17/01/2024

PÁDUA DE QUEIRÓZ - MINHA HISTÓRIA E OUTROS CORDÉIS

 



MINHA HISTÓRIA


 

Quem sou eu, preste atenção

Que agora eu vou contar

Sou poeta defensor

Da cultura popular

Nasci em Baturité

Minha terra, meu lugar.

 

Foi em mil e novecentos

E setenta e um, que eu

Cheguei aqui neste mundo

Que mamãe me concebeu

E foi Antônio de Pádua

O nome que ela me deu.

 

Era o mês de dezembro

Dezesseis, o exato dia

No bairro do Putiú

O sol já se escondia

E foi três dias depois

Da festa de Santa Luzia.

 

Filho de uma costureira

E um soldado de valor

Rodeado de carinho

Fui recebido com amor

Dona Quinca, minha mãe

Cabo Borges, meu genitor.

 

E assim eu fui crescendo

Sempre muito bem cuidado

Por papai e por mamãe

E meus oito irmãos ao lado

03

Aos cinco anos de idade

Fui então matriculado.

 


Na escola Estevão Alves

Para aprender a ler

Coube a Mirian Camurça

Me ensinar o ABC

A primeira professora

Eu jamais vou esquecer.

 

Era mil e novecentos

E setenta e nove, o ano

Secou rio e todo verde

O povo no desengano

Começou a abandonar

O município serrano.

 

Com destino a capital

Fugindo da estiagem

Cinco anos, sem chuva

E sem água na barragem

E em quatro de janeiro

Fizemos nossa viagem.

 

No ano de oitenta e quatro

Para a imensa Fortaleza

Não sei se deixei saudade

Mas confesso com certeza

Que eu levei em meu peito

Tristeza, muita tristeza.

 

Na Vila Manuel Sátiro

Treze anos, tão pequeno

Magro das “canela seca”

Parecia extraterreno

E minha primeira escola

Foi Henriqueta Galeno.

 

O bairro era animado

Um lugar bom pra morar

Eu ainda tinha em mente

Pra minha terra voltar

Muito embora não faltasse

Amiguinhos para brincar.

 

No ano de oitenta e cinco

Ano da grande enchente

Noticiou o jornal:

“no interior morreu gente

E Patativa do Assaré

Retratou em seu repente:

 

“é triste para o Nordeste

O que a natureza fez

Mandou cinco anos de seca

Nenhuma chuva no mês

Agora em oitenta e cinco

Mandou tudo de uma vez!”

 

Mamãe já tinha emprego

Não podia abandonar

O pouco que ela ganhava

Dava sim, pra alimentar

Meus irmãos e o aluguel

Todo mês certo pagar.

 

Confesso que demorei

Muito pra me adaptar

A capital cearense

Ao ambiente escolar

A saudade de minha terra

Não queria me deixar.

 

04

 

 


Na escola eu me sentia

Um passarinho sem asa

Vivia sempre isolado

Melhor me sentia em casa

Mamãe dizia no estudo

Este menino se atrasa.

 

Mesmo com dezesseis anos

Me sentia numa gaiola

Eu tinha até liberdade

Pra passear e jogar bola

E no ano de oitenta e sete

Me mudei pra outra escola.

 

Maria Thomásia, era

Uma escola estadual

Bem maior e parecia

Com um centro cultural

Fiquei logo interessado

Por achar sensacional.

 

Ficava na Maraponga

Para onde nos mudamos

Com muita facilidade

Logo nos adaptamos

Lá na rua Dinamarca

Pertinho da Nereu Ramos.

 

Meu professor Iton Lopes

Nascido em minha cidade

Era ator e cordelista

De grande capacidade

Me apresentou o cordel

E sua originalidade.

 

Além de utilizar a música

Como entretenimento

Ou um meio de mensagem

Ou melhor, um ensinamento

Me transmitiu com amor

Todo seu conhecimento.

 

Cedo me tornei poeta

Cordelista e ilustrador

Graças a Iton Lopes

Meu saudoso professor

Que desde noventa e dois

Mora com nosso senhor.

 

Quem acendeu Lampião

Foi meu primeiro cordel

Capa por mim ilustrada

Numa folha de papel

Em julho de oitenta e oito

Esta data é fiel.

 

A cultura popular

Me deu ânimo, me acendeu

Tornei-me artista do bairro

O cordel me envolveu

E onde tinha um folheto

Acredite, estava eu.

 

Veio a década de noventa

E eu tinha que trabalhar

Um anuncio da marinha

Veio a me interessar

Prestei concurso e passei

E vi minha vida mudar.

 

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Viajei para Manaus

Onde me apresentei

No Corpo de Fuzileiros

E lá eu iniciei

O meu curso de soldado

E com mérito me formei.

 

Um Fuzileiro Naval

Trocando a vida civil

Pela a vida na caserna

Por um potente fuzil

Jurei defender com a vida

A bandeira do Brasil.

 

Foram mais de cinco anos

Que eu vesti meu camuflado

Não deixei de ser poeta

Embora eu fosse um soldado

Palestrava nas escolas

Com meu sotaque rimado

 

No ano de noventa e dois

Em Manaus fui criativo

Com cordéis e com paródias

Fiz da arte meu motivo

Comecei o cordel na escola

Tendo como objetivo.

 

Mostrar lá na Amazônia

A cultura nordestina

Meu comandante dizia

Isso vai ser sua ruina

Militarismo e poesia

É coisa que não combina.

 

Se combinava ou não

Eu batia continência

No quartel, mas na escola

Sempre com competência

Eu ministrava oficinas

De cordel com eficiência.

 

Os alunos admiravam

Este novo aprendizado

A recompensa era boa:

“poeta muito obrigado!”

Depois dei baixa e voltei

Pro meu “cearázim” amado.

 

Lá continuei transmitindo

A cultura popular

Nas escolas, nas igrejas,

Bastava só me chamar

Que eu ia com todo gosto

E disposto pra rimar.

 

Fazendo por encomenda

Biografia cordelizada

Pode me contar que eu conto

Deixo a história rimada

Em festa de aniversário

Com poesia era animada.

 

Eu também escrevi letras

De músicas de todo estilo

E para sobreviver

Vivia fazendo aquilo

Mas a vida de artista

Não era nada tranquilo.

 

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E nem sempre tinha evento

Passava dificuldade

Viver de arte nem sempre

Supria as necessidades

Eu vivia porque a arte

Era minha cara metade.

 

Um dia resolvi cantar

E acredite, você

No ano de dois mil e nove

Gravei então um CD

E o sucesso estourado

Foi “Com medo de descer.”

 

Eu fui até convidado

Cantar na televisão

Fiz show em praça e teatro

Dava pra comprar o pão

Parodiando Raul,

Roberto e até Gonzagão.

 

Mesclando o nosso cordel

Com a música popular

O que me dava prazer

Era me apresentar

Nas escolas e sobre a arte

Do cordel pra palestrar.

 

Mas foi em dois mil e nove

Que o melhor aconteceu

Eu recebi um convite

E palestrar no Liceu

Da minha terra natal

Que tão bem me recebeu.

 

Eu mantive uma agenda

Posso dizer bem modesta

Duas ou três vezes no mês

Cordelizava em festa

Contratado ou a convite

Na escola dava palestra.

 

E assim eu fiz meu nome

Na cultura popular

Qualquer tema eu abordava

Com minha arte de rimar

Oficineiro da escola

Começaram a me chamar.

 

Desenvolvi uma técnica

Chamada esferogravura

Para ilustrar meus cordéis

Ao invés de xilogravura

Com caneta esferográfica

Eu desenhava figura.

 

Os alunos na escola

Aprendiam esta técnica

Numa folha de papel

Proporcionalmente simétrica

E os fundamentos do cordel

Oração, rima e métrica.

 

Se voltar pra minha terra

Foi motivo de alegria

No ano dois mil e doze

Não foi como eu queria

Eu sepultei o meu pai

Pra mim o mais triste dia.

 

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Dai resolvi ficar

Na cidade em que eu nasci

E no caminho da arte

Não parei e prossegui

Embora faltasse apoio

Eu jamais esmoreci.

 

Devagar, mas sempre indo

Conheci o IFCE

Instituto Federal

No Campus Baturité

Ali encontrei amigos

Respeito, incentivo e fé.

 

Aos poucos o meu trabalho

Foi sendo reconhecido

Diversos prêmios ganhei

Mas por ter desenvolvido

O cordelizando na escola

E meus saberes dividido.

 

Com os alunos e mestres

Em prol da educação

E trilhei novos caminhos

No mundo da comunicação

Divulgando o meu cordel

Para a cidade e o sertão.

 

Trabalhei nas FMs

Girassol e São Miguel

Na Rádio TV Olhar

Sempre levando o cordel

O programa cordel e arte

Para meu público fiel.

 

Gosto muito de campanhas

E ainda hoje eu sigo

Participando de várias

Para informar um amigo

Dengue, Chikungunya e Zika,

Covid, um grande perigo.

 

Aleitamento materno,

Câncer de próstata e de mama

Na escola, o combate as drogas

O próprio aluno declama

E cultura popular

Todo mundo eu sei que ama.

 

E em dois mil e dezoito

A câmara municipal

Me deu o título de mestre

De nossa cultura local

Pra mim um reconhecimento

Que eu achei sensacional.

 

Onde eu vou levo a cultura

Do cordel, minha poesia

Paródias músicas autorais

Histórias, muita alegria

Sou membro da ACLC

A nossa academia.

 

De literatura de cordel

Do estado do Ceará

Hoje eu busco o apoio

Para enfim continuar

Contribuindo com a arte

Para o mundo melhorar.

 

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Em dois mil e vinte e dois

O melhor aconteceu

A SECULT CEARÁ

Meu trabalho reconheceu

Lá na cidade do Crato

Realizei o sonho meu.

 

Fui titulado ‘’Tesouro

Vivo” da nossa cultura

Muitas portas se abriram

Pra minha literatura

De cordel que desempenho

Com muita desenvoltura.

 

Na FECLESC, Quixadá

Pra todo corpo docente

Palestrei sobre o cordel

Confesso até fiz repente

Na Casa Cego Aderaldo

Também estive presente.

 

Em dois mil e vinte e três

Recebi na capital

O título de cidadão

Da Câmara Municipal

Fui também homenageado

Na minha terra natal.

 

Pelo o grupo “Cheiro da Terra”

Nas festas de São João

Que levou minha arte e nome

Da capital ao sertão

Hoje eu sei que minha vida

Rima com gratidão.

 

A UECE me concedeu

O título de Doutor poeta

E com o “Notório Saber”

Minha arte se completa

Desenho, componho e canto

Mas a arte predileta.

 

Para mim é meu cordel

Metrificado com rima

Vivo no mundo da arte

E nada me desanima

A poesia popular

Sempre me leva pra cima.

 

Em sextilha ou sete pés

Vou seguindo o meu caminho

Na escola cordelizando

Com amor e muito carinho

Transmitindo os meus saberes

Pra não caminhar sozinho.

 

Sou da terra das cachoeiras

Da banana e do café

Sou poeta cordelista

Cabra matuto de fé

Eu sou Pádua de Queiróz

Eu sou de Baturité.

 

 

 

 

 

 


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BATURITÉ – CIDADE MÃE

 


O cordel dos cordelistas

Patrimônio cultural

Pede licença ao leitor

Que é seu foco central

Para enfim cordelizar

A minha terra natal.

 

A terra das cachoeiras

Da banana e do café

Cidade mãe do maciço

De um povo de muita fé

Minha Aldeia das Missões,

Monte Mor, Baturité.

 

Para Paulino Nogueira

Baturité, vem do tupy:

“Bu”, que significa

Arrebentar ou sair,

“TY”, simplesmente, água,

“ETÊ”, boa pra consumir.

 

As fontes d’água na serra

É riqueza natural

“Butyetê”, bem explica

O nome deste local

Mas para José de Alencar

Escritor fenomenal.

 

Vem do nome de uma ave

“Narceja ou Batuíra”,

Com a junção de “Eté”,

Nome que honra e inspira

O guerreiro Potyguara

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E Pedro Catão divergira.

 

 

Porque na opinião

De nosso historiador

“monte Mor, Serra ou Batu”

Que o sol costuma se pôr

Com o superlativo de grau

De “Ete”, quis nos propor.

 

Que “Serra por Excelência”

Ou então “Serra Verdadeira”

É mesmo a toponímia

Da terra das cachoeiras

Onda canta o Sabiá

Na palha de uma palmeira.

 

No dia em que o Ouvidor

Veio à Vila oficializar

Poucos índios Jenipapos

Encontrou e mandou buscar

A tribo do Quixelôs

Para o ato executar.

 

Reuniram aos Kanindés

Que da serra fez morada

Brancos e índios unidos

Numa tarde ensolarada

Testemunhas oculares

Da Vila recém-fundada.

 

Era quatorze de abril

Quase três horas da tarde

O público já celebrava

Com euforia e alarde:

“Viva Dom José Primeiro!

Que Nossa Sra. lhe guarde!”

 

 

 

 

Presentes, Vitoriano Soares

E outros súditos do Monarca

O Ouvidor Mor assinou

Com o Corregedor da Comarca

E erigiram um “pelourinho”

Simbolizando a marca.

 

Que nasceu nossa cidade

Bem diante da capela

De Nossa Senhora Palma

Pequenina e singela

E em minha imaginação

Eu pinto uma aquarela.

 

Ilustrando aquela cena

No Brasil colonial

Duzentos e sessenta e quatro

Anos depois de Cabral

Naquela tarde de Sábado

Fundaram a Vila Real.

 

O ano mil e setecentos

E sessenta e quatro, nascia

Com a proteção de São João

Nepomuceno e Maria

Que apadrinharam a Vila

E Monte Mor se chamaria.

 

Foi Elias Paes de Sousa

E Mendonça, o escrivão

Que Lavrou e assinou

A Ata de fundação

Monte Mor Novo D’América

Meu amor, minha razão.

 

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Noventa e quatro anos depois

A vila virou cidade

A emancipação se deu

Por nossa capacidade

Agrícola e produtiva

Tamanha variedade.

 

E as belezas naturais

Mata, serra, cachoeira,

Nosso café sombreado

Qualidade de primeira

Que junto com o algodão

Estampa nossa bandeira.

 

Era mil e oitocentos

E cinquenta e oito o ano

Uma estrela do império

Brilhou em solo serrano

A província fez a lei

E comunicou ao trono.

 

Baturité tem história

Precisamos recontar

Só assim nós poderemos

Muito mais nos orgulhar

De nossa cidade mãe

Que sempre iremos amar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


BATURITÉ NOS TRILHOS DA SAUDADE

 


A saudade bate a porta

Do meu pobre coração

Me convidou e eu fui

Com muita satisfação

Viajar para o passado

No trem da imaginação.

 

E num momento de tempo

Quando dei fé, já estava

Na praça da estação

Onde mamãe esperava

O trem das sete da noite

Que o sino já anunciava.

 

Vi gente de toda classe

Social e toda idade

Gente que ia chegando

Ou partindo da cidade

Que sorrindo ou chorando

Deixava e levava saudade.

 

Vendedores ambulantes

Gritavam: tá acabando!

Tem uva, tem macaxeira,

O milho tá esfriando,

Tem tapioca com coco

E o trem já vem chegando!

 

Este está indo pro Crato

Vindo lá da capital

Também vendo cafezinho

Colhido do meu quintal

Tem churrasco e cachaça

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De sabor especial.

 

Pitomba e caldo de cana,

E é moído na hora

O preço é do seu agrado

Meu senhor, minha senhora

Pague um e leve dois

Pois o trem já não demora!

 

Em um cantinho da praça

Um poeta violeiro

Cantando versos pro povo

Ao lado de um companheiro

Dizia assim: você cai,

Me respeite seu matreiro!

 

O colega respondia:

Se eu cair, caio pra frente.

Você tem é que ser macho

Pra aguentar meu repente,

Eu sou poeta da serra

Orgulho da minha gente!

 

E para cantar comigo

Tem que ter muita coragem,

Quando o trem parar aqui

Vá aproveite a viagem

E se não tiver dinheiro

Eu pago a sua passagem!

 

Vi um cantador de “coco”

Embolador de primeira,

Vendedores de cordéis

Mas parecia uma feira.

Era um centro cultural

Tinha até mulher rendeira.

 

Vi um menino magrelo

Que morava no Jordão

Vendendo água fresquinha

Com uma quartinha na mão

Que gritava: olha a água,

Um copo é só um tostão!

 

E o trem chegou na hora

E seu destino era o Crato

O relógio da estação

Trabalhava sempre exato

Era o big-ben da serra

Nunca vi outro, de fato.

 

O trem parou na estação

Começou o desembarque

E assim da mesma forma

Procederam no embarque

O serviço da RFFSA

Era digna de destaque.

 

O sino já anunciava

A partida daquele trem

Quando de uma janela

De um vagão gritaram: vem!

Menino quanto é que custa

A água que você tem?

 

O menino muito alegre

Respondeu: é baratinha.

Porém só vendo a água

Quero de volta a quartinha!

E o homem perguntou:

Garante que é fresquinha?

 

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Com certeza, meu senhor!

Disse com sua voz pausada.

É água de uma cacimba

Que vive sempre tampada,

Pode beber que essa água

Por minha mãe foi coada!

 

O homem falou: menino

Primeiro eu quero provar.

Se sua água for boa

Eu garanto vou pagar!

O menino, disse: beba,

Sei que o senhor vai gostar!

 

Ao receber a quartinha

Tomou um copo bem cheio

E depois tomou mais três

O quinto só deu no meio

No momento o trem partiu

E o menino no aperreio.

 

Na plataforma gritava:

Quero agora o meu dinheiro!

Correndo atrás do trem

Que veloz, ia ligeiro.

Pode ficar com o troco!

Disse o sagaz passageiro.

 

Que naquela mesma hora

Rebolou sua quartinha

Que se espatifou em cacos

Entre o dormente e a linha

E chorando o menino

Resmungava: oh sorte minha!

 

 

 

 


PUTIÚ, O MILAGRE

 


Agora caro leitor

Eu peço a sua atenção

Pra nossa cordelhistória

Que tem como pretensão

Narrar sobre o acontecido

Conforme foi ocorrido

Rimando com exatidão.

 

No início do século XX

O padre santo romeiro

Cícero Romão Batista

Líder lá de Juazeiro

Vendo a situação crítica

Interveio na política

Com um grupo cangaceiro.

 

Comandado por Dr. Floro

O temido Satanáz

De Juazeiro do Norte

Em razão da Santa Paz

Causou grande desmantelo

Pra depor Franco Rabelo

Do seu governo incapaz.

 

De zelar os interesses

Da região do Carirí

Campos Sales, Araripe,

Assaré e Maurití,

Crato, Barbalha, Juazeiro

Terra santa dos romeiros

Devotos do meu “Padim”.

 

 

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Ao chegarem em Iguatu

Pela grande ferrovia

A bala comeu de esmola

Humilhação, covardia

Não poupava ‘’Seu ninguém”

A violência foi além

Do que o povo merecia.

 

Pra conter aquela horda

Não tinha policiamento

Que no pipocar de bala

Fugiram sem acanhamento

Sargento, Cabo, Soldado,

O Prefeito e o Delegado

No lombo de um jumento.

 

E tudo o que se podia

Levar em seu embornal

Nas cangas dependuradas

No dorso de um animal

Aquele grupo levava

E também incendiava

Nada deixava afinal.

 

E foi uma varredura

Que na época ocorreu

Relatos de estupro e morte

Lá em Senador Pompeu,

Quixeramobim, Quixadá

No sertão do Ceará

Sangue inocente escorreu.

