser comunista:
É
viver em sociedade
Comum
sem escravagista
É
aprender a dizer não
Na
hora da eleição
Ao
burguês capitalista.
Luiz
Carlos Prestes foi
Um
tipo de cangaceiro
Muito
culto e educado
Lá
pro Rio de Janeiro
Mas
viu tudo diferente
Mesmo
sendo um tenente
Do
Exército Brasileiro.
Os
políticos do Nordeste
Com
medo do tal tenente
Mandou
chamar Lampião
E
lhe deu uma patente
Neste
momento caótico
Fez-se
o “Batalhão Patriótico”
Com
todo tipo de gente.
Na
cidade de Juazeiro
Do
Padre Cícero Romão
Deram-lhe
armas e fardas
E
o posto de capitão
E
disseram: Será perdoado
Se
lutar do nosso lado
Defendendo
esta Nação!
Só
que Lampião sabia
O
que tramava o inimigo
Depois
que acabasse a luta
Viria
então o perigo
Então
disse ao seu bando:
Eu
só quero o comando
Do
cangaço, meu abrigo!
Nem
bem amanheceu o dia
Ele
já tinha ido embora
Com
a bênção do Santo Padre
E
o terço de Nossa Senhora
E
do lado do governo
Que
nunca lhe deu sossego
Era
melhor cair fora.
E
a partir daquele dia
Lampião
ficou mais forte
Com
armas sofisticadas
Ganhas
num golpe de sorte
Imperou
neste Sertão
Que
temia o capitão
Que
enfrentava a morte.
Lampião
se tornou logo
Respeitado
no cangaço
Sua
coragem, seu ímpeto
Causava
grande embaraço
Por
onde ele aparecia
Ninguém
jamais esquecia
Depois
de juntar os bagaços.
Gumercindo
Cláudio Maia
Que
escreveu seu Tabuleiro,
Sua
gente e sua história
Num
estudo verdadeiro,
Despertou-me
a atenção
Quando
aquela Região
Visitou
um cangaceiro.
Naquela
manhã de Junho
Entraram
no povoado,
De
Tabuleiro de Areia
Cangaceiros
comandados
Pelo
facínora conhecido
E
por todos tão temido
Por
seu jeito endiabrado.
Quem
conhece o perfil
De
Virgulino Ferreira,
Sua
vida, sua história
Sabe
que é verdadeira,
Pois
movido por vingança
Fez
do crime a esperança
Da
justiça derradeira.
Gumercindo
em seu livro
Relatou
a ilustre visita,
Do
grande Rei do cangaço
Naquela
terra bonita.
Francisquinho
da espera
Ao
deparar com a fera
Disse
então sem fazer fita:
Pode
descer, Capitão!
Minha
casa sua é,
Para
toda cabroeira
Tem
leite, bejú e café,
Fumo
de rolo e feijão,
Carne
de bode e pirão,
Água,
sombra e muita fé.
O
bando era tão grande
Que
dividiram em três,
Foi
Antônio Alves Maia
Que
recebeu por sua vez,
No
armazém que possuía
Um
dos grupos que queria
Beber
sem virar freguês.
A
venda de Néco Pacheco
O
outro grupo recebeu,
Compraram
perfume barato,
Sabão,
querosene e breu,
Corda
de junco e chinela,
Lamparina,
pano e veia,
E
imagem da mãe de Deus.
Na
casa de Franscisquinho
Todo
mundo estava contente,
Um
dos cabras deu a ele
Bons
cigarros de presente,
Outro
cabra pensativo
Foi
dizendo: - meu amigo,
Me
escute, de repente.
Se
alguém for pra Mossoró
Deve
fazer romaria,
Na
cova de Menino de Ouro
Que
nos deixou certo dia,
Por
intermédio da bala
Que
calou sua fala
E
findou sua valentia.
Menino
de Ouro era
O
mais valente do bando,
Pois
somente respeitava
Lampião
em seu comando.
Quatorze,
era sua idade
Mas
tinha a ferocidade
De
um demônio atirando.
Então
naquela harmonia
Cangaceiro
e cidadão,
Compartilhava
histórias
Na
mais perfeita união.
Tomavam
muita cachaça
Soluçavam
e achavam graça
Naquele
belo sertão.
Porém
tinha um morador
Chamado
de Zé Vidal,
Que
tinha em sua propriedade
Um
belo e forte animal,
E
assim para não perder
Mandou
seu filho esconder
No
meio do matagal.
