MINHA
HISTÓRIA
Quem sou
eu, preste atenção
Que agora
eu vou contar
Da
cultura popular
Nasci em
Baturité
Minha
terra, meu lugar.
Foi em
mil e novecentos
E setenta
e um, que eu
Cheguei
aqui neste mundo
Que mamãe
me concebeu
E foi Antônio
de Pádua
O nome
que ela me deu.
Era o mês
de dezembro
Dezesseis,
o exato dia
No bairro
do Putiú
O sol já
se escondia
E foi
três dias depois
Da festa
de Santa Luzia.
Filho de
uma costureira
E um
soldado de valor
Rodeado
de carinho
Fui
recebido com amor
Dona
Quinca, minha mãe
Cabo
Borges, meu genitor.
E assim
eu fui crescendo
Sempre
muito bem cuidado
Por papai
e por mamãe
E meus
oito irmãos ao lado
03
Fui então
matriculado.
Na escola
Estevão Alves
Para
aprender a ler
Coube a
Mirian Camurça
Me
ensinar o ABC
A
primeira professora
Eu jamais
vou esquecer.
Era mil e
novecentos
E setenta
e nove, o ano
Secou rio
e todo verde
O povo no
desengano
Começou a
abandonar
O
município serrano.
Com
destino a capital
Fugindo
da estiagem
Cinco
anos, sem chuva
E sem
água na barragem
E em
quatro de janeiro
Fizemos
nossa viagem.
No ano de
oitenta e quatro
Para a
imensa Fortaleza
Não sei
se deixei saudade
Mas confesso
com certeza
Que eu
levei em meu peito
Tristeza,
muita tristeza.
Na Vila
Manuel Sátiro
Treze
anos, tão pequeno
Magro das
“canela seca”
Parecia
extraterreno
E minha
primeira escola
Foi
Henriqueta Galeno.
O bairro
era animado
Um lugar
bom pra morar
Eu ainda
tinha em mente
Pra minha
terra voltar
Muito
embora não faltasse
Amiguinhos
para brincar.
No ano de
oitenta e cinco
Ano da
grande enchente
Noticiou
o jornal:
“no
interior morreu gente
E
Patativa do Assaré
Retratou
em seu repente:
“é triste
para o Nordeste
O que a
natureza fez
Mandou
cinco anos de seca
Nenhuma
chuva no mês
Agora em
oitenta e cinco
Mandou
tudo de uma vez!”
Mamãe já
tinha emprego
Não podia
abandonar
O pouco
que ela ganhava
Dava sim,
pra alimentar
Meus
irmãos e o aluguel
Todo mês
certo pagar.
Confesso
que demorei
Muito pra
me adaptar
A capital
cearense
Ao
ambiente escolar
A saudade
de minha terra
Não
queria me deixar.
04
Na escola
eu me sentia
Um
passarinho sem asa
Vivia
sempre isolado
Melhor me
sentia em casa
Mamãe
dizia no estudo
Este
menino se atrasa.
Mesmo com
dezesseis anos
Me sentia
numa gaiola
Eu tinha
até liberdade
Pra
passear e jogar bola
E no ano
de oitenta e sete
Me mudei
pra outra escola.
Maria
Thomásia, era
Uma
escola estadual
Bem maior
e parecia
Com um
centro cultural
Fiquei
logo interessado
Por achar
sensacional.
Ficava na
Maraponga
Para onde
nos mudamos
Com muita
facilidade
Logo nos
adaptamos
Lá na rua
Dinamarca
Pertinho
da Nereu Ramos.
Meu
professor Iton Lopes
Nascido
em minha cidade
Era ator
e cordelista
De grande
capacidade
Me
apresentou o cordel
E sua
originalidade.
Além de
utilizar a música
Como
entretenimento
Ou um
meio de mensagem
Ou
melhor, um ensinamento
Me
transmitiu com amor
Todo seu
conhecimento.
Cedo me
tornei poeta
Cordelista
e ilustrador
Graças a
Iton Lopes
Meu
saudoso professor
Que desde
noventa e dois
Mora com
nosso senhor.
Quem
acendeu Lampião
Foi meu
primeiro cordel
Capa por
mim ilustrada
Numa
folha de papel
Em julho
de oitenta e oito
Esta data
é fiel.
A cultura
popular
Me deu
ânimo, me acendeu
Tornei-me
artista do bairro
O cordel
me envolveu
E onde
tinha um folheto
Acredite,
estava eu.
Veio a
década de noventa
E eu
tinha que trabalhar
Um
anuncio da marinha
Veio a me
interessar
Prestei
concurso e passei
E vi
minha vida mudar.
05
Viajei
para Manaus
Onde me
apresentei
No Corpo
de Fuzileiros
E lá eu
iniciei
O meu
curso de soldado
E com
mérito me formei.
Um
Fuzileiro Naval
Trocando
a vida civil
Pela a
vida na caserna
Por um
potente fuzil
Jurei
defender com a vida
A bandeira
do Brasil.
Foram
mais de cinco anos
Que eu
vesti meu camuflado
Não
deixei de ser poeta
Embora eu
fosse um soldado
Palestrava
nas escolas
Com meu
sotaque rimado
No ano de
noventa e dois
Em Manaus
fui criativo
Com
cordéis e com paródias
Fiz da
arte meu motivo
Comecei o
cordel na escola
Tendo
como objetivo.
Mostrar
lá na Amazônia
A cultura
nordestina
Meu
comandante dizia
Isso vai
ser sua ruina
Militarismo
e poesia
É coisa
que não combina.
Se
combinava ou não
Eu batia
continência
No quartel,
mas na escola
Sempre
com competência
Eu
ministrava oficinas
De cordel
com eficiência.
Os alunos
admiravam
Este novo
aprendizado
A
recompensa era boa:
“poeta
muito obrigado!”
Depois
dei baixa e voltei
Pro meu
“cearázim” amado.
Lá
continuei transmitindo
A cultura
popular
Nas
escolas, nas igrejas,
Bastava
só me chamar
Que eu ia
com todo gosto
E
disposto pra rimar.
Fazendo
por encomenda
Biografia
cordelizada
Pode me
contar que eu conto
Deixo a
história rimada
Em festa
de aniversário
Com
poesia era animada.
Eu também
escrevi letras
De
músicas de todo estilo
E para
sobreviver
Vivia
fazendo aquilo
Mas a
vida de artista
Não era
nada tranquilo.
06
E nem
sempre tinha evento
Passava
dificuldade
Viver de
arte nem sempre
Supria as
necessidades
Eu vivia
porque a arte
Era minha
cara metade.
Um dia
resolvi cantar
E
acredite, você
No ano de
dois mil e nove
Gravei
então um CD
E o
sucesso estourado
Foi “Com
medo de descer.”
Eu fui
até convidado
Cantar na
televisão
Fiz show em
praça e teatro
Dava pra
comprar o pão
Parodiando
Raul,
Roberto e
até Gonzagão.
Mesclando
o nosso cordel
Com a
música popular
O que me
dava prazer
Era me
apresentar
Nas
escolas e sobre a arte
Do cordel
pra palestrar.
Mas foi
em dois mil e nove
Que o
melhor aconteceu
Eu recebi
um convite
E
palestrar no Liceu
Da minha
terra natal
Que tão
bem me recebeu.
Eu
mantive uma agenda
Posso
dizer bem modesta
Duas ou
três vezes no mês
Cordelizava
em festa
Contratado
ou a convite
Na escola
dava palestra.
E assim
eu fiz meu nome
Na
cultura popular
Qualquer
tema eu abordava
Com minha
arte de rimar
Oficineiro
da escola
Começaram
a me chamar.
Desenvolvi
uma técnica
Chamada
esferogravura
Para
ilustrar meus cordéis
Ao invés
de xilogravura
Com
caneta esferográfica
Eu
desenhava figura.
Os alunos
na escola
Aprendiam
esta técnica
Numa
folha de papel
Proporcionalmente
simétrica
E os
fundamentos do cordel
Oração,
rima e métrica.
Se voltar
pra minha terra
Foi
motivo de alegria
No ano
dois mil e doze
Não foi
como eu queria
Eu
sepultei o meu pai
Pra mim o
mais triste dia.
07
Dai
resolvi ficar
Na cidade
em que eu nasci
E no
caminho da arte
Não parei
e prossegui
Embora
faltasse apoio
Eu jamais
esmoreci.
Devagar,
mas sempre indo
Conheci o
IFCE
Instituto
Federal
No Campus
Baturité
Ali
encontrei amigos
Respeito,
incentivo e fé.
Aos
poucos o meu trabalho
Foi sendo
reconhecido
Diversos
prêmios ganhei
Mas por
ter desenvolvido
O
cordelizando na escola
E meus
saberes dividido.
Com os
alunos e mestres
Em prol
da educação
E trilhei
novos caminhos
No mundo
da comunicação
Divulgando
o meu cordel
Para a
cidade e o sertão.
Trabalhei
nas FMs
Girassol
e São Miguel
Na Rádio
TV Olhar
Sempre
levando o cordel
O
programa cordel e arte
Para meu
público fiel.
Gosto
muito de campanhas
E ainda
hoje eu sigo
Participando
de várias
Para
informar um amigo
Dengue,
Chikungunya e Zika,
Covid, um
grande perigo.
Aleitamento
materno,
Câncer de
próstata e de mama
Na
escola, o combate as drogas
O próprio
aluno declama
E cultura
popular
Todo
mundo eu sei que ama.
E em dois
mil e dezoito
A câmara
municipal
Me deu o
título de mestre
De nossa
cultura local
Pra mim
um reconhecimento
Que eu
achei sensacional.
Onde eu
vou levo a cultura
Do
cordel, minha poesia
Paródias
músicas autorais
Histórias,
muita alegria
Sou
membro da ACLC
A nossa
academia.
De
literatura de cordel
Do estado
do Ceará
Hoje eu
busco o apoio
Para
enfim continuar
Contribuindo
com a arte
Para o
mundo melhorar.
08
Em dois
mil e vinte e dois
O melhor
aconteceu
A SECULT
CEARÁ
Meu
trabalho reconheceu
Lá na
cidade do Crato
Realizei
o sonho meu.
Fui
titulado ‘’Tesouro
Vivo” da
nossa cultura
Muitas
portas se abriram
Pra minha
literatura
De cordel
que desempenho
Com muita
desenvoltura.
Na
FECLESC, Quixadá
Pra todo
corpo docente
Palestrei
sobre o cordel
Confesso
até fiz repente
Na Casa
Cego Aderaldo
Também
estive presente.
Em dois
mil e vinte e três
Recebi na
capital
O título
de cidadão
Da Câmara
Municipal
Fui
também homenageado
Na minha
terra natal.
Pelo o
grupo “Cheiro da Terra”
Nas
festas de São João
Que levou
minha arte e nome
Da
capital ao sertão
Hoje eu
sei que minha vida
Rima com
gratidão.
A UECE me
concedeu
O título
de Doutor poeta
E com o
“Notório Saber”
Minha
arte se completa
Desenho,
componho e canto
Mas a
arte predileta.
Para mim
é meu cordel
Metrificado
com rima
Vivo no
mundo da arte
E nada me
desanima
A poesia
popular
Sempre me
leva pra cima.
Em
sextilha ou sete pés
Vou
seguindo o meu caminho
Na escola
cordelizando
Com amor
e muito carinho
Transmitindo
os meus saberes
Pra não
caminhar sozinho.
Sou da
terra das cachoeiras
Da banana
e do café
Sou poeta
cordelista
Cabra
matuto de fé
Eu sou
Pádua de Queiróz
Eu sou de
Baturité.
09
BATURITÉ
– CIDADE MÃE
O cordel
dos cordelistas
Patrimônio
cultural
Pede
licença ao leitor
Que é seu
foco central
Para
enfim cordelizar
A minha
terra natal.
A terra
das cachoeiras
Da banana
e do café
Cidade
mãe do maciço
De um
povo de muita fé
Minha
Aldeia das Missões,
Monte
Mor, Baturité.
Para
Paulino Nogueira
Baturité,
vem do tupy:
“Bu”, que
significa
Arrebentar
ou sair,
“TY”,
simplesmente, água,
“ETÊ”,
boa pra consumir.
As fontes
d’água na serra
É riqueza
natural
“Butyetê”,
bem explica
O nome
deste local
Mas para
José de Alencar
Escritor
fenomenal.
Vem do
nome de uma ave
“Narceja
ou Batuíra”,
Com a
junção de “Eté”,
Nome que
honra e inspira
O
guerreiro Potyguara
10
Porque na
opinião
De nosso
historiador
“monte
Mor, Serra ou Batu”
Que o sol
costuma se pôr
Com o
superlativo de grau
De “Ete”,
quis nos propor.
Que
“Serra por Excelência”
Ou então
“Serra Verdadeira”
É mesmo a
toponímia
Da terra
das cachoeiras
Onda
canta o Sabiá
Na palha
de uma palmeira.
No dia em
que o Ouvidor
Veio à
Vila oficializar
Poucos
índios Jenipapos
Encontrou
e mandou buscar
A tribo
do Quixelôs
Para o
ato executar.
Reuniram
aos Kanindés
Que da
serra fez morada
Brancos e
índios unidos
Numa
tarde ensolarada
Testemunhas
oculares
Da Vila
recém-fundada.
Era
quatorze de abril
Quase
três horas da tarde
O público
já celebrava
Com
euforia e alarde:
“Viva Dom
José Primeiro!
Que Nossa
Sra. lhe guarde!”
Presentes,
Vitoriano Soares
E outros
súditos do Monarca
O Ouvidor
Mor assinou
Com o
Corregedor da Comarca
E
erigiram um “pelourinho”
Simbolizando
a marca.
Que
nasceu nossa cidade
Bem
diante da capela
De Nossa
Senhora Palma
Pequenina
e singela
E em
minha imaginação
Eu pinto
uma aquarela.
Ilustrando
aquela cena
No Brasil
colonial
Duzentos
e sessenta e quatro
Anos
depois de Cabral
Naquela
tarde de Sábado
Fundaram
a Vila Real.
O ano mil
e setecentos
E
sessenta e quatro, nascia
Com a
proteção de São João
Nepomuceno
e Maria
Que
apadrinharam a Vila
E Monte
Mor se chamaria.
Foi Elias
Paes de Sousa
E
Mendonça, o escrivão
Que
Lavrou e assinou
A Ata de
fundação
Monte Mor
Novo D’América
Meu amor,
minha razão.
11
Noventa e
quatro anos depois
A vila
virou cidade
A
emancipação se deu
Por nossa
capacidade
Agrícola
e produtiva
Tamanha
variedade.
E as
belezas naturais
Mata,
serra, cachoeira,
Nosso
café sombreado
Qualidade
de primeira
Que junto
com o algodão
Estampa
nossa bandeira.
Era mil e
oitocentos
E
cinquenta e oito o ano
Uma
estrela do império
Brilhou
em solo serrano
A
província fez a lei
E
comunicou ao trono.
Baturité
tem história
Precisamos
recontar
Só assim
nós poderemos
Muito
mais nos orgulhar
De nossa
cidade mãe
Que sempre
iremos amar.
BATURITÉ NOS TRILHOS DA SAUDADE
A saudade bate a porta
Do meu pobre coração
Me convidou e eu fui
Com muita satisfação
Viajar para o passado
No trem da imaginação.
E num momento de tempo
Quando dei fé, já estava
Na praça da estação
Onde mamãe esperava
O trem das sete da noite
Que o sino já anunciava.
Vi gente de toda classe
Social e toda idade
Gente que ia chegando
Ou partindo da cidade
Que sorrindo ou chorando
Deixava e levava saudade.
Vendedores ambulantes
Gritavam: tá acabando!
Tem uva, tem macaxeira,
O milho tá esfriando,
Tem tapioca com coco
E o trem já vem chegando!
Este está indo pro Crato
Vindo lá da capital
Também vendo cafezinho
Colhido do meu quintal
Tem churrasco e cachaça
12
Pitomba e caldo de cana,
E é moído na hora
O preço é do seu agrado
Meu senhor, minha senhora
Pague um e leve dois
Pois o trem já não demora!
Em um cantinho da praça
Um poeta violeiro
Cantando versos pro povo
Ao lado de um companheiro
Dizia assim: você cai,
Me respeite seu matreiro!
O colega respondia:
Se eu cair, caio pra frente.
Você tem é que ser macho
Pra aguentar meu repente,
Eu sou poeta da serra
Orgulho da minha gente!
E para cantar comigo
Tem que ter muita coragem,
Quando o trem parar aqui
Vá aproveite a viagem
E se não tiver dinheiro
Eu pago a sua passagem!
Vi um cantador de “coco”
Embolador de primeira,
Vendedores de cordéis
Mas parecia uma feira.
Era um centro cultural
Tinha até mulher rendeira.
Vi um menino magrelo
Que morava no Jordão
Vendendo água fresquinha
Com uma quartinha na mão
Que gritava: olha a água,
Um copo é só um tostão!
E o trem chegou na hora
E seu destino era o Crato
O relógio da estação
Trabalhava sempre exato
Era o big-ben da serra
Nunca vi outro, de fato.
O trem parou na estação
Começou o desembarque
E assim da mesma forma
Procederam no embarque
O serviço da RFFSA
Era digna de destaque.
O sino já anunciava
A partida daquele trem
Quando de uma janela
De um vagão gritaram: vem!
Menino quanto é que custa
A água que você tem?
O menino muito alegre
Respondeu: é baratinha.
Porém só vendo a água
Quero de volta a quartinha!
E o homem perguntou:
Garante que é fresquinha?
13
Com certeza, meu senhor!
Disse com sua voz pausada.
É água de uma cacimba
Que vive sempre tampada,
Pode beber que essa água
Por minha mãe foi coada!
O homem falou: menino
Primeiro eu quero provar.
Se sua água for boa
Eu garanto vou pagar!
O menino, disse: beba,
Sei que o senhor vai gostar!
Ao receber a quartinha
Tomou um copo bem cheio
E depois tomou mais três
O quinto só deu no meio
No momento o trem partiu
E o menino no aperreio.
Na plataforma gritava:
Quero agora o meu dinheiro!
Correndo atrás do trem
Que veloz, ia ligeiro.
Pode ficar com o troco!
Disse o sagaz passageiro.
Que naquela mesma hora
Rebolou sua quartinha
Que se espatifou em cacos
Entre o dormente e a linha
E chorando o menino
Resmungava: oh sorte minha!
PUTIÚ, O MILAGRE
Agora caro leitor
Eu peço a sua atenção
Pra nossa cordelhistória
Que tem como pretensão
Narrar sobre o acontecido
Conforme foi ocorrido
Rimando com exatidão.
No início do século XX
O padre santo romeiro
Cícero Romão Batista
Líder lá de Juazeiro
Vendo a situação crítica
Interveio na política
Com um grupo cangaceiro.
