13/01/2019

CACIQUE SOTERO, GUARDIÃO DA MEMÓRIA - PÁDUA DE QUEIRÓZ


Eu só sei dizer uma coisa
Que não me sai da memória:
Só existe uma maneira
De preservar a história.
É repassa-la adiante
Em um trabalho constante
De uma forma bem simplória.
O reisado, a cantoria
De viola e o cordel
Deixa-la ao esquecimento
É uma atitude cruel
Nós temos a necessidade
De uma continuidade
Pra fazer nosso papel.
O nordeste brasileiro
É uma fonte inesgotável
De cultura que aflora
Esquece-la é inaceitável
Eu me sinto orgulhoso
De ser um cabra teimoso
De uma alma inabalável.
E eu jamais esmoreço
E nem penso em parar
Essa mania de artista
Que escreve e sabe rimar.
Porque se eu desistir
Quem é que vai transmitir
Para o povo do lugar?
Todo os conhecimentos
Das culturas populares
O cordel dos cordelistas
O cantador e seus cantares
Não é complexo este assunto
Basta a gente chegar junto
E olhar com outros olhares.
Como mestre dos saberes
E saberes da nossa cultura
Eu vejo como um resgate
A minha literatura
E dessa forma eu espero
Falar do Cacique “Sotero”
Que é uma grande figura.
José Maria Pereira
Dos Santos, eu admiro
Pois sua lição de vida
Conhecimento adquiro
Cacique dos Kanindés
Este sim, É nota dez
Sua palavra é um tiro.
Certeiro nos corações
Dos ditos civilizados
Que bebe o suor dos pobres
Deixando-os desamparados
Jamais negou suas raízes
Dele somos aprendizes
E tão bem orientados.
Desde menino, Sotero
Como assim é conhecido
Tem trabalhado incessante
Pelo seu povo querido
É um indígena indigenista
É guerreiro, é ativista
Não deve ser esquecido.
Seu trabalho, sua luta
Sua coragem, sua fé
Resgatando a memória
Do seu povo Kanindé
Quase foi posto de lado
Mas hoje é valorizado
No Maciço de Baturité.
Sotero é inspiração
Para o seu povo guerreiro
Apresentando Aratuba
Para o Ceará inteiro
E o maior feito seu:
Foi o primeiro Museu
Desse estado brasileiro.
Ferramentas de trabalho,
E artesanato também
Artefatos para caça
Expostos no museu tem
Trajes ornamentais
Usados em rituais
Que ele conhece bem.
Pois não tem como falar
Do seu povo Kanindé
Se a gente não mencionar
O ritual da “Toré”
Uma dança característica
Onde o povo e sua mística
Demostra toda sua fé.
Fé que o nosso Cacique
Sotero não abandonou
A pesar de que seu pai
Muitas vezes lhe alertou:
“Sotero você é novo
Cuidado com esse povo
Que nossa gente matou!”
Mas negar suas raízes
Nunca passou na sua mente
Ser índio e querer ser
Uma coisa diferente
Não dava para entender:
“Eu sou índio e quero ser
Índio daqui pra frente!”
Desde jovem trabalhou
Sem abandonar jamais
A sua origem indígena
A herança de seus pais
Sotero saiu do mato
Pra fundar o sindicato
Dos trabalhadores rurais.
Quarenta anos de luta
Defendendo o agricultor
Da sua bela Aratuba
Trabalhando com amor
Nos tempos da ditadura
Dedicou-se a agricultura
O Cacique sonhador.
Porém em dois mil e sete
Sotero se aposentou
Como trabalhador rural
Mas pensa que ele parou?
Que nada. Sotero tinha
Muito amor por sua terrinha
E de vez se dedicou.
A sua gente e costumes
Na sua comunidade
Assumindo então de vez
Sua auto identidade
Sua primeira atitude
Foi mostrar pra juventude
O valor da liberdade.
Mesmo sem formação
Não se viu aperreado
Pois sua vida vivida
Lhe rendeu seu doutorado
Muito tinha pra ensinar
E só assim preservar
Sua cultura, seu passado.
E saiu contando história
Para o povo escutar
Sobre os costumes e crença
Da sua gente foi falar
Em diversas universidades
De diferentes cidades
Um Cacique a palestrar.
Chamou logo a atenção
De toda classe acadêmica
Com o seu “cocá” colorido
Sem ter medo de polêmica
No peito amor e fé
De um guerreiro Kanindé
Sua esperança era idêntica.
A de tantos que respeitam
Para assim ser respeitado
E Sotero hoje é mestre
Da Cultura em nosso estado
Orgulha da minha terra
Que fica em cima da serra
Meu Cacique, obrigado.
Quero dizer que aprendi
Muito com a sua história
O seu título de Mestre
Para nós é uma vitória
Tesouro da nossa cultura
Nosso exemplo de bravura
Guardião da nossa memória.


CACIQUE SOTERO
José Maria Pereira dos Santos, O  Cacique Sotero, nasceu no dia 15 de novembro de 1943 no Sítio Fernandes, zona rural do município de Aratuba/CE. Fundador do primeiro museu indígena do Estado do Ceará.
Premiado pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará no edital 2018, com o título de MESTRE DA CULTURA, na categoria MUSEU INDÍGENA.


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