12/07/2021

XEREM - O PAI DO FORRÓ

 

XEREM, O PAI DO FORRÓ

 

Quem é o pai do forró

Que o povo vive dançando?

Esta é a questão do momento

É o papo que está rolando

Suei muito minha camisa

Mas findei minha pesquisa

Eu vou lhe mostrar rimando.

 

O forró não é um ritmo

Nem um gênero musical

E sim um termo derivado

Do inglês para o regional

Quando o povo ia dançar

Na capital potiguar

O forró ou o “for all”.


Se bem que o meu inglês

É para espantar maluco

Não sou dono da verdade

I am not “caduco”

O forró nasceu em natal

Mais o dia nacional

Se comemora em Pernambuco.

 

Festa que era promovida

Pela tropa americana

Durante a segunda guerra

Mundial da raça humana

E os artistas da região

Tocavam com animação

Todo final de semana.

 

Esta é a história contada

Por um amigo entendido

Pesquisador do forró

E que é muito conhecido

Só não consigo entender

Porque ele foi esquecer

De um fato ocorrido.


Pois no ano trinta e sete

Antes da segunda guerra

Um registro fonográfico

Por um artista da serra

Foi feito naquele ano

Desse fato eu não me engano

E o cabra era da minha terra.

 

Pedro de Alcântara Filho

Era o nome do cantor

Nascido em Baturité

Minha terra, meu amor

Seu nome artístico Xerém

Brilhou no cinema também

Foi músico e compositor.

 

Embora Xerém não fosse

De TOP ou primeira linha

Ele foi e sempre será

Orgulho da minha terrinha

Mas pergunto aos brasileiros

Quem foi que nasceu primeiro

Foi o ovo ou a galinha?


Já batizaram o forró

E deram-lhe a paternidade

Ao grande Luiz Gonzaga

Que até hoje sinto saudade

O seu baião era bonito

Mas o “Forró de Mané Vito”

Só foi gravado mais tarde.

 

Primeiro o “forró na Roça”

Por Xerém foi gravado

E o “Forró do Mané Vito”

Só doze anos passados

O grande “Ri do Baião”

Foi fazer a gravação

Confesso não estou errado.

 

Em afirmar que Xerém

Com certeza é o pai

Do forró que o povo dança

Num gostoso vem e vai

Xote, baião e xaxado,

Coco, calango arretado

Um dançador bom não cai.


PÁDUA DE QUEIRÓZ




SÃO JOÃO BATISTA - O PRIMO DE DEUS

 

SÃO JOÃO BATISTA, O PRIMO DE DEUS

 

Por que no mês de Junho

Homenageamos São João?

E a fogueira no terreiro

Por que hoje é tradição?

E quem trouxe ao Brasil

Esta comemoração?

 

Uma festa para um Santo

Que admiro e estimo

Nos versos do meu cordel

Eu escrevo enquanto rimo

Porque São João Batista

De Jesus Cristo é primo.

 

Filho de Santa Isabel

E filho de Zacarias

Nasceu no final de junho

Vinte e quatro foi o dia

Sua mãe fez uma fogueira

E assim avisar Maria.


Sua prima que esperava

O messias, o Salvador

Que nasceria em Dezembro

Mas João foi o Precursor

Para anunciar ao mundo

A vinda do Redentor.

 

João viveu no deserto

E conforme estava escrito

Falava de um novo reino

De um amor infinito

E nas águas do rio Jordão

Batizou jesus Cristo.

 

Ele viveu numa época

De oprimidos e opressores

Sua verdade causava

Escândalo aos devedores

Então foi decapitado

Por cruéis perseguidores.


Sua cabeça exibida

Numa bandeja ornamentada

Cumpriu enfim sua missão

Conforme determinada

Pelos profetas de Deus

E a escritura sagrada.

 

Jesus Cristo, o Nazareno

Seu ministério seguiu

No deserto nunca mais

A voz de João se ouviu

E a partir do século quarto

A Santa igreja incluiu.

 

No calendário os festejos

Juninos em comemoração

A data de nascimento

Do profeta São João

Que entre os santos católicos

Tenho grande devoção.


