20/03/2018

JOSÉ LOURENÇO, O BEATO DO CALDEIRÃO - POETA PÁDUA DE QUEIRÓZ - BATURITÉ/CE

JOSÉ LOURENÇO
O BEATO DO CALDEIRÃO
No povoado de Juazeiro
Do Padre Cícero Romão
No fim do século dezenove
O povo do meu sertão
Chegou pra ver o milagre
Que ocorreu na região.
Foi a prova que o Padre
Era mesmo milagreiro
E abarrotado de gente
Ficou o seu Juazeiro
E os visitantes ficaram
Conhecidos por romeiros.
Chegou gente do Rio Grande
Do Norte e de Alagoas
De Sergipe, Pernambuco
Que acreditavam na pessoa
Do Padre Cícero Romão
Que a todos abençoa.
Ex-escravos que libertos
Não tinham onde morar,
Homens do campo sem terra
Que não tinham onde plantar
O Santo do Juazeiro
Recebeu sem protestar.
Os retirantes da seca
Homens de bem perseguidos
Homens rudes e homens dóceis
jagunços e foragidos
Na Méca do Cariri
Todos eram bem vindos.
Quem chegava tinha terra
Pra fazer sua plantação
Mas devia obediência
E a crença na religião
Não se tolerava vícios
Ou qualquer desunião.
Uma nova chance na vida
Padre Cícero oferecia
mas tinham que respeitar
Ao padre e a Virgem Maria
O fim do sofrimento
E Juazeiro crescia.
Em mil oitocentos e noventa
O Padre foi procurado
Por um paraibano que era
Filho de escravos alforriados
Chamava-se José Lourenço
E logo foi encarregado.
Em liderar uma missão
Que para o Padre era santa
Na cidade do Crato
Lá no sítio Baixa Dantas
A terra era muito árida
Porém só colhe quem planta.
Então vários flagelados
O Padre Cicero enviou
Aos cuidados de Lourenço
Que aquela causa abraçou
E em pouco tempo as terras
Do sítio então prosperou.
Isso despertou a fúria
Dos fazendeiros dali
Devido a facilidade
Que passou a produzir
Legumes de todo jeito
Milho, arroz, fava e pequi.
José Lourenço cuidava
Com muito zelo de um boi
Que o Padre Cicero lhe dera
E bem cuidado ele foi
Mas espalharam um boato
E prenderam Lourenço depois.
Por fazer naquele sitio
O pecado da idolatria
Cultuar um boi é pecado
Era mais que heresia
Dizer que o boi era santo
E até milagre fazia.
José Lourenço ficou
Conhecido por “beato”
Não sei se por sua fé
Ou por causa daquele fato
E do Sítio Baixa Dantas
Partiu pro rumo do mato.
Levando toda a sua gente
Com a mesma intensão
Plantar a terra e depois
Dividir com seu irmão
Se instalaram na localidade
Chamada de Caldeirão.
Pertencia ao Padre Cicero
Homem “santo, admirável”
E o Caldeirão se tornou
Logo autossustentável
Porém as perseguições
Já estava insuportável.
Mesmo com a proteção
Do Santo do Juazeiro
Que doou aquelas terras
Para o beato romeiro
Sempre eram atacados
Por ordem dos fazendeiros.
Quando em mil e novecentos
E trinta e quatro morreu
Cicero Romão Batista
O pior aconteceu
Mais um inimigo do povo
Na questão apareceu.
Eram os Salesianos
Da mesma congregação
Do Padre Cicero e herdeiros
Que exigiram ação
Do governo federal
No caso do Caldeirão.
Já que o beato não tinha
A documentação da terra
A justiça simplesmente
Sem dar ouvidos encerra
As negociações com o povo
Iniciando uma guerra.
Pois alegava o governo
Que após um logo estudo
Temiam que o Caldeirão
Tornasse uma nova Canudos
Invadiram o Caldeirão
Para acabar de vez com tudo.
Foi no ano trinta e sete
Pela a terra e pelo ar
O governo federal
Botou para massacrar
Utilizando aviões
Pra de vez exterminar.
Mais de mil seres humanos
Brutalmente assassinados
O governo de Getúlio
Mais uma vez foi machado
Com o sangue de inocentes
Naquele solo encharcado.
José Lourenço não foi
Morto como conselheiro
Fugiu para Pernambuco
Sem comida e sem dinheiro
Por dedicar a comunidade
Seu trabalho e caridade
E a fé no Santo Romeiro.

Poeta Pádua de Queiróz
BATURITÉ/CE 20.03.18
Com afeto e gratidão ao amigo Jorge Portela aluno do Curso de História da UECE(Universidade Estadual do Ceará)

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