Comandado por Dr. Floro
O temido Satanáz
De Juazeiro do Norte
Em razão da Santa Paz
Causou grande desmantelo
Pra depor Franco Rabelo
Do seu governo incapaz.
De zelar os interesses
Da região do Carirí
Campos Sales, Araripe,
Assaré e Maurití,
Crato, Barbalha, Juazeiro
Terra santa dos romeiros
Devotos do meu “Padim”.
14
Ao chegarem em Iguatu
Pela grande ferrovia
A bala comeu de esmola
Humilhação, covardia
Não poupava ‘’Seu ninguém”
A violência foi além
Do que o povo merecia.
Pra conter aquela horda
Não tinha policiamento
Que no pipocar de bala
Fugiram sem acanhamento
Sargento, Cabo, Soldado,
O Prefeito e o Delegado
No lombo de um jumento.
E tudo o que se podia
Levar em seu embornal
Nas cangas dependuradas
No dorso de um animal
Aquele grupo levava
E também incendiava
Nada deixava afinal.
E foi uma varredura
Que na época ocorreu
Relatos de estupro e morte
Lá em Senador Pompeu,
Quixeramobim, Quixadá
No sertão do Ceará
Sangue inocente escorreu.
Enquanto em Baturité
Na mais perfeita união
O bom padre Bernardino
Dava a autorização
Pra construir uma capela
Bem formosa e singela
Para o povo em oração.
Agradecer a Cristo Rei
A vida, a paz, o amor
O senhor Anderson Ferro
Um grande colaborador
Doou com muita alegria
A imagem de Maria
E de Cristo Redentor.
Esculpidas na Europa
Em tamanho Natural
Para a nova igrejinha
Semelhantes ao real
Chegaram num cargueiro
Lá do Rio de Janeiro
Noticiou o jornal.
O ano mil e novecentos
E quatorze se iniciou
A obra do novo templo
Que nos alicerces parou
Devido a escassez
De tijolos e desta vez
Um home se apresentou.
15
Era Porfírio Bandeira
Que morava em frente a linha
Que já havia doado
O terreno da igrejinha
Disse ao Padre Bernardino:
Só não posso doar o sino
O tijolo é por conta minha!
O padre disse: meu filho
Deus há de lhe abençoar.
Quantos tijolos você
Se dispões a nos doar?
Falou, olhando pra cima:
Até a cruz nós termina
Pode mandar ir buscar!
Os trabalhos continuaram
E a nova casa de oração
No bairro do Putiú
Tinha a santa proteção
Não correu nenhum pedreiro
Quando o grupo cangaceiro
Chegou nesta região.
Cangaceiro não é santo
Principalmente este bando
Que tinha o Dr. Floro
À frente no seu comando
Disse vamos ao armazém
Pois eu sei que ali tem
Algo bom que tão guardando!
E quando a porta cedeu
Todo o bando adentrou
Avistaram dois caixotes
E nem sequer pestanejou
Êta, terra abençoada
Já valeu a empreitada
Um jagunço exclamou.
Aqui só pode ter ouro
Abram com muito cuidado
Vamos levar de presente
Pro nosso Padim amado!
Mas para sua surpresa
Ao ver tamanha beleza
Quedou-se paralisado.
Ao avistar as imagens
De Jesus o Redentor
E da Virgem da Conceição
Com todo seu esplendor
Viu um clarão, uma luz
Fazendo o sinal da cruz
Afastou-se o invasor.
Um falou: Deus me perdoe
Mãe de Deus eu vou embora!
Doutor, vamos em frente
É melhor nós ir agora
Vamos depressa negrada
Essa terra é a morada
De Jesus e Nossa Senhora!
16
Saíram então em silêncio
Dr. Floro assombrado
Cabisbaixo em seu cavalo
Realmente envergonhado
Depois que viram a imagem
Prosseguiu sua viagem
Pela estrada desolado.
Para cumprir a missão
De seu líder espiritual
Passando em Aracoiaba
Não fizeram nenhum mal
Canafístula e Guaiúba,
Em seguida Pacatuba
Chegando na Capital.
Onde foram barrados
Por forças policiais
Descansaram da viagem
Dificil e longa demais
Voltaram pra Juazeiro
Da vergonha prisioneiro
De tantos atos brutais.
O Putiú protegido
Hoje vive contente
Concluiu sua capela
No altar o onipotente
Com a Virgem da Conceição
Cristo Rei dar a benção
Ao meu bairro, minha gente.
OS QUILOMBOLAS DO EVARISTO
Eu peço neste momento
A Virgem da Conceição
Que conceba ao poeta
A luz da inspiração
Santa Mãe de Jesus Cristo
Padroeira do Evaristo
E Rainha do Sertão.
Sertão que é vislumbrado
Do alto daquela serra
Que abriga os quilombolas
Orgulho da minha terra
Brava gente de coragem
Receba esta homenagem
Deste poeta de guerra.
Fui a Serra do Evaristo
E ganhei um forte abraço
Daquela comunidade
E assim sem embaraço
Recebeu este artista
Cearense cordelista
Pesquisador do cangaço.
Caro leitor eu confesso
Que fiquei maravilhado
Vi o presente e o futuro
Respeitando o passado
Recordei José Soares
Que deixou aos populares
A luta como legado.
17
De palavras compassadas
Mostrou sua liderança
Na Serra do Evaristo
Com respeito e confiança
Lutou pelo social
Hoje no plano espiritual
É bandeira da esperança.
De um povo que aprendeu
Com o pensamento comum
Que prosperidade existe
E depende de cada um
Que precisa contribuir
Para de vez extinguir
O preconceito incomum.
Um dia é muito pouco
Para quem quer visitar
A Serra do Evaristo
Porque sei, vai encontrar
Os contadores de histórias
Relatando suas memórias
Sob a luz do luar.
Só não sei se é verdade
Cada conto relatado
Já que no imaginário
Algo mais é aumentado
Criança, jovem e idoso
As estórias de trancoso
Escutam maravilhado.
Se oferece aos visitantes
Produtos, manufaturas
Das mulheres artesãs
Dos frutos da agricultura
E a dança de São Gonçalo
Que observo e me calo
Vendo a desenvoltura.
Das vinte e quatro mulheres
E mais três homens no meio
Um deles com uma sanfona
Tocando sem aperreio
A terra é farmácia viva
A medicina alternativa
Nós usamos sem receio.
Lá o índio Evaristo
Habitou a região
Chefiando sua aldeia
Até que o povo cristão
Chegou pra catequisar
Converter e transformar
Todo nativo pagão.
Eram os Jesuítas
Empunhando a Santa cruz
Forçando Evaristo abraçar
A doutrina que nos conduz
Evaristo desceu a serra
E foi morar numa terra
De civilização e luz.
18
Mas só conheceu conflitos
Preconceito raça e cor
Uma época de senzalas
Casa grande e feitor
Neste mundo o que importava
Era o lucro que aumentava
Do fazendeiro e senhor.
Que a preço irrisório
Vivia comprando gente
Homens de pele escura
Vindos de outro continente
Pra não faltar mão de obra
Foi crueldade de sobra
Sangue, suor e corrente.
Então surgiram os Quilombos
Refúgio que abrigava
O negro que muitas vezes
Na fuga morto tombava
Em busca de liberdade
E nesta comunidade
A liberdade morava.
E até hoje ainda mora
Disso eu tenho certeza
Os quilombolas do Evaristo
Adotaram a natureza
E naquele lugar bonito
Contemplei o infinito
De infinita beleza.
Conheci o ECO-MUSEU
Que expõe atualmente
A tribo de Evaristo
Encontrada recentemente
Um achado que vai mostrar
Exposto para contar
Sobre o passado da gente.
Ancestrais de Evaristo
Filhos de Baturité
Que não foram catequisados
Não trocaram sua fé
Aldeia ou cemitério
Eis ai grande mistério
Jenipapo ou Kanindé?
Só sei dizer que Thychico
Dentro de um pote encontrado
Mais de setecentos anos
Precisamente datado
Com cabelo, dente, unha
É antiga testemunha
De um longínquo passado.
Quando forem ao Evaristo
Não deixem de conhecer
Dona Socorro, Luís Marcos
Que terão muito prazer
Ela é mestre da cultura
E ele grande figura
Que nos ensinam a viver.
19
Em harmonia com o chão
Que pisam, plantam e colhem
Subam a Serra do Evaristo
Dê uma espiada e olhem
Desfrutem da tranquilidade
Daquela comunidade
Que com prazer nos acolhem.
Logo que coloco os pés
Naquele belo lugar
Por isso digo e repito
É preciso visitar
A Serra do Evaristo
Tenho certeza que isto
Sei que você vai amar.
CONHEÇA BATURITÉ
Hoje eu sei que muita gente
Pensa muito em viajar
Para os Estados Unidos,
E Europa passear
Mas eu penso diferente
Por que sei que essa gente
Nem conhece o seu lugar.
Venha comprovar em loco
Se você não acredita:
O parque das cachoeiras,
O mosteiro jesuíta,
O prédio da prefeitura,
A secretaria de cultura
Minha cidade é bonita.
Nosso Mosteiro é lindo
Ambiente espiritual
Ícone de nossa cidade
Patrimônio cultural
Da história testemunha
E não há dúvida nenhuma
É destaque nacional.
Cada lugar, uma história
Desde a sua construção
A nossa igreja Matriz,
Um templo de devoção
Nossa Senhora da Palma
Padroeira que acalma
Meu humilde coração.
20
O palácio Entre Rios
A igreja de Santa Luzia
Além da Cadeia Pública
Talvez você não sabia
Começaram a construção
Quando a seca sem perdão
O Ceará consumia.
Quando a seca dos dois setes
Assolou o meu Ceará
Tamanho foi o flagelo
Que tomou conta de cá
Vinha gente do sertão
E de toda Região
Para não morrer por lá.
Então nosso Imperador
Homem culto e consciente
Quando soube da miséria
Da seca que impunimente
Maltratava o seu povo
Assinou um decreto novo
Pra ajudar aquela gente.
“Que venda o último brilhante
Da minha coroa real
Mas não deixe um cearense
Perecer do grande mal
Ninguém vai morrer de fome
Nesta seca que consome
O recurso natural.”
A Igreja de Santa Luzia
De beleza que comove
Inaugurada em mil
Oitocentos e setenta e nove
No governo imperial
Que vislumbrou afinal
Que o trabalho resolve.
São tantos pontos turísticos
Que num só dia não dar
Para se fazer um “tour”
Mas aqui quero lembrar
Tem a Santa, o Cruzeiro,
História de cangaceiro
Que invadiu este lugar.
Visite a nossa cidade
Temos muito a mostrar
O museu ferroviário
E logo ao lado estar
Uma réplica parecida
Da máquina que trouxe vida
Ao povo deste lugar.
Eu ainda era menino
Mas me lembro muito bem
Na Praça do Putiú
Não cabia mais ninguém
Foi um dia extraordinário
Que marcava o centenário
Que chegou o primeiro trem.
21
A antiga estação
Abriga a nossa cultura
Além de um belo museu
No presente hoje figura
Entre os mais belos que há
No Estado do Ceará
Por sua arquitetura.
O pelourinho é um marco
Do berço desta cidade
A lembrança de um povo
Que lutou por Liberdade
Ao sopé da bela serra
Baturité, nossa terra
De tanta diversidade.
Nossa cidade é tão rica
Devemos mais conhecer
O passado estar presente
Em tudo podemos ver
A história de um povo
Quem veio venha de novo
E muito mais vai aprender.
É por isso que eu acho
Importante esta matéria
Preservação da memória
Na Escola é coisa séria
Pois nem o tempo consome
Baturité o teu nome
Corre nas minhas artérias.
NO PUTIÚ DA MINHA INFÂNCIA
Eu sou Pádua de Queiróz
Canto e escrevo poesia
O cordel é minha arte
Minha razão e alegria
As lembranças do Putiú
Eu trago em meu dia a dia.
No Putiú da minha infância
É tanta recordação
Amigos que já se foram
Mas dentro do meu coração
Estarão sempre presentes
Nosso exemplo de união.
Eu digo que ninguém foi
Ali mais feliz do que eu
No inicio dos anos oitenta
Muita coisa aconteceu
Eu falo e repito de novo
A minha infância valeu.
No alto da igrejinha
Ou em frente a estação
Bastava apenas uma bola
E estava feita a diversão
Na turma do putiú
Todo menino era irmão.
Na praça ou no patamar
Da igreja a brincadeira
Não parava, eu me lembro
Furachão, bila e rasteira
Cada um tinha um apelido
Conforme a nossa maneira.
22
Wedney era o Zé Galinha
O pai novo era o Bebão
O Raimundo era o Vovô
E o o Glautemberg era o Mão
O Guto era o Bailarina
E o Robinho o Cascão.
O Carlinhos da Dona Helena
Sempre simpático, acredite
Era o Chita do Tarzan
Cada qual dava o palpite
Ninguém ficava com raiva
O João Filho era o sibite.
O Edvan era a Gretchen
A Marmota é que ele gostava
Nem todos tinham apelido
Porque as vezes não pegava
E eu queria ter um
Mas ninguém me apelidava.
Certa noite inventamos
Uma brincadeira de cinema
Uma caixa de papelão
Não tão grande, nem pequena
Com uma vela acesa dentro
Para projetar a cena.
Joãozinho do Zé Paulino
Fez o cartaz e o roteiro
Trouxe boneco da Pepsi
Jogador e pistoleiro
E o preço do ingresso
Era apenas um cruzeiro.
Foi na sala lá de casa
Eu pedi minha mãezinha
Que nos deixou a vontade
E foi para igrejinha
A sala ficou lotada
Para a surpresa minha.
João apagou a luz
Depois acendeu a vela
E começou a sessão
Ah, meu Deus que coisa bela
E eu de tão distraído
Nem vi que minha chinela.
Logo no inicio do filme
Então desapareceu
Mas um fato meu amigo
No momento aconteceu
Com um minuto de filme
Uma chuva ocorreu.
Foi camisa, foi de tudo
Imagine, até panela
Jogaram em cima da caixa
Que incendiou com a vela
E o penico da mamãe
Espatifou-se na janela.
O boneco do Shazan
Queimou junto com o do Pelé
Joãozinho ligou a luz
E não tinha ninguém em pé
Só o Wedney perguntando:
Alguém sabe de quem é?
23
Essa chinela aqui
Será que é tua João?
Era a minha que sumiu
No inicio da sessão
Porém eu fiquei calado
E o Wedney sem razão.
Mesmo sendo o mais jovem
Tinha quase nove anos
Wedney era esperto
Planejava bem seus planos
Mas dessa vez se deu mal
Então entrou pelo cano.
Joãozinho disse: Wedney
Zé Galinha, desgraçado
Foi você que começou
Eu sei você é o culpado
Veja só o meu cinema
Agora todo queimado.
O pai novo que era louco
Por boneco e cinema
Foi dizendo: ei Joãozinho
Não gostei daquela cena
Em que o Pelé morreu
O filme não valeu apena.
Por isso estou lhe pedindo
Que devolva o meu dinheiro.
Eu queria ver no filme
O boneco pistoleiro
Eu vou contar pra mamãe
Se não me der meu cruzeiro.
E Joãozinho “P” da vida
Disse: sai daqui Bebão
O filme já acabou
Vai... perturbar o Cão
Deixa de ser abestado
Já acabou a sessão
E foi tanta gargalhada
Que se espalhou pela rua
Quando a Gretchem perguntou:
João a sessão continua?
Que respondeu sem demora:
Só se tua mãe vier nua!
Eu sei que o tempo passou
Só restou recordação
Porém eu sinto saudade
De toda aquela diversão
Na capela de Cristo Rei
Na praça ou na Estação.
Onde hoje é raro se ver
A criançada brincando
Menino não sai de casa
E o tempo vai passando
Ninguém sabe o que é brincar
É todo mundo clicando.
Com esse tal smartfone
Conectado ao Wi-fi
As brincadeiras de rua
Isso já não se faz mais
Ninguém conhece ninguém
Mas são amigos virtuais.
24
Porém na minha infância
No sítio do seu Juarez
Armava, visgo e arapuca
Pra pegar de uma vez
Vem-vem, Tiziu, Bigodeiro,
Sabiá e Rolinha pedrês.
Seu Juarez era bom
E deixava a gente brincar
Mas seu Modesto e Zé Passos
Querendo a nos expulsar
Com cipó e foice na mão
Vivia a nos expulsar.
Certo dia Wendney
E o Raimundo Vovô
Me chamaram pra caçar
A tardinha Beija flor
Peguei minha “baladeira”
E fiz pose de caçador.
Ora, ora, meu amigo
Sabe o que aconteceu?
O Zé Passos com sua foice
De repente apareceu.
Logo o Raimundo Vovô
Com medo se escafedeu.
O Wedney então me disse:
Vamos nos esconder!
Respondi: espere um pouco
Estou pensando em fazer
Uma com o Zé Passos
Que ele jamais vai esquecer!
Armamos uma “tocaia”
Esperando ele passar
Peguei minha baladeira
Fiz mira para acertar
Bem no meio do seu quengo
Pra ele nos respeitar.
Foi bem no meio da testa
A pedrada que eu lhe dei
Vi o homem ensanguentado
Que gritava: ai Cristo rei!
Se eu pegar esse infeliz
Vai levar o que eu levei!
E sussurrando, Wedney
Falou logo: vou correr!
Se ele pegar a gente
Hoje sei que vou morrer!
Eu lhe disse: fique quieto,
Ele não pode nos ver!
Nem terminei de falar
O Wedney tinha corrido
Em direção ao Zé Passos
Que estava muito ferido
E ainda procurando
Quem tinha lhe atingido.
E nem viu o “Zé Galinha”
Passar naquele momento
Mais ligeiro que Preá
Por baixo do seu Jumento
Me deixando ali sozinho
Com um mal pressentimento.
25
Ele não viu meu amigo
Passar depressa a seu lado
Mas me viu escondidinho
Naquela moita acuado
Pegou a foice e gritou:
Eu te mato desgraçado!
Eu só tinha um caminho
Para poder escapar
Era pular no riacho
E sem medo de errar
Porque se eu caísse n’água
Era melhor me entregar.
Com certeza aquela água
Meu couro escapelaria
Porque era tão polida
Que nem “Cururú” queria
Lavar os seus pés de príncipe
No riacho que fedia.
Preparei-me para pular
E escapar do sufoco
Cai de papo na água
Não me afoguei por pouco
Mas escapei do Zé Passos
Que mais parecia um louco.
Cheguei em casa tão sujo
Eu parecia um barrão
E mamãe me perguntou
Segurando um cinturão:
O que foi isso, menino
Eu quero uma explicação?
E para não apanhar
Respondi: escorreguei
Do galho da goiabeira,
Pergunte para o Wedney.
Mamãe do meu coração
Oh, que azar que eu levei.
Mamãe trouxe uma Quiboa
Creolina e Sarcol
Uma bucha de pepino
E dois litros de limpol
Depois me deixou quarando
Quatro horas sob o sol.