Ao contrário de outros santos

Em que se homenageiam o dia

De sua morte e martírio

Lembramos com alegria

O aniversário de João

Filho de Zacarias.

 

Foram os padres Jesuítas

Oriundos de Portugal

Que trouxeram para o Brasil

No período Colonial

Na época essa novidade

Para cultura local.

 

Os indígenas agradeciam

Aos seus deuses a colheita

Com a catequização

Que estava sendo feita

A festança junina

Entre o povo foi aceita.


Como a fartura era tanta

Que dessa terra brotava

O povo miscigenado

Na colheita se animava

Agradecendo a São João

Antes da festa rezava.

 

Em mil oitocentos e oito

Com o bloqueio continental

A corte de Dom João Sexto

Chegou lá de Portugal

Abrindo um leque com o povo

E a corte imperial.

 

Uma carona com o santo

Nossa cultura pegou

No nordeste brasileiro

A festa enraizou

Cordel, quadrilha e forró

São João adotou.


Hoje a festa está completa

É cultura e tradição

Santo Antônio e São Pedro

Ao lado de São João

Formam a “Tríade Junina”

Na minha religião.

 

Estes três santos católicos

Já viraram patrimônio

Cultural na minha pátria

Pedro, João e Antônio

Dizem que fazem chover,

Batiza e faz matrimonio.

 

Eu já andei pelo mundo

Respirando outros ares

Pesquisando e aprendendo

As culturas populares

Mas igual a minha terra

Não vi em outros lugares.


Seis meses fico esperando

Ansioso este evento

Em Campina Grande e Caruarú

Faça Sol, chuva ou vento

As festas do mês de Junho

É o grande acontecimento.

 

Todo ano eu brinco e danço

Levando então meu cordel

Porque de São João Batista

Eu sou um servo fiel

Viva o primo de Deus!

Viva o filho de Isabel.

 

São João na capital

São João no Interior

São João festa do milho

São João do agricultor

São João dos Jesuítas

São João do Criador.


Que viveu em uma terra

De um rei cruel e sagaz

E eu vivo com os Jesuítas

Que já fez e ainda faz

Um elo de ligação

Do povo ao príncipe da paz.

 

As festas de São João

Sim, foi esta companhia

De jesus que inseriu

Aqui, trazendo alegria

E respeito a este santo

Que levava harmonia.

 

A voz clamou no deserto

E o mundo todo escutou

E foi Santo Antônio que disse

E São Pedro confirmou

Vamos amar nosso povo

Como São João amou.

 

Baturité, 08.07.2021


Esferogravura de Pádua de Queiróz




O CORDEL NO MOSTEIRO DOS JESUÍTAS - BATURITÉ/CE

 O CORDEL NO MOSTEIRO DOS JESUÍTAS


Um menino de origem pobre

Nasceu lá em Ibiapina

Hoje em Baturité

Com humildade ensina.

Começou os seus estudos

Com as irmãs “josefinas”

 

Seu sentimento fraterno

Estampado no sorriso

Me fez ver que a santa igreja

Na terra é meu paraíso

Oração, fé e amor

Tenho a paz que eu preciso.

 

Obrigado padre Eugenio

Meu bom padre Jesuita

Por valorizar a arte

Pelo apoio ao artista

E por estender a mão

Ao poeta cordelista.

 

Nasci em Baturité

No alto da igrejinha

E rimando, canto o quanto

É feliz a vida minha

Pense num cabra matuto

Pra amar sua terrinha

poeta Pádua de Queiróz

Padre Eugenio Pacelli, Poeta Pádua de Queiróz e Geilson Oliveira(Secretário Fundação de Cultura de Baturité)

Pádua de Queiróz

Pádua de Queiróz e Silvia Sales (Aquarela Turismo)


Esferogravura de Pádua de Queiróz - Padre Eugenio Pacelli

Auto-esferogravura - Pádua de Queiróz


Esferogravura - Pádua de Queiróz "A 106"



Pádua de Queiróz

08.07.2012


25/06/2021

ESFEROGRAVURAS DE PÁDUA DE QUEIRÓZ - JUNHO/2021















 

HOMENAGEM AOS 50 ANOS DE VIDA DE SILVANAR SOARES - POETA PÁDUA DE QUEIRÓZ

 

SILVANAR PEREIRA SOARES, O FILHO HOMEM

 


Eu sei que a vida vivida

É um belo desafio

Pra quem se propõe viver

Sem da fé ter um desvio

Cinquenta anos de luta

Tal qual um perene rio.

