08/08/2020

JOSÉ ARLINDO DE OLIVEIRA - POETA REPENTISTA, CORDELISTA E MÚSICO(BATURITÉ/CE)

 


AINDA HOJE SINTO SAUDADE

DAS TERRAS DO MEU SERTÃO

 

Nos tempos que eu trabalhava

Eu vivia alegremente

Enfrentando o Sol quente

Muita saúde eu gozava.

E por onde eu passava

Cantava a minha canção

Ao som do meu violão

E a minha honestidade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão.

 

Eu recordo que na época

Eu trabalhava na roça

Eu vivia de mão grossa

Mas não era sofrimento.

Pegava então meu jumento

Ia catar meu feijão

Com uma foice na mão

Mas sem nenhuma maldade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão.


As vezes fico lembrando

Quando eu andava a cavalo

Voltava ao cantar do galo

Já o dia clareando.

A vaca eu ia desleitando

Era a minha obrigação

Tirava peixe em galão

Na maior tranquilidade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão.

 

Me lembrei do caçador

Sem ferramenta na mão

Logo quem cava o chão

É seu cão farejador

E seja a hora que for

Ele tem disposição.

Caçando sua refeição

Em sua propriedade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão.


No sertão o agricultor

É um homem tão sofrido

Pelos grandes, esquecido

Mas ele tem seu valor.

Um caboclo sofredor

Vive capinando o chão

Com uma enxada na mão

Cheio de felicidade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão.

 

Acho bonito o vaqueiro

Todo vestido de couro

Correndo atrás de um touro

Descendo despenhadeiro

Faz o papel de um guerreiro

Montado em seu Alazão.

Puxa o boi, bota no chão

Com muita facilidade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão.


Eu vou falar do Pavão

Ele tem sua beleza

Sua grande boniteza

Causa admiração.

Já a Cobra não tem não

Se arrasta pelo chão

Sem ter pé e sem ter mão

Mas tem agressividade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão.

 

Admiro o João de barro

Trabalha com perfeição

Constrói a sua mansão

E ninguém lhe dar esparro.

Pois não precisa de carro

Nem dinheiro e nem formão

Termina sua construção

É pedreiro de verdade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão



Botei água em ancoreta

carregando em burra cega

andando mais de três léguas

eu vi muita coisa preta.

Isso a gente se sujeita

Quando está na sequidão

Mas quando chove no chão

Volta a felicidade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão.

 

Contemplando a natureza

Eu acho muito importante

O milho é fascinante

Nasce de um grão com certeza.

Entre o calor e a frieza

Se houver chuva no chão

Cresce logo, sai pendão

Dá com três meses de idade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão.


Nosso rei Luiz Gonzaga

Foi o maior sanfoneiro

Viajou o mundo inteiro

Sua fama não se estraga

Nem seu nome se apaga

Ele é minha inspiração

Cantando a sua canção

Foi uma celebridade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão.

 

Januário era seu pai

Sua mãe Dona Santana

Das terras pernambucanas

A sua fama não cai.

No mundo inteiro ela vai

Ainda está em evolução

Está em meu coração

Sua música de qualidade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão.

Eu sou filho de uma terra

Que se chama serra azul

Onde corre a Nambú

E o poeta não erra.

Sua rima não se encerra

Nem a sua inspiração

Improvisa com atenção

Com toda capacidade

Ainda hoje sinto saudade

Das terras do meu sertão.

 

Sou um poeta pequeno

Que não tem sabedoria

Meu Deus me deu um aceno

Com sua soberania

Sem precisar fazer teste

Pra mim cantar meu Nordeste

Declamado em poesia.

 


JOSÉ ARLINDO DE OLIVEIRA é poeta cordelista, repentista, compositor. Radicado em Baturité desde os anos 90, é oriundo de  Ibaretama, CEARÁ (02.04.1959)

Estreou na literatura de cordel em um ensaio do poeta cordelista Pádua de Queiróz, com o cordel intitulado: “As coisas do meu Sertão.” Embora com uma temática rica e variada, José Arlindo, o poeta da viola faz questão de ressaltar em seus versos de rimas polidas com simplicidade, a vida cotidiana do sertanejo.

“AINDA HOJE SINTO SAUDADE DAS TERRAS DO MEU SERTÃO” marca sua estreia como poeta cordelista após brilhar por mais de cinquenta anos  abraçado a sua viola de repentista.

 

capa: Pádua de Queiróz

paduadequeirozcordelearte.blogspot.com85.987924575

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