Dias depois do ocorrido
Lá em casa eu fui chamado
Pelo seu Juarez que queria
Que eu fizesse um mandado
Embora ainda estivesse
Um pouquinho preocupado.
Pois soube do ocorrido
Que eu fiz só por maldade.
E eu expliquei: padim Juarez
Juro que não é verdade
Eu fui matar uma rolinha
E veja a fatalidade!
Quando eu atirei a pedra
Ela deu um pulo mortal
E voou batendo a asa
Se escondeu no capinzal
Se acertou o Zé Passos
Não foi intencional.
26
Só sei que seu Juarez
Conversou com o Zé Passos
Que depois me encontrou
E me deu um forte abraço
E até me recomendou:
Vá caçar, mas faça um laço!
Ah, como eu fui feliz
Não me canso de falar
No próximo cordel garanto
Outra história contar
No Putiú da minha infancia
É muito bom recordar.
EU SÓ SEI QUE FOI ASSIM (O VAI E VEM)
Eu queria ser João Grilo
Sabido que ele só
Mas na realidade eu pareço
Com o seu amigo Chicó
Eu confesso sou medroso
E por demais mentiroso
Minto tanto que dá dó.
Por isso preste atenção
Na minha arte de rimar
Mas antes eu sei que é preciso
Um café com letras tomar
Para aguçar a memória
Pois faz parte da historia
“O homem de Taperoá”.
Ariano Vilar Suassuna
Dramaturgo, ensaísta,
Poeta e professor,
Paraibano romancista
Na arte de escrever
Não me acanho em dizer
Foi o maior dos artistas.
Ele empunhou a bandeira
Do Nordeste cultural
Criando em Pernambuco
O movimento armorial
Com o único objetivo
O apoio expressivo
A cultura regional.
27
Música, dança e teatro,
Literatura de Cordel
As raízes nordestina
Ariano foi fiel
E nossa grande fortuna
É a arte que Suassuna
Deixou ao partir pro Céu.
Baturité, minha terra
De gente maravilhosa
Leia esta história
E que não ficou famosa
Que aconteceu comigo
É verdade o que digo
Eu juro que não é prosa.
Eu ainda era menino
Mas me lembro muito bem
No Bairro do Putiú
Perto da estação do trem
Eu brincava com o wedney
Com um brinquedo que ganhei
Chamado de “vai-e-vem”.
Nisso o povo ia passando
E eu bastante animado
Eu de um lado do trilho
E meu amigo no outro lado
Com aquele novo brinquedo
Tranquilamente sem medo
Eu estava mesmo encantado.
Era uma bola bicuda
Transpassada por cordão
Sorriamos de orelha a orelha
Com tamanha diversão
Nós dois no meio da linha
Naquele ia e vinha
Êita, que animação!
Mas algo naquela hora
Estava acontecendo
Começou a chegar gente
Lá na estação correndo
Todo mundo na cidade
E com aquela novidade
Nem estávamos percebendo.
Toda aquela agitação
Todo aquele aperreio
Foi quando eu ouvi um grito:
Meninos, saiam do meio
Que o trem das sete horas
Tá chegando ali agora
E totalmente sem freio!
Eu olhei para o wedney
Que também olhou pra mim
Eu disse: Nossa senhora!
Que desgraceira sem fim!
Eu só vi o trem chegando
E o maquinista apitando
Foi exatamente assim.
28
Foi tão rápido o acontecido
O trem sem freio apitando
E era gente correndo
E era gente gritando
Porem eu não senti medo
Não larguei o meu brinquedo
Fiquei ali segurando.
Do outro lado do trilho
O wedney sustentou
O vai e vem com firmeza
No momento o trem passou
Eu só senti um puxão
E um tremor em minha mão
E foi ai que o trem parou.
Um fumaceiro danado
Cobriu todo o ambiente
Eu tentei mais não vi nada
Que estava a minha frente
Um silencio sepulcral
Tomou conta do local
Não ouvi um “pio” de gente.
É um milagre! É um milagre!
Começaram a gritar.
E os passageiros do trem
depressa a desembarcar
Correndo em direção a praça
E de repente a fumaça
Dissipou-se no ar.
Foi ai que eu percebi
Que ainda eu tinha na mão
A cordinha do vai-e-vem
E ali eu dei um puxão
E o wedney do outro lado
Disse: puxe com cuidado
Pra que tanta afobação!
Ei, Padinha, desse jeito
Você vai me derrubar
Deixe de brutalidade
Assim eu não vou mais brincar!
Fique com o seu vai-e-vem
Olha só, até o trem
Chegou para atrapalhar!
Foi quando chegou ali
O chefe da estação
Dizendo então para nós:
Queremos uma explicação!
E não deixem pra depois
Como é que vocês dois
Pararam a composição?
E eu sem entender nada
E o wedney também
Devagar fomos enrolando
O brinquedinho vai-e-vem
Nós estávamos “P” da vida
Por ter sido interrompida
A brincadeira pelo trem.
29
Cada qual foi pra sua casa
Porque já era noitinha
O Wedney pra casa dele
E eu fui pra casa minha
Eu guardei o meu brinquedo
E guardei esse segredo
Até de minha mãezinha.
Só que esse ocorrido
Nunca foi noticiado
No jornal da capital
Do meu querido estado
Nem rádio e televisão
Nenhuma notificação
Do tal trem desgovernado.
Eu tinha só onze anos
Mas ainda eu guardo em mim
Lembranças da minha infância
Que parece não ter fim
Sou poeta nordestino
Mas te digo “Seu menino”
EU SÓ SEI QUE FOI ASSIM!
Ariano Suassuna
É hoje homenageado
Vai o homem e fica a obra
Como o maior legado
Eu sou Pádua de Queiróz
E Deus proteja todos nós
Até logo e obrigado!
QUEM ACENDEU LAMPIÃO
Eu peço ao divino Deus
Neste momento em questão
Que ilumine minha mente
Com a luz da inspiração
Para através de meu verso
Deixar aqui meu protesto
E também minha opinião.
Neste Brasil de Antônio
Conselheiro e Lampião,
Patativa do Assaré
E Luiz Rei do baião
Muita gente logo esquece
O sujeito que padece
Nas quebradas do sertão.
Sou poeta cearense
Sou artista popular
Minha poesia é a arma
Que eu uso pra lutar
Através de meu repente
Eu defendo a minha gente
Que não deixa de sonhar.
Mas é obrigado a votar
E escolher seu representante
Que eleito logo esquece
De ajudar seu semelhante
No mundo civilizado
Excluído e abandonado
Não tem paz um só instante.
30
É tratado como um bicho
Vive a vida por um triz
Não tem direito a saúde
Vive doente e infeliz
Não tem direito ao direito
Nascer pobre é um defeito
Hoje o rico é quem diz.
E foi por esse descaso
Ou melhor esse abandono
Que no Nordeste surgiu
Em cada lugarejo um dono
Tomando propriedades
Cometendo atrocidades
Expulsando a cada ano.
Toda pessoa de bem
Que vivia no Sertão
Trabalhando em suas terras
Na lavoura e criação
Até o "coronel" deixar
Ele era a lei do lugar
E queria submissão.
Quem perdia o que era seu
Ou sofria humilhação
Se embrenhava na Caatinga
Em busca de proteção
No cangaço a esperança
Só através da vingança
Não tinha outra opção.
A não ser tomar do rico
O que o rico lhe roubou
Fazendo valer a lei
Que o próprio coronel ditou
E nesse tempo e espaço
Nascia assim o cangaço
Que ao Nordeste assombrou.
Eu conheço tanta história
De cangaceiro valente
Que agiam sempre em grupo
No Nordeste antigamente
Mas só um foi o maior
Não foi bom, nem foi pior
Não houve outro igualmente.
Virgulino era seu nome
Sua alcunha, LAMPIÃO
Que ainda jovem fugiu
Junto com seus dois irmãos
Antônio e Livino Ferreira
Que na vida cangaceira
Procuraram proteção.
Assumiu logo o comando
De um grupo de cangaceiros
Quando atirava a noite
Clareava o terreiro
Com inteligência e malícia
Foi o terror da polícia
Que caçava esse guerreiro.
31
No dia quatro de Junho
Essa data é verdadeira
Que Virgulino assumiu
O bando de Sinhô Pereira
Mil novecentos e vinte e dois
Que o destino lhe impôs
A árdua vida cangaceira.
O cangaço era visto
Aos olhos dos governantes
Como uma simples desordem
De pobres ignorantes
E toda aquela rebeldia
Logo, logo acabaria
Nada tinha de importante.
Mas Lampião era esperto
E tão bem auxiliado
Era mesmo imbatível
Com os seus irmão ao lado
Antônio na retaguarda
E Livino na vanguarda
Não temia ser emboscado.
Por ser rápido e eficiente
Como uma metralhadora
Foi entregue a vanguarda
Do bando para "Vassoura"
E por esse apelido
Livino ficou conhecido
Entre a horda acolhedora.
Antônio também era dono
De uma grande liderança
E cobria a retaguarda
Do bando numa matança
Por acreditar que um dia
A paz enfim reinaria
Foi chamado de "Esperança".
Inumeráveis batalhas
Foram por eles travadas
Porém três anos depois
Sua fé foi abalada
Em uma luta em Flores
Lampião sentiu as dores
Do fim de sua vanguarda.
Num combate de três horas
Balas raspando no "cuco"
A polícia entrou em fuga
E Vassoura, então maluco
Subiu num grande lajedo
Pra ver borrar-se de medo
Os fujões de Pernambuco.
Um soldado que ficara
Chamado de "Zé Inaço"
fez pontaria e acertou
Vassoura no espinhaço
Com esse tiro mortal
Livino ali se deu mal
Caindo em seu próprio laço.
32
E antes do último suspiro
A Deus pediu seu perdão
E para a Nossa Senhora
Lhe pediu a intercessão
E por fim pediu Livino
Para Antônio e Virgulino
Justiça pro seu Sertão.
E pra ser corpo não ser
Profanado pelo o inimigo
Lampião cortou a cabeça
De seu irmão, seu amigo
E mesmo pra alguém tão rude
Aquela macabra atitude
O deixou tão constrangido.
E no dia vinte e cinco
Do Natal de vinte e seis
Esperança, finalmente
Encontrava a sua vez
A sua paz tão sonhada
Numa tarde mal fadada
Num ato de insensatez.
Na fazenda Poço do Ferro
Um dos coitos de Lampião
O seu bando descansava
Das últimas lutas então
Quando houve o ocorrido
Antônio Ferreira ferido
Despediu-se de seu irmão.
Virgulino que estava
Bem distante no momento
Quando ouviu o estampido
Parecia até com um vento
E ao chegar encontrou
Antonio que lhe contou
O triste acontecimento.
Pois brincava com Luís Pedro
Seu amigo de confiança
Disputando uma rede
Porque queria Esperança
Nela poder se deitar
E começou a brincar
Como se fosse criança.
Luís que estava deitado
Com um rifle em sua mão
Foi puxado por Antônio
Que lhe derrubou no chão
A arma então disparou
E mortalmente acertou
Porém sem ter intenção.
E disse mais: meu irmão
Se você gosta de mim
Eu quero que de hoje
Você goste tanto assim
Do nosso compadre Luís
Pra ninguém ser infeliz
porque chegou o meu fim.
33
Meu compadre Luís Pedro
Não abandone nosso irmão.
Luís Pedro disse: eu juro
Olhando pra Lampião
Meu compadre eu juro a vós
Nem a morte separa nós
Nas lutas neste Sertão.
Ao desprender-se do corpo
De Antônio já sem vida
Lampião olhou pra Luís
Que com a vós estremecida
Disse para Virgulino:
Me mate sou assassino.
Mas lampião em seguida.
Abraçou com Luís Pedro
Com tristeza e comoção
Dizendo: tenha coragem
Me dê aqui sua mão
Porque de agora em diante
Você pra mim é importante
Como foi o meu irmão.
Luís você não tem culpa
Não aumente a desgraça
Antônio com certeza está
Ao lado da Divina Graça
Foi morar com Mãe e Pai
E com Livino que em paz
Agora mesmo lhe abraça.
Depois sepultou Antonio
Junto a um pé de cajarana
A dor da sua família
Torturava sua alma humana
E com um punhal na mão
Desafiou a assombração
Naquela triste semana.
E seguido por seus cabras
Rumou para o Ceará
Mas ninguém compreendia
O que estava a falar
E nas estradas do Sertão
Vagou louco o capitão
Que não sabia chorar.
Um mês depois do ocorrido
A polícia descobriu
A cova de Antônio Ferreira
E o comandante pediu
Que arrancasse com o facão
A cabeção e então
Municiou seu fuzil.
E ordenou que numa estaca
Aquela cabeça fincasse
Mandando aos soldados
Que todos nela atirasse
E deixaram-na abandonada
Na beira de uma estrada
Pra mostrar pra quem passasse.
34
Que o cangaço já era
que ele era o melhor
cangaceiro não prestava
não tinha alma e o pior
era filho de chocadeira
raça ruim desordeira
espécie de marca maior.
Manuel Neto era o chefe
Dessa força policial
Que agia em Pernambuco
Sem escrúpulo, sem moral
E assim tão desumano
Profanou um corpo humano
Dessa forma irracional.
Assim era a policia
Grande força desordeira
Irmã contrária ao cangaço
Fazendo à própria maneira
Equipada, armada e forte
Espalhando medo e morte
Tendo a lei como bandeira.
No Brasil de norte a sul
Era só revolução
O governo já não tinha
Mais as rédeas da nação
Era um tal de Tenentismo
Impulsionando o comunismo
Buscando libertação.
No nordeste brasileiro
Naqueles tempos passados
A igreja para não perder
O controle do povoado
Dizia que o comunista
Temia padre exorcista
Pois era o próprio diabo.
Mas eu explico ao leitor
O que é ser comunista:
É viver em sociedade
Comum sem escravagista
É aprender a dizer não
Na hora da eleição
Ao burguês capitalista.
Luiz Carlos Prestes foi
Um tipo de cangaceiro
Muito culto e educado
Lá pro Rio de Janeiro
Mas viu tudo diferente
Mesmo sendo um tenente
Do Exército Brasileiro.
Os políticos do Nordeste
Com medo do tal tenente
Mandou chamar Lampião
E lhe deu uma patente
Neste momento caótico
Surgiu o“Batalhão Patriótico”
Com todo tipo de gente.
35
Na cidade de Juazeiro
Do Padre Cícero Romão
Deram-lhe armas e fardas
E o posto de capitão
E disseram: Será perdoado
Se lutar do nosso lado
Defendendo esta Nação!
Só que Lampião sabia
O que tramava o inimigo
Depois que acabasse a luta
Viria então o perigo
Então disse ao seu bando:
Eu só quero o comando
Do cangaço, meu abrigo!
Nem bem amanheceu o dia
Ele já tinha ido embora
Com as bênçãos do Santo Padre
E o terço de Nossa Senhora
E do lado do governo
Que nunca lhe deu sossego
Era melhor cair fora.
E a partir daquele dia
Lampião ficou mais forte
Com armas sofisticadas
Ganhas num golpe de sorte
Imperou neste Sertão
Que temia o capitão
Que não temia a morte.
Por isso Lampião se tornou
Respeitado no cangaço
Sua coragem, seu ímpeto
Causava grande embaraço
Por onde ele aparecia
Ninguém jamais esquecia
Depois de juntar os bagaços.
Lampião que era poeta
E compositor de primeira
Quando saqueava as Vilas
Cantava mulher rendeira
E “É Lamp, Lamp, Lampião”
De longe ouvia-se o refrão
Cantado pela cabroeira.
Gumercindo Cláudio Maia
Que escreveu seu Tabuleiro,
Sua gente e sua história
Num estudo verdadeiro,
Despertou-me a atenção
Quando aquela Região
Visitou um cangaceiro.
Naquela manhã de Junho
Entraram no povoado,
De Tabuleiro de Areia
Cangaceiros comandados
Pelo facínora conhecido
E por todos tão temido
Por seu jeito endiabrado.
36
Quem conhece o perfil
De Virgulino Ferreira,
Sua vida, sua história
Sabe que é verdadeira,
Pois movido por vingança
Fez do crime a esperança
Da justiça derradeira.
Gumercindo em seu livro
Relatou a ilustre visita,
Do grande Rei do cangaço
Naquela terra bonita.
Francisquinho da espera
Ao deparar com a fera
Disse então sem fazer fita:
Pode descer, Capitão!
Minha casa sua é,
Para toda cabroeira
Tem leite, bejú e café,
Fumo de rolo e feijão,
Carne de bode e pirão,
Água, sombra e muita fé.
O bando era tão grande
Que dividiram em três,
Foi Antônio Alves Maia
Que recebeu por sua vez,
No armazém que possuía
Um dos grupos que queria
Beber sem virar freguês.
A venda de Néco Pacheco
O outro grupo recebeu,
Compraram perfume barato,
Sabão, querosene e breu,
Corda de junco e chinela,
Lamparina, pano e veia,
E imagem da mãe de Deus.
Na casa de Franscisquinho
Todo mundo estava contente,
Um dos cabras deu a ele
Bons cigarros de presente,
Outro cabra pensativo
Foi dizendo: - meu amigo,
Me escute, de repente.
Se alguém for pra Mossoró
Deve fazer romaria,
Na cova de Menino de Ouro
Que nos deixou certo dia,
Por intermédio da bala
Que calou sua fala
E findou sua valentia.
Menino de Ouro era
O mais valente do bando,
Pois somente respeitava
Lampião em seu comando.
Quatorze, era sua idade
Mas tinha a ferocidade
De um demônio atirando.
37
Então naquela harmonia
Cangaceiro e cidadão,
Compartilhava histórias
Na mais perfeita união.
Tomavam muita cachaça
Soluçavam e achavam graça
Naquele belo sertão.
Porém tinha um morador
Chamado de Zé Vidal,
Que tinha em sua propriedade
Um belo e forte animal,
E assim para não perder
Mandou seu filho esconder
No meio do matagal.
Ao chegar no matagal
O jovem se deparou,
Com o Capitão Virgulino
Que logo lhe perguntou:
- pra onde tu vai, meu sincero?
Não minta pra mim, eu espero
E ele não amarelou:
- vim esconder meu cavalo
para o senhor não tomar.
Lampião disse: não tema.
Seu cavalo eu vou levar,
Eu gostei muito da cor
Depois mande um portador
Que eu devolvo o "animá".
Realmente Lampião
Devolveu o animal,
Embora muito cansado
Pra tristeza de Zé Vidal.
Mas cumpriu o prometido
Mesmo sendo um bandido
Tinha palavra e moral.
Mas, enquanto Virgulino
Se divertia em Tabuleiro,
Os macacos do Governo
No encalce do cangaceiro,
Semeavam dor e medo
Roubando-lhe então sossego
Deixando o sangue no terreiro.
E Lampião desconfiado
Da paz naquele lugar,
Chamou a cobra "Moreno"
Dizendo: vou me mandar!