 

 

 

 

 

Enquanto em Baturité

Na mais perfeita união

O bom padre Bernardino

Dava a autorização

Pra construir uma capela

Bem formosa e singela

Para o povo em oração.

 

Agradecer a Cristo Rei

A vida, a paz, o amor

O senhor Anderson Ferro

Um grande colaborador

Doou com muita alegria

A imagem de Maria

E de Cristo Redentor.

 

Esculpidas na Europa

Em tamanho Natural

Para a nova igrejinha

Semelhantes ao real

Chegaram num cargueiro

Lá do Rio de Janeiro

Noticiou o jornal.

 

O ano mil e novecentos

E quatorze se iniciou

A obra do novo templo

Que nos alicerces parou

Devido a escassez

De tijolos e desta vez

Um home se apresentou.

 

 

 

 

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Era Porfírio Bandeira

Que morava em frente a linha

Que já havia doado

O terreno da igrejinha

Disse ao Padre Bernardino:

Só não posso doar o sino

O tijolo é por conta minha!

 

O padre disse: meu filho

Deus há de lhe abençoar.

Quantos tijolos você

Se dispões a nos doar?

Falou, olhando pra cima:

Até a cruz nós termina

Pode mandar ir buscar!

 

Os trabalhos continuaram

E a nova casa de oração

No bairro do Putiú

Tinha a santa proteção

Não correu nenhum pedreiro

Quando o grupo cangaceiro

Chegou nesta região.

 

Cangaceiro não é santo

Principalmente este bando

Que tinha o Dr. Floro

À frente no seu comando

Disse vamos ao armazém

Pois eu sei que ali tem

Algo bom que tão guardando!

 

 

 

 

 

 

 

E quando a porta cedeu

Todo o bando adentrou

Avistaram dois caixotes

E nem sequer pestanejou

Êta, terra abençoada

Já valeu a empreitada

Um jagunço exclamou.

 

Aqui só pode ter ouro

Abram com muito cuidado

Vamos levar de presente

Pro nosso Padim amado!

Mas para sua surpresa

Ao ver tamanha beleza

Quedou-se paralisado.

 

Ao avistar as imagens

De Jesus o Redentor

E da Virgem da Conceição

Com todo seu esplendor

Viu um clarão, uma luz

Fazendo o sinal da cruz

Afastou-se o invasor.

 

Um falou: Deus me perdoe

Mãe de Deus eu vou embora!

Doutor, vamos em frente

É melhor nós ir agora

Vamos depressa negrada

Essa terra é a morada

De Jesus e Nossa Senhora!

 

 

 

 

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Saíram então em silêncio

Dr. Floro assombrado

Cabisbaixo em seu cavalo

Realmente envergonhado

Depois que viram a imagem

Prosseguiu sua viagem

Pela estrada desolado.

 

Para cumprir a missão

De seu líder espiritual

Passando em Aracoiaba

Não fizeram nenhum mal

Canafístula e Guaiúba,

Em seguida Pacatuba

Chegando na Capital.

 

Onde foram barrados

Por forças policiais

Descansaram da viagem

Dificil e longa demais

Voltaram pra Juazeiro

Da vergonha prisioneiro

De tantos atos brutais.

 

O Putiú protegido

Hoje vive contente

Concluiu sua capela

No altar o onipotente

Com a Virgem da Conceição

Cristo Rei dar a benção

Ao meu bairro, minha gente.

 

 

 

 

 

 

 


OS QUILOMBOLAS DO EVARISTO

 


Eu peço neste momento

A Virgem da Conceição

Que conceba ao poeta

A luz da inspiração

Santa Mãe de Jesus Cristo

Padroeira do Evaristo

E Rainha do Sertão.

 

Sertão que é vislumbrado

Do alto daquela serra

Que abriga os quilombolas

Orgulho da minha terra

Brava gente de coragem

Receba esta homenagem

Deste poeta de guerra.

 

Fui a Serra do Evaristo

E ganhei um forte abraço

Daquela comunidade

E assim sem embaraço

Recebeu este artista

Cearense cordelista

Pesquisador do cangaço.

 

Caro leitor eu confesso

Que fiquei maravilhado

Vi o presente e o futuro

Respeitando o passado

Recordei José Soares

Que deixou aos populares

A luta como legado.

 

 

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De palavras compassadas

Mostrou sua liderança

Na Serra do Evaristo

Com respeito e confiança

Lutou pelo social

Hoje no plano espiritual

É bandeira da esperança.

 

De um povo que aprendeu

Com o pensamento comum

Que prosperidade existe

E depende de cada um

Que precisa contribuir

Para de vez extinguir

O preconceito incomum.

 

Um dia é muito pouco

Para quem quer visitar

A Serra do Evaristo

Porque sei, vai encontrar

Os contadores de histórias

Relatando suas memórias

Sob a luz do luar.

 

Só não sei se é verdade

Cada conto relatado

Já que no imaginário

Algo mais é aumentado

Criança, jovem e idoso

As estórias de trancoso

Escutam maravilhado.

 

 

 

 

 

Se oferece aos visitantes

Produtos, manufaturas

Das mulheres artesãs

Dos frutos da agricultura

E a dança de São Gonçalo

Que observo e me calo

Vendo a desenvoltura.

 

Das vinte e quatro mulheres

E mais três homens no meio

Um deles com uma sanfona

Tocando sem aperreio

A terra é farmácia viva

A medicina alternativa

Nós usamos sem receio.

 

Lá o índio Evaristo

Habitou a região

Chefiando sua aldeia

Até que o povo cristão

Chegou pra catequisar

Converter e transformar

Todo nativo pagão.

 

Eram os Jesuítas

Empunhando a Santa cruz

Forçando Evaristo abraçar

A doutrina que nos conduz

Evaristo desceu a serra

E foi morar numa terra

De civilização e luz.

 

 

 

 

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Mas só conheceu conflitos

Preconceito raça e cor

Uma época de senzalas

Casa grande e feitor

Neste mundo o que importava

Era o lucro que aumentava

Do fazendeiro e senhor.

 

Que a preço irrisório

Vivia comprando gente

Homens de pele escura

Vindos de outro continente

Pra não faltar mão de obra

Foi crueldade de sobra

Sangue, suor e corrente.

 

Então surgiram os Quilombos

Refúgio que abrigava

O negro que muitas vezes

Na fuga morto tombava

Em busca de liberdade

E nesta comunidade

A liberdade morava.

 

E até hoje ainda mora

Disso eu tenho certeza

Os quilombolas do Evaristo

Adotaram a natureza

E naquele lugar bonito

Contemplei o infinito

De infinita beleza.

 

 

 

 

 

 

 

Conheci o ECO-MUSEU

Que expõe atualmente

A tribo de Evaristo

Encontrada recentemente

Um achado que vai mostrar

Exposto para contar

Sobre o passado da gente.

 

Ancestrais de Evaristo

Filhos de Baturité

Que não foram catequisados

Não trocaram sua fé

Aldeia ou cemitério

Eis ai grande mistério

Jenipapo ou Kanindé?

 

Só sei dizer que Thychico

Dentro de um pote encontrado

Mais de setecentos anos

Precisamente datado

Com cabelo, dente, unha

É antiga testemunha

De um longínquo passado.

 

Quando forem ao Evaristo

Não deixem de conhecer

Dona Socorro, Luís Marcos

Que terão muito prazer

Ela é mestre da cultura

E ele grande figura

Que nos ensinam a viver.

 

 

 

 

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Em harmonia com o chão

Que pisam, plantam e colhem

Subam a Serra do Evaristo

Dê uma espiada e olhem

Desfrutem da tranquilidade

Daquela comunidade

Que com prazer nos acolhem.

 

Logo que coloco os pés

Naquele belo lugar

Por isso digo e repito

É preciso visitar

A Serra do Evaristo

Tenho certeza que isto

Sei que você vai amar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CONHEÇA BATURITÉ

 


Hoje eu sei que muita gente

Pensa muito em viajar

Para os Estados Unidos,

E Europa passear

Mas eu penso diferente

Por que sei que essa gente

Nem conhece o seu lugar.

 

Venha comprovar em loco

Se você não acredita:

O parque das cachoeiras,

O mosteiro jesuíta,

O prédio da prefeitura,

A secretaria de cultura

Minha cidade é bonita.

 

Nosso Mosteiro é lindo

Ambiente espiritual

Ícone de nossa cidade

Patrimônio cultural

Da história testemunha

E não há dúvida nenhuma

É destaque nacional.

 

Cada lugar, uma história

Desde a sua construção

A nossa igreja Matriz,

Um templo de devoção

Nossa Senhora da Palma

Padroeira que acalma

Meu humilde coração.

 

 

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O palácio Entre Rios

A igreja de Santa Luzia

Além da Cadeia Pública

Talvez você não sabia

Começaram a construção

Quando a seca sem perdão

O Ceará consumia.

 

Quando a seca dos dois setes

Assolou o meu Ceará

Tamanho foi o flagelo

Que tomou conta de cá

Vinha gente do sertão

E de toda Região

Para não morrer por lá.

 

Então nosso Imperador

Homem culto e consciente

Quando soube da miséria

Da seca que impunimente

Maltratava o seu povo

Assinou um decreto novo

Pra ajudar aquela gente.

 

“Que venda o último brilhante

Da minha coroa real

Mas não deixe um cearense

Perecer do grande mal

Ninguém vai morrer de fome

Nesta seca que consome

O recurso natural.”

 

 

 

 

 

A Igreja de Santa Luzia

De beleza que comove

Inaugurada em mil

Oitocentos e setenta e nove

No governo imperial

Que vislumbrou afinal

Que o trabalho resolve.

 

São tantos pontos turísticos

Que num só dia não dar

Para se fazer um “tour”

Mas aqui quero lembrar

Tem a Santa, o Cruzeiro,

História de cangaceiro

Que invadiu este lugar.

 

Visite a nossa cidade

Temos muito a mostrar

O museu ferroviário

E logo ao lado estar

Uma réplica parecida

Da máquina que trouxe vida

Ao povo deste lugar.

 

Eu ainda era menino

Mas me lembro muito bem

Na Praça do Putiú

Não cabia mais ninguém

Foi um dia extraordinário

Que marcava o centenário

Que chegou o primeiro trem.

 

 

 

 

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A antiga estação

Abriga a nossa cultura

Além de um belo museu

No presente hoje figura

Entre os mais belos que há

No Estado do Ceará

Por sua arquitetura.

 

O pelourinho é um marco

Do berço desta cidade

A lembrança de um povo

Que lutou por Liberdade

Ao sopé da bela serra

Baturité, nossa terra

De tanta diversidade.

 

Nossa cidade é tão rica

Devemos mais conhecer

O passado estar presente

Em tudo podemos ver

A história de um povo

Quem veio venha de novo

E muito mais vai aprender.

 

É por isso que eu acho

Importante esta matéria

Preservação da memória

Na Escola é coisa séria

Pois nem o tempo consome

Baturité o teu nome

Corre nas minhas artérias.

 

 

 

 

 

 

 


NO PUTIÚ DA MINHA INFÂNCIA

 


Eu sou Pádua de Queiróz

Canto e escrevo poesia

O cordel é minha arte

Minha razão e alegria

As lembranças do Putiú

Eu trago em meu dia a dia.

 

No Putiú da minha infância

É tanta recordação

Amigos que já se foram

Mas dentro do meu coração

Estarão sempre presentes

Nosso exemplo de união.

 

Eu digo que ninguém foi

Ali mais feliz do que eu

No inicio dos anos oitenta

Muita coisa aconteceu

Eu falo e repito de novo

A minha infância valeu.

 

No alto da igrejinha

Ou em frente a estação

Bastava apenas uma bola

E estava feita a diversão

Na turma do putiú

Todo menino era irmão.

 

Na praça ou no patamar

Da igreja a brincadeira

Não parava, eu me lembro

Furachão, bila e rasteira

Cada um tinha um apelido

Conforme a nossa maneira.

 

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Wedney era o Zé Galinha

O pai novo era o Bebão

O Raimundo era o Vovô

E o o Glautemberg era o Mão

O Guto era o Bailarina

E o Robinho o Cascão.

 

O Carlinhos da Dona Helena

Sempre simpático, acredite

Era o Chita do Tarzan

Cada qual dava o palpite

Ninguém ficava com raiva

O João Filho era o sibite.

 

O Edvan era a Gretchen

A Marmota é que ele gostava

Nem todos tinham apelido

Porque as vezes não pegava

E eu queria ter um

Mas ninguém me apelidava.

 

Certa noite inventamos

Uma brincadeira de cinema

Uma caixa de papelão

Não tão grande, nem pequena

Com uma vela acesa dentro

Para projetar a cena.

 

Joãozinho do Zé Paulino

Fez o cartaz e o roteiro

Trouxe boneco da Pepsi

Jogador e pistoleiro

E o preço do ingresso

Era apenas um cruzeiro.

 

 

 

 

Foi na sala lá de casa

Eu pedi minha mãezinha

Que nos deixou a vontade

E foi para igrejinha

A sala ficou lotada

Para a surpresa minha.

 

João apagou a luz

Depois acendeu a vela

E começou a sessão

Ah, meu Deus que coisa bela

E eu de tão distraído

Nem vi que minha chinela.

 

Logo no inicio do filme

Então desapareceu

Mas um fato meu amigo

No momento aconteceu

Com um minuto de filme

Uma chuva ocorreu.

 

Foi camisa, foi de tudo

Imagine, até panela

Jogaram em cima da caixa

Que incendiou com a vela

E o penico da mamãe

Espatifou-se na janela.

 

O boneco do Shazan

Queimou junto com o do Pelé

Joãozinho ligou a luz

E não tinha ninguém em pé

Só o Wedney perguntando:

Alguém sabe de quem é?

 

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Essa chinela aqui

Será que é tua João?

Era a minha que sumiu

No inicio da sessão

Porém eu fiquei calado

E o Wedney sem razão.

 

Mesmo sendo o mais jovem

Tinha quase nove anos

Wedney era esperto

Planejava bem seus planos

Mas dessa vez se deu mal

Então entrou pelo cano.

 

Joãozinho disse: Wedney

Zé Galinha, desgraçado

Foi você que começou

Eu sei você é o culpado

Veja só o meu cinema

Agora todo queimado.

 

O pai novo que era louco

Por boneco e cinema

Foi dizendo: ei Joãozinho

Não gostei daquela cena

Em que o Pelé morreu

O filme não valeu apena.

 

Por isso estou lhe pedindo

Que devolva o meu dinheiro.

Eu queria ver no filme

O boneco pistoleiro

Eu vou contar pra mamãe

Se não me der meu cruzeiro.

 

 

 

 

E Joãozinho “P” da vida

Disse: sai daqui Bebão

O filme já acabou

Vai... perturbar o Cão

Deixa de ser abestado

Já acabou a sessão

 

E foi tanta gargalhada

Que se espalhou pela rua

Quando a Gretchem perguntou:

João a sessão continua?

Que respondeu sem demora:

Só se tua mãe vier nua!

 

Eu sei que o tempo passou

Só restou recordação

Porém eu sinto saudade

De toda aquela diversão

Na capela de Cristo Rei

Na praça ou na Estação.

 

Onde hoje é raro se ver

A criançada brincando

Menino não sai de casa

E o tempo vai passando

Ninguém sabe o que é brincar

É todo mundo clicando.

 

Com esse tal smartfone

Conectado ao Wi-fi

As brincadeiras de rua

Isso já não se faz mais

Ninguém conhece ninguém

Mas são amigos virtuais.

 

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Porém na minha infância

No sítio do seu Juarez

Armava, visgo e arapuca

Pra pegar de uma vez

Vem-vem, Tiziu, Bigodeiro,

Sabiá e Rolinha pedrês.

 

Seu Juarez era bom

E deixava a gente brincar

Mas seu Modesto e Zé Passos

Querendo a nos expulsar

Com cipó e foice na mão

Vivia a nos expulsar.

 

Certo dia Wendney

E o Raimundo Vovô

Me chamaram pra caçar

A tardinha Beija flor

Peguei minha “baladeira”

E fiz pose de caçador.

 

Ora, ora, meu amigo

Sabe o que aconteceu?

O Zé Passos com sua foice

De repente apareceu.

Logo o Raimundo Vovô

Com medo se escafedeu.

 

O Wedney então me disse:

Vamos nos esconder!

Respondi: espere um pouco

Estou pensando em fazer

Uma com o Zé Passos

Que ele jamais vai esquecer!

 

 

 

 

Armamos uma “tocaia”

Esperando ele passar

Peguei minha baladeira

Fiz mira para acertar

Bem no meio do seu quengo

Pra ele nos respeitar.

 

Foi bem no meio da testa

A pedrada que eu lhe dei

Vi o homem ensanguentado

Que gritava: ai Cristo rei!

Se eu pegar esse infeliz

Vai levar o que eu levei!

 

E sussurrando, Wedney

Falou logo: vou correr!

Se ele pegar a gente

Hoje sei que vou morrer!

Eu lhe disse: fique quieto,

Ele não pode nos ver!

 

Nem terminei de falar

O Wedney tinha corrido

Em direção ao Zé Passos

Que estava muito ferido

E ainda procurando

Quem tinha lhe atingido.

 

E nem viu o “Zé Galinha”

Passar naquele momento

Mais ligeiro que Preá

Por baixo do seu Jumento

Me deixando ali sozinho

Com um mal pressentimento.

 

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Ele não viu meu amigo

Passar depressa a seu lado

Mas me viu escondidinho

Naquela moita acuado

Pegou a foice e gritou:

Eu te mato desgraçado!

 

Eu só tinha um caminho

Para poder escapar

Era pular no riacho

E sem medo de errar

Porque se eu caísse n’água

Era melhor me entregar.

 

Com certeza aquela água

Meu couro escapelaria

Porque era tão polida

Que nem “Cururú” queria

Lavar os seus pés de príncipe

No riacho que fedia.

 

Preparei-me para pular

E escapar do sufoco

Cai de papo na água

Não me afoguei por pouco

Mas escapei do Zé Passos

Que mais parecia um louco.

 

Cheguei em casa tão sujo

Eu parecia um barrão

E mamãe me perguntou

Segurando um cinturão:

O que foi isso, menino

Eu quero uma explicação?

 

 

 

 

E para não apanhar

Respondi: escorreguei

Do galho da goiabeira,

Pergunte para o Wedney.

Mamãe do meu coração

Oh, que azar que eu levei.

 

Mamãe trouxe uma Quiboa

Creolina e Sarcol

Uma bucha de pepino

E dois litros de limpol

Depois me deixou quarando

Quatro horas sob o sol.

 

Dias depois do ocorrido

Lá em casa eu fui chamado

Pelo seu Juarez que queria

Que eu fizesse um mandado

Embora ainda estivesse

Um pouquinho preocupado.

 

Pois soube do ocorrido

Que eu fiz só por maldade.

E eu expliquei: padim Juarez

Juro que não é verdade

Eu fui matar uma rolinha

E veja a fatalidade!

 

Quando eu atirei a pedra

Ela deu um pulo mortal

E voou batendo a asa

Se escondeu no capinzal

Se acertou o Zé Passos

Não foi intencional.

 

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Só sei que seu Juarez

Conversou com o Zé Passos

Que depois me encontrou

E me deu um forte abraço

E até me recomendou:

Vá caçar, mas faça um laço!

 

Ah, como eu fui feliz

Não me canso de falar

No próximo cordel garanto

Outra história contar

No Putiú da minha infancia

É muito bom recordar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


EU SÓ SEI QUE FOI ASSIM (O VAI E VEM)

 


Eu queria ser João Grilo

Sabido que ele só

Mas na realidade eu pareço

Com o seu amigo Chicó

Eu confesso sou medroso

E por demais mentiroso

Minto tanto que dá dó.