Ao
chegar no matagal
O
jovem se deparou,
Com
o Capitão Virgulino
Que
logo lhe perguntou:
Pra
onde tu vai, meu sincero?
Não
minta pra mim, eu espero
E
ele não amarelou:
Vim
esconder meu cavalo
para
o senhor não tomar.
Lampião
disse: não tema.
Seu
cavalo eu vou levar,
Eu
gostei muito da cor
Depois
mande um portador
Que
eu devolvo o "animá".
Realmente
Lampião
Devolveu
o animal,
Embora
muito cansado
Pra
tristeza de Zé Vidal.
Mas
cumpriu o prometido
Mesmo
sendo um bandido
Tinha
palavra e moral.
Ao
contrário da polícia
conhecida
por volante,
Caçadores
de cangaceiros
Eram
brutais e ignorantes,
Na
lei da perversidade
Ao
chegarem numa cidade
Saqueavam
num instante.
Não
respeitavam ninguém
Criança,
padre e senhora,
Com
o aval do governo
Do
Ceará e de fora,
Pra
difamar LAMPIÃO
Praticavam
no sertão
A
violência que devora.
Pois
enquanto Virgulino
Se
divertia em Tabuleiro,
Os
macacos do Governo
No
encalce do cangaceiro,
Semeavam
dor e medo
Roubando-lhe
então sossego
Deixando
sangue no terreiro.
E
Lampião desconfiado
Da
paz naquele lugar,
Chamou
a cobra "Moreno"
Dizendo:
vou me mandar!
Chama
os outros, e vambora
Os
macacos não demora
Logo,
logo vão chegar.
E
pela estrada do governo
Atual
PADRE ACELINO,
Desapareceu
o bando
Do
Capitão Virgulino.
Se
mandou pra Iracema
Cidadezinha
pequena
Do
seu sertão nordestino.
No
Ano de Vinte e Sete
No
dia treze de agosto,
Um
grupo de cangaceiros
Com
outro comando no posto,
Em
Tabuleiro de Areia
Fez
vogar a LEI DA PEIA
Da
violência e desgosto.
Lampião
que era poeta
E
compositor de primeira
Quando
saqueava as Vilas
Cantava
mulher rendeira
E
“É Lamp, Lamp, Lampião”
Que
era seu maior refrão
Cantado
pela cabroeira.
Onde
houvesse opressão
Ele
logo aparecia
Dava
auxilio em dinheiro
Ao
pobre que padecia
Respeitava
as donzelas
E
não deixava que elas
Fosse
frutos de serventia.
No
ano de vinte e nove
Virgulino,
o Lampião
Provou
porque era mesmo
"O
Governador do Sertão"
Quando
passou em Sergipe
Simplesmente,
acredite
Sem
disparar um rojão.
Com
o seu grupo formado
De
nove "cabras" valentes:
Volta
Seca e Ezequiel,
Moderno
e Arvoredo na frente,
Fortaleza
e Gavião,
Zé
Baiano, Gato e Mourão
Chegaram
então de repente.
Lá
na pequena Carira
E
escreveu ao delegado
Felismino
Dionisio
Mostrando
ser educado
Pedindo
autorização
Mas
o delegado, em vão
Já
havia se ausentado.
Seis
soldados possuía
Todo
destacamento
Da
pequena Carira
Então
naquele momento.
Mas
somente dois ficaram
Os
demais se debandaram
Fugindo
daquele evento.
Quando
Lampião ficou
Sabendo
do acontecido
Elogiou
a coragem
Dos
soldados destemidos
E
foi ele pessoalmente
Parabenizar,
com presentes
Aos
seus novos protegidos.
Porque
um homem valente
Não
se devia matar
Era
preciso viver
No
Sertão para honrar
A
fama de "cabra macho"
Cabra
de coragem e facho
Era
pra cria botar.
E
ali o povo sem medo
Foi
conhecer Lampião
Que
sob salva de palmas
De
toda população
Seguiu
meio desconfiado
O
seu rumo intencionado
Sumindo
na escuridão.
Pernoitou
naquela noite
Na
casa de um fazendeiro
Que
acolheu sem protesto
O
grupo de cangaceiros
Que
de manhã bem cedinho
Rumou
para sobradinho
Agradecendo
ao "coiteiro".