Chama os outros, e vambora
Os macacos não demora
Logo, logo vão chegar.
E pela estrada do governo
Atual PADRE ACELINO,
Desapareceu o bando
Do Capitão Virgulino.
Se mandou pra Iracema
Cidadezinha pequena
Do seu sertão nordestino.
38
No Ano de Vinte e Sete
No dia treze de agosto,
Um grupo de cangaceiros
Com outro comando no posto,
Em Tabuleiro de Areia
Fez vogar a LEI DA PEIA
Da violência e desgosto.
No ano de vinte e nove
Virgulino, o Lampião
Provou porque era mesmo
"O Governador do Sertão"
Quando passou em Sergipe
Passou com a sua equpe
Sem disparar um rojão.
Com o seu grupo formado
De nove "cabras" valentes:
Volta Seca e Ezequiel,
Moderno e Gavião na frente,
Fortaleza e Arvoredo,
Zé Baiano, Gato e Mourão
Chegaram então de repente.
Lá na pequena Carira
E escreveu ao delegado
Felismino Dionisio
Mostrando ser educado
Pedindo autorização
Mas o delegado, em vão
Já havia se ausentado.
Seis soldados possuía
Todo destacamento
Da pequena Carira
Então naquele momento.
Mas somente dois ficaram
Os demais se debandaram
Fugindo daquele evento.
Quando Lampião ficou
Sabendo do acontecido
Elogiou a coragem
Dos soldados destemidos
E foi ele pessoalmente
Parabenizar, com presentes
Aos seus novos protegidos.
Porque um homem valente
Não se devia matar
Era preciso viver
No Sertão para honrar
A fama de "cabra macho"
Cabra de coragem e facho
Era pra cria botar.
E o povo ali sem medo
Foi conhecer Lampião
Que sob salva de palmas
De toda população
Seguiu meio desconfiado
O seu rumo intencionado
Sumindo na escuridão.
39
Pernoitou naquela noite
Na casa de um fazendeiro
Que acolheu sem protesto
O grupo de cangaceiros
Que de manhã bem cedinho
Rumou para sobradinho
Agradecendo ao "coiteiro".
Na entrada da Cidade
Sergipana, entrincheirou
Lampião todo o seu bando
E por um portador mandou
Um bilhete ao Intendente
Solicitando urgente
E assim ele relatou:
"Se quiser que eu entre em paz
Por favor venha até aqui.
Se não vier entro a bala
E acabo com tudo ai..."
A Cidade apavorada
Ficou com as mãos atadas
Tendo Lampião ali.
O Prefeito comunicou
Ao delegado a questão
Que respondeu: Tu tá doido,
Vá receber o Capitão!
O destacamento fugiu
No meio do mato sumiu
Com medo de Lampião!
Ele nem mesmo pensou
Duas vezes no assunto
Chamou o dito emissário
E com ele partiu junto
Na entrada da Cidade
Disse com autoridade:
Não quero fazer defunto!
Eu sou de paz, seu Prefeito,
Me escute afinal.
Vocês diz que sou bandido
Mas não ando fazendo mal
A quem mal não me faz
Por isso fique em paz
E bote no meu embornal.
Vinte contos de réis
Somente pra me ajudar.
Que eu prometo Prefeito
Nenhum estrago causar,
A vida de Cangaceiro
Sem comer, bala e dinheiro
Não tem como se sustentar!
E o prefeito lhe alegou
Não possuir tal quantia,
O comércio enfraquecido
Com a seca que consumia.
E Lampião sem demora
Retrucou na mesma hora:
Também vivo essa agonia!
40
São quatorze anos de seca
Sendo nove de Cangaço,
Me dê ao menos seis contos
Não me cause embaraço.
Para tudo tem um jeito
Me ajude, seu Prefeito
E mal nenhum eu lhe faço!
E saíram em comissão:
O prefeito e o delegado,
O padre e o telegrafista
Em busca do solicitado.
Em comércio e fazenda
Arrecadaram a renda
Conforme o estipulado.
A receber o dinheiro
Com muita satisfação,
Agradeceu comovido
Dizendo assim Lampião:
Eu sei que foi de bom grado
Por isso muito obrigado
Gente de bom coração!
E na madrugada partiu
Seguindo pra Aquidabã
Chegando nessa Cidade
Com o Sol da Alta manhã
Onde foi bem recebido
Nem parecia um "bandido"
Arrodeado de fã.
O prefeito e o juiz,
E o povo todo festeiro
Prestaram grande homenagem
Ao maior dos Cangaceiros,
Que rumou para Bahia
Levando como dizia:
"Coragem, bala e dinheiro!"
Em mil novecentos e trinta
Em meados de Fevereiro
Lampião necessitando
Os serviços de sapateiro
Para consertar as cangas
Encomendar bugingangas
Apetrechos cangaceiros:
Apragátas, barbicachos,
Cinturões de cartucheiras,
Bruacas, chapéus e tiras,
Embornais e bandoleiras...
E mandou que Luís Pedro
Fosse de manhã bem cedo
Com mais dois da cabroeira.
Como estavam acampados
No raso da Catarina
Vendo os quimbembes velhos
Totalmente em ruinas
Aproveitaria o descanso
No cenário seco e manso
Daquela dura rotina.
41
E Luís Pedro Partiu
De manhã pelo caminho
Ladeado por Cambaio
E por Vicente Marinho
mas na frente foi Cortiço
Encomendar o serviço
E pagasse direitinho.
O sapateiro escolhido
Diziam: tudo remenda!
Chamava-se, Zé de Neném
Seria dele a encomenda.
E Zé tinha em sua casa
Um lindo Anjo sem asa
Uma verdadeira prenda.
Seu nome, Maria Alina
Apelido, Maria de Déia
Que casada há oito anos
Sonhava com uma epopeia,
Coisa talvez impossível
Pois seu marido insensível
Desprezava essa idéia.
Só pensava em bater sola
Sapateiro, seu ofício
E viver naquele Sertão
Já era um sacrifício
Sua mulher simplesmente
Já pensava diferente:
Ao invés deste artificio.
Homem era Lampião
Que combatia e dançava,
Em Carira e Sobradinho
E em Aquidabã mandava,
Bandido de coração nobre
Fiel protetor dos pobres
Que o Sertão respeitava!
Luís Pedro, ouviu tudo
E contou pra Lampião
Que disse: meu compadre,
Com essa eu não bulo não
E toda mulher casada
Deve é ser respeitada
Não mudo de opinião!
E Luís disse: Vá lá,
Somente pro Senhor ver
Essa mulher que eu falo
Juro não vai esquecer,
Aquele rosto tão belo
Parece um Anjo singelo
Que no Sertão foi viver!
E continuou Luís Pedro:
O marido nem dá bola!
Ela até me confessou
Que a noite ele não consola,
Sua solidão de mulher
Porém se o Senhor quiser
Na estrada mete a sola.
42
Lampião falou: seu cabra
Vamos deixar de conversa,
Não se fala mais no assunto
Eu não entro numa dessa
Tá na hora de dormir
Amanhã vamos sair
Mas pra ir buscar as peças.
No Raso da Catarina
O Sol nasceu diferente,
E depois de muito tempo
O Nordeste, sorridente.
Tudo então parecia
Que a Paz e a Harmonia
Triunfava novamente.
Uniforme impecável
Lenço em volta ao pescoço,
Perfumado e barbeado
Parecia até mais moço
Lampião apareceu
E com o jeito só seu
Ordenou sem alvoroço:
Compadre Luís vá chamar
Bem ligeiro, Beija-Flor!
Pensativo Luís disse:
Isso é mesmo o amor.
O nosso Rei a tardinha
Vai conhecer sua Rainha
E ele é merecedor!
E ao chegar na porteira
Da casa do sapateiro
Nem deu tempo desmontar
O chefe dos cangaceiros,
Quando apareceu cheirosa
A bela e mais formosa
Do Nordeste brasileiro.
Lampião admirado
Nem queria acreditar,
Seria mesmo verdade
Ou estava a sonhar.
E sorrindo de contente
Viu ali na sua frente
O verdadeiro amor brotar.
Que - que Ma - Maria Bonita!
Ele falou gaguejando.
Lhe estendendo a mão
Num gesto cumprimentando.
Era só felicidade
Que sem ter dificuldade
Rápido foi desmontando.
E pra sentar-se à sombra
Ela então o convidou,
E escutando a conversa
Até o tempo parou.
Maria falava tudo
E Lampião quase mudo
Criou coragem e falou:
43
É verdade que você
Tem coragem de ír comigo?
Ela respondeu: vou sim,
E não temo o perigo.
E se o Senhor quiser
Eu serei sua mulher
E vou embora contigo!
Lampião disse: mulher
Casada que já tem dono...
Ela interrompeu dizendo:
Eu vivo no abandono.
Quero viver a seu lado
Como dois apaixonados,
Esse sim é o meu plano!
Mesmo espiando tudinho
Que estava acontecendo
Zé de Neném só olhava
E a sola ia batendo.
Lampião despreocupado
Por Maria apaixonado
Viu o Sol se escondendo.
Voltou para o acampamento
Mas antes disse a Maria:
Amanhã bem cedo eu volto
Antes do nascer do dia.
Você vai morar comigo
Vou enfrentar o perigo
Mas na sua companhia!
E nem bem o dia raiou
Lampião já estava lá,
Na porta do sapateiro
E antes de dizer, olá.
Maria veio correndo
E pra ele foi dizendo:
Eu não fico mais por cá!
Zé olhou para a janela
E falou com a voz serena,
Até mesmo a escolta
Do coitado teve pena.
Maria, tu vai me deixar?
E Lampião, sem se importar
Partiu com sua morena.
Porém deixou uma carta
Escrita com a própria mão,
Pra que todos soubessem
Que ele não era ladrão,
Relatando que Maria
Foi pra sua companhia
Por sua própria opção.
Com uma grande festança
Lampião comemorou,
Xaxado, xote e polca
Naquela noite dançou,
Com sua Maria Bonita
Toda enfeitada de fita
Virgulino se Casou.
44
Já era nove da noite
A peitíca e o bacural
Entretidos espiavam
De cima de um pé de pau.
E Lampião com Maria
De fininho escapulia
Para noite nupcial.
Com a entrada de Maria
Na rotina do cangaço
Quem tinha sua mulher
Oficializou o laço
Lampião deu o direito
A todos no mesmo leito
Ocupar o mesmo espaço.
Algumas eu tenho em mente
Eis aqui a relação:
Sila com Zé Sereno,
Maninha com Gavião,
Rosinha com Mariano,
Lídia com Zé Baiano,
E Leolina com Azulão.
Maroca com Mané Moreno,
Aldina com Paturí,
Catarina com Sabonete,
Dussanto com Alecrim,
O tempo foi passando
E a tropa aumentando
Maria com Jurití.
Lilí com Moita Brava,
Veronquinha e Beija-Flor,
Entre tantas que aprenderam
A enfrentar o terror,
Mocinha mais Medalha
Não fugia da batalha
Defendendo o seu amor.
Mulheres que esse amor
Moldou Naquele cenário
Neném foi de Luís Pedro,
Adília foi de Canário,
Dora foi de Arvoredo
E desconhecia o medo
Do cangaço ex -solitário.
Jamais fugiram da luta
Naquela seca paisagem
Por isso a essa mulheres
Eu presto esta homenagem.
Apesar da triste sorte
Muitas encontraram a morte
Mas morreram com coragem.
A morte de Lampião
Foi numa luta travada
Na fazenda de Angicos
Que até hoje é falada
Dizem que ele morreu
De um veneno que bebeu
Outros falam em cilada.
45
Por que a polícia depois
De abater o bandido
Desfigurou sua cabeça
Que do corpo dividido
Não entregou o cangaceiro
Morto, porém inteiro
Para ser reconhecido?
Sei que viram Lampião
Em Goiás e no Amapá
Comprando e vendendo gado
Como vivia a sonhar
E na minha opinião
O tempo matou Lampião
Que não pode escapar.
E quem conhece essa história
De uma vida tão sofrida
Pode então me responder
Esta pergunta esquecida:
Quem acendeu Lampião
Nas noites do meu sertão
Procurando uma saída?
Sou poeta por que sou
Nasci assim e acredito
Que meu verso é um Dom
De Deus Pai do Infinito
Fraternidade e razão
Tenho fé que meu Sertão
Ainda será mais bonito.
PADRE CÍCERO, O SANTO DO JUAZEIRO
Diante da Santa Cruz
Caneta Bic e papel
Peço a Jesus que inspire
Este poeta fiel
Com a luz que me alumia
Pra decantar em cordel.
A trajetória seguida
Por meu Padim milagreiro
Santo natural do Crato
Pra fazer de Juazeiro
A Meca do Carirí
Terra Santa do Romeiro.
Meca é a cidade sagrada
Do povo do ALCORÃO
Onde Maomé recebeu
De Alá uma missão
Transformar aquele povo
Em uma única Nação.
Quem conhece Juazeiro
Sabe que falo a verdade
Até hoje a presença
De meu Padim na cidade
É notória pois impera
Paz, amor e liberdade.
Ele o segundo filho
De três que Dona Quinô
Junto com Joaquim Romão
Geraram com muito amor
Respeitando e seguindo
46
Desde cedo o jovem Cícero
A sua fé demonstrava
Se alguém o procurasse
Na igreja o encontrava
E ser padre era tudo
Que Cícero Romão sonhava.
O senhor Joaquim Romão
Ensinou o filho a ler
Sabia que era importante
A cartilha do ABC
Pois sem leitura no mundo
Era difícil viver.
Numa escola cratense
Cícero foi matriculado
Aos seis anos de idade
Ele era orientado
Pelo professor Rufino
Que tinha muito cuidado.
Nas lições que aplicava
Ao menino Cícero Romão
Aritmética, latim,
Gramática e religião,
A história do Brasil
E os costumes do sertão.
E dedicado aos estudos
Cícero seguia contente
E o sonho de ser padre
Não saía de sua mente
Logo que fez doze anos
Jurou decididamente.
Manter sua castidade
E viver imaculado
Quando fez dezesseis anos
Deixou então seu Estado
Pra estudar em Cajazeiras
Ele foi matriculado.
Ao chegar na Paraíba
Cícero se sentia assim
A vontade e feliz
Ao lado do Padre Rolim
O fundador do colégio
Que tinha o principal fim.
Orientar o menino
Para a sua vocação
De ser padre e levar
Para o povo do sertão
A palavra do senhor
Através de seu sermão.
O jovem ficou dois anos
Na cidade paraibana
Aprendendo os preceitos
De Deus e da vida humana
Até que uma notícia triste
Chegou da terra serrana.
O seu pai Joaquim Romão
Tão amado e querido
Lá na cidade do Crato
Havia então falecido
Deixando o jovem Cícero
Triste porém decidido.
47
Em largar os seus estudos
Que ele tinha tanto gosto
Era o único filho homem
Por isso estava disposto
Em cuidar de sua família
Embora a contragosto.
Quase três anos afastado
Do mundo da educação
Senhor Joaquim apareceu
Para Cícero numa visão
Após ele ter tomado
Outra triste decisão.
De vender então seus livros
Pra quem quisesse comprar
Já que vivia ocupado
Sem tempo para estudar
E o dinheiro era bem-vindo
Pra família alimentar.
Cícero, não abandone
Teus livros e teus estudos
Porque Deus dará um jeito
E vai tomar conta de tudo
Escute bem meu conselho
Meu filhinho, eu não te iludo!
Aquele jovem que tinha
Algo de extraordinário
Prosseguiu o seu estudo
Trabalhou feito um operário
Até que conseguiu ingressar
Um dia no Seminário.
Da capital cearense
Com apoio de seu padrinho
De Crisma Antônio Luiz
Que tinha um grande carinho
Por Cícero que iria trilhar
Um árduo e longo caminho.
E durante cinco anos
De estudos e dedicação
No Seminário da Prainha
Fechou o ciclo de formação
E foi ordenado padre
O filho de Joaquim Romão.
Que não teve vida fácil
Pra alcançar seu objetivo
Dois anos antes, o conselho
Alegava um motivo
Para não mais ordenar
O seminarista impulsivo.
E por ter ideias próprias
O seminarista esquecia
Que tudo só funcionava
Respeitando a hierarquia
Mas Cícero era sincero
A Jesus Cristo e a Maria.
Dom Luís que era o Bispo
Respeitou suas fraquezas
Dizendo: Cícero é um Anjo
Disso eu tenho certeza.
E foi ordenado por ele
Na cidade de Fortaleza.
48
E retornando ao Crato
Após um mês de viagem
No lombo de um cavalo
Levando em sua bagagem
Seu sonho realizado
Com amor, fé e coragem.
Na primeira hora do dia
Em primeiro de Janeiro
No ano de mil e oitocentos
E setenta e um, no terreiro
De casa desmontou Cícero
"O santo do Juazeiro".
Na janela de sua casa
Com uma lamparina na mão
Apareceu Dona Quinô
Para lhe dar a benção
E Mariquinha e Angélica
Abraçaram seu irmão.
Nossa Senhora da Penha
No altar lá da Matriz,
Dona Quinô e as filhas
Seu padrinho Antônio Luiz,
O Padre Manuel Aires
E o povo todo feliz.
Assistiram a primeira
Missa que foi celebrada
Por Padre Cícero Romão
Em sua terra abençoada
E Jesus Cristo cumpriu
A palavra empenhada.
Porque ele tinha um plano
Na vida de meu Padim
Filho de Dona Quinô
E do falecido Joaquim
Afilhado de Antônio Luiz
Aluno do Padre Rolim.
Ainda em setenta e um
Ele foi solicitado
Lá no Sítio em Juazeiro
Um lugarejo afastado
Que não tinha Capelão
Fixo para aquele lado.
O povo queria muito
Uma missa no Natal
Para abençoar a todos
Que vivia no local
E Padre Cícero aceitou
Partindo para o Arraial.
Sabendo que aquele gente
Precisava de um Pastor
A missa foi um sucesso
E reconhecido o valor
Do padre que virou amigo
Do povo e fiel confessor.
Pobre povo que tentava
Somente sobreviver
Procurando uma sombra
E água para beber
Vivendo ali oprimido
Trabalhando pra comer.
49
No período em que a chuva
Caía farta do Céu
Enchendo de cereais
O paiol do coronel
Que mandava sem ter nunca
Entrado em um quartel.
O Governo naquela época
Dava o título de Barão
Aos donos dos cafezais
E plantadores de algodão
E os donos de muitas posses
Era coronel no sertão.
Que tinha em seu comando
A sua própria milícia
Para oprimir o povo
Com o aval da polícia
Eram os jagunços do homem
Que agia com malícia.
Quando queria aumentar
O seu pasto ou plantação
Oferecia um preço
Irrisório e sem sermão
Expulsava o sertanejo
Que pensasse em dizer não.