 

Por isso preste atenção

Na minha arte de rimar

Mas antes eu sei que é preciso

Um café com letras tomar

Para aguçar a memória

Pois faz parte da historia

“O homem de Taperoá”.

 

Ariano Vilar Suassuna

Dramaturgo, ensaísta,

Poeta e professor,

Paraibano romancista

Na arte de escrever

Não me acanho em dizer

Foi o maior dos artistas.

 

Ele empunhou a bandeira

Do Nordeste cultural

Criando em Pernambuco

O movimento armorial

Com o único objetivo

O apoio expressivo

A cultura regional.

 

 

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Música, dança e teatro,

Literatura de Cordel

As raízes nordestina

Ariano foi fiel

E nossa grande fortuna

É a arte que Suassuna

Deixou ao partir pro Céu.

 

Baturité, minha terra

De gente maravilhosa

Leia esta história

E que não ficou famosa

Que aconteceu comigo

É verdade o que digo

Eu juro que não é prosa.

 

Eu ainda era menino

Mas me lembro muito bem

No Bairro do Putiú

Perto da estação do trem

Eu brincava com o wedney

Com um brinquedo que ganhei

Chamado de “vai-e-vem”.

 

Nisso o povo ia passando

E eu bastante animado

Eu de um lado do trilho

E meu amigo no outro lado

Com aquele novo brinquedo

Tranquilamente sem medo

Eu estava mesmo encantado.

 

 

 

 

 

Era uma bola bicuda

Transpassada por cordão

Sorriamos de orelha a orelha

Com tamanha diversão

Nós dois no meio da linha

Naquele ia e  vinha

Êita, que animação!

 

Mas algo naquela hora

Estava acontecendo

Começou a chegar gente

Lá na estação correndo

Todo mundo na cidade

E com aquela novidade

Nem estávamos percebendo.

 

Toda aquela agitação

Todo aquele aperreio

Foi quando eu ouvi um grito:

Meninos, saiam do meio

Que o trem das sete horas

Tá chegando ali agora

E totalmente sem freio!

 

Eu olhei para o wedney

Que também olhou pra mim

Eu disse: Nossa senhora!

Que desgraceira sem fim!

Eu só vi o trem chegando

E o maquinista apitando

Foi exatamente assim.

 

 

 

 

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Foi tão rápido o acontecido

O trem sem freio apitando

E era gente correndo

E era gente gritando

Porem eu não senti medo

Não larguei o meu brinquedo

Fiquei ali segurando.

 

Do outro lado do trilho

O wedney sustentou

O vai e vem com firmeza

No momento o trem passou

Eu só senti um puxão

E um tremor em minha mão

E foi ai que o trem parou.

 

Um fumaceiro danado

Cobriu todo o ambiente

Eu tentei mais não vi nada

Que estava a minha frente

Um silencio sepulcral

Tomou conta do local

Não ouvi um “pio” de gente.

 

É um milagre! É um milagre!

Começaram a gritar.

E os passageiros do trem

depressa a desembarcar

Correndo em direção a praça

E de repente a fumaça

Dissipou-se no ar.

 

 

 

 

 

 

 

Foi ai que eu percebi

Que ainda eu tinha na mão

A cordinha do vai-e-vem

E ali eu dei um puxão

E o wedney do outro lado

Disse: puxe com cuidado

Pra que tanta afobação!

 

Ei, Padinha, desse jeito

Você vai me derrubar

Deixe de brutalidade

Assim eu não vou mais brincar!

Fique com o seu vai-e-vem

Olha só, até o trem

Chegou para atrapalhar!

 

Foi quando chegou ali

O chefe da estação

Dizendo então para nós:

Queremos uma explicação!

E não deixem pra depois

Como é que vocês dois

Pararam a composição?

 

E eu sem entender nada

E o wedney também

Devagar fomos enrolando

O brinquedinho vai-e-vem

Nós estávamos “P” da vida

Por ter sido interrompida

A brincadeira pelo trem.

 

 

 

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Cada qual foi pra sua casa

Porque já era noitinha

O Wedney pra casa dele

E eu fui pra casa minha

Eu guardei o meu brinquedo

E guardei esse segredo

Até de minha mãezinha.

 

Só que esse ocorrido

Nunca foi noticiado

No jornal da capital

Do meu querido estado

Nem rádio e televisão

Nenhuma notificação

Do tal trem desgovernado.

 

Eu tinha só onze anos

Mas ainda eu guardo em mim

Lembranças da minha infância

Que parece não ter fim

Sou poeta nordestino

Mas te digo “Seu menino”

EU SÓ SEI QUE FOI ASSIM!

 

Ariano Suassuna

É hoje homenageado

Vai o homem e fica a obra

Como o maior legado

Eu sou Pádua de Queiróz

E Deus proteja todos nós

Até logo e obrigado!

 

 

 

 

 

 

 


QUEM ACENDEU LAMPIÃO

 


Eu peço ao divino Deus

Neste momento em questão

Que ilumine minha mente

Com a luz da inspiração

Para através de meu verso

Deixar aqui meu protesto

E também minha opinião.

 

Neste Brasil de Antônio

Conselheiro e Lampião,

Patativa do Assaré

E Luiz Rei do baião

Muita gente logo esquece

O sujeito que padece

Nas quebradas do sertão.

 

Sou poeta cearense

Sou artista popular

Minha poesia é a arma

Que eu uso pra lutar

Através de meu repente

Eu defendo a minha gente

Que não deixa de sonhar.

 

Mas é obrigado a votar

E escolher seu representante

Que eleito logo esquece

De ajudar seu semelhante

No mundo civilizado

Excluído e abandonado

Não tem paz um só instante.

 

 

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É tratado como um bicho

Vive a vida por um triz

Não tem direito a saúde

Vive doente e infeliz

Não tem direito ao direito

Nascer pobre é um defeito

Hoje o rico é quem diz.

 

E foi por esse descaso

Ou melhor esse abandono

Que no Nordeste surgiu

Em cada lugarejo um dono

Tomando propriedades

Cometendo atrocidades

Expulsando a cada ano.

 

Toda pessoa de bem

Que vivia no Sertão

Trabalhando em suas terras

Na lavoura e criação

Até o "coronel" deixar

Ele era a lei do lugar

E queria  submissão.

 

Quem perdia o que era seu

Ou sofria humilhação

Se embrenhava na Caatinga

Em busca de proteção

No cangaço a esperança

Só através da vingança

Não tinha outra opção.

 

 

 

 

 

A não ser tomar do rico

O que o rico lhe roubou

Fazendo valer a lei

Que o próprio coronel ditou

E nesse tempo e espaço

Nascia assim o cangaço

Que ao Nordeste assombrou.

 

Eu conheço tanta história

De cangaceiro valente

Que agiam sempre em grupo

No Nordeste antigamente

Mas só um foi o maior

Não foi bom, nem foi pior

Não houve outro igualmente.

 

Virgulino era seu nome

Sua alcunha, LAMPIÃO

Que ainda jovem fugiu

Junto com seus dois irmãos

Antônio e Livino Ferreira

Que na vida cangaceira

Procuraram proteção.

 

Assumiu logo o comando

De um grupo de cangaceiros

Quando atirava a noite

Clareava o terreiro

Com inteligência e malícia

Foi o terror da polícia

Que caçava esse guerreiro.

 

 

 

 

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No dia quatro de Junho

Essa data é verdadeira

Que Virgulino assumiu

O bando de Sinhô Pereira

Mil novecentos e vinte e dois

Que o destino lhe impôs

A árdua vida cangaceira.

 

O cangaço era visto

Aos olhos dos governantes

Como uma simples desordem

De pobres ignorantes

E toda aquela rebeldia

Logo, logo acabaria

Nada tinha de importante.

 

Mas Lampião era esperto

E tão bem auxiliado

Era mesmo imbatível

Com os seus irmão ao lado

Antônio na retaguarda

E Livino na vanguarda

Não temia ser emboscado.

 

Por ser rápido e eficiente

Como uma metralhadora

Foi entregue a vanguarda

Do bando para "Vassoura"

E por esse apelido

Livino ficou conhecido

Entre a horda acolhedora.

 

 

 

 

 

 

 

Antônio também era dono

De uma grande liderança

E cobria a retaguarda

Do bando numa matança

Por acreditar que um dia

A paz enfim reinaria

Foi chamado de "Esperança".

 

Inumeráveis batalhas

Foram por eles travadas

Porém três anos depois

Sua fé foi abalada

Em uma luta em Flores

Lampião sentiu as dores

Do fim de sua vanguarda.

 

Num combate de três horas

Balas raspando no "cuco"

A polícia entrou em fuga

E Vassoura, então maluco

Subiu num grande lajedo

Pra ver borrar-se de medo

Os fujões de Pernambuco.

 

Um soldado que ficara

Chamado de "Zé Inaço"

fez pontaria e acertou

Vassoura no espinhaço

Com esse tiro mortal

Livino ali se deu mal

Caindo em seu próprio laço.

 

 

 

 

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E antes do último suspiro

A Deus pediu seu perdão

E para a Nossa Senhora

Lhe pediu a intercessão

E por fim pediu Livino

Para Antônio e Virgulino

Justiça pro seu Sertão.

 

E pra ser corpo não ser

Profanado pelo o inimigo

Lampião cortou a cabeça

De seu irmão, seu amigo

E mesmo pra alguém tão rude

Aquela macabra atitude

O deixou tão constrangido.

 

E no dia vinte e cinco

Do Natal de vinte e seis

Esperança, finalmente

Encontrava a sua vez

A sua paz tão sonhada

Numa tarde mal fadada

Num ato de insensatez.

 

Na fazenda Poço do Ferro

Um dos coitos de Lampião

O seu bando descansava

Das últimas lutas então

Quando houve o ocorrido

Antônio Ferreira ferido

Despediu-se de seu irmão.

 

 

 

 

 

 

 

Virgulino que estava

Bem distante no momento

Quando ouviu o estampido

Parecia até com um vento

E ao chegar encontrou

Antonio que lhe contou

O triste acontecimento.

 

Pois brincava com Luís Pedro

Seu amigo de confiança

Disputando uma rede

Porque queria Esperança

Nela poder se deitar

E começou a brincar

Como se fosse criança.

 

Luís que estava deitado

Com um rifle em sua mão

Foi puxado por Antônio

Que lhe derrubou no chão

A arma então disparou

E mortalmente acertou

Porém sem ter intenção.

 

E disse mais: meu irmão

Se você gosta de mim

Eu quero que de hoje

Você goste tanto assim

Do nosso compadre Luís

Pra ninguém ser infeliz

porque chegou o meu fim.

 

 

 

 

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Meu compadre Luís Pedro

Não abandone nosso irmão.

Luís Pedro disse: eu juro

Olhando pra Lampião

Meu compadre eu juro a vós

Nem a morte separa nós

Nas lutas neste Sertão.

 

Ao desprender-se do corpo

De Antônio já sem vida

Lampião olhou pra Luís

Que com a vós estremecida

Disse para Virgulino:

Me mate sou assassino.

Mas lampião em seguida.

 

Abraçou com Luís Pedro

Com tristeza e comoção

Dizendo: tenha coragem

Me dê aqui sua mão

Porque de agora em diante

Você pra mim é importante

Como foi o meu irmão.

 

Luís você não tem culpa

Não aumente a desgraça

Antônio com certeza está

Ao lado da Divina Graça

Foi morar com Mãe e Pai

E com Livino que em paz

Agora mesmo lhe abraça.

 

 

 

 

 

 

 

Depois sepultou Antonio

Junto a um pé de cajarana

A dor da sua família

Torturava sua alma humana

E com um punhal na mão

Desafiou a assombração

Naquela triste semana.

 

E seguido por seus cabras

Rumou para o Ceará

Mas ninguém compreendia

O que estava a falar

E nas estradas do Sertão

Vagou louco o capitão

Que não sabia chorar.

 

Um mês depois do ocorrido

A polícia descobriu

A cova de Antônio Ferreira

E o comandante pediu

Que arrancasse com o facão

A cabeção e então

Municiou seu fuzil.

 

E ordenou que numa estaca

Aquela cabeça fincasse

Mandando aos soldados

Que todos nela atirasse

E deixaram-na abandonada

Na beira de uma estrada

Pra mostrar pra quem passasse.

 

 

 

 

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Que o cangaço já era

que ele era o melhor

cangaceiro não prestava

não tinha alma e o pior

era filho de chocadeira

raça ruim desordeira

espécie de marca maior.

 

Manuel Neto era o chefe

Dessa força policial

Que agia em Pernambuco

Sem escrúpulo, sem moral

E assim tão desumano

Profanou um corpo humano

Dessa forma irracional.

 

Assim era a policia

Grande força desordeira

Irmã contrária ao cangaço

Fazendo à própria maneira

Equipada, armada e forte

Espalhando medo e morte

Tendo a lei como bandeira.

 

No Brasil de norte a sul

Era só revolução

O governo já não tinha

Mais as rédeas da nação

Era um tal de Tenentismo

Impulsionando o comunismo

Buscando libertação.

 

 

 

 

 

 

 

No nordeste brasileiro

Naqueles tempos passados

A igreja para não perder

O controle do povoado

Dizia que o comunista

Temia padre exorcista

Pois era o próprio diabo.

 

Mas eu explico ao leitor

O que é ser comunista:

É viver em sociedade

Comum sem escravagista

É aprender a dizer não

Na hora da eleição

Ao burguês capitalista.

 

Luiz Carlos Prestes foi

Um tipo de cangaceiro

Muito culto e educado

Lá pro Rio de Janeiro

Mas viu tudo diferente

Mesmo sendo um tenente

Do Exército Brasileiro.

 

Os políticos do Nordeste

Com medo do tal tenente

Mandou chamar Lampião

E lhe deu uma patente

Neste momento caótico

Surgiu o“Batalhão Patriótico”

Com todo tipo de gente.

 

 

 

 

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Na cidade de Juazeiro

Do Padre Cícero Romão

Deram-lhe armas e fardas

E o posto de capitão

E disseram: Será perdoado

Se lutar do nosso lado

Defendendo esta Nação!

 

Só que Lampião sabia

O que tramava o inimigo

Depois que acabasse a luta

Viria então o perigo

Então disse ao seu bando:

Eu só quero o comando

Do cangaço, meu abrigo!

 

Nem bem amanheceu o dia

Ele já tinha ido embora

Com as bênçãos do Santo Padre

E o terço de Nossa Senhora

E do lado do governo

Que nunca lhe deu sossego

Era melhor cair fora.

 

E a partir daquele dia

Lampião ficou mais forte

Com armas sofisticadas

Ganhas num golpe de sorte

Imperou neste Sertão

Que temia o capitão

Que não temia a morte.

 

 

 

 

 

 

 

Por isso Lampião se tornou

Respeitado no cangaço

Sua coragem, seu ímpeto

Causava grande embaraço

Por onde ele aparecia

Ninguém jamais esquecia

Depois de juntar os bagaços.

 

Lampião que era poeta

E compositor de primeira

Quando saqueava as Vilas

Cantava mulher rendeira

E “É Lamp, Lamp, Lampião”

De longe ouvia-se o  refrão

Cantado pela cabroeira.

 

Gumercindo Cláudio Maia

Que escreveu seu Tabuleiro,

Sua gente e sua história

Num estudo verdadeiro,

Despertou-me a atenção

Quando aquela Região

Visitou um cangaceiro.

 

Naquela manhã de Junho

Entraram no povoado,

De Tabuleiro de Areia

Cangaceiros comandados

Pelo facínora conhecido

E por todos tão temido

Por seu jeito endiabrado.

 

 

 

 

36

 

 

 


Quem conhece o perfil

De Virgulino Ferreira,

Sua vida, sua história

Sabe que é verdadeira,

Pois movido por vingança

Fez do crime a esperança

Da justiça derradeira.

 

Gumercindo em seu livro

Relatou a ilustre visita,

Do grande Rei do cangaço

Naquela terra bonita.

Francisquinho da espera

Ao deparar com a fera

Disse então sem fazer fita:

 

Pode descer, Capitão!

Minha casa sua é,

Para toda cabroeira

Tem leite, bejú e café,

Fumo de rolo e feijão,

Carne de bode e pirão,

Água, sombra e muita fé.

 

O bando era tão grande

Que dividiram em três,

Foi Antônio Alves Maia

Que recebeu por sua vez,

No armazém que possuía

Um dos grupos que queria

Beber sem virar freguês.

 

 

 

 

 

 

 

A venda de Néco Pacheco

O outro grupo recebeu,

Compraram perfume barato,

Sabão, querosene e breu,

Corda de junco e chinela,

Lamparina, pano e veia,

E imagem da mãe de Deus.

 

Na casa de Franscisquinho

Todo mundo estava contente,

Um dos cabras deu a ele

Bons cigarros de presente,

Outro cabra pensativo

Foi dizendo: - meu amigo,

Me escute, de repente.

 

Se alguém for pra Mossoró

Deve fazer romaria,

Na cova de Menino de Ouro

Que nos deixou certo dia,

Por intermédio da bala

Que calou sua fala

E findou sua valentia.

 

Menino de Ouro era

O mais valente do bando,

Pois somente respeitava

Lampião em seu comando.

Quatorze, era sua idade

Mas tinha a ferocidade

De um demônio atirando.

 

 

 

 

37

 

 

 


Então naquela harmonia

Cangaceiro e cidadão,

Compartilhava histórias

Na mais perfeita união.

Tomavam muita cachaça

Soluçavam e achavam graça

Naquele belo sertão.

 

Porém tinha um morador

Chamado de Zé Vidal,

Que tinha em sua propriedade

Um belo e forte animal,

E assim para não perder

Mandou seu filho esconder

No meio do matagal.

 

Ao chegar no matagal

O jovem se deparou,

Com o Capitão Virgulino

Que logo lhe perguntou:

- pra onde tu vai, meu sincero?

Não minta pra mim, eu espero

E ele não amarelou:

 

- vim esconder meu cavalo

para o senhor não tomar.

Lampião disse: não tema.

Seu cavalo eu vou levar,

Eu gostei muito da cor

Depois mande um portador

Que eu devolvo o "animá".

 

 

 

 

 

 

 

Realmente Lampião

Devolveu o animal,

Embora muito cansado

Pra tristeza de Zé Vidal.

Mas cumpriu o prometido

Mesmo sendo um bandido

Tinha palavra e moral.

 

Mas, enquanto Virgulino

Se divertia em Tabuleiro,

Os macacos do Governo

No encalce do cangaceiro,

Semeavam dor e medo

Roubando-lhe então sossego

Deixando o sangue no terreiro.

 

E Lampião desconfiado

Da paz naquele lugar,

Chamou a cobra "Moreno"

Dizendo: vou me mandar!

Chama os outros, e vambora

Os macacos não demora

Logo, logo vão chegar.

 

E pela estrada do governo

Atual PADRE ACELINO,

Desapareceu o bando

Do Capitão Virgulino.

Se mandou pra Iracema

Cidadezinha pequena

Do seu sertão nordestino.

 

 

 

 

38

 

 

 


No Ano de Vinte e Sete

No dia treze de agosto,

Um grupo de cangaceiros

Com outro comando no posto,

Em Tabuleiro de Areia

Fez vogar a LEI DA PEIA

Da violência e desgosto.

 

No ano de vinte e nove

Virgulino, o Lampião

Provou porque era mesmo

"O Governador do Sertão"

Quando passou em Sergipe

Passou com a sua equpe

Sem disparar um rojão.

 

Com o seu grupo formado

De nove "cabras" valentes:

Volta Seca e Ezequiel,

Moderno e Gavião na frente,

Fortaleza e Arvoredo,

Zé Baiano, Gato e Mourão

Chegaram então de repente.