Na
entrada da Cidade
Sergipana,
entrincheirou
Lampião
todo o seu bando
E
por um portador mandou
Um
bilhete ao Intendente
Solicitando
urgente
E
assim ele relatou:
"Estou
em missão de paz
Por
favor venha aqui.
Se
não vier entro a bala
E
acabo com tudo ai..."
A
Cidade apavorada
Ficou
com as mãos atadas
Tendo
Lampião ali.
O
Prefeito comunicou
Ao
delegado a questão
Que
respondeu: Tu tá doido,
Vá
receber o Capitão!
O
destacamento fugiu
No
meio do mato sumiu
Com
medo de Lampião!
Ele
nem mesmo pensou
Duas
vezes no assunto
Chamou
o dito emissário
E
com ele partiu junto
Para
a entrada da Cidade
E
disse sem autoridade:
O
que queres, lhe pergunto?
Lampião,
disse: Prefeito,
Me
escute afinal.
“Vocês
diz” que sou bandido
Mas
não ando fazendo mal
A
quem mal não me faz
Por
isso fique em paz
E
bote no meu embornal.
Vinte
conto de réis
Somente
pra me ajudar.
Que
eu prometo Prefeito
Nenhum
estrago causar,
A
vida de Cangaceiro
Sem
comer, bala e dinheiro
Não
tem como se sustentar!
E
o prefeito lhe alegou
Não
possuir tal quantia,
O
comércio enfraquecido
Com
a seca que consumia.
E
Lampião sem demora
Retrucou
na mesma hora:
Também
vivo essa agonia!
São
quatorze anos de seca
Sendo
nove de Cangaço,
Me
dê ao menos seis contos
Não
me cause embaraço.
Para
tudo tem um jeito
Me
ajude, seu Prefeito
E
mal nenhum eu lhe faço!
E
saíram em comissão:
O
prefeito e o delegado,
O
padre e o telegrafista
Em
busca do solicitado.
Nos
comércios e fazendas
Arrecadaram
a renda
Conforme
o estipulado.
A
receber o dinheiro
Com
muita satisfação,
Agradeceu
comovido
Dizendo
assim Lampião:
Eu
sei que foi de bom grado
Por
isso muito obrigado
Gente
de bom coração!
E
na madrugada partiu
Seguindo
pra Aquidabã
Chegando
nessa Cidade
Com
o Sol da Alta manhã
Onde
foi bem recebido
Nem
parecia um "bandido"
Arrodeado
de fã.
O
prefeito e o juiz,
E
o povo todo festeiro
Prestaram
grande homenagem
Ao
maior dos Cangaceiros,
Que
rumou para Bahia
Levando
como dizia:
"Coragem,
bala e dinheiro!"
Em
mil novecentos e trinta
Em
meados de Fevereiro
Lampião
necessitando
Os
serviços de sapateiro
Para
concertar as cangas
E
encomendar bugigangas
Apetrechos
cangaceiros:
Apragatas,
barbicachos,
Cinturões
de cartucheiras,
Bruacas,
chapéus e tiras,
Embornais
e bandoleiras...
E
mandou que Luís Pedro
Fosse
de manhã bem cedo
Com
mais dois da cabroeira.
Como
estavam acampados
No
raso da Catarina
Vendo
os quimbembes velhos
Totalmente
em ruinas
Aproveitaria
o descanso
No
cenário seco e manso
Naquela
dura rotina.
E
Luís Pedro Partiu
Naquele
seco caminho
Ladeado
por Cambaio
E
por Vicente Marinho
Encomendar
o serviço
E
depois pagar por isso
Se
fosse rápido e certinho.
O
sapateiro escolhido
Diziam:
tudo remenda!
Chamava-se,
Zé de Neném
Seria
dele a encomenda.
E
Zé tinha em sua casa
Um
lindo Anjo sem asa
Uma
verdadeira prenda.
Seu
nome, Maria Alina
Apelido,
Maria de Déia
Que
casada há oito anos
Sonhava
com uma epopeia,
Coisa
talvez impossível
Pois
seu marido insensível
Desprezava
essa ideia.
Só
pensava em bater sola
Porque
era seu ofício
E
viver naquele Sertão
Já
era um sacrifício
Sua
mulher simplesmente
Já
pensava diferente:
Aquilo
era um desperdício!
