O mais novo cordel de Pádua de Queiróz foi feito em homenagem ao Centenário da Descoberta da Doença de Chagas. Vejam o resultado da publicação.
(clique em cima da imagem que ampliará)
Cordel escrito exclusivamente para o Projeto Ciência na Estrada Educação e Cidadania, realizado pela Fundação Oswaldo Cruz na Bahia ciencianaestrada@bahia.fiocruz.br
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O BARBEIRO DE CHAGAS
Triatoma Infestans
É o meu nome verdadeiro
Mas tenho várias alcunhas
Por esse Brasil inteiro
Bicudo, Procotó, Fincão
Chupança ou mesmo Chupão
Sou o famoso barbeiro.
Por isso eu peço a você
Que leia com atenção
Este trabalho importante
Para a sua orientação
A minha existência propaga
A tal doença de Chagas
Que aflinge a População.
Vou começar essa história
Recordando o passado
Para você no presente
Ficar melhor informado
Para viver no futuro
Se sentindo mais seguro
Saudável e desassombrado.
No Instituto de Manguinhos
Oswaldo Cruz já havia
Erradicado várias doenças
Com as pesquisas que fazia
E já era naquele tempo
Referência e exemplo
De um país que evoluía.
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Caminhando lado a lado
Com a Ordem e Progresso
Desbravando os Sertões
Vislumbrando o sucesso
Na construção de uma Ferrovia
Algo estranho acontecia
E vou relatar em meus versos.
Os operários da Obra
Sabiam que já não dava
Trabalhar sob a ameaça
Da malária que ceifava
A vida de quem vivia
Na área da ferrovia
Que aos poucos avançava
A malária é uma parasitose
Transmitida pelo mosquito
E também tem vários nomes
Que eu acho esquisito
É paludismo, é maleita
E pra acabar esta desfeita
Procuraram um perito.
Porque existia um homem
Capaz e extraordinário
Para diagnosticar o mal
Que maltratava os operários
Oswaldo cordialmente
Prometeu aquela gente
O que fosse necessário
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Oswaldo Cruz confiante
Pensou: agora é a vez
Do amigo Carlos Chagas
Que em Mil Novecentos e três
Conseguiu seu doutorado
Após ter demonstrado
Discernimento e sensatez.
Seu Mestre o conhecia
E com muita confiança
Lhe confiou esta empreitada
Como faz uma liderança
E para o Rincão Mineiro
Carlos Chagas, prazeteiro
Partiu cheio de esperança.
Em Mil Novecentos e Sete
No histórico lugarejo
Lassance, Minas Gerais
Ambiente sertanejo
Alojou-se num vagão
Seu Lar a partir de então
Onde mostrou seu desejo.
Mesmo longe da família
E do aconchego do Lar
Seu desejo e pensamento
Somente era Trabalhar
Carlos Chagas aplicado
Logo viu o resultado
De seu trabalho brotar.
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Em sua faxina diária
Higienizava o ambiente
Tratava de várias pessoas
Que apareciam doentes
Mas ao notar um raro sintoma
Foi fazendo a sua soma
Onde chegou simplesmente.
A essa feliz conclusão
Carlos era mesmo esperto
Notou que muitos chegavam
Picados por um inseto
Bem maior que um mosquito
Porem muito esquisito
Com certeza estava perto.
Catalogou minha espécie
Estudou minha rotina
Porque ele tinha certeza
Que eu causava a ruína
Pra FIOCRUZ fui enviado
Com perícia dissecado
E veja só que Triste Sina.
Acharam em meu intestino
Um tipo de PROTOZOÁRIO
Um ser vivo microscópico
De hábitos parasitários
Eu era um simples vetor
E não o maior causador
Da doença dos operários.
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E de Trypanosoma cruzi
Carlos Chagas batizou
Em homenagem aquele
Que um dia lhe confiou
Essa intricada missão
Naquele distante Sertão
Que com coragem abraçou.
Em Mil Novecentos e Nove
Uma menina doente
Chamada Berenice
Foi a primeira paciente
A Carlos Chagas apresentada
E carinhosamente tratada
Por ele pessoalmente.
E dividiu a doença
Causada pelo parasita
Em fases, aguda e crônica
Como um bom parasitologista
Diagnosticando a tempo
Facilitando o tratamento
Dessa doença esquisita.
E notou que a fase aguda
Poderia ser tratada
Enquanto a fase crônica
Não podia fazer nada
A não ser a prevenção
Como única solução
Ou melhor, uma caçada.