 

Lá na pequena Carira

E escreveu ao delegado

Felismino Dionisio

Mostrando ser educado

Pedindo autorização

Mas o delegado, em vão

Já havia se ausentado.

 

 

 

 

 

 

 

Seis soldados possuía

Todo destacamento

Da pequena Carira

Então naquele momento.

Mas somente dois ficaram

Os demais se debandaram

Fugindo daquele evento.

 

Quando Lampião ficou

Sabendo do acontecido

Elogiou a coragem

Dos soldados destemidos

E foi ele pessoalmente

Parabenizar, com presentes

Aos seus novos protegidos.

 

Porque um homem valente

Não se devia matar

Era preciso viver

No Sertão para honrar

A fama de "cabra macho"

Cabra de coragem e facho

Era pra cria botar.

 

E o povo ali sem medo

Foi conhecer Lampião

Que sob salva de palmas

De toda população

Seguiu meio desconfiado

O seu rumo intencionado

Sumindo na escuridão.

 

 

 

 

39

 

 

 


Pernoitou naquela noite

Na casa de um fazendeiro

Que acolheu sem protesto

O grupo de cangaceiros

Que de manhã bem cedinho

Rumou para sobradinho

Agradecendo ao "coiteiro".

 

Na entrada da Cidade

Sergipana, entrincheirou

Lampião todo o seu bando

E por um portador mandou

Um bilhete ao Intendente

Solicitando urgente

E assim ele relatou:

 

"Se quiser que eu entre em paz

Por favor venha até aqui.

Se não vier entro a bala

E acabo com tudo ai..."

A Cidade apavorada

Ficou com as mãos atadas

Tendo Lampião ali.

 

O Prefeito comunicou

Ao delegado a questão

Que respondeu: Tu tá doido,

Vá receber o Capitão!

O destacamento fugiu

No meio do mato sumiu

Com medo de Lampião!

 

 

 

 

 

 

 

Ele nem mesmo pensou

Duas vezes no assunto

Chamou o dito emissário

E com ele partiu junto

Na entrada da Cidade

Disse com autoridade:

Não quero fazer defunto!

 

Eu sou de paz, seu Prefeito,

Me escute afinal.

Vocês diz que sou bandido

Mas não ando fazendo mal

A quem mal não me faz

Por isso fique em paz

E bote no meu embornal.

 

Vinte contos de réis

Somente pra me ajudar.

Que eu prometo Prefeito

Nenhum estrago causar,

A vida de Cangaceiro

Sem comer, bala e dinheiro

Não tem como se sustentar!

 

E o prefeito lhe alegou

Não possuir tal quantia,

O comércio enfraquecido

Com a seca que consumia.

E Lampião sem demora

Retrucou na mesma hora:

Também vivo essa agonia!

 

 

 

 

40

 

 

 


São quatorze anos de seca

Sendo nove de Cangaço,

Me dê ao menos seis contos

Não me cause embaraço.

Para tudo tem um jeito

Me ajude, seu Prefeito

E mal nenhum eu lhe faço!

 

E saíram em comissão:

O prefeito e o delegado,

O padre e o telegrafista

Em busca do solicitado.

Em comércio e fazenda

Arrecadaram a renda

Conforme o estipulado.

 

A receber o dinheiro

Com muita satisfação,

Agradeceu comovido

Dizendo assim Lampião:

Eu sei que foi de bom grado

Por isso muito obrigado

Gente de bom coração!

 

E na madrugada partiu

Seguindo pra Aquidabã

Chegando nessa Cidade

Com o Sol da Alta manhã

Onde foi bem recebido

Nem parecia um "bandido"

Arrodeado de fã.

 

 

 

 

 

 

 

O prefeito e o juiz,

E o povo todo festeiro

Prestaram grande homenagem

Ao maior dos Cangaceiros,

Que rumou para Bahia

Levando como dizia:

"Coragem, bala e dinheiro!"

 

Em mil novecentos e trinta

Em meados de Fevereiro

Lampião necessitando

Os serviços de sapateiro

Para consertar as cangas

Encomendar bugingangas

Apetrechos cangaceiros:

 

Apragátas, barbicachos,

Cinturões de cartucheiras,

Bruacas, chapéus e tiras,

Embornais e bandoleiras...

E mandou que Luís Pedro

Fosse de manhã bem cedo

Com mais dois da cabroeira.

 

Como estavam acampados

No raso da Catarina

Vendo os quimbembes velhos

Totalmente em ruinas

Aproveitaria o descanso

No cenário seco e manso

Daquela dura rotina.

 

 

 

 

41

 

 

 


E Luís Pedro Partiu

De manhã pelo caminho

Ladeado por Cambaio

E por Vicente Marinho

mas na frente foi Cortiço

Encomendar o serviço

E pagasse direitinho.

 

O sapateiro escolhido

Diziam: tudo remenda!

Chamava-se, Zé de Neném

Seria dele a encomenda.

E Zé tinha em sua casa

Um lindo Anjo sem asa

Uma verdadeira prenda.

 

Seu nome, Maria Alina

Apelido, Maria de Déia

Que casada há oito anos

Sonhava com uma epopeia,

Coisa talvez impossível

Pois seu marido insensível

Desprezava essa idéia.

 

Só pensava em bater sola

Sapateiro, seu ofício

E viver naquele Sertão

Já era um sacrifício

Sua mulher simplesmente

Já pensava diferente:

Ao invés deste artificio.

 

 

 

 

 

 

 

Homem era Lampião

Que combatia e dançava,

Em Carira e Sobradinho

E em Aquidabã mandava,

Bandido de coração nobre

Fiel protetor dos pobres

Que o Sertão respeitava!

 

Luís Pedro, ouviu tudo

E contou pra Lampião

Que disse: meu compadre,

Com essa eu não bulo não

E toda mulher casada

Deve é ser respeitada

Não mudo de opinião!

 

E Luís disse: Vá lá,

Somente pro Senhor ver

Essa mulher que eu falo

Juro não vai esquecer,

Aquele rosto tão belo

Parece um Anjo singelo

Que no Sertão foi viver!

 

E continuou Luís Pedro:

O marido nem dá bola!

Ela até me confessou

Que a noite ele não consola,

Sua solidão de mulher

Porém se o Senhor quiser

Na estrada mete a sola.

 

 

 

 

42

 

 

 


Lampião falou: seu cabra

Vamos deixar de conversa,

Não se fala mais no assunto

Eu não entro numa dessa

Tá na hora de dormir

Amanhã vamos sair

Mas pra ir buscar as peças.

 

No Raso da Catarina

O Sol nasceu diferente,

E depois de muito tempo

O Nordeste, sorridente.

Tudo então parecia

Que a Paz e a Harmonia

Triunfava novamente.

 

Uniforme impecável

Lenço em volta ao pescoço,

Perfumado e barbeado

Parecia até mais moço

Lampião apareceu

E com o jeito só seu

Ordenou sem alvoroço:

 

Compadre Luís vá chamar

Bem ligeiro, Beija-Flor!

Pensativo Luís disse:

Isso é mesmo o amor.

O nosso Rei a tardinha

Vai conhecer sua Rainha

E ele é merecedor!

 

 

 

 

 

 

 

E ao chegar na porteira

Da casa do sapateiro

Nem deu tempo desmontar

O chefe dos cangaceiros,

Quando apareceu cheirosa

A bela e mais formosa

Do Nordeste brasileiro.

 

Lampião admirado

Nem queria acreditar,

Seria mesmo verdade

Ou estava a sonhar.

E sorrindo de contente

Viu ali na sua frente

O verdadeiro amor brotar.

 

Que - que Ma - Maria Bonita!

Ele falou gaguejando.

Lhe estendendo a mão

Num gesto cumprimentando.

Era só felicidade

Que sem ter dificuldade

Rápido foi desmontando.

 

E pra sentar-se à sombra

Ela então o convidou,

E escutando a conversa

Até o tempo parou.

Maria falava tudo

E Lampião quase mudo

Criou coragem e falou:

 

 

 

 

43

 

 

 


É verdade que você

Tem coragem de ír comigo?

Ela respondeu: vou sim,

E não temo o perigo.

E se o Senhor quiser

Eu serei sua mulher

E vou embora contigo!

 

Lampião disse: mulher

Casada que já tem dono...

Ela interrompeu dizendo:

Eu vivo no abandono.

Quero viver a seu lado

Como dois apaixonados,

Esse sim é o meu plano!

 

Mesmo espiando tudinho

Que estava acontecendo

Zé de Neném só olhava

E a sola ia batendo.

Lampião despreocupado

Por Maria apaixonado

Viu o Sol se escondendo.

 

Voltou para o acampamento

Mas antes disse a Maria:

Amanhã bem cedo eu volto

Antes do nascer do dia.

Você vai morar comigo

Vou enfrentar o perigo

Mas na sua companhia!

 

 

 

 

 

 

 

E nem bem o dia raiou

Lampião já estava lá,

Na porta do sapateiro

E antes de dizer, olá.

Maria veio correndo

E pra ele foi dizendo:

Eu não fico mais por cá!

 

Zé olhou para a janela

E falou com a voz serena,

Até mesmo a escolta

Do coitado teve pena.

Maria, tu vai me deixar?

E Lampião, sem se importar

Partiu com sua morena.

 

Porém deixou uma carta

Escrita com a própria mão,

Pra que todos soubessem

Que ele não era ladrão,

Relatando que Maria

Foi pra sua companhia

Por sua própria opção.

 

Com uma grande festança

Lampião comemorou,

Xaxado, xote e polca

Naquela noite dançou,

Com sua Maria Bonita

Toda enfeitada de fita

Virgulino se Casou.

 

 

 

 

44

 

 

 


Já era nove da noite

A peitíca e o bacural

Entretidos espiavam

De cima de um pé de pau.

E Lampião com Maria

De fininho escapulia

Para noite nupcial.

 

Com a entrada de Maria

Na rotina do cangaço

Quem tinha sua mulher

Oficializou o laço

Lampião deu o direito

A todos no mesmo leito

Ocupar o mesmo espaço.

 

Algumas eu tenho em mente

Eis aqui a relação:

Sila com Zé Sereno,

Maninha com Gavião,

Rosinha com Mariano,

Lídia com Zé Baiano,

E Leolina com Azulão.

 

Maroca com Mané Moreno,

Aldina com Paturí,

Catarina com Sabonete,

Dussanto com Alecrim,

O tempo foi passando

E a tropa aumentando

Maria com Jurití.

 

 

 

 

 

 

 

Lilí com Moita Brava,

Veronquinha e Beija-Flor,

Entre tantas que aprenderam

A enfrentar o terror,

Mocinha mais Medalha

Não fugia da batalha

Defendendo o seu amor.

 

Mulheres que esse amor

Moldou Naquele cenário

Neném foi de Luís Pedro,

Adília foi de Canário,

Dora foi de Arvoredo

E desconhecia o medo

Do cangaço ex -solitário.

 

Jamais fugiram da luta

Naquela seca paisagem

Por isso a essa mulheres

Eu presto esta homenagem.

Apesar da triste sorte

Muitas encontraram a morte

Mas morreram com coragem.

 

A morte de Lampião

Foi numa luta travada

Na fazenda de Angicos

Que até hoje é falada

Dizem que ele morreu

De um veneno que bebeu

Outros falam em cilada.

 

 

 

 

45

 

 

 


Por que a polícia depois

De abater o bandido

Desfigurou sua cabeça

Que do corpo dividido

Não entregou o cangaceiro

Morto, porém inteiro

Para ser reconhecido?

 

Sei que viram Lampião

Em Goiás e no Amapá

Comprando e vendendo gado

Como vivia a sonhar

E na minha opinião

O tempo matou Lampião

Que não pode escapar.

 

E quem conhece essa história

De uma vida tão sofrida

Pode então me responder

Esta pergunta esquecida:

Quem acendeu Lampião

Nas noites do meu sertão

Procurando uma saída?

 

Sou poeta por que sou

Nasci assim e acredito

Que meu verso é um Dom

De Deus Pai do Infinito

Fraternidade e razão

Tenho fé que meu Sertão

Ainda será mais bonito.

 

 

 

 

 

 

 


PADRE CÍCERO, O SANTO DO JUAZEIRO

 


Diante da Santa Cruz

Caneta Bic e papel

Peço a Jesus que inspire

Este poeta fiel

Com a luz que me alumia

Pra decantar em cordel.

 

A trajetória seguida

Por meu Padim milagreiro

Santo natural do Crato

Pra fazer de Juazeiro

A Meca do Carirí

Terra Santa do Romeiro.

 

Meca é a cidade sagrada

Do povo do ALCORÃO

Onde Maomé recebeu

De Alá uma missão

Transformar aquele povo

Em uma única Nação.

 

Quem conhece Juazeiro

Sabe que falo a verdade

Até hoje a presença

De meu Padim na cidade

É notória pois impera

Paz, amor e liberdade.

 

Ele o segundo filho

De três que Dona Quinô

Junto com Joaquim Romão

Geraram com muito amor

Respeitando e seguindo

46

As Leis de Deus Criador.

 

 

Desde cedo o jovem Cícero

A sua fé demonstrava

Se alguém o procurasse

Na igreja o encontrava

E ser padre era tudo

Que Cícero Romão sonhava.

 

O senhor Joaquim Romão

Ensinou o filho a ler

Sabia que era importante

A cartilha do ABC

Pois sem leitura no mundo

Era difícil viver.

 

Numa escola cratense

Cícero foi matriculado

Aos seis anos de idade

Ele era orientado

Pelo professor Rufino

Que tinha muito cuidado.

 

Nas lições que aplicava

Ao menino Cícero Romão

Aritmética, latim,

Gramática e religião,

A história do Brasil

E os costumes do sertão.

 

E dedicado aos estudos

Cícero seguia contente

E o sonho de ser padre

Não saía de sua mente

Logo que fez doze anos

Jurou decididamente.

 

 

Manter sua castidade

E viver imaculado

Quando fez dezesseis anos

Deixou então seu Estado

Pra estudar em Cajazeiras

Ele foi matriculado.

 

Ao chegar na Paraíba

Cícero se sentia assim

A vontade e feliz

Ao lado do Padre Rolim

O fundador do colégio

Que tinha o principal fim.

 

Orientar o menino

Para a sua vocação

De ser padre e levar

Para o povo do sertão

A palavra do senhor

Através de seu sermão.

 

O jovem ficou dois anos

Na cidade paraibana

Aprendendo os preceitos

De Deus e da vida humana

Até que uma notícia triste

Chegou da terra serrana.

 

O seu pai Joaquim Romão

Tão amado e querido

Lá na cidade do Crato

Havia então falecido

Deixando o jovem Cícero

Triste porém decidido.

 

47

 

 

 


Em largar os seus estudos

Que ele tinha tanto gosto

Era o único filho homem

Por isso estava disposto

Em cuidar de sua família

Embora a contragosto.

 

Quase três anos afastado

Do mundo da educação

Senhor Joaquim apareceu

Para Cícero numa visão

Após ele ter tomado

Outra triste decisão.

 

De vender então seus livros

Pra quem quisesse comprar

Já que vivia ocupado

Sem tempo para estudar

E o dinheiro era bem-vindo

Pra família alimentar.

 

Cícero, não abandone

Teus livros e teus estudos

Porque Deus dará um jeito

E vai tomar conta de tudo

Escute bem meu conselho

Meu filhinho, eu não te iludo!

 

Aquele jovem que tinha

Algo de extraordinário

Prosseguiu o seu estudo

Trabalhou feito um operário

Até que conseguiu ingressar

Um dia no Seminário.

 

 

 

 

Da capital cearense

Com apoio de seu padrinho

De Crisma Antônio Luiz

Que tinha um grande carinho

Por Cícero que iria trilhar

Um árduo e longo caminho.

 

E durante cinco anos

De estudos e dedicação

No Seminário da Prainha

Fechou o ciclo de formação

E foi ordenado padre

O filho de Joaquim Romão.

 

Que não teve vida fácil

Pra alcançar seu objetivo

Dois anos antes, o conselho

Alegava um motivo

Para não mais ordenar

O seminarista impulsivo.

 

E por ter ideias próprias

O seminarista esquecia

Que tudo só funcionava

Respeitando a hierarquia

Mas Cícero era sincero

A Jesus Cristo e a Maria.

 

Dom Luís que era o Bispo

Respeitou suas fraquezas

Dizendo: Cícero é um Anjo

Disso eu tenho certeza.

E foi ordenado por ele

Na cidade de Fortaleza.

 

48

 

 

 


E retornando ao Crato

Após um mês de viagem

No lombo de um cavalo

Levando em sua bagagem

Seu sonho realizado

Com amor, fé e coragem.

 

Na primeira hora do dia

Em primeiro de Janeiro

No ano de mil e oitocentos

E setenta e um, no terreiro

De casa desmontou Cícero

"O santo do Juazeiro".

 

Na janela de sua casa

Com uma lamparina na mão

Apareceu Dona Quinô

Para lhe dar a benção

E Mariquinha e Angélica

Abraçaram seu irmão.

 

Nossa Senhora da Penha

No altar lá da Matriz,

Dona Quinô e as filhas

Seu padrinho Antônio Luiz,

O Padre Manuel Aires

E o povo todo feliz.

 

Assistiram a primeira

Missa que foi celebrada

Por Padre Cícero Romão

Em sua terra abençoada

E Jesus Cristo cumpriu

A palavra empenhada.

 

 

 

 

Porque ele tinha um plano

Na vida de meu Padim

Filho de Dona Quinô

E do falecido Joaquim

Afilhado de Antônio Luiz

Aluno do Padre Rolim.

 

Ainda em setenta e um

Ele foi solicitado

Lá no Sítio em Juazeiro

Um lugarejo afastado

Que não tinha Capelão

Fixo para aquele lado.

 

O povo queria muito

Uma missa no Natal

Para abençoar a todos

Que vivia no local

E Padre Cícero aceitou

Partindo para o Arraial.

 

Sabendo que aquele gente

Precisava de um Pastor

A missa foi um sucesso

E reconhecido o valor

Do padre que virou amigo

Do povo e fiel confessor.

 

Pobre povo que tentava

Somente sobreviver

Procurando uma sombra

E água para beber

Vivendo ali oprimido

Trabalhando pra comer.

 

49

 

 

 


No período em que a chuva

Caía farta do Céu

Enchendo de cereais

O paiol do coronel

Que mandava sem ter nunca

Entrado em um quartel.

 

O Governo naquela época

Dava o título de Barão

Aos donos dos cafezais

E plantadores de algodão

E os donos de muitas posses

Era coronel no sertão.

 

Que tinha em seu comando

A sua própria milícia

Para oprimir o povo

Com o aval da polícia

Eram os jagunços do homem

Que agia com malícia.

 

Quando queria aumentar

O seu pasto ou plantação

Oferecia um preço

Irrisório e sem sermão

Expulsava o sertanejo

Que pensasse em dizer não.

 

Só restava a este povo

Pedir a Deus lá no Céu

Livra-lo da fome e sede

E do malvado coronel

Responsável por deixar

Seu ex-vizinho ao léu.

 

 

 

 

Enquanto no Juazeiro

O Padre recém formado

Sob a proteção de Deus

Solícito e dedicado

Trabalhava com seu povo

Fazendo bons resultados.

 

No cultivo e criação

Conforme os procedimentos

O padre orientava o povo

Com os seus conhecimentos

Conciliando o trabalho

Com os Santos Sacramentos.

 

Mas um dia o jovem padre

Sentindo-se muito enfadado

Após uma jornada dura

E o corpo todo alquebrado

Voltou pra casa abatido

Muito triste e cansado.

 

Tomou água e numa rede

Se deitou pra descansar

Quando teve uma visão

Mas soube bem precisar

Era o Senhor Jesus Cristo

Com seus Apóstolos a falar.