Só restava a este povo
Pedir a Deus lá no Céu
Livra-lo da fome e sede
E do malvado coronel
Responsável por deixar
Seu ex-vizinho ao léu.
Enquanto no Juazeiro
O Padre recém formado
Sob a proteção de Deus
Solícito e dedicado
Trabalhava com seu povo
Fazendo bons resultados.
No cultivo e criação
Conforme os procedimentos
O padre orientava o povo
Com os seus conhecimentos
Conciliando o trabalho
Com os Santos Sacramentos.
Mas um dia o jovem padre
Sentindo-se muito enfadado
Após uma jornada dura
E o corpo todo alquebrado
Voltou pra casa abatido
Muito triste e cansado.
Tomou água e numa rede
Se deitou pra descansar
Quando teve uma visão
Mas soube bem precisar
Era o Senhor Jesus Cristo
Com seus Apóstolos a falar.
Todos em volta do Mestre
Ouvindo-o atentamente
Lembrava a Santa Ceia
A visão em sua frente
Jesus reclamava muito
Dos pecados de sua gente.
50
Que vivia desregrada
Mas faria um grande esforço
Para salvar o mundo
Que estava no fundo do poço
E ordenou de forma enérgica
Para o padre tão moço:
Tome conta dessa gente
Essa é a minha vontade!
E Cícero vendo que o povo
Passava necessidade
Resolveu ficar de vez
Naquela localidade.
Para ele aquela visão
Era de Deus um presente
E um filho que ama o pai
Tem que ser obediente
Mesmo enfrentando o perigo
Que viria pela frente.
Em pouco tempo Juazeiro
Logo se transformou
Em uma Vila tão próspera
Que jamais alguém sonhou
E o rebanho do padre
De repente aumentou.
E um dia para o povo
Diante da Santa Cruz
Aconteceu o Milagre
Do Sangue do Senhor Jesus
Na hora da Eucaristia
Momento de fé e luz.
Quando a hóstia Consagrada
Em sangue se transformou
Na boca da Beata Maria
De Araújo, se espalhou
Pelo o mundo a notícia
Que Jesus Cristo chegou.
Na Vila de Juazeiro
E era um sinal de perdão
Gente de todo lugar
Que morava no sertão
Correram pra Juazeiro
Em busca da salvação.
Os líderes da Santa Igreja
Descrentes com o acontecido
Suspenderam o Sacerdote
Julgando ter ocorrido
Uma mentira, um embuste
Com o padre envolvido.
Mas o povo conhecia
O Padre Cícero e portanto
Não abandonou seu líder
Chegando de todo canto
Para apoiar seu Pastor,
Padrinho, amigo e Santo.
Que jamais abandonou
O povo do seu sertão
E mesmo estando impedido
De pregar o Santo Sermão
Não negou jamais a Deus
Não abandonou sua missão.
51
Em mil novecentos e onze
Juazeiro virou cidade
e meu Padim virou prefeito
Porque tinha qualidade
Pra liderar o seu povo
Rumo a prosperidade.
Naquela época ninguém
Falava em ecologia
Padre Cícero visionário
Para o povo então dizia
Não devaste a natureza
Plante uma árvore, pedia.
Juazeiro se transformou
Em um Oásis no sertão
Cana de açúcar, mandioca,
Arroz, milho e feijão
Dava de tudo na terra
Do Padre Cícero Romão.
Que nunca mais passou fome
Ou outra necessidade
E o Padre Cícero jamais
Deixou aquela cidade
Ele está hoje no Horto
Vendo a felicidade.
Daquele povo que um dia
Jesus Cristo lhe entregou
E é essa a história
Do menino que sonhou
Em ser padre e no entanto
Em santo se transformou.
JOSÉ LOURENÇO, O BEATO DO CALDEIRÃO
No povoado de Juazeiro
Do Padre Cícero Romão
No fim do século dezenove
O povo do meu sertão
Chegou pra ver o milagre
Que ocorreu na região.
Foi a prova que o Padre
Era mesmo milagreiro
E abarrotado de gente
Estava o seu Juazeiro
E os visitantes ficaram
Conhecidos por romeiros.
Chegou gente do Rio Grande
Do Norte e de Alagoas
De Sergipe, Pernambuco
Que acreditavam na pessoa
Do Padre Cícero Romão
Que a todos abençoa.
Ex-escravos que libertos
Não tinham onde morar,
Homens do campo sem terra
Que não tinham onde plantar
O Santo do Juazeiro
Recebeu sem protestar.
Os retirantes da seca
Homens de bem perseguidos
Homens rudes e homens dóceis
Chegavam eram acolhidos
Na Méca do Cariri
52
Quem chegava tinha terra
Pra fazer sua plantação
Mas devia obediência
E a crença na religião
Não se tolerava vícios
Ou qualquer desunião.
Uma nova chance na vida
Padre Cícero oferecia
Mas tinham que respeitar
Ao padre e a Virgem Maria
Era o fim do sofrimento
E Juazeiro crescia.
Em mil oitocentos e noventa
O Padre foi procurado
Por um paraibano que era
Filho de escravos alforriados
Chamava-se José Lourenço
E logo foi encarregado.
Em liderar uma missão
Que para o Padre era santa
Na cidade do Crato
Lá no sítio Baixa Dantas
A terra era muito árida
Porém só colhe quem planta.
Então vários flagelados
O Padre Cicero enviou
Aos cuidados de Lourenço
Que aquela causa abraçou
E em pouco tempo as terras
Do sítio então prosperou.
Isso despertou a fúria
Dos fazendeiros dali
Devido a facilidade
Que passou a produzir
Legumes de todo jeito
Milho, arroz, fava e pequi.
José Lourenço cuidava
Com muito zelo de um boi
Que o Padre Cicero lhe dera
E bem cuidado ele foi
Mas espalharam um boato
E prenderam Lourenço depois.
Por fazer naquele sitio
O pecado da idolatria
Cultuar um boi é pecado
Era mais que heresia
Dizer que o boi era santo
E até milagre fazia.
José Lourenço ficou
Conhecido por “beato”
Não sei se por sua fé
Ou por causa daquele fato
E do Sítio Baixa Dantas
Partiu pro rumo do mato.
Levando toda a sua gente
Com a mesma intenção
Plantar a terra e depois
Dividir com seu irmão
Se instalaram na localidade
Chamada de Caldeirão.
53
Pertencia ao Padre Cicero
Homem “santo admirável”
E o Caldeirão se tornou
Logo autossustentável
Porém as perseguições
Já estava insuportável.
Mesmo com a proteção
Do Santo do Juazeiro
Que doou aquelas terras
Para o beato romeiro
Sempre eram atacados
Por ordem dos fazendeiros.
Quando em mil e novecentos
E trinta e quatro morreu
Cicero Romão Batista
O pior aconteceu
Mais um inimigo do povo
Na questão apareceu.
Eram os Salesianos
Da mesma congregação
Do Padre Cicero e herdeiros
Que exigiram ação
Do governo federal
No caso do Caldeirão.
Já que o beato não tinha
A documentação da terra
A justiça simplesmente
Sem dar ouvidos encerra
As negociações com o povo
Iniciando uma guerra.
Pois alegava o governo
Que após um logo estudo
Temiam que o Caldeirão
Tornasse uma nova Canudos
Invadiram o Caldeirão
Para acabar de vez com tudo.
Foi no ano trinta e sete
Pela a terra e pelo ar
O governo federal
Botou para massacrar
Utilizando aviões
Pra de vez exterminar.
Mais de mil seres humanos
Brutalmente assassinados
O governo de Getúlio
Mais uma vez foi machado
Com o sangue de inocentes
Naquele solo encharcado.
José Lourenço não foi
Morto como conselheiro
Fugiu para Pernambuco
Sem comida e sem dinheiro
Por dedicar a comunidade
Seu trabalho e caridade
E a fé no Santo Romeiro.
54
CEGO ADERALDO, A LUZ QUE EMANA A ARTE
Eu sou Pádua de Queiróz
Gosto muito de escrever
O cordel dos cordelistas
Que é fácil de entender
Nasci em Baturité
Eu nunca perdi a fé
E alegria de viver.
Quero aqui recordar
Na minha arte e oficio
Sobre Cego Aderaldo
E nasceu bem no início
Da tal “seca dos dois sete”
Que trouxe também a peste
Deixando no sacrifício.
O povo que espiava
O sertão esturricado
Quatro anos, só de seca
E pela peste assombrado
E assim no anonimato
Lá na cidade do Crato
Um lar foi contemplado.
Era mil e oitoentos
E setenta e oito, o ano
Vinte e quatro de junho
Dia exato, não me engano
Quem tem fé não se abate
A casa de um alfaiate
Presenteou o Soberano.
55
Com uma linda criança
A mãe disse: “expia, é home!”
O pai ficou tão feliz
Mesmo diante da fome
E ao Pai Celestial
Agradeceu o casal
Aderaldo é seu nome.
Deixaram pra trás o Crato
Rumando pra Quixadá
No grande sertão central
Do Estado do Ceará
Esta família sofrida
Pensava mudar de vida
Quando chegasse por lá.
O amanhã pertence a Deus
Ele é luz que nos guia
Quando o pai de Aderaldo
Adoeceu certo dia
Com cinco anos de idade
Naquela bela cidade
Trabalhou com ousadia.
Para alimentar seus pais
Com o pouco que ganhava
E Aderaldo cresceu
Em casa nada faltava
Seu pai era bem cuidado
E por todos muito amado
Mas seu fim se aproximava.
Em vinte e cinco de março
Do ano mil e oitocentos
E noventa e seis morreu
Seu pai que belos momentos
Ofereceu em seu lar
Conjugando o verbo amar
Maior dos ensinamentos.
Dezoito anos de idade
Tinha o nosso personagem
Quando perdeu o seu pai
E não perdeu a coragem
Trabalhava pelos dois
Mas quinze dias depois
Sem as cores da imagem.
Do sertão, do céu azul
Interrogava a Deus:
Como é que vou viver
Sem a luz dos olhos meus?
Sem nenhuma explicação
Perdera a sua visão
Num melancólico adeus.
Porém Deus não desampara
Um bom filho, um bom cristão
Aderaldo agora cego
Em sonho teve uma visão
Cantando com muita fé
Para o Santo de Canindé
E acordou com a impressão.
56
De que dali pra adiante
Poderia abraçar
A arte dos violeiros
A cultura popular
Arranjou uma viola
Tirou logo da sacola
E aprendeu a tocar.
Quando tudo parecia
Que tudo estava bem
Veio a morte sorrateira
E levou sua mãe também
Sentiu-se ali sozinho
No sertão seguiu caminho
E dali foi mais além.
Percorreu o Ceará,
Pernambuco, Piauí
Desafiando sem medo
Os repentistas dali
E tinha boa munheca
Tocando a sua rabeca
De madeira de pequi.
Falando de desafio
Um é muito comentado
Foi um tal de Zé Pretinho
Que chegou desavisado
Querendo humilhar o Cego
Dando caixote com prego
Pro pobre ficar sentado.
Zé Pretinho se deu mal
Simplesmente até achara
Que Aderaldo era fraco
Arigó, pau-de-arara
No fim saiu de mansinho
E o Cego cantou sozinho:
“pagará a paca cara.”
Seu nome virou destaque
Por este mundão inteiro
Se falasse em três pessoas
Do nordeste brasileiro
A memória nem atiço
Lembro logo Padre Ciço
Aderaldo e o cangaceiro.
Lampião com toda fama
Também reverenciou
O grande Cego Aderaldo
Que um dia lhe visitou
Vendeu no meio do mato
Perfume de fino trato
Até cinema levou.
Maranhão, Pará, São Paulo,
Rio de janeiro e Bahia
Foram privilegiados
De ouvir a poesia
De Aderaldo Ferreira
Hoje minha Bandeira
Que empunho com alegria.
57
Foi retratado em filmes
E muito bem retratado
Rosemberg Cariry
Amigo, muito obrigado
Também sei que em Quixadá
Tem uma casa que está
Preservando o legado.
Do poeta que deixou
Um exemplo pra seguir
Mesmo com dificuldades
Não podemos desistir
A Casa Cego Aderaldo
Da Secult tem respaldo
Pois sabe bem refletir.
A luz que emana arte
Repente, cordel, cantoria
O Instituto Dragão
Hoje é o nosso guia
Neste vinte e três de junho
Cordelizo e testemunho
De Cego Aderaldo o dia.
Nós temos a obrigação
De zelar nosso passado
A cultura tradicional
Não deve ficar de lado
Divulgando os saberes
E também nosso fazeres
É construir um legado.
RACHEL DE QUEIRÓZ, O 15 E OUTRAS CONQUISTAS
Meu Jesus de Nazaré
Ilumine a minha mente
Com a luz da inspiração
Pra que eu possa simplesmente
Fazer esta narrativa
Com rima bem criativa
E assim mostrar fielmente.
Que tudo no mundo é possível
Se houver determinação,
Se for fiel a seu Deus,
Se amar a sua nação,
Se tiver muita vontade
De vencer com humildade,
Trabalho e obstinação.
O ser humano na história
Tem mostrado o seu valor
Na ciência e na cultura
Grande legado deixou.
Este ser racional
Quando não faz nenhum mal
Prova que é merecedor.
Eu vou citar um exemplo
De uma mulher brasileira,
Que venceu o preconceito,
Rompeu todas as barreiras.
Através de muito estudo
Ela conseguiu de tudo
Empunhando a Bandeira.
58
A Bandeira da Verdade,
Da cultura e do Saber,
Em nossa Literatura
É impossível esquecer,
Na Fase do Modernismo,
Na área do Regionalismo
Fez seu nome conhecer.
Ela que tinha o Dom
Do fio do Pensamento
Escreveu a sua terra,
Seu povo em seu sofrimento.
Naquele Verão Feroz
Nasceu Rachel de Queiróz
Pra dar seu depoimento.
Muita gente então vivia
Sem ter o conhecimento,
Das consequências da Seca
Do imenso sofrimento
Quando a chuva não caia
O nordestino padecia
Sem água e sem alimento
Foi fugindo de tal seca
Que ela deixou seu lugar,
Foi pro Rio de Janeiro
Depois, Belém do Pará
Aos setes anos de idade
Rachel só tinha vontade
De aprender, de estudar.
Aos nove anos retorna
A sua terra natal,
Aos quinze anos se forma,
No antigo curso normal,
Tornando-se então professora
Porém a nossa escritora
Queria algo especial.
Naquela época a Mulher
Não tinha nenhum valor,
Era logo censurada
E vista com muito horror,
Se ela manifestasse
Ou pelo menos sonhasse
Contra o homem se opor.
Se opor significava
Fazer o que o homem fazia,
Ou pensar da mesma forma
Era alvo de zombaria
A mulher se limitava
Ao lar que tão bem zelava
Ou mal vista ela seria.
Rachel dedicou-se à leitura
Escrevendo apontamento
Que guardava esperando
Publicar em algum momento
E mostrar pra sociedade
Sua criatividade
A luz do seu pensamento.
59
No ano de vinte e sete
No jornal "O Ceará”
Com um pseudônimo escreve
E consegue publicar
Uma carta de protesto
Que foi vista com sucesso
E a convidaram a trabalhar.
No jornal por muitos anos
Como uma colunista,
Onde cunhou com palavras
A arte do jornalista,
E assim, Rachel de Queiroz
Escrevendo a sua voz
A liberdade Conquista.
Era agosto de Trinta
Com mais de mil exemplares
Publica o livro "O Quinze” •
Conquistando os populares
O livro é tão bem recebido
Que na época foi o mais lido
Nas escolas e nos lares.
"O Quinze"então lhe rendeu
Homenagem e respeito.
Rachel abril as fronteiras
Simplesmente do seu jeito.
Para o povo japonês,
Israelense e francês
Escreveu sem preconceito.
Na Alemanha também
“O Quinze" foi publicado,
Até o Norte - Americano
Ficou muito encantado.
Mas a sua maior glória
Foi entrar para a história
Por sua obra, seu legado.
No ano de setenta e sete
Na Academia de Letras
Tornou-se a primeira mulher
Naquela instituição eleita.
A primeira imortal
Grande orgulho Nacional
Sob nenhuma suspeita.
Sou poeta cearense
E mamãe me batizou
Com o nome Antonio de Pádua
O Queiróz ela herdou
Sobrenome que tem peso
Sou livre, não vivo preso
Cearense eu sei que sou.
Terra de escritores
Orgulho nacional
Terra de Eudes Bandeira
Que acolheu Lourival
Terra que eu amo e digo
Que aqui nasceu meu amigo
Professor Elder Vidal.
60
Eu amo meu Ceará
Terra de Rachel de Queiróz
Que escreveu fartamente
A escrita foi sua voz
Que bradou no mundo a fora
A tal seca que devora
A terra de meus avós.
Patativa do Assaré
Falou em sua poesia
Luiz Gonzaga cantou
Com sua voz e harmonia
E a nossa escritora
Com sua lavra reveladora
Deixou para nossos dias.
Esta mensagem real
O QUINZE, é assim que vejo
Por isso presto homenagem
No meu repente e lampejo
A esta mulher guerreira
Brava gente brasileira
Que desejou o que eu desejo.
Eu desejo que o aluno
Seu exemplo sempre siga
Sonhe sempre e realize
Vá em frente e persiga
E quem nasceu nesta terra
Pode até fugir da guerra
Porém não foge da briga.
CHICO SOARES, O PROFETA DA CHUVA
Nem FUNCEME, seus satélites
E suas pesquisas espaciais
Podem prever com firmeza
Os períodos invernais...
Ninguém sabe mais que Deus
Somente Ele é capaz.
De mandar um ano de chuva
Ou então dois de estiada
Ou um ano de sol brabo
Ou dois anos de chuvarada
Só Deus sabe a hora exata
Que começa a invernada.
Eu mesmo vou lhe dizer
Que é difícil acreditar
Pois tem coisa que Deus fez
Que ninguém vai copiar
Matuto que prevê chuva
E poeta que sabe rimar.
É por isso que eu falo
Tem coisa que só Deus faz
Porém o que eu mais respeito
E tenho carinho demais
É o profeta da chuva
Que decifra os sinais.
Que apresenta a fauna e flora
Que dependem do inverno
Juro que não levo em conta
Equipamento moderno
Usado por estes homens
61
O cabra pode ser formado
Na tal de meteorologia
Cumulus nimbus, ..., etc
Não creio na teoria
Pois quem diz que vai chover
É o cantado da Jia.
Pergunte a Chico Soares
Da Lagoa de São João
Se no ano que vem vai ser
Boa a safra do feijão
Ele é profeta e sabe
Fazendo a observação.
É desde os quarenta anos
Que o “Seu Chico” espia
A natureza e faz
Com maior maestria
As previsões do inverno
E o povo nele confia.
Na Região do Maciço
Profeta igual não tem
Vou dizer a sua idade
Acredite, ele fez Cem
Está velho, mas não perde
O seu trono pra ninguém.