Homem
era Lampião
Que
combatia e dançava,
Em
Carira e Sobradinho
E
em Aquidabã mandava,
Bandido
de coração nobre
Fiel
protetor dos pobres
Que
todo Sertão respeitava!
Luís
Pedro, ouviu tudo
E
contou pra Lampião
Que
lhe disse: meu compadre,
Com
essa eu não bulo não
E
toda mulher casada
Deve
é ser respeitada
Não
mudo de opinião!
E
Luís disse: Vá lá,
Somente
pro Senhor ver
Essa
mulher que eu falo
Juro
não vai esquecer,
Aquele
rosto tão belo
Parece
um Anjo singelo
Que
no Sertão foi viver!
E
continuou Luís Pedro:
O
marido nem dá bola!
Ela
até me confessou
Que
a noite ele não consola,
Sua
solidão de mulher
Porém
se o Senhor quiser
Na
estrada mete sua sola.
Lampião
falou: seu cabra
Vamos
deixar de conversa,
Não
se fala mais no assunto
Eu
não entro numa dessa
Tá
na hora de dormir
Amanhã
vamos sair
Mas
pra ir buscar as peças.
No
Raso da Catarina
O
Sol nasceu diferente,
E
depois de muito tempo
O
Nordeste, sorridente.
Tudo
então parecia
Que
a Paz e a Harmonia
Triunfava
novamente.
Com
um uniforme impecável
Lenço
em volta ao pescoço,
Perfumado
e barbeado
Parecia
até mais moço
Lampião
apareceu
E
com o jeito só seu
Ordenou
sem alvoroço:
Compadre
Luís vá chamar
Bem
ligeiro, Beija-Flor!
Pensativo
Luís disse:
Isso
é mesmo o amor.
O
nosso Rei a tardinha
Vai
conhecer sua Rainha
E
ele é merecedor!
E
ao chegar na porteira
Da
casa do sapateiro
Nem
deu tempo desmontar
O
chefe dos cangaceiros,
Quando
apareceu cheirosa
A
mais bela e mais formosa
Do
Nordeste brasileiro.
Lampião admirado
Nem
queria acreditar,
Seria
mesmo verdade
Ou
estava a sonhar.
E
sorrindo de contente
Viu
ali na sua frente
O
verdadeiro amor brotar.
Que
- que Ma - Maria Bonita!
Ele
falou gaguejando.
E
lhe estendendo a mão
Num
gesto cumprimentando.
Era
só felicidade
Que
sem ter dificuldade
Rápido
foi desmontando.
E
pra sentar-se a sombra
Ela
então o convidou,
E
para ouvir a conversa
Até
o tempo parou.
Maria
falava tudo
E
Lampião quase mudo
Criou
coragem e falou:
É
verdade que você
Tem
coragem de ir comigo?
Ela
respondeu: vou sim,
E
não temo o perigo.
E
se o Senhor quiser
Eu
serei sua mulher
E
vou embora contigo!
Lampião
disse: mulher
Casada
que já tem dono...
Ela
interrompeu dizendo:
Eu
vivo no abandono.
Quero
viver a seu lado
Como
dois apaixonados,
Esse
sim é o meu plano!
Dona
Déia que estava
Espiando
na janela,
Inspirou
aliviada
Vendo
sua filha tão bela
Ao
lado de Lampião
Governador
do Sertão
Totalmente
escravo dela.
E
convidou o casal
Para
comer na cozinha.
Enquanto
Zé de Neném
O
seu trabalho mantinha.
Com certeza receoso
Nem
sentia o cheiro gostoso
Do
queijo, café, farinha,...
Mesmo
espiando tudinho
Que
estava acontecendo
Zé
de Neném só olhava
E
a sola ia batendo.
Lampião
despreocupado
Por
Maria apaixonado
Viu
o Sol se escondendo.
Voltou
para o acampamento
Mas
antes disse a Maria:
Amanhã
bem cedo eu volto
Antes
do nascer do dia.
Você
vai morar comigo
Vou
enfrentar o perigo
Mas
na sua companhia!
Nem
bem o dia raiou
Lampião
já estava lá,
Na
porta do sapateiro
E
antes de dizer, olá.
Maria
veio correndo
E
pra ele foi dizendo:
Eu
não fico mais por cá!
Zé
de Neném que tomava
Seu
mingau de Carimã,
Parecia
um agricultor
Ouvindo
o som da Acauã.