 

Todos em volta do Mestre

Ouvindo-o atentamente

Lembrava a Santa Ceia

A visão em sua frente

Jesus reclamava muito

Dos pecados de sua gente.

 

50

 

 

 


Que vivia desregrada

Mas faria um grande esforço

Para salvar o mundo

Que estava no fundo do poço

E ordenou de forma enérgica

Para o padre tão moço:

 

Tome conta dessa gente

Essa é a minha vontade!

E Cícero vendo que o povo

Passava necessidade

Resolveu ficar de vez

Naquela localidade.

 

Para ele aquela visão

Era de Deus um presente

E um filho que ama o pai

Tem que ser obediente

Mesmo enfrentando o perigo

Que viria pela frente.

 

Em pouco tempo Juazeiro

Logo se transformou

Em uma Vila tão próspera

Que jamais alguém sonhou

E o rebanho do padre

De repente aumentou.

 

E um dia para o povo

Diante da Santa Cruz

Aconteceu o Milagre

Do Sangue do Senhor Jesus

Na hora da Eucaristia

Momento de fé e luz.

 

 

 

 

Quando a hóstia Consagrada

Em sangue se transformou

Na boca da Beata Maria

De Araújo, se espalhou

Pelo o mundo a notícia

Que Jesus Cristo chegou.

 

Na Vila de Juazeiro

E era um sinal de perdão

Gente de todo lugar

Que morava no sertão

Correram pra Juazeiro

Em busca da salvação.

 

Os líderes da Santa Igreja

Descrentes com o acontecido

Suspenderam o Sacerdote

Julgando ter ocorrido

Uma mentira, um embuste

Com o padre envolvido.

 

Mas o povo conhecia

O Padre Cícero e portanto

Não abandonou seu líder

Chegando de todo canto

Para apoiar seu Pastor,

Padrinho, amigo e Santo.

 

Que jamais abandonou

O povo do seu sertão

E mesmo estando impedido

De pregar o Santo Sermão

Não negou jamais a Deus

Não abandonou sua missão.

 

51

 

 

 


Em mil novecentos e onze

Juazeiro virou cidade

e meu Padim virou prefeito

Porque tinha qualidade

Pra liderar o seu povo

Rumo  a prosperidade.

 

Naquela época ninguém

Falava em ecologia

Padre Cícero visionário

Para o povo então dizia

Não devaste a natureza

Plante uma árvore, pedia.

 

Juazeiro se transformou

Em um Oásis no sertão

Cana de açúcar, mandioca,

Arroz, milho e feijão

Dava de tudo na terra

Do Padre Cícero Romão.

 

Que nunca mais passou fome

Ou outra necessidade

E o Padre Cícero jamais

Deixou aquela cidade

Ele está hoje no Horto

Vendo a felicidade.

 

Daquele povo que um dia

Jesus Cristo lhe entregou

E é essa a história

Do menino que sonhou

Em ser padre e no entanto

Em santo se transformou.

 

 

 

 


JOSÉ LOURENÇO, O BEATO DO CALDEIRÃO

 


No povoado de Juazeiro

Do Padre Cícero Romão

No fim do século dezenove

O povo do meu sertão

Chegou pra ver o milagre

Que ocorreu na região.

 

Foi a prova que o Padre

Era mesmo milagreiro

E abarrotado de gente

Estava o seu Juazeiro

E os visitantes ficaram

Conhecidos por romeiros.

 

Chegou gente do Rio Grande

Do Norte e de Alagoas

De Sergipe, Pernambuco

Que acreditavam na pessoa

Do Padre Cícero Romão

Que a todos abençoa.

 

Ex-escravos  que libertos

Não tinham onde morar,

Homens do campo sem terra

Que não tinham onde plantar

O Santo do Juazeiro

Recebeu sem protestar.

 

Os retirantes da seca

Homens de bem perseguidos

Homens rudes e homens dóceis

Chegavam eram acolhidos

Na Méca do Cariri

52

Todos eram bem vindos.

 

 

Quem chegava tinha terra

Pra fazer sua plantação

Mas devia obediência

E a crença na religião

Não se tolerava vícios

Ou qualquer desunião.

 

Uma nova chance na vida

Padre Cícero oferecia

Mas tinham que respeitar

Ao padre e a Virgem Maria

Era o fim do sofrimento

E Juazeiro crescia.

 

Em mil oitocentos e noventa

O Padre foi procurado

Por um paraibano que era

Filho de escravos alforriados

Chamava-se José Lourenço

E logo foi encarregado.

 

Em liderar uma missão

Que para o Padre era santa

Na cidade do Crato

Lá no sítio Baixa Dantas

A terra era muito árida

Porém só colhe quem planta.

 

Então vários flagelados

O Padre Cicero enviou

Aos cuidados de Lourenço

Que aquela causa abraçou

E em pouco tempo as terras

Do sítio então prosperou.

 

 

Isso despertou a fúria

Dos fazendeiros dali

Devido a facilidade

Que passou a produzir

Legumes de todo jeito

Milho, arroz, fava e pequi.

 

José Lourenço cuidava

Com muito zelo de um boi

Que o Padre Cicero lhe dera

E bem cuidado ele foi

Mas espalharam um boato

E prenderam Lourenço depois.

 

Por fazer naquele sitio

O pecado da idolatria

Cultuar um boi é pecado

Era mais que heresia

Dizer que o boi era santo

E até milagre fazia.

 

José Lourenço ficou

Conhecido por “beato”

Não sei se por sua fé

Ou por causa daquele fato

E do Sítio Baixa Dantas

Partiu pro rumo do mato.

 

Levando toda a sua gente

Com a mesma intenção

Plantar a terra e depois

Dividir com seu irmão

Se instalaram na localidade

Chamada de Caldeirão.

 

53

 

 

 


Pertencia ao Padre Cicero

Homem “santo admirável”

E o Caldeirão se tornou

Logo autossustentável

Porém as perseguições

Já estava insuportável.

 

Mesmo com a proteção

Do Santo do Juazeiro

Que doou aquelas terras

Para o beato romeiro

Sempre eram atacados

Por ordem dos fazendeiros.

 

Quando em mil e novecentos

E trinta e quatro morreu

Cicero Romão Batista

O pior aconteceu

Mais um inimigo do povo

Na questão apareceu.

 

Eram os Salesianos

Da mesma congregação

Do Padre Cicero e herdeiros

Que exigiram ação

Do governo federal

No caso do Caldeirão.

 

Já que o beato não tinha

A documentação da terra

A justiça simplesmente

Sem dar ouvidos encerra

As negociações com o povo

Iniciando uma guerra.

 

 

 

 

Pois alegava o governo

Que após um logo estudo

Temiam que o Caldeirão

Tornasse uma nova Canudos

Invadiram o Caldeirão

Para acabar de vez com tudo.

 

Foi no ano trinta e sete

Pela a terra e pelo ar

O governo federal

Botou para massacrar

Utilizando aviões

Pra de vez exterminar.

 

Mais de mil seres humanos

Brutalmente assassinados

O governo de Getúlio

Mais uma vez foi machado

Com o sangue de inocentes

Naquele solo encharcado.

 

José Lourenço não foi

Morto como conselheiro

Fugiu para Pernambuco

Sem comida e sem dinheiro

Por dedicar a comunidade

Seu trabalho e caridade

E a fé no Santo Romeiro.

 

 

 

 

 

 

 

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CEGO ADERALDO, A LUZ QUE EMANA A ARTE


 

Eu sou Pádua de Queiróz

Gosto muito de escrever

O cordel dos cordelistas

Que é fácil de entender

Nasci em Baturité

Eu nunca perdi a fé

E alegria de viver.

 

Quero aqui recordar

Na minha arte e oficio

Sobre Cego Aderaldo

E nasceu bem no início

Da tal “seca dos dois sete”

Que trouxe também a peste

Deixando no sacrifício.

 

O povo que espiava

O sertão esturricado

Quatro anos, só de seca

E pela peste assombrado

E assim no anonimato

Lá na cidade do Crato

Um lar foi contemplado.

 

Era mil e oitoentos

E setenta e oito, o ano

Vinte e quatro de junho

Dia exato, não me engano

Quem tem fé não se abate

A casa de um alfaiate

Presenteou o Soberano.

 

 

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Com uma linda criança

A mãe disse: “expia, é home!”

O pai ficou tão feliz

Mesmo diante da fome

E ao Pai Celestial

Agradeceu o casal

Aderaldo é seu nome.

 

Deixaram pra trás o Crato

Rumando pra Quixadá

No grande sertão central

Do Estado do Ceará

Esta família sofrida

Pensava mudar de vida

Quando chegasse por lá.

 

O amanhã pertence a Deus

Ele é luz que nos guia

Quando o pai de Aderaldo

Adoeceu certo dia

Com cinco anos de idade

Naquela bela cidade

Trabalhou com ousadia.

 

Para alimentar seus pais

Com o pouco que ganhava

E Aderaldo cresceu

Em casa nada faltava

Seu pai era bem cuidado

E por todos muito amado

Mas seu fim se aproximava.

 

 

 

 

 

Em vinte e cinco de março

Do ano mil e oitocentos

E noventa e seis morreu

Seu pai que belos momentos

Ofereceu em seu lar

Conjugando o verbo amar

Maior dos ensinamentos.

 

Dezoito anos de idade

Tinha o nosso personagem

Quando perdeu o seu pai

E não perdeu a coragem

Trabalhava pelos dois

Mas quinze dias depois

Sem as cores da imagem.

 

Do sertão, do céu azul

Interrogava a Deus:

Como é que vou viver

Sem a luz dos olhos meus?

Sem nenhuma explicação

Perdera a sua visão

Num melancólico adeus.

 

Porém Deus não desampara

Um bom filho, um bom cristão

Aderaldo agora cego

Em sonho teve uma visão

Cantando com muita fé

Para o Santo de Canindé

E acordou com a impressão.

 

 

 

 

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De que dali pra adiante

Poderia abraçar

A arte dos violeiros

A cultura popular

Arranjou uma viola

Tirou logo da sacola

E aprendeu a tocar.

 

Quando tudo parecia

Que tudo estava bem

Veio a morte sorrateira

E levou sua mãe também

Sentiu-se ali sozinho

No sertão seguiu caminho

E dali foi mais além.

 

Percorreu o Ceará,

Pernambuco, Piauí

Desafiando sem medo

Os repentistas dali

E tinha boa munheca

Tocando a sua rabeca

De madeira de pequi.

 

Falando de desafio

Um é muito comentado

Foi um tal de Zé Pretinho

Que chegou desavisado

Querendo humilhar o Cego

Dando caixote com prego

Pro pobre ficar sentado.

 

 

 

 

 

 

 

Zé Pretinho se deu mal

Simplesmente até achara

Que Aderaldo era fraco

Arigó, pau-de-arara

No fim saiu de mansinho

E o Cego cantou sozinho:

“pagará a paca cara.”

 

Seu nome virou destaque

Por este mundão inteiro

Se falasse em três pessoas

Do nordeste brasileiro

A memória nem atiço

Lembro logo Padre Ciço

Aderaldo e o cangaceiro.

 

Lampião com toda fama

Também reverenciou

O grande Cego Aderaldo

Que um dia lhe visitou

Vendeu no meio do mato

Perfume de fino trato

Até cinema levou.

 

Maranhão, Pará, São Paulo,

Rio de janeiro e Bahia

Foram privilegiados

De ouvir a poesia

De Aderaldo Ferreira

Hoje minha Bandeira

Que empunho com alegria.

 

 

 

 

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Foi retratado em filmes

E muito bem retratado

Rosemberg Cariry

Amigo, muito obrigado

Também sei que em Quixadá

Tem uma casa que está

Preservando o legado.

 

Do poeta que deixou

Um exemplo pra seguir

Mesmo com dificuldades

Não podemos desistir

A Casa Cego Aderaldo

Da Secult tem respaldo

Pois sabe bem refletir.

 

A luz que emana arte

Repente, cordel, cantoria

O Instituto Dragão

Hoje é o nosso guia

Neste vinte e três de junho

Cordelizo e testemunho

De Cego Aderaldo o dia.

 

Nós temos a obrigação

De zelar nosso passado

A cultura tradicional

Não deve ficar de lado

Divulgando os saberes

E também nosso fazeres

É construir um legado.

 

 

 

 

 

 

 


RACHEL DE QUEIRÓZ, O 15 E OUTRAS CONQUISTAS


 

 


Meu Jesus de Nazaré

Ilumine a minha mente

Com a luz da inspiração

Pra que eu possa simplesmente

Fazer esta narrativa

Com rima bem criativa

E assim mostrar fielmente.

 

Que tudo no mundo é possível

Se houver determinação,

Se for fiel a seu Deus,

Se amar a sua nação,

Se tiver muita vontade

De vencer com humildade,

Trabalho e obstinação.

 

O ser humano na história

Tem mostrado o seu valor

Na ciência e na cultura

Grande legado deixou.

Este ser racional

Quando não faz nenhum mal

Prova que é merecedor.

 

Eu vou citar um exemplo

De uma mulher brasileira,

Que venceu o preconceito,

Rompeu todas as barreiras.

Através de muito estudo

Ela conseguiu de tudo

Empunhando a Bandeira.

 

 

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A Bandeira da Verdade,

Da cultura e do Saber,

Em  nossa Literatura

É impossível esquecer,

Na Fase do Modernismo,

Na área do Regionalismo

Fez seu nome conhecer.

 

Ela que tinha o Dom

Do fio do Pensamento

Escreveu a sua terra,

Seu povo em seu sofrimento.

Naquele Verão Feroz

Nasceu Rachel de Queiróz

Pra dar seu depoimento.

 

Muita gente então vivia

Sem ter o conhecimento,

Das consequências da Seca

Do imenso sofrimento

Quando a chuva não caia

O nordestino padecia

Sem água e sem alimento

 

Foi fugindo de tal seca

Que ela deixou seu lugar,

Foi pro Rio de Janeiro

Depois, Belém do Pará

Aos setes anos de idade

Rachel só tinha vontade

De aprender, de estudar.

 

 

 

 

 

Aos nove anos retorna

A sua terra natal,

Aos quinze anos se forma,

No antigo curso normal,

Tornando-se então professora

Porém a nossa escritora

Queria algo especial.

 

Naquela época a Mulher

Não tinha nenhum valor,

Era logo censurada

E vista com muito horror,

Se ela manifestasse

Ou pelo menos sonhasse

Contra o homem se opor.

 

Se opor significava

Fazer o que o homem fazia,

Ou pensar da mesma forma

Era alvo de zombaria

A mulher se limitava

Ao lar que tão bem zelava

Ou mal  vista ela seria.

 

Rachel dedicou-se à leitura

Escrevendo apontamento

Que guardava esperando

Publicar em algum momento

E mostrar pra sociedade

Sua criatividade

A luz do seu pensamento.

 

 

 

 

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No ano de vinte e sete

No jornal "O Ceará”

Com um pseudônimo escreve

E consegue  publicar

Uma carta de protesto

Que foi vista com sucesso

E a convidaram a trabalhar.

 

No jornal por muitos anos

Como uma colunista,

Onde cunhou com palavras

A arte do jornalista,

E assim, Rachel de Queiroz

Escrevendo a sua voz

A liberdade Conquista.

 

Era agosto de Trinta

Com mais de mil exemplares

Publica o livro "O Quinze” •

Conquistando os populares

O livro é tão bem recebido

Que na época foi o mais lido

Nas escolas e nos lares.

 

"O Quinze"então lhe rendeu

Homenagem e respeito.

Rachel abril as fronteiras

Simplesmente do seu jeito.

Para o povo japonês,

Israelense e francês

Escreveu sem preconceito.

 

 

 

 

 

 

 

Na Alemanha também

“O Quinze" foi publicado,

Até o Norte - Americano

Ficou muito encantado.

Mas a sua maior glória

Foi entrar para a história

Por sua obra, seu legado.

 

No ano de setenta e sete

Na Academia de Letras

Tornou-se a primeira mulher

Naquela instituição eleita.

A primeira imortal

Grande orgulho Nacional

Sob nenhuma suspeita.

 

Sou poeta cearense

E mamãe me batizou

Com o nome Antonio de Pádua

O Queiróz ela herdou

Sobrenome que tem peso

Sou livre,  não vivo preso

Cearense eu sei que sou.

 

Terra de escritores

Orgulho nacional

Terra de Eudes Bandeira

Que acolheu Lourival

Terra que eu amo e digo

Que aqui nasceu meu amigo

Professor Elder Vidal.

 

 

 

60

 

 

 

 


Eu amo meu Ceará

Terra de Rachel de Queiróz

Que escreveu fartamente

A escrita foi sua voz

Que bradou no mundo a fora

A tal seca que devora

A  terra de meus avós.

 

Patativa do Assaré

Falou em sua poesia

Luiz Gonzaga cantou

Com sua voz e harmonia

E a nossa escritora

Com sua lavra reveladora

Deixou para nossos dias.

 

Esta mensagem real

O QUINZE, é assim que vejo

Por isso presto homenagem

No meu repente e lampejo

A esta mulher guerreira

Brava gente brasileira

Que desejou o que eu desejo.

 

Eu desejo que o aluno

Seu exemplo sempre siga

Sonhe sempre e realize

Vá em frente e persiga

E quem nasceu nesta terra

Pode até fugir da guerra

Porém não foge da briga.

 

 

 

 

 

 

 


CHICO SOARES, O PROFETA DA CHUVA

 


Nem FUNCEME, seus satélites

E suas pesquisas espaciais

Podem prever com firmeza

Os períodos invernais...

Ninguém sabe mais que Deus

Somente Ele é capaz.

 

De mandar um ano de chuva

Ou então dois de estiada

Ou um ano de sol brabo

Ou dois anos de chuvarada

Só Deus sabe a hora exata

Que começa a invernada.

 

Eu mesmo vou lhe dizer

Que é difícil acreditar

Pois tem coisa que Deus fez

Que ninguém vai copiar

Matuto que prevê chuva

E poeta que sabe rimar.

 

É por isso que eu falo

Tem coisa que só Deus faz

Porém o que eu mais respeito

E tenho carinho demais

É o profeta da chuva

Que decifra os sinais.

 

Que apresenta a fauna e flora

Que dependem do inverno

Juro que não levo em conta

Equipamento moderno

Usado por estes homens

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Engravatado e de terno.

 

 

O cabra pode ser formado

Na tal de meteorologia

Cumulus nimbus, ..., etc

Não creio na teoria

Pois quem diz que vai chover

É o cantado da Jia.

 

Pergunte a Chico Soares

Da Lagoa de São João

Se no ano que vem vai ser

Boa a safra do feijão

Ele é profeta e sabe

Fazendo a observação.

 

É desde os quarenta anos

Que o “Seu Chico” espia

A natureza e faz

Com maior maestria

As previsões do inverno

E o povo nele confia.

 

Na Região do Maciço

Profeta igual não tem

Vou dizer a sua idade

Acredite, ele fez Cem

Está velho, mas não perde

O seu trono pra ninguém.

 

Os sinais vou lhe dizer

Não é papo de velhice

Se a Lua pender pro sul

Não plante que é tolice

Porém se pender pro norte

O inverno é bom, ele disse.

 

 

Também no mês de Janeiro

Se ouvir um trovão ao norte

Pode preparar a terra

Porque o inverno é forte

E trovejando para o Sul

Com certeza é triste sorte.

 

De Agosto pra Setembro

É preciso observar

A formiga noite e dia

Começar a trabalhar

Pode ficar tranquilo

Bom inverno vai chegar.