 

Eu comparo esta história

Que em versos quero narrar

Com um riacho pequeno

Que noutro vai desaguar

Se transformando num rio

Que corre de encontro ao mar.

 

Por onde este rio passa

Transforma o seco sem vida

Em uma bela paisagem

Verde, multicolorida

Lágrimas de felicidade

É a mão de Deus estendida.

 

Hoje é cinco de Junho

Dia do Meio Ambiente

E de Silvanar Soares

Um exemplo para gente

Afilhado de São João

Filho de um cabra decente.

 

Chamado Chico Soares

Que viveu mais de cem anos

Hoje certamente está

Ao lado do Soberano

Feliz por este seu filho

Magnifico ser humano.

 

Cinquenta anos de luta

Pode anotar no caderno

Silvanar está completando

Com as bençãos do Pai Eterno

Vivenciou no sertão

Chuva e escassez de inverno.


Dona Luzia Pereira

Foi uma mãe amorosa

De Silvanar, Luciano

E Itamar, orgulhosa

Dos filhos e com amor

Criou sem nenhuma prosa.

 

A infância dos meninos

No ambiente sertanejo

Eu imagino o cenário

E imaginando eu vejo

Saindo em busca de água

E a imagem vem num lampejo.

 

Duas horas da manhã

Um jumento e dois menino

Mais de uma légua de estrada

E um açude era o destino

Tarefa cotidiana

Na vida do nordestino.

 

E ao chegarem no açude

Um passava a encher

A ancoreta de água

Pra cozinhar e beber

E o outro ia pro mato

Juntar manga pra comer.

 

E já amanhecendo o dia

Para casa então retornava

Os dois meninos e o jumento

Que no lombo carregava

A água e o saco de manga

O pobre jegue penava.

 

Eu não sei se por vingança

Ou até mesmo fingimento

Para se livrar do peso

Que levava no momento

Deitou-se então no caminho

O companheiro Jumento.


Os meninos agoniados

Tentando em vão levantar

O jumentinho e sua carga

O remédio era esperar

Passar naquele caminho

Um adulto pra lhe ajudar.

 

Outra cena da infância

Desse nosso cinquentão

Cabe aqui um registro

Contado por seu irmão

Quando os dois moendo milho

Moeram foi uma mão.

 

Silvanar socava o milho

Colhido de seu roçado

Ao lado de Itamar

Que moía animado

De repente ouviu um grito

E ficou aperreado.

 

A mãozinha de Silvanar

Por descuido escapuliu

Pra goela do moinho

Que depressa engoliu

Mas a mão de Silvanar

Toda amassada saiu.

 

Um aluno nota dez

Era nosso personagem

Que sacrificou um ano

De estudo, foi coragem

Pra cuidar de pai e irmãos

Nessa triste passagem.

 

De sua vida que não era

Um sonho de uma criança

Porém Silvanar Soares

Com muita perseverança

Ficou em casa cuidando

Da família com esperança.



De ver voltar do hospital

Sua mãe admirável

Com a mesma disposição

Alegre e sempre saudável

“Silvanar não tem parêa

Oh, macho vei formidável.”

 

Puxou égua com arado

No roçado com seu pai

E foi pai de seus irmãos

Que do seu lado não sai

Hoje com cinquenta anos

Não escorrega e nem cai.

 

Continua o mesmo cabra

Da lagoa de São João

Sempre ao lado de seu povo

Um matuto cidadão

Hoje no rádio defende

A cultura do sertão.

 

Nossa região hoje tem

Uma divida com esse sujeito

Que lutou com dignidade

Por trabalho e direito

Homenagear em vida

É uma forma de respeito.