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A mim que chupo sangue
E que durmo o dia inteiro
E saio somente a noite
Como faz um bom Barbeiro
Que mora em todos lugares
Casas de tijolos e lares
De pau-a-pique e galinheiro.
Naqueles tempos passados
Onde tudo era absurdo
Carlos Chagas publicou
Este seu brilhante estudo
Seu trabalho redobrado
Hoje em dia é um legado
Para o Brasil e o mundo.
Não recebeu o Premio Nobel
Conforme foi indicado
Mas a sua descoberta
Foi a soma do resultado
De uma mente brilhante
Com um trabalho incessante
De alguém capacitado.
As pesquisas avançaram
Conforme passaram os anos
E como reconhecimento
A este médico Sul-Americano
Em homenagem ao doutor
Que mostrou o seu valor
E respeito e ao ser humano.
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Chamaram doença de Chagas
Este mal que tenho em mim
Mas não é minha picada
Que faz o homem ter fim
E sim as fezes que eu deixo
No rosto de quem eu beijo
Que adoece mesmo assim.
Hoje, Cem anos depois
Eu ando mais prevenido
Já não ataco somente
O pobre desprotegido
Vitimo a todo momento
Quem mora em apartamento
Quando eu sou atraído.
Para lugares que gosto
De fazer minha moradia
Frestas de paredes ôcas
Ou móveis sem serventia
Em todo lugar que eu chego
Já faço o meu aconchego
E minha prole se cria.
Lá em Santa Catarina
E em Belém aconteceu
No preparo de alimentos
Um Barbeiro primo meu
Foi sem ser percebido
Com cana e açaí moído
E muita gente adoeceu.
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É importante lembrar
Que a FIOCRUZ hoje faz
O mesmo trabalho que outrora
Carlos Chagas foi capaz
Do Rio até Salvador
Vigilantes a esse vetor
Não dão trégua e nem paz.
A exemplo da Bahia
Que eu tenho o conhecimento
Pesquisam nessa doença
Testando medicamentos
O trabalho suplanta a morte
E eu sinto a minha sorte
Se esvaindo no momento.
Só recebe homenagem
Quem trabalha, quem merece
E quem não tem competência
Nem mesmo se estabelece
O bem com o bem se paga
E eu sei que CARLOS CHAGAS
O Brasil jamais esquece.
Um dia na FRIOCRUZ
Ainda ponho minhas patas
Como o último Barbeiro
Que teve a missão ingrata
De ser o único vetor
Fiel e proliferador
Desse mal que tanto mata.
Pádua de Queiroz – 14/03/2009
http://paduadequeirozcordelearte.blogspot.com
SOBRE O AUTOR:
Nada melhor do que o “Barbeiro de Chagas” para contar sua trajetória. Pádua de Queiróz, natural de Baturité – Ceará. Compositor, poeta e cordelista. Por ter reconhecido que a literatura fazia parte de sua vida, dedicou-se a escrever tronando-se um grande cordelista. Possui inúmeros cordéis abordando temáticas variadas, tendo como clássico “Os Quinze e Outras Conquistas”, em homenagem a Raquel de Queiróz e “Quem Acendeu Lampião”, um estudo sócio-político do nordeste brasileiro, na época “CANGACERÍSTICA”.
Faz palestra, compõe músicas e cordel por encomenda. Pádua tem em mente que, o que torna um poeta de coração vivo, é o reconhecimento dos seus trabalhos.
HTTP://paduadequeirozcordelearte.blogspot.com
CAPA E ILUSTRAÇÕES;
Ângelo Roberto, nascido em Ibicaraí (Ba), é cidadão Soteropolitano com título agraciado pela Câmara Municipal de Salvador. Cursou a Escola de Belas Artes da UFBA, sendo artista plástico mestre no bico-de-pena, além de dominar as técnicas de desenhos para cartoons e caricaturas. Autor de dezenas de capas de livros, ilustrador de jornais e revistas, realizou inúmeras exposições na Bahia, no Brasil e no exterior, mais recentemente em Lisboa, na “Casa da América Latina e na Universidade de Coimbra.
Distribuição gratuíta
paduadequeiroz@gmail.com
padua.dequeiroz@hotmail.com
(85)87924575
2 comentários:
Que lindo este cordel!
Ficou muito instrutivo!!!
Parabéns.
Vou colocá-lo no meu blog!
Adorei!!!
MUITO OBRIGADO AMIGA POR DIVULGAR NOSSO TRABALHO...ESTAMOS SEMPRE A DISPOSIÇÃO
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