 

De Novembro pra Dezembro

Se ouvir o pássaro Carão

Cantando lá na lagoa

É chuva no meu sertão

Selecione a semente

E vá preparando o chão.

 

Mas o canto da Acauã

Do mau agouro é um sinal

Somente com muita reza

Pro Senhor Celestial

Para o homem sertanejo

Ter um período invernal.

 

Quando o cupim cria asas

Voando pelo terreiro

É sinal de que a chuva

Já começa em janeiro

E o inverno “é do bom”

Colhe quem planta primeiro.

 

62

 

 

 


Vinte e cinco de Dezembro

Aniversário de Jesus

No amanhecer do dia

Uma linda barra de luz

Aparecer no horizonte

Faça o sinal da cruz.

 

Porque o inverno vem

Do jeitinho que é pra ser

O sertão vai ficar verde

E bonito de se ver

E a mesa vai ficar farta

De tudo pra se comer.

 

O pau D’arco quando flora

Bem perto do fim do ano

É o sinal que Deus Pai

Criador e soberano

Vai mandar chuva pra nós

Realizar nosso plano.

 

De plantar milho e fava,

O jerimum e o feijão,

Tudo o que quiser plantar

Dar de tudo e de montão

Vai ter festa com fartura

No dia de São João.

 

Diz o profeta da chuva:

O homem tem que ter fé

E se todos esses sinais

Não for do jeito que é

Espere a chuva cair

No dia de São José.

 

 

 

 

Parabéns grande profeta

Sertanejo operário

Parabéns mais uma vez

Por este seu centenário

Um século passou diante

De seu trabalho diário.

 

Sessenta anos “Seu Chico”

Tem fazendo previsão

Mas cem anos de existência

Ele tem neste sertão

Já viu o flagelo da seca

A fome, a falta do pão.

 

Viu também muita fartura

E muito mais ainda vai ver

Filhos, netos e bisnetos

Para alegrar seu viver

E eu que sou da cidade

Tive a felicidade

De poder lhe conhecer.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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UNILAB, UM ELO CULTURAL

 


Tá na mídia o meu cordel

E feliz por isso estou

Respeito e consideração

Minha arte conquistou

De norte a sul do país

Rimo porque sou feliz

E brasileiro eu sou.

 

Cabo Verde, Moçambique,

Angola, Guiné Bissau,

Brasil, São Tomé e Principe,

Timor Leste e Portugal

Com essa Lusofonia

Meto a sola na poesia

E faço um elo Cultural.

 

Com o idioma falado

Por esses oito países

E eu sei que na UNILAB

Somos iguais e felizes

E ninguém vai me amordaçar

Quando eu começar a falar

Sobre as nossas raízes.

 

Dizem que os cordelistas

Sempre aumentam um ponto

Após ouvir um boato,

Uma história, um conto

Mas uma coisinha eu digo

O cordel está comigo

Quando eu escrevo apronto.

 

 

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E mesmo com o advento

Da bendita Internet

A confecção do cordel

Ainda hoje se repete

É difícil de escrever

Porem fácil de entender

E não precisa enquete.

 

Pra perguntar se o povo

Ainda curte o cordel

Que é muito apreciado

Tem até público fiel

Vem gente de todo lugar

Quando eu começo a rimar

Vem até quem foi pro Céu.

 

Por isso para ouvir

Os meus versos eu convidei

Os pintores Michellângelo

E Boticelli que encontrei

Pintando com Raphael

Nos Campos Eliseos do céu

Um afresco que encomendei.

 

Nicolau Maquiavel,

Camões que é patrício meu

Erasmo de Rotterdan,

Isaac Nilton e Gallileu,

Gil Vicente, o português

Que também por sua vez

Os seus cordéis escreveu.

 

 

 

 

 

E também Martin Luthero

Que dividiu uma religião

Luiz Gonzaga e Beethovem,

Saladino, o sultão

Voltaire e Renê Descartes

Ouvirão a minha arte

Que é cultura e educação.

 

Já que eu toquei neste assunto

Educação e cultura

A UNILAB hoje abre

Grande espaço pra leitura

E o livro companheiro

Para o povo estrangeiro

Oferece uma aventura.

 

Porque ler é viajar

No carro do pensamento

Então convido a você

Neste exato momento

Embarcar em uma nau

Que zarpou de Portugal

Na época do descobrimento.

 

Quando por aqui chegou

Pedro Alvares Cabral

Em busca de um porto seguro

Fugindo de um temporal

Pero Vaz de Caminha

Relatou em suas linhas

Para o rei de Portugal:

 

 

 

65

 

 

 

 


Majestade, soberano!

Encontramos “El dorado”,

Tem de tudo nesta terra

Prata e ouro aos bocados,

Tem também muita madeira

Lhe garanto é de primeira

E tem mulher pra todo lado!

 

Logo que Dom Manuel

Leu a carta de caminha

Tomou posse do “achado”

Colonizando a terrinha

Fazendo do povo nativo

Submisso e cativo

Para extrair o que tinha.

 

O ouro que reluzia

A madeira rara e forte

E tudo mais que existia

No Brasil de Sul a Norte

Mas o índio brasileiro

Embora fosse guerreiro

Sucumbiu a infeliz sorte.

 

O trabalho era pesado

E não deu pra suportar

O sangue encharcou a terra

E o povo de “Além-mar”

De maneira desumana

Lá das terras africanas

Resolveu trazer pra cá.

 

 

 

 

 

 

 

Este povo sofreu muito

Só por ter uma bela cor

O lusitano insensato

Só pensava no valor

E o lucro que aumentava

Do trabalho que prestava

Aquele povo sofredor.

 

Surgiram os “abolicionistas”

De ideia inovadora

O movimento cresceu

De forma avassaladora

E no palácio real

Assinaram afinal

A lei maior redentora.

 

É certo que veio tarde

Mas debaixo deste céu

Foi assinada a “Lei Aurea”

Pela Princesa Isabel

Que pagou com o seu trono

Ao senhor que era dono

De escravos, tão cruel.

 

E proclamaram a Republica

Acabando a monarquia

O império do preconceito

Predomina em nossos dias

E sou brasileiro mestiço

Sou poeta do Maciço

E escrevo com alegria.

 

 

 

 

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Porque temos a UNILAB

Onde isso não tem vez

Tem Guinéense, Agolano,

Caboverdense, Português,

Tem gente do Timor Leste

Dando aula no Nordeste

Pondo fim na estupidez.

 

De que o negro é diferente

E não tem nenhum direito

A UNILAB nasceu

Pra que que um mutuo respeito

Luso-Afro brasileiro

Mostre para o mundo inteiro

Que o mundo unido é perfeito.

 

Nessa arte que nasceu

Para o povo oralmente

Saúda meus ancestrais

Nas linhas do meu repente

O amor é universal

E todo mundo é igual

E ninguém é diferente.

 

E a todos na UNILAB

Só me resta agradecer

Por deixar que minha arte

Possa dessa forma ser

Uma ferramenta didática

Pra essa gente fantástica

Ensinar e aprender.

 

 

 

 

 

 

 


O BARBEIRO DE CHAGAS

 


Triatoma Infestans

É o meu nome verdadeiro

Mas tenho várias alcunhas

Por esse Brasil inteiro

Bicudo, Procotó, Fincão

Chupança ou mesmo Chupão

Sou o famoso barbeiro.

 

Por isso eu peço a você

Que leia com atenção

Este trabalho importante

Para a sua orientação

A minha existência propaga

A tal doença de Chagas

Que aflinge a População.

 

Vou começar essa história

Recordando o passado

Para você no presente

Ficar melhor informado

Para viver no futuro

Se sentindo mais seguro

Saudável e desassombrado.

 

No Instituto de Manguinhos

Oswaldo Cruz já havia

Erradicado várias doenças

Com as pesquisas que fazia

E já era naquele tempo

Referência e exemplo

De um país que evoluía.

 

 

67

 

 

 


Caminhando lado a lado

Com a Ordem e Progresso

Desbravando os Sertões

Vislumbrando o sucesso

Na construção de uma Ferrovia

Algo estranho acontecia

E vou relatar em meus versos.

 

Os operários da Obra

Sabiam que já não dava

Trabalhar sob a ameaça

Da malária que ceifava

A vida de quem vivia

Na área da ferrovia

Que aos poucos avançava.

 

A malária é uma parasitose

Transmitida pelo mosquito

E também tem vários nomes

Que eu acho esquisito

É paludismo, é maleita

E pra acabar esta desfeita

Procuraram um perito.

 

Porque existia um homem

Capaz e extraordinário

Para diagnosticar o mal

Que maltratava os operários

Oswaldo cordialmente

Prometeu aquela gente

O que fosse necessário.

 

 

 

 

 

Oswaldo Cruz confiante

Pensou: agora é a vez

Do amigo Carlos Chagas

Que em Mil Novecentos e três

Conseguiu seu doutorado

Após ter demonstrado

Discernimento e sensatez.

 

Seu Mestre o conhecia

E com muita confiança

Lhe confiou esta empreitada

Como faz uma liderança

E para o Rincão Mineiro

Carlos Chagas, prazeteiro

Partiu cheio de esperança.

 

Em Mil Novecentos e Sete

No histórico lugarejo

Lassance, Minas Gerais

Ambiente sertanejo

Alojou-se num vagão

Seu Lar a partir de então

Onde mostrou seu desejo.

 

Mesmo longe da família

E do aconchego do Lar

Seu desejo e pensamento

Somente era Trabalhar

Carlos Chagas aplicado

Logo viu o resultado

De seu trabalho brotar.

 

 

 

 

68

 

 

 


Em sua faxina diária

Higienizava o ambiente

Tratava de várias pessoas

Que apareciam doentes

Mas ao notar um raro sintoma

Foi fazendo a sua soma

Onde chegou simplesmente.

 

A essa feliz conclusão

Carlos era mesmo esperto

Notou que muitos chegavam

Picados por um inseto

Bem maior que um mosquito

Porem muito esquisito

Com certeza estava perto.

 

Catalogou minha espécie

Estudou minha rotina

Porque ele tinha certeza

Que eu causava a ruína

Pra FIOCRUZ fui enviado

Com perícia dissecado

E veja só que Triste Sina.

 

Acharam em meu intestino

Um tipo de PROTOZOÁRIO

Um ser vivo microscópico

De hábitos parasitários

Eu era um simples vetor

E não o maior causador

Da doença dos operários.

 

 

 

 

 

 

 

E de Trypanosoma cruzi

Carlos Chagas batizou

Em homenagem aquele

Que um dia lhe confiou

Essa intricada missão

Naquele distante Sertão

Que com coragem abraçou.

 

Em Mil Novecentos e Nove

Uma menina doente

Chamada Berenice

Foi a primeira paciente

A Carlos Chagas apresentada

E carinhosamente tratada

Por ele pessoalmente.

 

E dividiu a doença

Causada pelo parasita

Em fases, aguda e crônica

Como um bom parasitologista

Diagnosticando a tempo

Facilitando o tratamento

Dessa doença esquisita.

 

E notou que a fase aguda

Poderia ser tratada

Enquanto a fase crônica

Não podia fazer nada

A não ser a prevenção

Como única solução

Ou melhor, uma caçada.

 

 

 

 

69

 

 

 


A mim que chupo sangue

E que durmo o dia inteiro

E saio somente a noite

Como faz um bom Barbeiro

Que mora em todos lugares

Casas de tijolos e lares

De pau-a-pique e galinheiro.

 

Naqueles tempos passados

Onde tudo era absurdo

Carlos Chagas publicou

Este seu brilhante estudo

Seu trabalho redobrado

Hoje em dia é um legado

Para o Brasil e o mundo.

 

Não recebeu o Premio Nobel

Conforme foi indicado

Mas a sua descoberta

Foi a soma do resultado

De uma mente brilhante

Com um trabalho incessante

De alguém capacitado.

 

As pesquisas avançaram

Conforme passaram os anos

E como reconhecimento

A este médico Sul-Americano

Em homenagem ao doutor

Que mostrou o seu valor

E respeito e ao ser humano.

 

 

 

 

 

 

 

Chamaram doença de Chagas

Este mal que tenho em mim

Mas não é minha picada

Que faz o homem ter fim

E sim as fezes que eu deixo

No rosto de quem eu beijo

Que adoece mesmo assim.

 

Hoje, Cem anos depois

Eu ando mais prevenido

Já não ataco somente

O pobre desprotegido

Vitimo a todo momento

Quem mora em apartamento

Quando eu sou atraído.

 

Para lugares que gosto

De fazer minha moradia

Frestas de paredes ôcas

Ou móveis sem serventia

Em todo lugar que eu chego

Já faço o meu aconchego

E minha prole se cria.

 

Lá em Santa Catarina

E em Belém aconteceu

No preparo de alimentos

Um Barbeiro primo meu

Foi sem ser percebido

Com cana e açaí moído

E muita gente adoeceu.

 

 

 

 

70

 

 

 


É importante lembrar

Que a FIOCRUZ hoje faz

O mesmo trabalho que outrora

Carlos Chagas foi capaz

Do Rio até Salvador

Vigilantes a esse vetor

Não dão trégua e nem paz.

 

A exemplo da Bahia

Que eu tenho o conhecimento

Pesquisam nessa doença

Testando medicamentos

O trabalho suplanta a morte

E eu sinto a minha sorte

Se esvaindo no momento.

 

Um dia na FRIOCRUZ

Ainda ponho minhas patas

Como o último Barbeiro

Que teve a missão ingrata

De ser o único vetor

Fiel e proliferador

Desse mal que tanto mata.

 

Só recebe homenagem

Quem trabalha, quem merece

E quem não tem competência

Nem mesmo se estabelece

O bem com o bem se paga

E o Dr. CARLOS CHAGAS

O Brasil jamais esquece.

 

 

 

 

 

 

 


UM CORDEL BIBLIOTERÁPICO

 


Em sextilha ou sete pés

Eu escrevo o meu cordel

Arte típica nordestina

Que eu sempre serei fiel

Transfiro meu pensamento

Para uma folha de papel.

 

Logo invento uma história

Que é gostosa de se ler

Muito embora o meu cordel

É difícil de escrever

Mas é muito apreciado

Porque é fácil de entender.

 

É um jornalista matuto

O poeta popular

E tudo vira noticia

Nesta arte de rimar

Por isso a biblioterapia

Em cordel vou divulgar.

 

Há males que a medicina

Não cura de jeito maneira

Depressão, ansiedade,

A velhice companheira

Estresse, bullying e luto

Só sei dizer: ô lasqueira!

 

Falta de perspectiva

Na vida de um deprimido

Nem querendo se consegue

Um trauma ser esquecido

Mas pra isso há tratamento

71

Pro caso ser resolvido.

 

 

Eu já passei em minha vida

Por problema semelhante

Me sentindo abandonado

Confesso, sofri bastante

Procurei especialistas

Que resolvesse num instante.

 

Aquela enfermidade

Que me deixou acamado

Porque eu não me alimentava

Mesmo estando acompanhado

Eu me sentia que estava

No Universo isolado.

 

O belo emprego que eu tinha

Eu perdi, pois meu patrão

De tanto me esperar

Assinou minha demissão

Ele não compreendia

A minha situação.

 

Tomei tudo que é remédio

Pra cabeça, perna e peito

Médicos me consultaram

Mas não sabiam direito

Diagnosticar meu problema

Que parecia sem jeito.

 

Mas certo dia um amigo

Foi então me visitar

Ao me ver todo engembrado

Disse-me; vou lhe aconselhar

O seu problema é psíquico

Já sei onde te levar!

 

 

E naquele mesmo dia

Me levou com decisão

A um grande especialista

Pra resolver a questão

E acabar de uma vez

Toda minha depressão.

 

Eu fui levado no colo

Porque forças eu não tinha

Chegamos num consultório

E para surpresa minha

Era uma biblioteca

Com divã e escrivaninha.

 

O homem que me atendeu

Foi dizendo simplesmente

Por favor, pegue este livro

Que está a sua frente

Deite ali no divã

E leia tranquilamente.

 

Há tempos que eu não lia

Nem notícias de jornais

Porém eu peguei o livro

Que eu não esqueço jamais

E por ser bastante surrado

Me interessou até demais.

 

O autor era Marco Polo

Que livro maravilhoso

O Livro das Maravilhas

Titulo muito curioso

Li apenas um capitulo

E era um texto tão gostoso.

 

72

 

 

 


Eu queria continuar

Lendo para ver o fim

Mas o bibliotecário

Foi dizendo logo assim:

Leve-o para sua casa

Depois devolva-o pra mim.

 

Eu confesso pra vocês

Que minha vida mudou

E a  alegria de viver

De repente então voltou

Solidão, angústia e medo

Tudo se dissipou.

 

A minha vida foi salva

Por uma simples atividade

A leitura abriu-me as portas

Para a tal felicidade

E hoje eu sou feliz

Agora veja a verdade.

 

A pessoa que eu achava

Ser um simples bibliotecário

Era um biblioterapeuta

Em seu trabalho diário

Que junto com a ASSALCE

Sabem que é necessário.

 

Para a saúde mental

Este tratamento que cura

O paciente através

De uma simples leitura

Eis a biblioterapia

Não conhece-la é loucura.

 

 

 

 

Vem do idioma grego

O termo biblioterapia

Também quero divulga-la

Pois é de grande valia

É a junção da palavra

Biblion com therapia.

 

Bliblion é relativo

A material de leitura

Therapia é o tratamento

Que restabelece e cura

A saúde de um enfermo

E está crescendo a procura.

 

Por este tipo de ajuda

Ou melhor este tratamento

E eu digo pra você

Sem  nenhum acanhamento

Que ler é viajar sentado

No carro do pensamento.

 

Hoje eu estou curado

E voltei a trabalhar

Pode chover pau e pedra

Nada mais vai me abalar

Porque tenho sempre um livro

Para me acompanhar.

 

 

 

 

 

 

 

 

73

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



OUTUBRO ROSA (A IGNORÂNCIA DE OLEGÁRIO)

 


Quero pedir neste instante

Ao Deus Pai do universo

Que ajude este poeta

Que não almeja o sucesso

Mas deseja informar

Ao povo do meu lugar

Na rima de cada verso.

 

Sobre este movimento

Que eu sei é muito importante

Promove a conscientização

A toda hora e todo instante

Através de vários meios

E eu digo sem aperreio

Pra mim é dignificante.

 

Dai a necessidade

De criar o Outubro Rosa

Neste mês, minha cidade

Está bonita e formosa

E então com minha arte

Vou fazendo a minha parte

Mas não vá pensar que é prosa.

 

Este assunto  que aborda

A saúde feminina

Desde a década de noventa

Este movimento ensina

Que um câncer detectável

Na mama também é tratável

Não é por demais ruina.

 

 

74

 

 

 


E por ser assintomático

Tem que se observar

Através de exames clínicos

Porém outra forma há

É o dito autoexame

E não é nenhum vexame

Uma mulher se tocar.

 

Quem se toca se previne

Não precisa timidez

Faça sempre o autoexame

Um dia em cada mês

Uma mulher prevenida

Dar valor a própria vida

E a dor não terá vez.

 

Sei que o câncer de mama

Mata, porém tem cura

Faça sempre o autoexame

Faça deste ato cultura

E também uma vez por ano

Não cometa um engano

E saia de um médico a procura.

 

Ele vai lhe atender

Por ser especialista

Mas tem que ser realmente

Um médico ginecologista

Realize um check-up

Não deixe que a sorte escape

Pode ser um mastologista.

 

 

 

 

 

Se infelizmente tiver

Um problema com você

Realmente vai ter tempo

Para algo se fazer

E mesmo sem ter prevenção

O câncer de mama não

Atrapalhará seu viver.