 

Eu sei que o tempo passou

Passou e não volta mais

E Silvanar continua

Trabalhando até demais

Hoje o que vemos no campo

Tem as suas digitais.

 

Quando temos fé em Deus

Podemos realizar

Cinquenta anos de história

E assim sem medo contar

Para a filha Maria Rita

Dona Silvinha, e é bonita

A vida de Silvanar.

 

Pádua de Queiróz – 05.06.2021




21/05/2021

QUEM ACENDEU LAMPIÃO - EDIÇÃO COMPLETA - POETA PÁDUA DE QUEIRÓZ

QUEM ACENDEU LAMPIÃO


 

Sou poeta cearense

Sou artista popular

Minha poesia é a arma

Que eu uso pra lutar

Através de meu repente

Eu defendo a minha gente

Que não deixa de sonhar.

 

Mas é obrigado a votar

E escolher seu representante

Que eleito logo esquece

De ajudar seu semelhante

No mundo civilizado

Excluído e abandonado

Não tem paz um só instante.

 

É tratado como um bicho

Já extinto no País

Não tem direito a saúde

Vive doente e infeliz

Não tem direito ao direito

Nascer pobre é um defeito

Hoje o rico é quem diz.

 

E foi por esse descaso

Ou melhor esse abandono

Que no Nordeste surgiu

Em cada lugarejo um dono

Tomando propriedades

Cometendo atrocidades

Expulsando a cada ano.

 

Toda pessoa de bem

Que vivia no Sertão

Trabalhando em sua terra

Na lavoura e criação

Até o "coronel" deixar

Ele era a lei do lugar

E exigia a submissão.

 

Quem perdia o que era seu

Ou era então perseguido

Se embrenhava na Caatinga

E estava protegido

Foi nesse tempo e espaço

Que nasceu o tal cangaço

Um povo desprotegido.

 

Eu conheço tanta história

De cangaceiro valente

Que agiam sempre em grupo

No Nordeste antigamente

Mas só um foi o maior

Não foi bom, nem foi pior

Não houve outro igualmente.

 

O caro leitor já sabe

Que eu falo de Lampião

Diziam que o seu nome

Fazia tremer o chão

Era respeitado e temido

Até pelo maior bandido

Que existia no sertão.

 

Através de depoimentos

De coronéis e amigos

Oficiais e volantes

Seus mais cruéis inimigos

Cangaceiros e parentes

Que viveram simplesmente

Acuados no perigo.

 

Mas não é meu esse estudo

E nenhuma anotação

É de Frederico Bezerra

Conhecedor do Sertão

Num trabalho detalhado

Nos deixou como legado

A vida de Lampião.

 

E foi mais de trinta anos

Sem descansar um segundo

De pesquisas, entrevistas

E um estudo profundo

Sob sol, chuva e vento

Viajou “qui nem Jumento”

Até os confins do mundo.

 

Eu quero neste momento

Pra lhe deixar bem informado

Da maneira mais fiel

E inteiramente baseado

Nos estudos do pesquisador

Lampiônida e escritor

Este retrato falado:

 

Meia um e setenta e um

O nosso rei do Sertão

Uma a menos que Livino

Outro a mais que seu irmão

Antônio, que protegia

Com coragem e valentia

Virgulino, o Lampião.


Foi um cabra do seu bando

De alcunha Ventania

Que falou que o seu peso

Ao de Virgulino equivalia

Pesava sessenta e dois

Mas tinha a força de um boi

Com ele a volante corria.

 

Ele era muito magro

Quadris estreito e estético

Ombros largos e bem vestido

Aparentava mais atlético

Fisionomicamente sério

Parecia um mistério

Pois em combate era elétrico.

 

Tomava banhos diários

Sempre andava asseado

Da Virgem da conceição

Se dizia afilhado

E rezava todo dia

Pedindo a Virgem Maria

Para livra-lo do pecado.

 

Nasceu na Serra Vermelha

Hoje então Serra talhada

Filho de José Ferreira

Figura ali respeitada

Maria sua genitora

Foi também sua educadora

Do ABC à tabuada.