Enquanto
lá fora a harmonia
Dos
primeiros raios do dia
Embelezava
a manhã.
Zé
olhou para a janela
E
falou com a voz serena,
Até
mesmo a escolta
De
Lampião sentiu uma pena.
Maria,
tu vai me deixar?
E
Lampião, sem se importar
Partiu
com sua pequena.
Porém
deixou uma carta
Escrita
com a própria mão,
Pra
que todo mundo soubesse
Que
ele não era ladrão,
Relatando
que Maria
Foi
pra sua companhia
Por
sua própria opção.
Com
uma grande festança
Lampião
comemorou,
Xaxado,
xote e polca
Naquela
noite dançou,
Com
sua Maria Bonita
Toda
enfeitada de fita
Virgulino
se Casou.
A peitíca e o
bacural
Entretidos
espiavam
De cima de um pé
de pau.
Quando Lampião e
Maria
De fininho
escapulia
Para noite
nupcial.
Com
a entrada de Maria
Na
rotina do cangaço
Quem
tivesse sua mulher
Oficializasse
os laços
Lampião
deu o direito
A
todos no mesmo leito
Ocupar
o mesmo espaço.
Algumas
eu tenho em mente
Eis
aqui a relação:
Sila
com Zé Sereno,
Maninha
com Gavião,
Rosinha
com Mariano,
Lídia
com Zé Baiano,
E
Leolina com Azulão.
Maroca
com Mané Moreno,
Aldina
com Paturí,
Catarina
com Sabonete,
Dussanto
com Alecrim,
E
o tempo ía passando
E
a tropa aumentando
Maria
com Jurití.
Lilí
com Moita Brava,
Veronquinha
com Beija-Flor,
Entre
tantas que aprenderam
A
enfrentar o terror,
Mocinha
mulher de Medalha
Não
fugia da batalha
Defendendo
o seu amor.
Foram
mulheres que o amor
Moldou
para aquele cenário
Neném
foi de Luís Pedro,
Adília
foi de Canário,
Dora
foi de Arvoredo
E
desconhecia o medo
Do
cangaço ex -solitário.
Enfrentavam
uma luta,
Sem
temer uma abordagem...
Por
isso a essa mulheres
Eu
presto esta homenagem.
Apesar
da triste sorte
Muitas
encontraram a morte
Mas
morreram com coragem.
Foi numa luta
travada
Na fazenda de
Angicos
Que até hoje é
falada
Dizem que ele
morreu
De um veneno que
bebeu
Outros falam em
cilada.
Porque
a policia depois
De
abater o bandido
Desfigurou
sua cabeça
Que
do corpo dividido
Não
entregou o cangaceiro
Morto,
porém inteiro
Para
ser reconhecido?
Sei
que viram Lampião
Em
Goiás e no Amapá
Comprando
e vendendo gado
Como
vivia a sonhar
E
na minha opinião
O
tempo matou Lampião
Que
não pode escapar.
Quem
conhece essa história
De
uma vida tão sofrida
Pode
então me responder
Esta
pergunta esquecida:
Quem
acendeu Lampião
Nas
noites do meu sertão
Procurando
uma saída?
O
GOVERNADOR DO SERTÃO
Virgulino
Ferreira, alcunha Lampião
Foi
o rei do cangaço, aqui neste sertão.
Matador
implacável, exímio atirador
Ao
punhal e parabélum jurou eterno amor.
E
compôs canções “pros cabras” dançar
E
pelos sertões vivia a cantar:
Acorda
Maria Bonita
Levanta
e faz o café
Que
os “macaco do governo”
Já
estão de pé!
Odiado
e querido assim ele viveu
No
reino da caatinga que a justiça esqueceu
Eu
já fiz mil perguntas, mas ninguém respondeu:
Quem
foi que realmente Lampião acendeu?
Pois
o Capitão aceso ficou
E
por sua mão uma nova lei vogou.
Era
uma roda de fogo
Que
ao coronel assombrava
E
pra não viver de luto
Imposto
pagava.
Pra
ele não importava morrer ou matar
Pernambuco
e Bahia, Alagoas e Ceará,
Rio
Grande do Norte Lampião enfrentou
Foi
tanto tiroteio que o sangue encharcou...
O
Nordeste, então que só acalmou
Quando
Lampião, enfim apagou.
Sergipe,
Fazenda Angicos
Brasil
a fora correu
A
noticia que ali
Lampião,
morreu.