 

Observe em suas mamas

Tamanho, forma e cor

Se há secreção nos mamilos

Ou se sente alguma dor

Quando for tomar banho

E se houver algo estranho

Não precisa de pavor.

 

Vá num posto de saúde

Da cidade em que mora

Marque a sua consulta

Faça isso minha senhora

Vou contar o que aconteceu

A mulher de um amigo meu

Que não se importou na hora.

 

Quando observou um dia

Algo em si diferente

Um  seio avermelhado

Rugosidade aparente

Uma dor desagradável

Que ficou insuportável

E não contou pra sua gente.

 

 

 

 

75

 

 

 


Só depois de muitos meses

Não suportando a agonia

Contou para seu marido

Que naquele mesmo dia

Tomou aquela atitude

Foi a um posto de saúde

Com a esposa que padecia.

 

Fizeram um exame clinico

Onde foi detectado

No seio um tumor maligno

Já bastante adiantado

Fizeram MASTECTOMIA

E a enfermidade que havia

Com o seio foi retirado.

 

Aquela jovem senhora

Ficou tão de baixo astral

Que não queria sair

Mais daquele hospital

E logo um cirurgião

Disse eu tenho a solução

Pro seu problema afinal!

 

Logo após o tratamento

Pode ficar sossegada

A nossa equipe médica

Também está preparada

E a sua auto estima

Logo vai estar pra cima

Não se preocupe com nada.

 

 

 

 

 

 

 

Com um implante mamário

Reconstruiremos sua mama

Mas não esqueça jamais

Quem se toca, cuida e ama

Divulgue o Outubro Rosa

Para as jovens e idosas

Quem se cuida não reclama.

 

Com os olhos rasos d’água

A senhora lhe agradeceu

E até hoje conta a todos

Tudo o que lhe aconteceu

Dizendo: devo minha vida

Aquela equipe querida

Que no hospital me atendeu!

 

Mas é preciso lembrar

Nas linhas do meu repente

Que o tal câncer de mama

Não afeta simplesmente

Nosso gênero feminino

Até o sexo masculino

Sujeita a ficar doente.

 

Eu mesmo conheci um homem

Que morreu de câncer mamário

E foi exatamente no dia

Quando fez aniversário

Há tempos que ele sabia

A doença que ele tinha

E se chamava Olegário.

 

 

 

 

76

 

 

 


Morreu por ignorância

E nem procurou sequer

Um médico pra se tratar

Mas disse: se o destino quer

Quarenta anos tá bom

Mas não faço ultrassom

Com doença de mulher!

 

Por isso o Outubro Rosa

Foi criado para este fim

Compartilhar informações

Para quem pensa assim

E eu sou homem com “H”

Também vou me consultar

Porque eu gosto de mim.

 

Nasci em Baturité

No Bairro do Putiú

Sou poeta cordelista

Mais macho que Tijuaçú

Agora no próximo mês

Será então nossa vez

Porque o novembro é azul.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


SANTO INÁCIO DE LOYOLA E A DIVINA MAJESTADE


 

A Divina Providencia

Eu peço a inspiração

Que é dada aos poetas

Pelo Pai da criação

Sobre Inácio de Loyola

Lá das terras espanholas

Vou fazer uma narração.

 

Iñigo Lopez de Oñaz

Y Loyola, então nasceu

No Castelo de Loyola

Sobrenome que acolheu

Dezesseis anos de idade

Foi viver na orfandade

Quando seu pai faleceu.

 

Pois já não tinha mais mãe

Que morreu em sua infância

Foi morar com um parente

Homem de muita importância

Ministro de Dom Fenando

De Aragão que no comando

Reinou com tão relevância.

 

O antigo reino Castela

Aonde Inácio viveu

Onze anos como pajem

Daquele que o protegeu

Juan Velázquez Cuellar

Que não soube orientar

O jovem que ele acolheu.

 

 

77

 

 

 

 


Muito embora tenha tido

Uma boa formação

Aprimorada cultura

Viu na guerra a razão

Entregou-se a vaidade

Também a leviandade

Na corte foi cortesão.

 

Até os vinte e seis anos

De idade foi assim

Sem uma perspectiva

De uma vida ruim.

Mas no mundo tudo passa

E seu tutor em desgraça

De repente teve fim.

 

Toda aquela riqueza

E a posição que ele tinha

Com a morte de Dom Fernando

E com a ordem da Rainha

Seus bens desapropriados

Deixando os nobres “coitados”

Só com a espada na bainha.

 

Inácio então dispôs

A serviço sua espada

Ao vice-rei de Navarra

E numa luta travada

Em defesa de Pamplona

Numa carnificina humana

Sua perna foi decepada.

 

 

 

 

 

Por um tiro de canhão

Da artilharia francesa

E foi este ferimento

Que mudou sua natureza

Ao voltar pra seu castelo

Em Loyola que tão belo

Não findou sua tristeza.

 

Enquanto convalescia

Dos terríveis ferimentos

Inácio achou nos livros

Alivio paro os sofrimentos

Na leitura encontrou isto

Lendo a vida de Cristo

E os seus ensinamentos.

 

E foi um sinal de Deus

Porque sentia a mudança

Um sentimento de paz

Nem mesmo quando criança

O seu coração sentia

Jesus Cristo preenchia

Seu coração de esperança.

 

Rodolfo da Saxônia

Era o autor do livro escrito

Em latim a “Vita Christi”

Tradução: Vida de Cristo

Que fez o convalescente

Ver um mundo de diferente

Ver um mundo mais bonito.

 

 

 

 

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E após essa leitura

Disse adeus à vaidade

E aos desejos mundanos

Jurando assim, na verdade

Dedicar a sua vida

Sempre com a mão estendida

À “Divina Majestade”.

 

Sarado dos ferimentos

Saiu de casa em segredo

Dirigindo-se ao Mosteiro

De Montserrat, ainda cedo.

Lá confessou-se três dias

A imagem da Virgem Maria

Despido de orgulho e medo.

 

As suas roupas de luxo

Doou-as a um mendigo

Vestir-se com roupas simples

Ele assim jurou consigo

E o nobre de Loyola

Passou a viver de esmola

Tendo a fé como abrigo.

 

Passou por diversas provas:

Desânimo e aflição,

A incerteza, a duvida

Preencheu seu coração

Triunfou a harmonia

Pois fez da Virgem Maria

Sua maior devoção.

 

 

 

 

 

 

 

De Loyola à Catalunha

Mendigando, o peregrino

Chegou em Roma, Veneza

Jerusalém, seu destino

Pelos frades franciscanos

Foi recebido e seus planos

Viver no lugar Divino.

 

Porém os frades negaram

Por lá sua permanência

Inácio voltou pra Espanha

Com uma ideia na consciência

Formar um grupo de gente

E pregar dali pra frente

As obras da providencia.

 

Dedicou-se aos estudos

Do latim que era cultura

Com seu jeito tão singelo

De pregar as escrituras

Por onde Inácio passava

Muitas vezes incomodava

Importantíssimas figuras

 

Doutores da fé, teólogos

Líderes da religião

Alcalá,  Salamanca e Roma

Lhe fizeram acusação

Ao devoto de Maria

Por praticar heresia

Junto a Santa Inquisição.

 

 

 

 

79

 

 

 


Sua obra literária

Diante dos tribunais

Várias vezes examinada

Seus exercícios espirituais

Inácio manteve-se firme

Amar a Deus não é crime

E nada tinha demais.

 

Sem nenhuma renda fixa

Mantida por doações

E muitas vezes passando

Por diversas provações

Naquela época nascia

Para o mundo a companhia

De jesus para orações.

 

Além de ajudar o próximo

E a auto abnegação

A Santa Igreja Católica

Catequese e conversão

Santo Inácio de Loyola

Lá das terras espanholas

Cumpriu bem sua missão.

 

Há quase quinhentos anos

Que os padres Jesuítas

Trabalham em nome de Deus

Pra vida ser mais bonita

Viva Inácio de Loyola

E nossa igreja bendita!

 

 

 

 

 

 

 

 


JESUS MEU AMIGO


 

Peço a meu Deus Criador.

Com a fé inabalável

A mesma inspiração

De um poeta responsável

Pra descrever em cordel

Da maneira mais fiel

Meu Jesus tão formidável.

 

Que foi descrito nas páginas

Dos Evangelhos de Mateus,

João, Marcos e Lucas

Fiéis seguidores seu

Meu Jesus, meu Salvador

Príncipe da paz, do amor

Filho unigênito de Deus.

 

Que no princípio era o verbo

E o verbo com Deus estava

Porque o verbo era Deus

Maravilhas realizava

E Deus em seu filho Jesus

Se fez vida, era a luz

Que humanidade esperava.

 

Da linhagem de David.

Conforme estava previsto

Na cidade de Belém

Nasceu o menino Cristo.

Gloria a Deus nas alturas

Confirmadas as escrituras

Cantaram os anjos por isto.

 

 

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Nascido de uma Virgem

Da cidade de Nazaré

Esposa de um carpinteiro

Que se chamava José

Jesus Cristo, o nazareno

Cresceu com o jeito sereno

Sob os desígnios da fé.

 

E foi nas águas sagradas

Do belo rio Jordão

Que Jesus foi batizado

Por seu precursor João.

Que clamava no deserto:

Chegará o homem certo

Para nossa salvação.

 

João, que até pensaram

Ser ele o próprio Messias

Reconheceu em Jesus

Confirmadas as profecias.

E o Divino Espirito Santo

Cobriu de luz o seu manto

E com Ele sempre estaria.

 

Foi André irmão de Pedro

Que o seguira primeiro

E depois o próprio Pedro

Felipe foi o terceiro

Seguindo Natanael

Jesus foi mestre fiel

Amigo, irmão, companheiro.

 

 

 

 

 

No total doze discípulos

Jesus Cristo reuniu

Operou grandes milagres

O coxo andou, cego viu

Os possessos se acalmaram

Os mortos ressuscitaram

E o povo então lhe seguiu.

 

Ele pregou nas montanhas

Sua palavra de amor

E nas regiões mais distantes

O divino pregador

Falava de um mundo irmão

Insistiu que o perdão

Era conciliador.

 

Entre Deus e o homem

No Reino que anunciava

Nos mares, rios, cidades

Sua palavra ecoava.

O pregador peregrino

Realmente era Divino

Quem o ouvia afirmava.

 

Acabou-se o preconceito

Entre os povos rivais

E por onde Ele passava

Nem clamores e nem ais

Era tanta harmonia

Que o rabino transmitia

Que incomodou Caifás.

 

 

 

 

81

 

 

 


Que era sumo sacerdote

E astuto fariseu

Que seguia ao pé da letra

O ensinamento Judeu

Não enxergava em Jesus

Que Ele era a própria luz

Que guiaria o povo seu.

 

E passou a persegui-lo

Questionando-o, com ciladas

Porem Jesus com a verdade

Respondia sem mancada:

Eu falo em nome do Pai

Quem crer nele nunca vai

Ter alma desamparada.

 

Lá no Reino de meu Pai

Só o justo tem lugar

E ser justo é quem sabe

Sua palavra preservar

E seguir na retidão

E de todo coração

Seu próximo saber amar.

 

E certo dia Caifás

Juntamente com os seus

Interpelou Jesus Cristo

Diante dos fariseus:

É justo pagar imposto?

Jesus olhou em seu rosto

Dê a Deus o que é de Deus.

 

 

 

 

 

 

 

E a César o que é de César

Isto é o certo eu sei.

E porque não guarda o sábado

É notório, que eu falei?

Se no sábado você cura

Pelas nossas escrituras

Você transgrede nossa lei.

 

Falou Jesus novamente:

Milagres é Deus quem faz

Qualquer dia, qualquer hora

Somente Ele é capaz

O Sábado foi Deus que fez

Para o homem, e outra vez

Desarticulou Caifás.

 

Este sumo sacerdote

Não conseguiu corromper

Jesus Cristo, nem tampouco

Conseguia lhe prender

Tamanha era a multidão

Que lhe dava proteção

E articulou fazer.

 

Uma forma, um estratagema

Para sair vencedor

Subornando um discípulo

Então por um certo valor

Por fim venceu seu chicote

Porque Judas Iscariotes

Se tornara um traidor.

 

 

 

 

82

 


No Jardim Getsmâni

Jesus foi preso e levado

Diante do rei Herodes

Que não viu crime ou pecado

Levaram Ele à Pilatos

Que lavou as mãos no ato

Dizendo: não sou culpado.

 

Da morte deste inocente

Vocês resolvam a questão!

Caifás o levou ao povo

Que pediu condenação

Após sofrer violência

Jesus com benevolência

Pediu ao Pai, o perdão.

 

E assim entre dois ladrões

Jesus foi crucificado

Pelos pecados do mundo

Foi morto, depois sepultado.

No entanto pra nossa alegria

Simplesmente após três dias

O povo foi informado.

 

Que Jesus ressuscitara

Triunfando contra a morte

Pra guiar a humanidade

Contra as mazelas da sorte

E quando eu penso em jesus

Que a humanidade conduz

Eu me sinto até mais forte.

 

 

 

 

 


 

 

 

 


QUINTINO CUNHA, O PAI DO HUMOR CEARENSE

 


Mau humor não enche bucho

E não traz paz a ninguém

Quem estiver meio ranzinza

Lembre-se que existe alguém

Precisando de um sorriso

Pra poder sorrir também.

 

Por isso caro  leitor

Eu peço a sua atenção

Quero falar de alegria

Nesta minha narração

Sou cearense e o humor

Sempre foi minha vocação.

 

Eu sou Pádua de Queiróz

Sou poeta nordestino

Nasci em Baturité

E nos tempos de menino

Eu cresci ouvindo  histórias

E anedotas do Quintino.

 

José Quintino da Cunha

Nasceu em Itapajé

Mas parte de sua infância

Viveu em Baturité

Educado com carinho

Respeito, amor e fé.

 

Por seu pai João Quintino

Sua mãe Maximina

Carinhosamente chamada

Por seu filho de Mamina

Que foi uma mãe zelosa

83

E atenta na disciplina.

 

 

E igual a toda criança

Saudável e inteligente

Quintino Cunha brincava

Pela rua alegremente

Mas sempre se destacava

Por seu jeito diferente.

 

Desde menino que ele

Sempre aprontava das suas

Fosse dentro de casa

Na igreja ou nas ruas

Quintino Cunha Mandava

A galhofa nua e crua.

 

Um padre chamado Dantas

Aqui chegou transferido

Não conhecia a cidade

Porém se achava perdido

Até que avistou uma criança

Chamou e foi atendido.

 

Menino qual é seu nome?

Ele respondeu: sou José!

Então o padre lhe explicou

Ser novo em Baturité

Precisava ir nos correios

E perguntou: aonde é?

 

Dobre a direita, seu padre

E a esquerda em seguida

Tem uma praça e um prédio

A questão está resolvida

É lá que fica os correios

Desta cidade querida.

 

 

O padre logo percebeu

Que o pequeno era sabido

Convidou-o para o catecismo

Mas o menino atrevido

Perguntou: pra quê, seu padre?

Feito um homem entendido.

 

O padre olhou para criança

E foi tirando o chapéu

Respondeu com a voz pausada:

Lhe ensinar o caminho do Céu!

Mas o pobre padre Dantas

Quase ficou beleléu.

 

Com a resposta da criança

Que lhe disse sem receio:

Me desculpe meu bom padre

Não bote Deus neste meio

Eu sei que o senhor nem sabe

O caminho dos correios!

 

Certo dia sua mãe

Cuidadosa em seu lar

Guardou frutas numa cesta

Para merenda escolar

E percebeu que faltava

Uma e foi perguntar.

 

Para o pequeno Quintino

Sobre uma manga da fruteira

Que ela havia sentido falta

E sério, sem brincadeira

Ele então lhe explicou

Simplesmente dessa maneira:

 

84

 

 

 


Eu dei a um pobre menino

Que estava tão faminto

Mas só dei somente uma

É verdade eu não minto!

E ela exclamou: meu Deus

Quanto orgulho eu sinto!

 

Desse meu querido filho

Esse tem bom coração

Dividiu sua merenda

Com quem tinha precisão

Por essa nobre atitude

Você tem o meu perdão.

 

E quem foi esse menino

Que uma fruta você deu?

Meu responda, meu filhinho

Quero saber amor meu!

E ele disse: mamãezinha

Esse menino era eu!

 

Foram tantas e tantas

Que aprontou aquele menino

Que cresceu, tornou-se homem

Um orador de trato fino

Advogado e poeta

Humorista nordestino.

 

Foi bacharel em direito

E exerceu a profissão

De cidade em cidade

Serra, praia e sertão

Nunca rejeitou uma causa

Nunca perdeu uma questão.

 

 

 

 

Os seus feitos são lembrados

Até os dias atuais

Suas vitórias marcantes

Diante dos tribunais

Fizeram com que Quintino

Não fosse esquecido jamais.

 

E nas rodas de conversa

Quintino Cunha mandava

Um amigo sem resposta

Ele ali nunca deixava

Pra má sorte do infeliz

Que desavisado o abordava.

 

O senhor Nicolau Roncy

Também astuto e matreiro

Ao avistar seu amigo

Disse: salve, companheiro

Ilustríssimo e poeta

Grande médico e parteiro!

 

Quintino falou: no mundo

Não há gato que me arranhe

Sou poeta do Solimões

Caro Roncy, não se acanhe

Sou médico da sua alma

E parteiro da sua mãe!

 

Em destino a Juazeiro

Numa viagem de trem

De repente Quintino escuta

O pedido de alguém:

Traduza as iniciais

Que a locomotiva tem?

 

85

 

 

 


O trem subia a ladeira

Quase querendo descer

Quintino falou: amigo

Será que você não ver

Rapariga Velha Cansada

É a sigla R. V. C.  !

 

Pra tudo o nosso bacharel

Encontrava uma saída

Fosse de forma irônica

Ou de maneira atrevida

Não perdia a piada

E foi assim toda vida.

 

Mas quem brinca dar o mote

Para outra brincadeira

Três irmãs em Fortaleza

Agiram dessa maneira

Em Quintino puseram um rabo

Pra alegria da cabroeira,

 

Realmente o poeta

Não gostou da traquinagem

Passou quase cinco meses

Sem vê-las, e numa abordagem

Em um Domingo na igreja

Não lhe faltou a coragem.

 

Para dar o troco a elas

Com juros e correção

Ao vê-lo elas disseram

Salve, poeta e irmão

Porque desapareceu

Sem nos dar explicação?

 

 

 

 

Realmente minhas amigas

Confesso que fiquei brabo

Quando fui em sua casa

Quase que eu me acabo

Eu não esqueço aquele dia

Que vocês me deram o rabo!

 

As três irmãs com vergonha

Ficaram paralisadas

Até o padre ouviu

Naquela casa sagrada

Depois conto mais história

Que eu tenho na memória

Dessa figura engraçada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

86

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




O CÁGADO E A FESTA NO CÉU

 


Pode se achegar seu moço

Sente-se e tire o chapéu

Dona Maria, bem-vinda

Não precisar usar o véu

Menino, venha escutar

A história que vou contar

Sobre uma festa no céu.

 

São Pedro, o guardião

Do reino celestial

Resolveu fazer uma festa

Bem na época do natal

A notícia se espalhou

Mas o Santo avisou:

Aqui só entra animal!

 

Serão três dias de festas

Para homenagear

O aniversário de Cristo

Que nasceu para ensinar

A humanidade na terra

Que ao invés de fazer guerra

O melhor mesmo é amar.

 

Logo no primeiro dia

O céu já ficou lotado

O Macaco cantou rock

O Calango cantou xaxado

Tudo na maior decência

O Pavão cantou sofrência

Sem ficar desanimado.