Os sinais vou lhe dizer
Não é papo de velhice
Se a Lua pender pro sul
Não plante que é tolice
Porém se pender pro norte
O inverno é bom, ele disse.
Também no mês de Janeiro
Se ouvir um trovão ao norte
Pode preparar a terra
Porque o inverno é forte
E trovejando para o Sul
Com certeza é triste sorte.
De Agosto pra Setembro
É preciso observar
A formiga noite e dia
Começar a trabalhar
Pode ficar tranquilo
Bom inverno vai chegar.
De Novembro pra Dezembro
Se ouvir o pássaro Carão
Cantando lá na lagoa
É chuva no meu sertão
Selecione a semente
E vá preparando o chão.
Mas o canto da Acauã
Do mau agouro é um sinal
Somente com muita reza
Pro Senhor Celestial
Para o homem sertanejo
Ter um período invernal.
Quando o cupim cria asas
Voando pelo terreiro
É sinal de que a chuva
Já começa em janeiro
E o inverno “é do bom”
Colhe quem planta primeiro.
62
Vinte e cinco de Dezembro
Aniversário de Jesus
No amanhecer do dia
Uma linda barra de luz
Aparecer no horizonte
Faça o sinal da cruz.
Porque o inverno vem
Do jeitinho que é pra ser
O sertão vai ficar verde
E bonito de se ver
E a mesa vai ficar farta
De tudo pra se comer.
O pau D’arco quando flora
Bem perto do fim do ano
É o sinal que Deus Pai
Criador e soberano
Vai mandar chuva pra nós
Realizar nosso plano.
De plantar milho e fava,
O jerimum e o feijão,
Tudo o que quiser plantar
Dar de tudo e de montão
Vai ter festa com fartura
No dia de São João.
Diz o profeta da chuva:
O homem tem que ter fé
E se todos esses sinais
Não for do jeito que é
Espere a chuva cair
No dia de São José.
Parabéns grande profeta
Sertanejo operário
Parabéns mais uma vez
Por este seu centenário
Um século passou diante
De seu trabalho diário.
Sessenta anos “Seu Chico”
Tem fazendo previsão
Mas cem anos de existência
Ele tem neste sertão
Já viu o flagelo da seca
A fome, a falta do pão.
Viu também muita fartura
E muito mais ainda vai ver
Filhos, netos e bisnetos
Para alegrar seu viver
E eu que sou da cidade
Tive a felicidade
De poder lhe conhecer.
63
UNILAB, UM ELO CULTURAL
Tá na mídia o meu cordel
E feliz por isso estou
Respeito e consideração
Minha arte conquistou
De norte a sul do país
Rimo porque sou feliz
E brasileiro eu sou.
Cabo Verde, Moçambique,
Angola, Guiné Bissau,
Brasil, São Tomé e Principe,
Timor Leste e Portugal
Com essa Lusofonia
Meto a sola na poesia
E faço um elo Cultural.
Com o idioma falado
Por esses oito países
E eu sei que na UNILAB
Somos iguais e felizes
E ninguém vai me amordaçar
Quando eu começar a falar
Sobre as nossas raízes.
Dizem que os cordelistas
Sempre aumentam um ponto
Após ouvir um boato,
Uma história, um conto
Mas uma coisinha eu digo
O cordel está comigo
Quando eu escrevo apronto.
64
E mesmo com o advento
Da bendita Internet
A confecção do cordel
Ainda hoje se repete
É difícil de escrever
Porem fácil de entender
E não precisa enquete.
Pra perguntar se o povo
Ainda curte o cordel
Que é muito apreciado
Tem até público fiel
Vem gente de todo lugar
Quando eu começo a rimar
Vem até quem foi pro Céu.
Por isso para ouvir
Os meus versos eu convidei
Os pintores Michellângelo
E Boticelli que encontrei
Pintando com Raphael
Nos Campos Eliseos do céu
Um afresco que encomendei.
Nicolau Maquiavel,
Camões que é patrício meu
Erasmo de Rotterdan,
Isaac Nilton e Gallileu,
Gil Vicente, o português
Que também por sua vez
Os seus cordéis escreveu.
E também Martin Luthero
Que dividiu uma religião
Luiz Gonzaga e Beethovem,
Saladino, o sultão
Voltaire e Renê Descartes
Ouvirão a minha arte
Que é cultura e educação.
Já que eu toquei neste assunto
Educação e cultura
A UNILAB hoje abre
Grande espaço pra leitura
E o livro companheiro
Para o povo estrangeiro
Oferece uma aventura.
Porque ler é viajar
No carro do pensamento
Então convido a você
Neste exato momento
Embarcar em uma nau
Que zarpou de Portugal
Na época do descobrimento.
Quando por aqui chegou
Pedro Alvares Cabral
Em busca de um porto seguro
Fugindo de um temporal
Pero Vaz de Caminha
Relatou em suas linhas
Para o rei de Portugal:
65
Majestade, soberano!
Encontramos “El dorado”,
Tem de tudo nesta terra
Prata e ouro aos bocados,
Tem também muita madeira
Lhe garanto é de primeira
E tem mulher pra todo lado!
Logo que Dom Manuel
Leu a carta de caminha
Tomou posse do “achado”
Colonizando a terrinha
Fazendo do povo nativo
Submisso e cativo
Para extrair o que tinha.
O ouro que reluzia
A madeira rara e forte
E tudo mais que existia
No Brasil de Sul a Norte
Mas o índio brasileiro
Embora fosse guerreiro
Sucumbiu a infeliz sorte.
O trabalho era pesado
E não deu pra suportar
O sangue encharcou a terra
E o povo de “Além-mar”
De maneira desumana
Lá das terras africanas
Resolveu trazer pra cá.
Este povo sofreu muito
Só por ter uma bela cor
O lusitano insensato
Só pensava no valor
E o lucro que aumentava
Do trabalho que prestava
Aquele povo sofredor.
Surgiram os “abolicionistas”
De ideia inovadora
O movimento cresceu
De forma avassaladora
E no palácio real
Assinaram afinal
A lei maior redentora.
É certo que veio tarde
Mas debaixo deste céu
Foi assinada a “Lei Aurea”
Pela Princesa Isabel
Que pagou com o seu trono
Ao senhor que era dono
De escravos, tão cruel.
E proclamaram a Republica
Acabando a monarquia
O império do preconceito
Predomina em nossos dias
E sou brasileiro mestiço
Sou poeta do Maciço
E escrevo com alegria.
66
Porque temos a UNILAB
Onde isso não tem vez
Tem Guinéense, Agolano,
Caboverdense, Português,
Tem gente do Timor Leste
Dando aula no Nordeste
Pondo fim na estupidez.
De que o negro é diferente
E não tem nenhum direito
A UNILAB nasceu
Pra que que um mutuo respeito
Luso-Afro brasileiro
Mostre para o mundo inteiro
Que o mundo unido é perfeito.
Nessa arte que nasceu
Para o povo oralmente
Saúda meus ancestrais
Nas linhas do meu repente
O amor é universal
E todo mundo é igual
E ninguém é diferente.
E a todos na UNILAB
Só me resta agradecer
Por deixar que minha arte
Possa dessa forma ser
Uma ferramenta didática
Pra essa gente fantástica
Ensinar e aprender.
O BARBEIRO DE CHAGAS
Triatoma Infestans
É o meu nome verdadeiro
Mas tenho várias alcunhas
Por esse Brasil inteiro
Bicudo, Procotó, Fincão
Chupança ou mesmo Chupão
Sou o famoso barbeiro.
Por isso eu peço a você
Que leia com atenção
Este trabalho importante
Para a sua orientação
A minha existência propaga
A tal doença de Chagas
Que aflinge a População.
Vou começar essa história
Recordando o passado
Para você no presente
Ficar melhor informado
Para viver no futuro
Se sentindo mais seguro
Saudável e desassombrado.
No Instituto de Manguinhos
Oswaldo Cruz já havia
Erradicado várias doenças
Com as pesquisas que fazia
E já era naquele tempo
Referência e exemplo
De um país que evoluía.
67
Caminhando lado a lado
Com a Ordem e Progresso
Desbravando os Sertões
Vislumbrando o sucesso
Na construção de uma Ferrovia
Algo estranho acontecia
E vou relatar em meus versos.
Os operários da Obra
Sabiam que já não dava
Trabalhar sob a ameaça
Da malária que ceifava
A vida de quem vivia
Na área da ferrovia
Que aos poucos avançava.
A malária é uma parasitose
Transmitida pelo mosquito
E também tem vários nomes
Que eu acho esquisito
É paludismo, é maleita
E pra acabar esta desfeita
Procuraram um perito.
Porque existia um homem
Capaz e extraordinário
Para diagnosticar o mal
Que maltratava os operários
Oswaldo cordialmente
Prometeu aquela gente
O que fosse necessário.
Oswaldo Cruz confiante
Pensou: agora é a vez
Do amigo Carlos Chagas
Que em Mil Novecentos e três
Conseguiu seu doutorado
Após ter demonstrado
Discernimento e sensatez.
Seu Mestre o conhecia
E com muita confiança
Lhe confiou esta empreitada
Como faz uma liderança
E para o Rincão Mineiro
Carlos Chagas, prazeteiro
Partiu cheio de esperança.
Em Mil Novecentos e Sete
No histórico lugarejo
Lassance, Minas Gerais
Ambiente sertanejo
Alojou-se num vagão
Seu Lar a partir de então
Onde mostrou seu desejo.
Mesmo longe da família
E do aconchego do Lar
Seu desejo e pensamento
Somente era Trabalhar
Carlos Chagas aplicado
Logo viu o resultado
De seu trabalho brotar.
68
Em sua faxina diária
Higienizava o ambiente
Tratava de várias pessoas
Que apareciam doentes
Mas ao notar um raro sintoma
Foi fazendo a sua soma
Onde chegou simplesmente.
A essa feliz conclusão
Carlos era mesmo esperto
Notou que muitos chegavam
Picados por um inseto
Bem maior que um mosquito
Porem muito esquisito
Com certeza estava perto.
Catalogou minha espécie
Estudou minha rotina
Porque ele tinha certeza
Que eu causava a ruína
Pra FIOCRUZ fui enviado
Com perícia dissecado
E veja só que Triste Sina.
Acharam em meu intestino
Um tipo de PROTOZOÁRIO
Um ser vivo microscópico
De hábitos parasitários
Eu era um simples vetor
E não o maior causador
Da doença dos operários.
E de Trypanosoma cruzi
Carlos Chagas batizou
Em homenagem aquele
Que um dia lhe confiou
Essa intricada missão
Naquele distante Sertão
Que com coragem abraçou.
Em Mil Novecentos e Nove
Uma menina doente
Chamada Berenice
Foi a primeira paciente
A Carlos Chagas apresentada
E carinhosamente tratada
Por ele pessoalmente.
E dividiu a doença
Causada pelo parasita
Em fases, aguda e crônica
Como um bom parasitologista
Diagnosticando a tempo
Facilitando o tratamento
Dessa doença esquisita.
E notou que a fase aguda
Poderia ser tratada
Enquanto a fase crônica
Não podia fazer nada
A não ser a prevenção
Como única solução
Ou melhor, uma caçada.
69
A mim que chupo sangue
E que durmo o dia inteiro
E saio somente a noite
Como faz um bom Barbeiro
Que mora em todos lugares
Casas de tijolos e lares
De pau-a-pique e galinheiro.
Naqueles tempos passados
Onde tudo era absurdo
Carlos Chagas publicou
Este seu brilhante estudo
Seu trabalho redobrado
Hoje em dia é um legado
Para o Brasil e o mundo.
Não recebeu o Premio Nobel
Conforme foi indicado
Mas a sua descoberta
Foi a soma do resultado
De uma mente brilhante
Com um trabalho incessante
De alguém capacitado.
As pesquisas avançaram
Conforme passaram os anos
E como reconhecimento
A este médico Sul-Americano
Em homenagem ao doutor
Que mostrou o seu valor
E respeito e ao ser humano.
Chamaram doença de Chagas
Este mal que tenho em mim
Mas não é minha picada
Que faz o homem ter fim
E sim as fezes que eu deixo
No rosto de quem eu beijo
Que adoece mesmo assim.
Hoje, Cem anos depois
Eu ando mais prevenido
Já não ataco somente
O pobre desprotegido
Vitimo a todo momento
Quem mora em apartamento
Quando eu sou atraído.
Para lugares que gosto
De fazer minha moradia
Frestas de paredes ôcas
Ou móveis sem serventia
Em todo lugar que eu chego
Já faço o meu aconchego
E minha prole se cria.
Lá em Santa Catarina
E em Belém aconteceu
No preparo de alimentos
Um Barbeiro primo meu
Foi sem ser percebido
Com cana e açaí moído
E muita gente adoeceu.
70
É importante lembrar
Que a FIOCRUZ hoje faz
O mesmo trabalho que outrora
Carlos Chagas foi capaz
Do Rio até Salvador
Vigilantes a esse vetor
Não dão trégua e nem paz.
A exemplo da Bahia
Que eu tenho o conhecimento
Pesquisam nessa doença
Testando medicamentos
O trabalho suplanta a morte
E eu sinto a minha sorte
Se esvaindo no momento.
Um dia na FRIOCRUZ
Ainda ponho minhas patas
Como o último Barbeiro
Que teve a missão ingrata
De ser o único vetor
Fiel e proliferador
Desse mal que tanto mata.
Só recebe homenagem
Quem trabalha, quem merece
E quem não tem competência
Nem mesmo se estabelece
O bem com o bem se paga
E o Dr. CARLOS CHAGAS
O Brasil jamais esquece.
UM CORDEL BIBLIOTERÁPICO
Em sextilha ou sete pés
Eu escrevo o meu cordel
Arte típica nordestina
Que eu sempre serei fiel
Transfiro meu pensamento
Para uma folha de papel.
Logo invento uma história
Que é gostosa de se ler
Muito embora o meu cordel
É difícil de escrever
Mas é muito apreciado
Porque é fácil de entender.
É um jornalista matuto
O poeta popular
E tudo vira noticia
Nesta arte de rimar
Por isso a biblioterapia
Em cordel vou divulgar.
Há males que a medicina
Não cura de jeito maneira
Depressão, ansiedade,
A velhice companheira
Estresse, bullying e luto
Só sei dizer: ô lasqueira!
Falta de perspectiva
Na vida de um deprimido
Nem querendo se consegue
Um trauma ser esquecido
Mas pra isso há tratamento
71
Eu já passei em minha vida
Por problema semelhante
Me sentindo abandonado
Confesso, sofri bastante
Procurei especialistas
Que resolvesse num instante.
Aquela enfermidade
Que me deixou acamado
Porque eu não me alimentava
Mesmo estando acompanhado
Eu me sentia que estava
No Universo isolado.
O belo emprego que eu tinha
Eu perdi, pois meu patrão
De tanto me esperar
Assinou minha demissão
Ele não compreendia
A minha situação.
Tomei tudo que é remédio
Pra cabeça, perna e peito
Médicos me consultaram
Mas não sabiam direito
Diagnosticar meu problema
Que parecia sem jeito.
Mas certo dia um amigo
Foi então me visitar
Ao me ver todo engembrado
Disse-me; vou lhe aconselhar
O seu problema é psíquico
Já sei onde te levar!
E naquele mesmo dia
Me levou com decisão
A um grande especialista
Pra resolver a questão
E acabar de uma vez
Toda minha depressão.
Eu fui levado no colo
Porque forças eu não tinha
Chegamos num consultório
E para surpresa minha
Era uma biblioteca
Com divã e escrivaninha.
O homem que me atendeu
Foi dizendo simplesmente
Por favor, pegue este livro
Que está a sua frente
Deite ali no divã
E leia tranquilamente.
Há tempos que eu não lia
Nem notícias de jornais
Porém eu peguei o livro
Que eu não esqueço jamais
E por ser bastante surrado
Me interessou até demais.
O autor era Marco Polo
Que livro maravilhoso
O Livro das Maravilhas
Titulo muito curioso
Li apenas um capitulo
E era um texto tão gostoso.
72
Eu queria continuar
Lendo para ver o fim
Mas o bibliotecário
Foi dizendo logo assim:
Leve-o para sua casa
Depois devolva-o pra mim.
Eu confesso pra vocês
Que minha vida mudou
E a alegria de viver
De repente então voltou
Solidão, angústia e medo
Tudo se dissipou.
A minha vida foi salva
Por uma simples atividade
A leitura abriu-me as portas
Para a tal felicidade
E hoje eu sou feliz
Agora veja a verdade.
A pessoa que eu achava
Ser um simples bibliotecário
Era um biblioterapeuta
Em seu trabalho diário
Que junto com a ASSALCE
Sabem que é necessário.
Para a saúde mental
Este tratamento que cura
O paciente através
De uma simples leitura
Eis a biblioterapia
Não conhece-la é loucura.
Vem do idioma grego
O termo biblioterapia
Também quero divulga-la
Pois é de grande valia
É a junção da palavra
Biblion com therapia.
Bliblion é relativo
A material de leitura
Therapia é o tratamento
Que restabelece e cura
A saúde de um enfermo
E está crescendo a procura.
Por este tipo de ajuda
Ou melhor este tratamento
E eu digo pra você
Sem nenhum acanhamento
Que ler é viajar sentado
No carro do pensamento.
Hoje eu estou curado
E voltei a trabalhar
Pode chover pau e pedra
Nada mais vai me abalar
Porque tenho sempre um livro
Para me acompanhar.
73
OUTUBRO ROSA (A IGNORÂNCIA DE OLEGÁRIO)
Quero pedir neste instante
Ao Deus Pai do universo
Que ajude este poeta
Que não almeja o sucesso
Mas deseja informar
Ao povo do meu lugar
Na rima de cada verso.
Sobre este movimento
Que eu sei é muito importante
Promove a conscientização
A toda hora e todo instante
Através de vários meios
E eu digo sem aperreio
Pra mim é dignificante.
Dai a necessidade
De criar o Outubro Rosa
Neste mês, minha cidade
Está bonita e formosa
E então com minha arte
Vou fazendo a minha parte
Mas não vá pensar que é prosa.
Este assunto que aborda
A saúde feminina
Desde a década de noventa
Este movimento ensina
Que um câncer detectável
Na mama também é tratável
Não é por demais ruina.
74
E por ser assintomático
Tem que se observar
Através de exames clínicos
Porém outra forma há
É o dito autoexame
E não é nenhum vexame
Uma mulher se tocar.
Quem se toca se previne
Não precisa timidez
Faça sempre o autoexame
Um dia em cada mês
Uma mulher prevenida
Dar valor a própria vida
E a dor não terá vez.
Sei que o câncer de mama
Mata, porém tem cura
Faça sempre o autoexame
Faça deste ato cultura
E também uma vez por ano
Não cometa um engano
E saia de um médico a procura.
Ele vai lhe atender
Por ser especialista
Mas tem que ser realmente
Um médico ginecologista
Realize um check-up
Não deixe que a sorte escape
Pode ser um mastologista.