 

Quando criança brincava

Igual a qualquer criança

E foi feliz em seu lar

Cultivando a esperança

Que a paz nunca acabasse

E a coragem não faltasse

E com a fé fez uma aliança.


Juntamente com os irmãos

No comércio ou no roçado

Trabalharia pra não ver

Faltar na mesa o bocado

Viveria do trabalho

Do sol a gota do orvalho

Em seu chão abençoado.

 

Mas o que fez este homem

Bom filho, fiel e pacato

Se tornar um bandoleiro

Ter um destino ingrato,

Matar e saquear cidades

Mostrar sua ferocidade

E se embrenhar no mato?

 

Muitas versões foram ditas

Muitas estórias contadas

Eu mesmo não sei ao certo

E nem qual delas relatadas

Deu ao jovem Virgulino

Simplesmente um nordestino

Tantas batalhas travadas.

 

Dizem que no inicio

Foi birra com o vizinho

Outros contam que foi briga

Por causa de um namorinho

Eu só sei que o Nordeste

Conheceu um cabra da peste

Que trilhou este caminho.

 

No dia quatro de Junho

Essa data é verdadeira

Que Virgulino assumiu

O bando de Sinhô Pereira

Mil novecentos e vinte e dois

Que o destino lhe impôs

A árdua vida cangaceira.


O cangaço era visto

Aos olhos dos governantes

Como uma simples desordem

De uns coitados ignorantes

E toda aquela rebeldia

Logo, logo acabaria

Nada tinha de importante.

 

Mas Lampião era esperto

E tão bem auxiliado

Era mesmo imbatível

Com os seus irmão ao lado

Antônio na retaguarda

E Livino na vanguarda

Não temia ser emboscado.

 

Foi numa noite sem lua

Com um rifle em sua mão

De repente clareou tudo

Acabando a escuridão

Pois em pleno tiroteio

Apareceu lá no meio

Alguém com um lampião.

 

Mas que lampião que nada

Todos sabiam quem era

Porque o jovem Virgulino

Atirava feito uma fera

O cano da arma em chamas

Nasceu a lenda e a fama

Sob o fogo que impera.

 

Virgulino naquela noite

Fez a maior bagaceira

E do cano de sua arma

Acenderam uma fogueira

E na noite do meu Sertão

Batizara de Lampião

O jovem Virgulino Ferreira.


Por ser rápido e eficiente

Feito uma metralhadora

Foi entregue a vanguarda

Do bando para "Vassoura"

E por esse apelido

Livino ficou conhecido

Entre a horda acolhedora.

 

Antônio também era dono

De uma grande liderança

E cobria a retaguarda

Do bando numa matança

Por acreditar que um dia

A paz enfim reinaria

Foi chamado de "Esperança".

 

Inumeráveis batalhas

Foram por eles travadas

Porém três anos depois

Sua fé foi abalada

Em uma luta em Flores

Lampião sentiu as dores

Do fim de sua vanguarda.

 

Num combate de três horas

Balas raspando no "cuco"

A polícia entrou em fuga

E Vassoura, então maluco

Subiu num grande lajedo

Pra ver borrar-se de medo

Os fujões de Pernambuco.

 

Um soldado que ficara

Chamado de "Zé Inaço"

Fez pontaria e acertou

Vassoura no espinhaço

Com esse tiro mortal

Livino elí se deu mal

Caindo em seu próprio laço.


E antes do último suspiro

A Deus pediu seu perdão

E para a Nossa Senhora

Lhe pediu a intercessão

E por fim pediu Livino

Para Antônio e Virgulino

Justiça paro seu Sertão.

 

E pra ser corpo não ser

Profanado pelo inimigo

Lampião cortou a cabeça

De seu irmão, seu amigo

E mesmo pra alguém tão rude

Aquela macabra atitude

O deixou tão constrangido.

 

E no dia vinte e cinco

Do Natal de vinte e seis

Esperança, finalmente

Encontrava a sua vez

A sua paz tão sonhada

Em uma tarde mal fadada

Num ato de insensatez.

 

Na fazenda Poço do Ferro

Um dos coitos de Lampião

O seu bando descansava

Das últimas lutas então

Quando houve o ocorrido

Antônio Ferreira ferido

Despediu-se de seu irmão.