 

 

87
{çç[?-

 

 

 


Sei que o Carcará dançou

Com a mulher do Urubu

A Pata dançou com o Ganso

A Galinha com o Peru

A Onça com a Raposa

O Peba com sua esposa

E a Jia com o Cururu.

 

A Cutia estava linda

Com um vestido de cipó

Dançou a noite inteirinha

Com o compadre Mocó

A Cabrita e o Cabritinho

Mas o pobre Porco-Espinho

Nesta noite dançou só.

 

Antes do nascer do dia

Chegou num belo Cavalo

O grande artista da festa

Você sabe de quem falo

Que ficou de camarote

Para ouvir o Capote

Cantando brega com o Galo.

 

Ambos  acompanhado

De uma bela orquestra

Graúna, Galo-Campina,

Sabiá, grande maestra

E a cantiga só parou

Quando o sol despontou

Anunciando o fim da festa.

 

 

 

 

 

Assim foi o primeiro dia

A festa foi um sucesso

O Cachorro e o Gato

Beberam, mas sem excesso

Garapa de rapadura

Para evitar a Censura

Do arquiteto do universo.

 

Lá na terra o comentário

Depressa se espalhou

A festança lá no céu

Foi o papo que rolou

O Jacaré, lá no rio

Disse: se lá fizer frio

Mesmo assim hoje eu vou.

 

O Cágado ficou sabendo

Através do Gavião

O quelônio pediu carona

E a rapina disse: não!

Você é muito pesado

E se eu chegar atrasado

Vou perder a diversão!

 

Mesmo assim devagarinho

O Cágado saiu na estrada

Apressado do seu jeito

Numa macha compassada

Mas enquanto ele ia

O sol já aparecia

E voltava a bicharada.

 

 

 

 

88

 

 

 


Assim o segundo dia

De festa chegou ao fim

E passando pelo Cágado

A Arara e o Soím:

Zombavam: meu camarada

Nessa sua caminhada

Não vai chegar nunca assim!

 

Realmente o pobre cágado

Estava desanimado

No último dia de festa

Nem chegaria atrasado

Quase dois dias na estrada

Avistava sua morada

Parecia estar parado.

 

Ele continuou andando

E sempre ouvindo lorota

Dos animais que já iam

Pro céu fazendo chacota

Alguns por puro capricho

Zombavam do pobre bicho

Mas chegou uma Gaivota.

 

Que vendo grande vontade

Força e determinação

Do cágado para ir à festa

Lhe falou: meu grande irmão

Hoje estou solteirona

Venha que te dou carona

Tá resolvida a questão!

 

 

 

 

 

 

 

O Cágado muito feliz

Montou com dificuldade

Na Gaivota que ali

Maquinava uma maldade

Ia sempre perguntando

Se ele estava avistando

Lá em baixo a cidade.

 

O cágado então falou:

Terra eu não vejo mais

Eu só vejo o azul

Dos salões celestiais

Eu quero ver só a cara

Do Soím e da Arara

Eita, vai ser bom demais!

 

Neste instante a Gaivota

Fez pirueta no ar

Ali largou sua carona

Que não sabia voar

E do céu foi despencando

Vendo o chão se aproximando

Começou logo a cantar:

 

Se desta escapar com vida

Passo a usar chapéu

Afastem-se pedras e paus

Léu, léu, léu, léu, ....

E quando no chão chegou

O cágado se espatifou

Perdeu a festa no céu.

 

 

 

 

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Mas Deus que sabe de tudo

Tudo escuta e tudo ver

Foi na terra com intenção

Do Cágado então socorrer

Juntou cada pedacinho

E devolveu ao bichinho

A vida para de viver.

 

Em paga do grande esforço

De tentar no céu chegar

Mesmo não tendo asas

Mesmo sem saber voar.

Deus lhe deu nadadeira

E assim dessa maneira

O dom de saber nadar.

 

Hoje se ver o Cágado

Num lago muito animado

Ou num rio com os peixes

Nadando bem sossegado

E se você reparar bem

Perceberá que ele tem

O seu casco remendado.

 

Quando uma estória termina

Logo, logo outra começa

Agora vamos conhecer

Os animais dessa peça

Quem conhece um Pavão

Por favor levante a mão

E me responda sem pressa?

 

 

 

 

 

 

 


O URUBU E A ONÇA

 


Meu fabuloso cordel

Eu escrevi com capricho

Ouvindo ali uma conversa

Mais adiante um cochicho

Embora não me intrometa

Em bate papo de bicho.

 

Mas tem coisa que a gente

Não pode ficar calado

Sei que a floresta é um reino

Para os bichos encantado

E vira jantar de onça

Quem não está preparado.

 

Para viver neste reino

Onde numa mesma linguagem

Os animais se entendem

Querendo levar vantagem

Ser mais forte na floresta

Não basta só ter coragem.

 

Lá uma onça pintada

Dizia ser a rainha

Por ser corajosa e forte

Adversário não tinha

Passava a noite na toca

Saía de manhãzinha.

 

Com uma fome lascada

Procurando o que comer

Quando os animais souberam

Começaram a se esconder

Com medo da grande onça

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Ninguém queria morrer.

 

 

O tatu entrou na toca

O papagaio voou

Gritando: lá vem a onça!

O macaco escutou

Numa árvore bem alta

Subiu e por lá ficou.

 

Nenhum som de passarinho

Nada, nem mesmo um ruído

Um silêncio absoluto

Todo bicho escondido

Até vento na mata

Tinha parado o zunido.

 

Depois de tanto andar

A grande onça malvada

Em pensamento dizia:

Êita que fome lascada

Está quase anoitecendo

Ainda não comi nada!

 

O macaco lá de cima

Da árvore escondidinho

Seguia os passos da onça

Que avistou no caminho

O coitado do urubu

Desavisado e sozinho.

 

A onça se animou

Como quem se escuta um tango

E disse: a fome que estou

Como até um orangotango

Mas com essa escassez

Pra mim urubu é frango!

 

 

Foi chegando de mansinho

Lentamente e suave

Mas antes de dar o bote

E agarrar a tal ave

O urubu foi dizendo:

Dona onça, não me agrave!

 

Espere eu terminar

De fazer minha refeição

Hoje cedo acordei

Com uma fome de Sansão

Deixe-me comer esta onça

Que lhe dou já atenção!

 

Realmente o urubu

Tinha um osso no bico.

Disse: aguarde sua vez

Que é pra não fazer fuxico

Hoje eu tenho certeza

Que com fome eu não fico!

 

A onça já se tremendo

Ficou logo aperreada

Deu a volta e saiu

Pela mata em disparada

Dizendo: vai comer outra

Sua ave esfomeada!

 

Com isso o urubu

Quase se entala com o osso

E deu tanta gargalhada

Dizendo: ainda sou moço,

Olha essa onça pensa

Que eu tenho cara de almoço!

 

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O macaco vendo aquela

Brincadeira, matutou:

Se eu contar que é marmota

Ela vai saber que sou

Seu amigo e protegido

Dela garanto que vou!

 

De um pulo só desceu

Com aquela intenção

Contar tudo para a onça

Toda aquela armação

Que o urubu fez com ela

E ter sua proteção.

 

Quando o macaco chegou

Na toca, disse: bom dia!

Lá dentro respondeu:

A porta é sua serventia.

Entre, amigo macaco,

Foi-se minha valentia!

 

A pobre onça estava

Na toca toda encolhida

Com medo do urubu

Com medo de ser comida

Um vexame desse nunca

Ela passou em sua vida.

 

Ele contou para ela

Todo o fato ocorrido

O urubu não passava

De um pássaro enxerido

E levaria ela lá

Se fosse seu protegido.

 

 

 

 

A onça disse: eu juro,

Você estando comigo

Nesta floresta jamais

Vai temer nenhum perigo

A partir desse momento

Você é meu único amigo!

 

E saíram a procura

Do urubu na floresta

O vento até já soprava

Os pássaros faziam festa

O tatu saiu da toca

Dizendo: escapei desta!

 

O urubu deu um voo

Rasante e depois pousou

Numa pedra pontiaguda

Que do alto avistou

A carcaça de um rato

Que logo saboreou.

 

Antes de limpar o bico

Olhou de rabo de olho

Viu o macaco montado

Na onça feito um piolho

E foi dizendo ao macaco:

Amigo, só falta o molho!

 

Fico muito agradecido

Nem sei como lhe pagar

Mas ainda estou com fome

E uma fome de lascar

Só você caro macaco

Pra trazer o meu jantar.

 

92

 

 

 


A onça deu um miado

Bem agudo, muito fino

E falou: este macaco

Quer selar o meu destino

Saia de cima de mim

Macaco mal e traquino.

 

Perdoe-me mestre urubu

Me escute bom rapaz

Vou morar noutra floresta

Por favor me deixe em paz

Não quero ser devorado

Por uma ave tão voraz.

 

A onça então foi embora

Tudo virou alegria

Ninguém mais se escondeu

Nem de noite, nem de dia

E o urubu virou rei

Na floresta da harmonia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


QUEM TUDO QUER, TUDO PERDE


 

Seu Chiquinho era um homem

Bastante trabalhador

Tinha como profissão

O ofício de lenhador

Morava com sua esposa

Maria, seu grande amor.

 

Bem cedinho acordava

Amolava seu machado

E se embrenhava na mata

Todo dia era sagrado

Voltava só à tardinha

Com fome e muito cansado.

 

Depois era só vender

A lenha para um freguês

Mas o negócio não ia

Muito bom naquele mês

Para comprar sua lenha

Não aparecia um Chinês.

 

Por isso ele deixava

A lenha toda arrumada

No terreiro bem em frente

De sua humilde morada

Esperando aparecer

Uma alma abençoada.

 

Para comprar sua lenha

Já que a necessidade

Da falta de alimento

Não lhe deixava a vontade

Trabalhava preocupado

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Naquela precariedade.

 

 

 

Até que em certo dia

Realizou uma venda

Chegou lá um homem rico

Dono de uma fazenda

Que comprou toda madeira

E fez outra encomenda.

 

Seu Chiquinho aceitou

E saiu com seu machado

Bem cedinho para o mato

Mas ficou desanimado

Quando viu que o local

Estava então descampado.

 

Todo dia desmatando

Já era de acontecer

Uma árvore ali

Era impossível se ver

Ele pensou, então disse:

Eu já sei o que fazer!

 

Vou subir aquela serra

Onde tem uma castanheira

É uma árvore gigante

E vai dar uma trabalheira

Porém durante um mês

Não me faltará madeira!

 

Andou quase meia hora

Com seu machado na mão

Chegou diante da árvore

Com tanta disposição

Quando deu uma machadada

Ouviu uma voz: não!

 

 

Deixou então seu machado

No tronco da árvore preso

Deu uma volta, espiou

Discretamente surpreso

Viu um pequeno menino

Como um graveto aceso.

 

Tinha os cabelos vermelhos

Estava descalço e nu

O lenhador perguntou:

Meu menino quem és tu?

Ele logo lhe respondeu:

Meu nome é Parakidu!

 

Eu sou filho desta mata

Meu amigo lenhador

Não faço mal a ninguém

Mas te peço por favor

Não derrube esta árvore

Sou um gênio protetor.

 

Caro gênio eu preciso

Esta árvore derrubar

Eu tenho uma encomenda

De lenha para entregar

Saiba menino que eu

Preciso me alimentar.

 

Parakidu, disse: moço!

Esta árvore é antiga

Ela é a mãe da floresta

E além do mais abriga

Pássaros e outros animais

Como uma verdadeira amiga.

 

94

 

 

 


Se o senhor desistir

Deste insano malfazejo

Não maltratar esta árvore

Onde vivo e protejo

Eu posso realizar

Agora mesmo um desejo!

 

Um desejo é muito pouco!

Disse então o lenhador:

Uma árvore tão grande

Pra mim tem grande valor

Três desejos, nada mais

E tem que ser o que for!

 

Três desejos, trato feito

Não conte nada a ninguém

A não ser uma pessoa

Que lhe queira muito bem

Mas pra quem você contar

O pedido vale também!

 

O lenhador satisfeito

Voltou pra sua morada

Deixou sua ferramenta

Naquela árvore encravada

Ao chegar contou tudo

O que houve pra sua amada.

 

Ela disse: meu amor

Isso é melhor que dinheiro

Mas agora estou com fome

Eu vou é pedir ligeiro

Uma linguiça assada

Eu sinto até o cheiro!

 

 

 

 

De repente apareceu

Assim como de surpresa

Uma grande e apetitosa

Linguiça calabresa

Foi o primeiro desejo

Exposto então na mesa.

 

O homem disse zangado:

Você não sabe o que quer.

Desperdiçou um desejo

Com um pedido qualquer

Eu quero que isso fique

Bem no seu nariz mulher!

 

Dito e feito, de repente

A linguiça voou

E no meio do nariz dela

Bem grudada ali ficou

E o segundo desejo

O homem desperdiçou.

 

A mulher desesperada

Foi logo perdendo a calma

Gritava ai meu nariz

Por Nossa Senhora da Palma

Me ajude por favor

Maridinho de minh’alma!

 

Tanto que a mulher pediu

Que o marido atendeu

Ele desejou e logo

Aquilo desapareceu

E o terceiro desejo

O gênio então concedeu.

 

95

 

 

 


Cumpriu a sua promessa

Dada ao lenhador

Três desejos, e nada mais

E sem tirar e nem por

Depois disso o pobre homem

Se tornou agricultor!

 

Quem quer tudo, tudo perde

E por fim fica sem nada

Parakidu, protetor

Da floresta maltratada

Disse que você contasse

Outra estória engraçada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


O BEM SE PAGA COM O BEM


 

Lá detrás daquela serra

Existe um mundo encantado

Homens e animais silvestres

Entendem o que é falado

Porem a lei do mais forte

Por lá não tem resultado.

 

O que vale neste mundo

É mesmo sabedoria

O Macaco Zé Bedeu

Isso sempre ele dizia.

De galho em galho pulando

Fazendo estrepolia.

 

E certo dia um Homem

Passando por um caminho

Quando de repente ouviu

O miado de um gatinho

Que dizia tristemente

Me ajude estou sozinho.

 

Eu cai nesta armadilha

E não sei o que fazer

Já faz mais de sete dias

Que não sei o que é comer

Por favor alguém me ajude

Eu não quero aqui morrer.

 

O Homem viu que não era

Na armadilha miando

Um Gatinho, e sim uma Onça

Que estava implorando

Ajuda, pois sua vida

96

Já estava se findando.

 

 

 

Foi dizendo: Deus me livre!

Fique aí prisioneira

Sua fama aqui na mata

Nunca foi de companheira

Posso virar refeição

Não vou dar essa bobeira!

 

Não sou ingrata, senhor

Por favor salve minha vida

Juro amigo, que serei

Uma Onça agradecida

Quase não posso falar

Sem forças, estou abatida.

 

O Homem vendo a onça

Num estado de dar dó

Bem depressa conseguiu

Ali na mata um cipó

Jogou no buraco e disse:

Faça na cintura um nó!

 

A Onça já amarrada

Disse: pode me puxar!

O Homem então conseguiu

O felino resgatar

Mas a Onça num impulso

Disse: vou lhe almoçar!

 

O Homem disse é assim

Que tu me pagas, ingrata

Por salvar a tua vida

E é assim que me trata

Saiba que lhe fiz o bem

Não seja tão insensata.

 

 

Após ouvir os apelos

Do homem, a Onça falou:

Tudo bem, meu camarada

Pra lhe mostrar que não sou

Ingrata e tão cruel

Agora mesmo eu vou.

 

Com você pelo caminho

Para ouvir três animais

Dependendo da opinião

Então direi se tu vais

Viver ou ser meu jantar

Que eu desejo demais.

 

O homem aceitou na hora

Pois não tinha opção

Encontraram um cavalo

Magro de dar compaixão

A Onça narrou o caso

Esperando o sim, ou não.

 

O Cavalo então disse

Quando jovem trabalhei

E foi com muito empenho

Que ao homem ajudei

Que ficou rico e esnobe

E como paga ganhei.

 

Abandono, fome e sede

Largado no matagal

Hoje eu estou doente

Sou um pobre animal

Só esperando a morte

O bem se paga com o mal.

 

97

 

 

 


Adiante depararam

Com um Boi que deu razão

Para a Onça, e reforçou

O porque da opinião

Contando-lhe a sua vida

De trabalho e a ingratidão.

 

Por ser um animal tranquilo

Nunca lhe causou danos

Trabalhou e foi fiel

Amigo por muitos anos

Porém esta amizade

Não estava em seus planos.

 

Fora vendido pra ser

Morto e retalhado

No açougue da cidade

Todo homem é malvado

O bem se paga com o mal

Na minha vida de gado.

 

A Onça lambia o beiço

Feliz naquela floresta

Quando de longe avistou

Nas arvores fazendo festa

Um Macaco e perguntou:

Que animação é esta?

 

O Macaco respondeu

Não estou fazendo pouco

É porque não acredito

Que este homem seja louco

Cair na própria armadilha

Não acredito tampouco.

 

 

 

 

Não foi ele quem caiu!

Disse a Onça: amigo meu

Quem caiu na armadilha

Caro Macaco, fui eu.

Este homem ia passando

E logo me socorreu.

 

Que lorota, Dona Onça

Vá mentir noutro lugar

Como é que pode um homem

Fraco assim libertar

Uma Onça grande e forte

Eu não posso acreditar!

 

A Onça disse: Macaco

Não conto, não faço prosa

Nesta mata sei que sou

Uma espécie perigosa

Mas confesso pra você

Nunca fui mentirosa.

 

E cheia de vaidade

Por se achar tão sincera

Foi até a armadilha

Onde presa estivera

Pulou pra dentro depressa

Dizendo com a voz severa.

 

Está vendo? Foi assim

Que eu cai no buraco

Este homem me ajudou

Ele não é tão fraco

Agora me tire daqui

Meu camarada Macaco!

 

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Dona Onça, te ajudar

Agora não me convém

Eu nasci nesta floresta

Jesus nasceu em Belém

O bem tu pagas com o mal

E eu pago o bem com o bem!

 

E foi embora com o homem

Feliz a lhe agradecer

Deixando aquela lição

Pra nunca mais esquecer

O bem se paga com o bem

E a Onça mal sem ninguém

Para enfim lhe socorrer.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Índice

 

01 – Minha história.

02 – Baturité, cidade mãe.

03 – Baturité nos trilhos da saudade.

04 – Putiú, o milagre.

05 – Os quilombolas do Evaristo.

06 – Conheça Baturité.

07 – No Putiú da minha infância.

08 – Eu só sei que foi assim.

09 – Quem acendeu Lampião.

10 – Padre Cícero, o santo do Juazeiro.

11 – José Lourenço, o beato do Caldeirão.

12 – Cego Aderaldo, a luz que emana a arte.

13 – Rachel de Queiróz, O 15 e outras conquistas.

14 – Chico Soares, o profeta da chuva.

15 – UNILAB, um elo cultural.

16 – O barbeiro de Chagas.

17 – Um cordel biblioterápico.

18 – Outubro Rosa (A ignorância de Olegário).

19 – Santo Inácio e a Divina Majestade.

20 – Jesus meu amigo.

21 – Quintino Cunha, o pai do humor cearense.

22 – O cágado e a festa no céu.

23 – O urubu e a onça.

24 – Quem tudo quer, tudo perde.

25 – O bem se paga com o bem.


 

 


*Esta coletânea contém meus primeiros cordéis, incluíndo “Quem acendeu Lampião” de 1986, que publiquei aos 15 anos de idade, com o passar do tempo fui aprimorando meu trabalho convivendo com grandes cordelistas e absolvendo o saber e a magia desta arte secular. Este livro é uma produção independente que tem como objetivo manter viva a arte e o hábito de ler cordel

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