Se infelizmente tiver
Um problema com você
Realmente vai ter tempo
Para algo se fazer
E mesmo sem ter prevenção
O câncer de mama não
Atrapalhará seu viver.
Observe em suas mamas
Tamanho, forma e cor
Se há secreção nos mamilos
Ou se sente alguma dor
Quando for tomar banho
E se houver algo estranho
Não precisa de pavor.
Vá num posto de saúde
Da cidade em que mora
Marque a sua consulta
Faça isso minha senhora
Vou contar o que aconteceu
A mulher de um amigo meu
Que não se importou na hora.
Quando observou um dia
Algo em si diferente
Um seio avermelhado
Rugosidade aparente
Uma dor desagradável
Que ficou insuportável
E não contou pra sua gente.
75
Só depois de muitos meses
Não suportando a agonia
Contou para seu marido
Que naquele mesmo dia
Tomou aquela atitude
Foi a um posto de saúde
Com a esposa que padecia.
Fizeram um exame clinico
Onde foi detectado
No seio um tumor maligno
Já bastante adiantado
Fizeram MASTECTOMIA
E a enfermidade que havia
Com o seio foi retirado.
Aquela jovem senhora
Ficou tão de baixo astral
Que não queria sair
Mais daquele hospital
E logo um cirurgião
Disse eu tenho a solução
Pro seu problema afinal!
Logo após o tratamento
Pode ficar sossegada
A nossa equipe médica
Também está preparada
E a sua auto estima
Logo vai estar pra cima
Não se preocupe com nada.
Com um implante mamário
Reconstruiremos sua mama
Mas não esqueça jamais
Quem se toca, cuida e ama
Divulgue o Outubro Rosa
Para as jovens e idosas
Quem se cuida não reclama.
Com os olhos rasos d’água
A senhora lhe agradeceu
E até hoje conta a todos
Tudo o que lhe aconteceu
Dizendo: devo minha vida
Aquela equipe querida
Que no hospital me atendeu!
Mas é preciso lembrar
Nas linhas do meu repente
Que o tal câncer de mama
Não afeta simplesmente
Nosso gênero feminino
Até o sexo masculino
Sujeita a ficar doente.
Eu mesmo conheci um homem
Que morreu de câncer mamário
E foi exatamente no dia
Quando fez aniversário
Há tempos que ele sabia
A doença que ele tinha
E se chamava Olegário.
76
Morreu por ignorância
E nem procurou sequer
Um médico pra se tratar
Mas disse: se o destino quer
Quarenta anos tá bom
Mas não faço ultrassom
Com doença de mulher!
Por isso o Outubro Rosa
Foi criado para este fim
Compartilhar informações
Para quem pensa assim
E eu sou homem com “H”
Também vou me consultar
Porque eu gosto de mim.
Nasci em Baturité
No Bairro do Putiú
Sou poeta cordelista
Mais macho que Tijuaçú
Agora no próximo mês
Será então nossa vez
Porque o novembro é azul.
SANTO INÁCIO DE LOYOLA E A DIVINA MAJESTADE
A Divina Providencia
Eu peço a inspiração
Que é dada aos poetas
Pelo Pai da criação
Sobre Inácio de Loyola
Lá das terras espanholas
Vou fazer uma narração.
Iñigo Lopez de Oñaz
Y Loyola, então nasceu
No Castelo de Loyola
Sobrenome que acolheu
Dezesseis anos de idade
Foi viver na orfandade
Quando seu pai faleceu.
Pois já não tinha mais mãe
Que morreu em sua infância
Foi morar com um parente
Homem de muita importância
Ministro de Dom Fenando
De Aragão que no comando
Reinou com tão relevância.
O antigo reino Castela
Aonde Inácio viveu
Onze anos como pajem
Daquele que o protegeu
Juan Velázquez Cuellar
Que não soube orientar
O jovem que ele acolheu.
77
Muito embora tenha tido
Uma boa formação
Aprimorada cultura
Viu na guerra a razão
Entregou-se a vaidade
Também a leviandade
Na corte foi cortesão.
Até os vinte e seis anos
De idade foi assim
Sem uma perspectiva
De uma vida ruim.
Mas no mundo tudo passa
E seu tutor em desgraça
De repente teve fim.
Toda aquela riqueza
E a posição que ele tinha
Com a morte de Dom Fernando
E com a ordem da Rainha
Seus bens desapropriados
Deixando os nobres “coitados”
Só com a espada na bainha.
Inácio então dispôs
A serviço sua espada
Ao vice-rei de Navarra
E numa luta travada
Em defesa de Pamplona
Numa carnificina humana
Sua perna foi decepada.
Por um tiro de canhão
Da artilharia francesa
E foi este ferimento
Que mudou sua natureza
Ao voltar pra seu castelo
Em Loyola que tão belo
Não findou sua tristeza.
Enquanto convalescia
Dos terríveis ferimentos
Inácio achou nos livros
Alivio paro os sofrimentos
Na leitura encontrou isto
Lendo a vida de Cristo
E os seus ensinamentos.
E foi um sinal de Deus
Porque sentia a mudança
Um sentimento de paz
Nem mesmo quando criança
O seu coração sentia
Jesus Cristo preenchia
Seu coração de esperança.
Rodolfo da Saxônia
Era o autor do livro escrito
Em latim a “Vita Christi”
Tradução: Vida de Cristo
Que fez o convalescente
Ver um mundo de diferente
Ver um mundo mais bonito.
78
E após essa leitura
Disse adeus à vaidade
E aos desejos mundanos
Jurando assim, na verdade
Dedicar a sua vida
Sempre com a mão estendida
À “Divina Majestade”.
Sarado dos ferimentos
Saiu de casa em segredo
Dirigindo-se ao Mosteiro
De Montserrat, ainda cedo.
Lá confessou-se três dias
A imagem da Virgem Maria
Despido de orgulho e medo.
As suas roupas de luxo
Doou-as a um mendigo
Vestir-se com roupas simples
Ele assim jurou consigo
E o nobre de Loyola
Passou a viver de esmola
Tendo a fé como abrigo.
Passou por diversas provas:
Desânimo e aflição,
A incerteza, a duvida
Preencheu seu coração
Triunfou a harmonia
Pois fez da Virgem Maria
Sua maior devoção.
De Loyola à Catalunha
Mendigando, o peregrino
Chegou em Roma, Veneza
Jerusalém, seu destino
Pelos frades franciscanos
Foi recebido e seus planos
Viver no lugar Divino.
Porém os frades negaram
Por lá sua permanência
Inácio voltou pra Espanha
Com uma ideia na consciência
Formar um grupo de gente
E pregar dali pra frente
As obras da providencia.
Dedicou-se aos estudos
Do latim que era cultura
Com seu jeito tão singelo
De pregar as escrituras
Por onde Inácio passava
Muitas vezes incomodava
Importantíssimas figuras
Doutores da fé, teólogos
Líderes da religião
Alcalá, Salamanca e Roma
Lhe fizeram acusação
Ao devoto de Maria
Por praticar heresia
Junto a Santa Inquisição.
79
Sua obra literária
Diante dos tribunais
Várias vezes examinada
Seus exercícios espirituais
Inácio manteve-se firme
Amar a Deus não é crime
E nada tinha demais.
Sem nenhuma renda fixa
Mantida por doações
E muitas vezes passando
Por diversas provações
Naquela época nascia
Para o mundo a companhia
De jesus para orações.
Além de ajudar o próximo
E a auto abnegação
A Santa Igreja Católica
Catequese e conversão
Santo Inácio de Loyola
Lá das terras espanholas
Cumpriu bem sua missão.
Há quase quinhentos anos
Que os padres Jesuítas
Trabalham em nome de Deus
Pra vida ser mais bonita
Viva Inácio de Loyola
E nossa igreja bendita!
JESUS MEU AMIGO
Peço a meu Deus Criador.
Com a fé inabalável
A mesma inspiração
De um poeta responsável
Pra descrever em cordel
Da maneira mais fiel
Meu Jesus tão formidável.
Que foi descrito nas páginas
Dos Evangelhos de Mateus,
João, Marcos e Lucas
Fiéis seguidores seu
Meu Jesus, meu Salvador
Príncipe da paz, do amor
Filho unigênito de Deus.
Que no princípio era o verbo
E o verbo com Deus estava
Porque o verbo era Deus
Maravilhas realizava
E Deus em seu filho Jesus
Se fez vida, era a luz
Que humanidade esperava.
Da linhagem de David.
Conforme estava previsto
Na cidade de Belém
Nasceu o menino Cristo.
Gloria a Deus nas alturas
Confirmadas as escrituras
Cantaram os anjos por isto.
80
Nascido de uma Virgem
Da cidade de Nazaré
Esposa de um carpinteiro
Que se chamava José
Jesus Cristo, o nazareno
Cresceu com o jeito sereno
Sob os desígnios da fé.
E foi nas águas sagradas
Do belo rio Jordão
Que Jesus foi batizado
Por seu precursor João.
Que clamava no deserto:
Chegará o homem certo
Para nossa salvação.
João, que até pensaram
Ser ele o próprio Messias
Reconheceu em Jesus
Confirmadas as profecias.
E o Divino Espirito Santo
Cobriu de luz o seu manto
E com Ele sempre estaria.
Foi André irmão de Pedro
Que o seguira primeiro
E depois o próprio Pedro
Felipe foi o terceiro
Seguindo Natanael
Jesus foi mestre fiel
Amigo, irmão, companheiro.
No total doze discípulos
Jesus Cristo reuniu
Operou grandes milagres
O coxo andou, cego viu
Os possessos se acalmaram
Os mortos ressuscitaram
E o povo então lhe seguiu.
Ele pregou nas montanhas
Sua palavra de amor
E nas regiões mais distantes
O divino pregador
Falava de um mundo irmão
Insistiu que o perdão
Era conciliador.
Entre Deus e o homem
No Reino que anunciava
Nos mares, rios, cidades
Sua palavra ecoava.
O pregador peregrino
Realmente era Divino
Quem o ouvia afirmava.
Acabou-se o preconceito
Entre os povos rivais
E por onde Ele passava
Nem clamores e nem ais
Era tanta harmonia
Que o rabino transmitia
Que incomodou Caifás.
81
Que era sumo sacerdote
E astuto fariseu
Que seguia ao pé da letra
O ensinamento Judeu
Não enxergava em Jesus
Que Ele era a própria luz
Que guiaria o povo seu.
E passou a persegui-lo
Questionando-o, com ciladas
Porem Jesus com a verdade
Respondia sem mancada:
Eu falo em nome do Pai
Quem crer nele nunca vai
Ter alma desamparada.
Lá no Reino de meu Pai
Só o justo tem lugar
E ser justo é quem sabe
Sua palavra preservar
E seguir na retidão
E de todo coração
Seu próximo saber amar.
E certo dia Caifás
Juntamente com os seus
Interpelou Jesus Cristo
Diante dos fariseus:
É justo pagar imposto?
Jesus olhou em seu rosto
Dê a Deus o que é de Deus.
E a César o que é de César
Isto é o certo eu sei.
E porque não guarda o sábado
É notório, que eu falei?
Se no sábado você cura
Pelas nossas escrituras
Você transgrede nossa lei.
Falou Jesus novamente:
Milagres é Deus quem faz
Qualquer dia, qualquer hora
Somente Ele é capaz
O Sábado foi Deus que fez
Para o homem, e outra vez
Desarticulou Caifás.
Este sumo sacerdote
Não conseguiu corromper
Jesus Cristo, nem tampouco
Conseguia lhe prender
Tamanha era a multidão
Que lhe dava proteção
E articulou fazer.
Uma forma, um estratagema
Para sair vencedor
Subornando um discípulo
Então por um certo valor
Por fim venceu seu chicote
Porque Judas Iscariotes
Se tornara um traidor.
82
No Jardim Getsmâni
Jesus foi preso e levado
Diante do rei Herodes
Que não viu crime ou pecado
Levaram Ele à Pilatos
Que lavou as mãos no ato
Dizendo: não sou culpado.
Da morte deste inocente
Vocês resolvam a questão!
Caifás o levou ao povo
Que pediu condenação
Após sofrer violência
Jesus com benevolência
Pediu ao Pai, o perdão.
E assim entre dois ladrões
Jesus foi crucificado
Pelos pecados do mundo
Foi morto, depois sepultado.
No entanto pra nossa alegria
Simplesmente após três dias
O povo foi informado.
Que Jesus ressuscitara
Triunfando contra a morte
Pra guiar a humanidade
Contra as mazelas da sorte
E quando eu penso em jesus
Que a humanidade conduz
Eu me sinto até mais forte.
QUINTINO CUNHA, O PAI DO HUMOR CEARENSE
Mau humor não enche bucho
E não traz paz a ninguém
Quem estiver meio ranzinza
Lembre-se que existe alguém
Precisando de um sorriso
Pra poder sorrir também.
Por isso caro leitor
Eu peço a sua atenção
Quero falar de alegria
Nesta minha narração
Sou cearense e o humor
Sempre foi minha vocação.
Eu sou Pádua de Queiróz
Sou poeta nordestino
Nasci em Baturité
E nos tempos de menino
Eu cresci ouvindo histórias
E anedotas do Quintino.
José Quintino da Cunha
Nasceu em Itapajé
Mas parte de sua infância
Viveu em Baturité
Educado com carinho
Respeito, amor e fé.
Por seu pai João Quintino
Sua mãe Maximina
Carinhosamente chamada
Por seu filho de Mamina
Que foi uma mãe zelosa
83
E igual a toda criança
Saudável e inteligente
Quintino Cunha brincava
Pela rua alegremente
Mas sempre se destacava
Por seu jeito diferente.
Desde menino que ele
Sempre aprontava das suas
Fosse dentro de casa
Na igreja ou nas ruas
Quintino Cunha Mandava
A galhofa nua e crua.
Um padre chamado Dantas
Aqui chegou transferido
Não conhecia a cidade
Porém se achava perdido
Até que avistou uma criança
Chamou e foi atendido.
Menino qual é seu nome?
Ele respondeu: sou José!
Então o padre lhe explicou
Ser novo em Baturité
Precisava ir nos correios
E perguntou: aonde é?
Dobre a direita, seu padre
E a esquerda em seguida
Tem uma praça e um prédio
A questão está resolvida
É lá que fica os correios
Desta cidade querida.
O padre logo percebeu
Que o pequeno era sabido
Convidou-o para o catecismo
Mas o menino atrevido
Perguntou: pra quê, seu padre?
Feito um homem entendido.
O padre olhou para criança
E foi tirando o chapéu
Respondeu com a voz pausada:
Lhe ensinar o caminho do Céu!
Mas o pobre padre Dantas
Quase ficou beleléu.
Com a resposta da criança
Que lhe disse sem receio:
Me desculpe meu bom padre
Não bote Deus neste meio
Eu sei que o senhor nem sabe
O caminho dos correios!
Certo dia sua mãe
Cuidadosa em seu lar
Guardou frutas numa cesta
Para merenda escolar
E percebeu que faltava
Uma e foi perguntar.
Para o pequeno Quintino
Sobre uma manga da fruteira
Que ela havia sentido falta
E sério, sem brincadeira
Ele então lhe explicou
Simplesmente dessa maneira:
84
Eu dei a um pobre menino
Que estava tão faminto
Mas só dei somente uma
É verdade eu não minto!
E ela exclamou: meu Deus
Quanto orgulho eu sinto!
Desse meu querido filho
Esse tem bom coração
Dividiu sua merenda
Com quem tinha precisão
Por essa nobre atitude
Você tem o meu perdão.
E quem foi esse menino
Que uma fruta você deu?
Meu responda, meu filhinho
Quero saber amor meu!
E ele disse: mamãezinha
Esse menino era eu!
Foram tantas e tantas
Que aprontou aquele menino
Que cresceu, tornou-se homem
Um orador de trato fino
Advogado e poeta
Humorista nordestino.
Foi bacharel em direito
E exerceu a profissão
De cidade em cidade
Serra, praia e sertão
Nunca rejeitou uma causa
Nunca perdeu uma questão.
Os seus feitos são lembrados
Até os dias atuais
Suas vitórias marcantes
Diante dos tribunais
Fizeram com que Quintino
Não fosse esquecido jamais.
E nas rodas de conversa
Quintino Cunha mandava
Um amigo sem resposta
Ele ali nunca deixava
Pra má sorte do infeliz
Que desavisado o abordava.
O senhor Nicolau Roncy
Também astuto e matreiro
Ao avistar seu amigo
Disse: salve, companheiro
Ilustríssimo e poeta
Grande médico e parteiro!
Quintino falou: no mundo
Não há gato que me arranhe
Sou poeta do Solimões
Caro Roncy, não se acanhe
Sou médico da sua alma
E parteiro da sua mãe!
Em destino a Juazeiro
Numa viagem de trem
De repente Quintino escuta
O pedido de alguém:
Traduza as iniciais
Que a locomotiva tem?
85
O trem subia a ladeira
Quase querendo descer
Quintino falou: amigo
Será que você não ver
Rapariga Velha Cansada
É a sigla R. V. C. !
Pra tudo o nosso bacharel
Encontrava uma saída
Fosse de forma irônica
Ou de maneira atrevida
Não perdia a piada
E foi assim toda vida.
Mas quem brinca dar o mote
Para outra brincadeira
Três irmãs em Fortaleza
Agiram dessa maneira
Em Quintino puseram um rabo
Pra alegria da cabroeira,
Realmente o poeta
Não gostou da traquinagem
Passou quase cinco meses
Sem vê-las, e numa abordagem
Em um Domingo na igreja
Não lhe faltou a coragem.
Para dar o troco a elas
Com juros e correção
Ao vê-lo elas disseram
Salve, poeta e irmão
Porque desapareceu
Sem nos dar explicação?
Realmente minhas amigas
Confesso que fiquei brabo
Quando fui em sua casa
Quase que eu me acabo
Eu não esqueço aquele dia
Que vocês me deram o rabo!
As três irmãs com vergonha
Ficaram paralisadas
Até o padre ouviu
Naquela casa sagrada
Depois conto mais história
Que eu tenho na memória
Dessa figura engraçada.
86
O CÁGADO E A FESTA NO CÉU
Pode se achegar seu moço
Sente-se e tire o chapéu
Dona Maria, bem-vinda
Não precisar usar o véu
Menino, venha escutar
A história que vou contar
Sobre uma festa no céu.
São Pedro, o guardião
Do reino celestial
Resolveu fazer uma festa
Bem na época do natal
A notícia se espalhou
Mas o Santo avisou:
Aqui só entra animal!
Serão três dias de festas
Para homenagear
O aniversário de Cristo
Que nasceu para ensinar
A humanidade na terra
Que ao invés de fazer guerra
O melhor mesmo é amar.
Logo no primeiro dia
O céu já ficou lotado
O Macaco cantou rock
O Calango cantou xaxado
Tudo na maior decência
O Pavão cantou sofrência
Sem ficar desanimado.
