DAS TERRAS DO MEU SERTÃO
Nos tempos que eu trabalhava
Eu vivia alegremente
Enfrentando o Sol quente
Muita saúde eu gozava.
E por onde eu passava
Cantava a minha canção
Ao som do meu violão
E a minha honestidade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão.
Eu recordo que na época
Eu trabalhava na roça
Eu vivia de mão grossa
Mas não era sofrimento.
Pegava então meu jumento
Ia catar meu feijão
Com uma foice na mão
Mas sem nenhuma maldade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão.
As vezes fico lembrando
Quando eu andava a cavalo
Voltava ao cantar do galo
Já o dia clareando.
A vaca eu ia desleitando
Era a minha obrigação
Tirava peixe em galão
Na maior tranquilidade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão.
Me lembrei do caçador
Sem ferramenta na mão
Logo quem cava o chão
É seu cão farejador
E seja a hora que for
Ele tem disposição.
Caçando sua refeição
Em sua propriedade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão.
No sertão o agricultor
É um homem tão sofrido
Pelos grandes, esquecido
Mas ele tem seu valor.
Um caboclo sofredor
Vive capinando o chão
Com uma enxada na mão
Cheio de felicidade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão.
Acho bonito o vaqueiro
Todo vestido de couro
Correndo atrás de um touro
Descendo despenhadeiro
Faz o papel de um guerreiro
Montado em seu Alazão.
Puxa o boi, bota no chão
Com muita facilidade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão.
Eu vou falar do Pavão
Ele tem sua beleza
Sua grande boniteza
Causa admiração.
Já a Cobra não tem não
Se arrasta pelo chão
Sem ter pé e sem ter mão
Mas tem agressividade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão.
Admiro o João de barro
Trabalha com perfeição
Constrói a sua mansão
E ninguém lhe dar esparro.
Pois não precisa de carro
Nem dinheiro e nem formão
Termina sua construção
É pedreiro de verdade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão
Botei água em ancoreta
carregando em burra cega
andando mais de três léguas
eu vi muita coisa preta.
Isso a gente se sujeita
Quando está na sequidão
Mas quando chove no chão
Volta a felicidade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão.
Contemplando a natureza
Eu acho muito importante
O milho é fascinante
Nasce de um grão com certeza.
Entre o calor e a frieza
Se houver chuva no chão
Cresce logo, sai pendão
Dá com três meses de idade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão.
Nosso rei Luiz Gonzaga
Foi o maior sanfoneiro
Viajou o mundo inteiro
Sua fama não se estraga
Nem seu nome se apaga
Ele é minha inspiração
Cantando a sua canção
Foi uma celebridade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão.
Januário era seu pai
Sua mãe Dona Santana
Das terras pernambucanas
A sua fama não cai.
No mundo inteiro ela vai
Ainda está em evolução
Está em meu coração
Sua música de qualidade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão.
Eu sou filho de uma terra
Que se chama serra azul
Onde corre a Nambú
E o poeta não erra.
Sua rima não se encerra
Nem a sua inspiração
Improvisa com atenção
Com toda capacidade
Ainda hoje sinto saudade
Das terras do meu sertão.
Sou um poeta pequeno
Que não tem sabedoria
Meu Deus me deu um aceno
Com sua soberania
Sem precisar fazer teste
Pra mim cantar meu Nordeste
Declamado em poesia.
Estreou na literatura de
cordel em um ensaio do poeta cordelista Pádua de Queiróz, com o cordel
intitulado: “As coisas do meu Sertão.” Embora com uma temática rica e variada,
José Arlindo, o poeta da viola faz questão de ressaltar em seus versos de rimas
polidas com simplicidade, a vida cotidiana do sertanejo.
“AINDA HOJE SINTO
SAUDADE DAS TERRAS DO MEU SERTÃO” marca sua estreia como poeta cordelista após
brilhar por mais de cinquenta anos
abraçado a sua viola de repentista.
capa:
Pádua de Queiróz
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