 

Virgulino que estava

Bem distante no momento

Quando ouviu o estampido

Parecia até com um vento

E ao chegar encontrou

Antonio que lhe contou

O triste acontecimento.


Ao brincar com Luis Pedro

Seu amigo de confiança

Disputando uma rede

Porque queria Esperança

Nela poder se deitar

E começou a brincar

Como se fosse criança.

 

Luís que estava deitado

Com um rifle em sua mão

Foi puxado por Antônio

Que lhe derrubou no chão

A arma então disparou

E mortalmente acertou

Porém sem ter intenção.

 

E disse mais: meu irmão

Se você gosta de mim

Eu quero que de hoje

Você goste tanto assim

Do nosso compadre Luis

Pra ninguém ser infeliz

Porque chegou o meu fim.

 

Meu compadre Luis Pedro

Não abandone nosso irmão.

Luís Pedro disse: eu juro

Olhando para Lampião

Meu compadre eu juro a vós

Nem a morte separa nós

Nas quebradas do Sertão.

 

Ao desprender-se do corpo

De Antônio já sem vida

Lampião olhou pra Luís

Que com a vós estremecida

Disse para Virgulino:

Me mate sou assassino.

Mas Lampião em seguida.


Abraçou com Luís Pedro

Com tristeza e comoção

Dizendo: tenha coragem

Me dê aqui sua mão

Porque de agora em diante

Você pra mim é importante

Como foi o meu irmão.

 

Luís você não tem culpa

Não aumente a desgraça

Antônio com certeza está

Ao lado da Divina Graça

Foi morar com Mãe e Pai

E com Livino que em paz

Agora mesmo lhe abraça.

 

Depois sepultou Antonio

Junto a um pé de cajarana

A dor da sua família

Torturava sua alma humana

E com um punhal na mão

Desafiou a assombração

Por mais de duas semanas.

 

E seguido por seus cabras

Rumou para o Ceará

E ninguém compreendia

O que ele estava a falar

E nas estradas do Sertão

Vagou louco o capitão

Que não podia chorar.

 

Um mês depois do ocorrido

A policia descobriu

A cova de Antônio Ferreira

E o comandante pediu

Que arrancasse com o facão

A cabeção e então

Municiou seu fuzil.


E ordenou que numa estaca

Aquela cabeça fincasse

Mandando aos soldados

Que todos nela atirasse

E deixaram-na abandonada

Na beira de uma estrada

E mostrar pra quem passasse.

 

Que o cangaço já era

Que ele era o melhor

Cangaceiro não prestava

Não tinha alma e o pior

Era filho de chocadeira

Raça ruim desordeira

Espécie de marca maior.

 

Manuel Neto era o chefe

Dessa força policial

Que agia em Pernambuco

Sem escrúpulo, sem moral

E assim tão desumano

Profanou um corpo humano

Dessa forma irracional.

 

Assim era a policia

Grande força desordeira

Irmã contrária ao cangaço

Fazendo à própria maneira

Equipada, armada e forte

Espalhando medo e morte

Tendo a Lei como bandeira.

 

Muitas vezes Lampião

Sepultava os envolvidos

Encomendando suas almas

Para serem absolvidos

Porque não era fraterno

Deixa-lo sofrer no inferno

Como sofrem os excluídos.


Que vivem no meu Sertão

Sem ter direito ao direito

Sem terra e se comida

Mas elegendo o Prefeito,

Governador e Presidente

Depositando nessa gente

O seu sonho já desfeito.

 

No Brasil de norte a sul

Era só revolução

O governo já não tinha

Mais as rédeas da nação

Era um tal de Tenentismo

Impulsionando o comunismo

Buscando libertação.

 

No nordeste brasileiro

Naqueles tempos passados

A igreja para não perder

O controle do povoado

Dizia que o comunista

Temia padre exorcista

Pois era o próprio diabo.

 

Mas eu explico ao leitor

O que é ser comunista:

É viver em sociedade

Comum sem escravagista

É aprender a dizer não

Na hora da eleição

Ao burguês capitalista.