87
{çç[?-
Sei que o Carcará dançou
Com a mulher do Urubu
A Pata dançou com o Ganso
A Galinha com o Peru
A Onça com a Raposa
O Peba com sua esposa
E a Jia com o Cururu.
A Cutia estava linda
Com um vestido de cipó
Dançou a noite inteirinha
Com o compadre Mocó
A Cabrita e o Cabritinho
Mas o pobre Porco-Espinho
Nesta noite dançou só.
Antes do nascer do dia
Chegou num belo Cavalo
O grande artista da festa
Você sabe de quem falo
Que ficou de camarote
Para ouvir o Capote
Cantando brega com o Galo.
Ambos acompanhado
De uma bela orquestra
Graúna, Galo-Campina,
Sabiá, grande maestra
E a cantiga só parou
Quando o sol despontou
Anunciando o fim da festa.
Assim foi o primeiro dia
A festa foi um sucesso
O Cachorro e o Gato
Beberam, mas sem excesso
Garapa de rapadura
Para evitar a Censura
Do arquiteto do universo.
Lá na terra o comentário
Depressa se espalhou
A festança lá no céu
Foi o papo que rolou
O Jacaré, lá no rio
Disse: se lá fizer frio
Mesmo assim hoje eu vou.
O Cágado ficou sabendo
Através do Gavião
O quelônio pediu carona
E a rapina disse: não!
Você é muito pesado
E se eu chegar atrasado
Vou perder a diversão!
Mesmo assim devagarinho
O Cágado saiu na estrada
Apressado do seu jeito
Numa macha compassada
Mas enquanto ele ia
O sol já aparecia
E voltava a bicharada.
88
Assim o segundo dia
De festa chegou ao fim
E passando pelo Cágado
A Arara e o Soím:
Zombavam: meu camarada
Nessa sua caminhada
Não vai chegar nunca assim!
Realmente o pobre cágado
Estava desanimado
No último dia de festa
Nem chegaria atrasado
Quase dois dias na estrada
Avistava sua morada
Parecia estar parado.
Ele continuou andando
E sempre ouvindo lorota
Dos animais que já iam
Pro céu fazendo chacota
Alguns por puro capricho
Zombavam do pobre bicho
Mas chegou uma Gaivota.
Que vendo grande vontade
Força e determinação
Do cágado para ir à festa
Lhe falou: meu grande irmão
Hoje estou solteirona
Venha que te dou carona
Tá resolvida a questão!
O Cágado muito feliz
Montou com dificuldade
Na Gaivota que ali
Maquinava uma maldade
Ia sempre perguntando
Se ele estava avistando
Lá em baixo a cidade.
O cágado então falou:
Terra eu não vejo mais
Eu só vejo o azul
Dos salões celestiais
Eu quero ver só a cara
Do Soím e da Arara
Eita, vai ser bom demais!
Neste instante a Gaivota
Fez pirueta no ar
Ali largou sua carona
Que não sabia voar
E do céu foi despencando
Vendo o chão se aproximando
Começou logo a cantar:
Se desta escapar com vida
Passo a usar chapéu
Afastem-se pedras e paus
Léu, léu, léu, léu, ....
E quando no chão chegou
O cágado se espatifou
Perdeu a festa no céu.
89
Mas Deus que sabe de tudo
Tudo escuta e tudo ver
Foi na terra com intenção
Do Cágado então socorrer
Juntou cada pedacinho
E devolveu ao bichinho
A vida para de viver.
Em paga do grande esforço
De tentar no céu chegar
Mesmo não tendo asas
Mesmo sem saber voar.
Deus lhe deu nadadeira
E assim dessa maneira
O dom de saber nadar.
Hoje se ver o Cágado
Num lago muito animado
Ou num rio com os peixes
Nadando bem sossegado
E se você reparar bem
Perceberá que ele tem
O seu casco remendado.
Quando uma estória termina
Logo, logo outra começa
Agora vamos conhecer
Os animais dessa peça
Quem conhece um Pavão
Por favor levante a mão
E me responda sem pressa?
O URUBU E A ONÇA
Meu fabuloso cordel
Eu escrevi com capricho
Ouvindo ali uma conversa
Mais adiante um cochicho
Embora não me intrometa
Em bate papo de bicho.
Mas tem coisa que a gente
Não pode ficar calado
Sei que a floresta é um reino
Para os bichos encantado
E vira jantar de onça
Quem não está preparado.
Para viver neste reino
Onde numa mesma linguagem
Os animais se entendem
Querendo levar vantagem
Ser mais forte na floresta
Não basta só ter coragem.
Lá uma onça pintada
Dizia ser a rainha
Por ser corajosa e forte
Adversário não tinha
Passava a noite na toca
Saía de manhãzinha.
Com uma fome lascada
Procurando o que comer
Quando os animais souberam
Começaram a se esconder
Com medo da grande onça
90
O tatu entrou na toca
O papagaio voou
Gritando: lá vem a onça!
O macaco escutou
Numa árvore bem alta
Subiu e por lá ficou.
Nenhum som de passarinho
Nada, nem mesmo um ruído
Um silêncio absoluto
Todo bicho escondido
Até vento na mata
Tinha parado o zunido.
Depois de tanto andar
A grande onça malvada
Em pensamento dizia:
Êita que fome lascada
Está quase anoitecendo
Ainda não comi nada!
O macaco lá de cima
Da árvore escondidinho
Seguia os passos da onça
Que avistou no caminho
O coitado do urubu
Desavisado e sozinho.
A onça se animou
Como quem se escuta um tango
E disse: a fome que estou
Como até um orangotango
Mas com essa escassez
Pra mim urubu é frango!
Foi chegando de mansinho
Lentamente e suave
Mas antes de dar o bote
E agarrar a tal ave
O urubu foi dizendo:
Dona onça, não me agrave!
Espere eu terminar
De fazer minha refeição
Hoje cedo acordei
Com uma fome de Sansão
Deixe-me comer esta onça
Que lhe dou já atenção!
Realmente o urubu
Tinha um osso no bico.
Disse: aguarde sua vez
Que é pra não fazer fuxico
Hoje eu tenho certeza
Que com fome eu não fico!
A onça já se tremendo
Ficou logo aperreada
Deu a volta e saiu
Pela mata em disparada
Dizendo: vai comer outra
Sua ave esfomeada!
Com isso o urubu
Quase se entala com o osso
E deu tanta gargalhada
Dizendo: ainda sou moço,
Olha essa onça pensa
Que eu tenho cara de almoço!
91
O macaco vendo aquela
Brincadeira, matutou:
Se eu contar que é marmota
Ela vai saber que sou
Seu amigo e protegido
Dela garanto que vou!
De um pulo só desceu
Com aquela intenção
Contar tudo para a onça
Toda aquela armação
Que o urubu fez com ela
E ter sua proteção.
Quando o macaco chegou
Na toca, disse: bom dia!
Lá dentro respondeu:
A porta é sua serventia.
Entre, amigo macaco,
Foi-se minha valentia!
A pobre onça estava
Na toca toda encolhida
Com medo do urubu
Com medo de ser comida
Um vexame desse nunca
Ela passou em sua vida.
Ele contou para ela
Todo o fato ocorrido
O urubu não passava
De um pássaro enxerido
E levaria ela lá
Se fosse seu protegido.
A onça disse: eu juro,
Você estando comigo
Nesta floresta jamais
Vai temer nenhum perigo
A partir desse momento
Você é meu único amigo!
E saíram a procura
Do urubu na floresta
O vento até já soprava
Os pássaros faziam festa
O tatu saiu da toca
Dizendo: escapei desta!
O urubu deu um voo
Rasante e depois pousou
Numa pedra pontiaguda
Que do alto avistou
A carcaça de um rato
Que logo saboreou.
Antes de limpar o bico
Olhou de rabo de olho
Viu o macaco montado
Na onça feito um piolho
E foi dizendo ao macaco:
Amigo, só falta o molho!
Fico muito agradecido
Nem sei como lhe pagar
Mas ainda estou com fome
E uma fome de lascar
Só você caro macaco
Pra trazer o meu jantar.
92
A onça deu um miado
Bem agudo, muito fino
E falou: este macaco
Quer selar o meu destino
Saia de cima de mim
Macaco mal e traquino.
Perdoe-me mestre urubu
Me escute bom rapaz
Vou morar noutra floresta
Por favor me deixe em paz
Não quero ser devorado
Por uma ave tão voraz.
A onça então foi embora
Tudo virou alegria
Ninguém mais se escondeu
Nem de noite, nem de dia
E o urubu virou rei
Na floresta da harmonia.
QUEM TUDO QUER, TUDO PERDE
Seu Chiquinho era um homem
Bastante trabalhador
Tinha como profissão
O ofício de lenhador
Morava com sua esposa
Maria, seu grande amor.
Bem cedinho acordava
Amolava seu machado
E se embrenhava na mata
Todo dia era sagrado
Voltava só à tardinha
Com fome e muito cansado.
Depois era só vender
A lenha para um freguês
Mas o negócio não ia
Muito bom naquele mês
Para comprar sua lenha
Não aparecia um Chinês.
Por isso ele deixava
A lenha toda arrumada
No terreiro bem em frente
De sua humilde morada
Esperando aparecer
Uma alma abençoada.
Para comprar sua lenha
Já que a necessidade
Da falta de alimento
Não lhe deixava a vontade
Trabalhava preocupado
93
Até que em certo dia
Realizou uma venda
Chegou lá um homem rico
Dono de uma fazenda
Que comprou toda madeira
E fez outra encomenda.
Seu Chiquinho aceitou
E saiu com seu machado
Bem cedinho para o mato
Mas ficou desanimado
Quando viu que o local
Estava então descampado.
Todo dia desmatando
Já era de acontecer
Uma árvore ali
Era impossível se ver
Ele pensou, então disse:
Eu já sei o que fazer!
Vou subir aquela serra
Onde tem uma castanheira
É uma árvore gigante
E vai dar uma trabalheira
Porém durante um mês
Não me faltará madeira!
Andou quase meia hora
Com seu machado na mão
Chegou diante da árvore
Com tanta disposição
Quando deu uma machadada
Ouviu uma voz: não!
Deixou então seu machado
No tronco da árvore preso
Deu uma volta, espiou
Discretamente surpreso
Viu um pequeno menino
Como um graveto aceso.
Tinha os cabelos vermelhos
Estava descalço e nu
O lenhador perguntou:
Meu menino quem és tu?
Ele logo lhe respondeu:
Meu nome é Parakidu!
Eu sou filho desta mata
Meu amigo lenhador
Não faço mal a ninguém
Mas te peço por favor
Não derrube esta árvore
Sou um gênio protetor.
Caro gênio eu preciso
Esta árvore derrubar
Eu tenho uma encomenda
De lenha para entregar
Saiba menino que eu
Preciso me alimentar.
Parakidu, disse: moço!
Esta árvore é antiga
Ela é a mãe da floresta
E além do mais abriga
Pássaros e outros animais
Como uma verdadeira amiga.
94
Se o senhor desistir
Deste insano malfazejo
Não maltratar esta árvore
Onde vivo e protejo
Eu posso realizar
Agora mesmo um desejo!
Um desejo é muito pouco!
Disse então o lenhador:
Uma árvore tão grande
Pra mim tem grande valor
Três desejos, nada mais
E tem que ser o que for!
Três desejos, trato feito
Não conte nada a ninguém
A não ser uma pessoa
Que lhe queira muito bem
Mas pra quem você contar
O pedido vale também!
O lenhador satisfeito
Voltou pra sua morada
Deixou sua ferramenta
Naquela árvore encravada
Ao chegar contou tudo
O que houve pra sua amada.
Ela disse: meu amor
Isso é melhor que dinheiro
Mas agora estou com fome
Eu vou é pedir ligeiro
Uma linguiça assada
Eu sinto até o cheiro!
De repente apareceu
Assim como de surpresa
Uma grande e apetitosa
Linguiça calabresa
Foi o primeiro desejo
Exposto então na mesa.
O homem disse zangado:
Você não sabe o que quer.
Desperdiçou um desejo
Com um pedido qualquer
Eu quero que isso fique
Bem no seu nariz mulher!
Dito e feito, de repente
A linguiça voou
E no meio do nariz dela
Bem grudada ali ficou
E o segundo desejo
O homem desperdiçou.
A mulher desesperada
Foi logo perdendo a calma
Gritava ai meu nariz
Por Nossa Senhora da Palma
Me ajude por favor
Maridinho de minh’alma!
Tanto que a mulher pediu
Que o marido atendeu
Ele desejou e logo
Aquilo desapareceu
E o terceiro desejo
O gênio então concedeu.
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Cumpriu a sua promessa
Dada ao lenhador
Três desejos, e nada mais
E sem tirar e nem por
Depois disso o pobre homem
Se tornou agricultor!
Quem quer tudo, tudo perde
E por fim fica sem nada
Parakidu, protetor
Da floresta maltratada
Disse que você contasse
Outra estória engraçada.
O BEM SE PAGA COM O BEM
Lá detrás daquela serra
Existe um mundo encantado
Homens e animais silvestres
Entendem o que é falado
Porem a lei do mais forte
Por lá não tem resultado.
O que vale neste mundo
É mesmo sabedoria
O Macaco Zé Bedeu
Isso sempre ele dizia.
De galho em galho pulando
Fazendo estrepolia.
E certo dia um Homem
Passando por um caminho
Quando de repente ouviu
O miado de um gatinho
Que dizia tristemente
Me ajude estou sozinho.
Eu cai nesta armadilha
E não sei o que fazer
Já faz mais de sete dias
Que não sei o que é comer
Por favor alguém me ajude
Eu não quero aqui morrer.
O Homem viu que não era
Na armadilha miando
Um Gatinho, e sim uma Onça
Que estava implorando
Ajuda, pois sua vida
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Foi dizendo: Deus me livre!
Fique aí prisioneira
Sua fama aqui na mata
Nunca foi de companheira
Posso virar refeição
Não vou dar essa bobeira!
Não sou ingrata, senhor
Por favor salve minha vida
Juro amigo, que serei
Uma Onça agradecida
Quase não posso falar
Sem forças, estou abatida.
O Homem vendo a onça
Num estado de dar dó
Bem depressa conseguiu
Ali na mata um cipó
Jogou no buraco e disse:
Faça na cintura um nó!
A Onça já amarrada
Disse: pode me puxar!
O Homem então conseguiu
O felino resgatar
Mas a Onça num impulso
Disse: vou lhe almoçar!
O Homem disse é assim
Que tu me pagas, ingrata
Por salvar a tua vida
E é assim que me trata
Saiba que lhe fiz o bem
Não seja tão insensata.
Após ouvir os apelos
Do homem, a Onça falou:
Tudo bem, meu camarada
Pra lhe mostrar que não sou
Ingrata e tão cruel
Agora mesmo eu vou.
Com você pelo caminho
Para ouvir três animais
Dependendo da opinião
Então direi se tu vais
Viver ou ser meu jantar
Que eu desejo demais.
O homem aceitou na hora
Pois não tinha opção
Encontraram um cavalo
Magro de dar compaixão
A Onça narrou o caso
Esperando o sim, ou não.
O Cavalo então disse
Quando jovem trabalhei
E foi com muito empenho
Que ao homem ajudei
Que ficou rico e esnobe
E como paga ganhei.
Abandono, fome e sede
Largado no matagal
Hoje eu estou doente
Sou um pobre animal
Só esperando a morte
O bem se paga com o mal.
97
Adiante depararam
Com um Boi que deu razão
Para a Onça, e reforçou
O porque da opinião
Contando-lhe a sua vida
De trabalho e a ingratidão.
Por ser um animal tranquilo
Nunca lhe causou danos
Trabalhou e foi fiel
Amigo por muitos anos
Porém esta amizade
Não estava em seus planos.
Fora vendido pra ser
Morto e retalhado
No açougue da cidade
Todo homem é malvado
O bem se paga com o mal
Na minha vida de gado.
A Onça lambia o beiço
Feliz naquela floresta
Quando de longe avistou
Nas arvores fazendo festa
Um Macaco e perguntou:
Que animação é esta?
O Macaco respondeu
Não estou fazendo pouco
É porque não acredito
Que este homem seja louco
Cair na própria armadilha
Não acredito tampouco.
Não foi ele quem caiu!
Disse a Onça: amigo meu
Quem caiu na armadilha
Caro Macaco, fui eu.
Este homem ia passando
E logo me socorreu.
Que lorota, Dona Onça
Vá mentir noutro lugar
Como é que pode um homem
Fraco assim libertar
Uma Onça grande e forte
Eu não posso acreditar!
A Onça disse: Macaco
Não conto, não faço prosa
Nesta mata sei que sou
Uma espécie perigosa
Mas confesso pra você
Nunca fui mentirosa.
E cheia de vaidade
Por se achar tão sincera
Foi até a armadilha
Onde presa estivera
Pulou pra dentro depressa
Dizendo com a voz severa.
Está vendo? Foi assim
Que eu cai no buraco
Este homem me ajudou
Ele não é tão fraco
Agora me tire daqui
Meu camarada Macaco!
98
Dona Onça, te ajudar
Agora não me convém
Eu nasci nesta floresta
Jesus nasceu em Belém
O bem tu pagas com o mal
E eu pago o bem com o bem!
E foi embora com o homem
Feliz a lhe agradecer
Deixando aquela lição
Pra nunca mais esquecer
O bem se paga com o bem
E a Onça mal sem ninguém
Para enfim lhe socorrer.
Índice
01 – Minha história.
02 – Baturité, cidade mãe.
03 – Baturité nos trilhos da saudade.
04 – Putiú, o milagre.
05 – Os quilombolas do Evaristo.
06 – Conheça Baturité.
07 – No Putiú da minha infância.
08 – Eu só sei que foi assim.
09 – Quem acendeu Lampião.
10 – Padre Cícero, o santo do Juazeiro.
11 – José Lourenço, o beato do Caldeirão.
12 – Cego Aderaldo, a luz que emana a arte.
13 – Rachel de Queiróz, O 15 e outras conquistas.
14 – Chico Soares, o profeta da chuva.
15 – UNILAB, um elo cultural.
16 – O barbeiro de Chagas.
17 – Um cordel biblioterápico.
18 – Outubro Rosa (A ignorância de Olegário).
19 – Santo Inácio e a Divina Majestade.
20 – Jesus meu amigo.
21 – Quintino Cunha, o pai do humor cearense.
22 – O cágado e a festa no céu.
23 – O urubu e a onça.
24 – Quem tudo quer, tudo perde.
25 – O bem se paga com o bem.
*Esta coletânea contém meus primeiros cordéis, incluíndo “Quem acendeu
Lampião” de 1986, que publiquei aos 15 anos de idade, com o passar do tempo fui
aprimorando meu trabalho convivendo com grandes cordelistas e absolvendo o
saber e a magia desta arte secular. Este livro é uma produção independente que
tem como objetivo manter viva a arte e o hábito de ler cordel
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