 

Luiz Carlos Prestes foi

Um tipo de cangaceiro

Muito culto e educado

Lá pro Rio de Janeiro

Mas viu tudo diferente

Mesmo sendo um tenente

Do Exército Brasileiro.


Os políticos do Nordeste

Com medo do tal tenente

Mandou chamar Lampião

E lhe deu uma patente

Neste momento caótico

Fez-se o “Batalhão Patriótico”

Com todo tipo de gente.

 

Na cidade de Juazeiro

Do Padre Cícero Romão

Deram-lhe armas e fardas

E o posto de capitão

E disseram: Será perdoado

Se lutar do nosso lado

Defendendo esta Nação!

 

Só que Lampião sabia

O que tramava o inimigo

Depois que acabasse a luta

Viria então o perigo

Então disse ao seu bando:

Eu só quero o comando

Do cangaço, meu abrigo!

 

Nem bem amanheceu o dia

Ele já tinha ido embora

Com a bênção do Santo Padre

E o terço de Nossa Senhora

E do lado do governo

Que nunca lhe deu sossego

Era melhor cair fora.

 

E a partir daquele dia

Lampião ficou mais forte

Com armas sofisticadas

Ganhas num golpe de sorte

Imperou neste Sertão

Que temia o capitão

Que enfrentava a morte.


Lampião se tornou logo

Respeitado no cangaço

Sua coragem, seu ímpeto

Causava grande embaraço

Por onde ele aparecia

Ninguém jamais esquecia

Depois de juntar os bagaços.

 

Gumercindo Cláudio Maia

Que escreveu seu Tabuleiro,

Sua gente e sua história

Num estudo verdadeiro,

Despertou-me a atenção

Quando aquela Região

Visitou um cangaceiro.

 

Naquela manhã de Junho

Entraram no povoado,

De Tabuleiro de Areia

Cangaceiros comandados

Pelo facínora conhecido

E por todos tão temido

Por seu jeito endiabrado.

 

Quem conhece o perfil

De Virgulino Ferreira,

Sua vida, sua história

Sabe que é verdadeira,

Pois movido por vingança

Fez do crime a esperança

Da justiça derradeira.

 

Gumercindo em seu livro

Relatou a ilustre visita,

Do grande Rei do cangaço

Naquela terra bonita.

Francisquinho da espera

Ao deparar com a fera

Disse então sem fazer fita:


Pode descer, Capitão!

Minha casa sua é,

Para toda cabroeira

Tem leite, bejú e café,

Fumo de rolo e feijão,

Carne de bode e pirão,

Água, sombra e muita fé.

 

O bando era tão grande

Que dividiram em três,

Foi Antônio Alves Maia

Que recebeu por sua vez,

No armazém que possuía

Um dos grupos que queria

Beber sem virar freguês.

 

A venda de Néco Pacheco

O outro grupo recebeu,

Compraram perfume barato,

Sabão, querosene e breu,

Corda de junco e chinela,

Lamparina, pano e veia,

E imagem da mãe de Deus.

 

Na casa de Franscisquinho

Todo mundo estava contente,

Um dos cabras deu a ele

Bons cigarros de presente,

Outro cabra pensativo

Foi dizendo: - meu amigo,

Me escute, de repente.

 

Se alguém for pra Mossoró

Deve fazer romaria,

Na cova de Menino de Ouro

Que nos deixou certo dia,

Por intermédio da bala

Que calou sua fala

E findou sua valentia.


Menino de Ouro era

O mais valente do bando,

Pois somente respeitava

Lampião em seu comando.

Quatorze, era sua idade

Mas tinha a ferocidade

De um demônio atirando.

 

Então naquela harmonia

Cangaceiro e cidadão,

Compartilhava histórias

Na mais perfeita união.

Tomavam muita cachaça

Soluçavam e achavam graça

Naquele belo sertão.

 

Porém tinha um morador

Chamado de Zé Vidal,

Que tinha em sua propriedade

Um belo e forte animal,

E assim para não perder

Mandou seu filho esconder

No meio do matagal.

 

Ao chegar no matagal

O jovem se deparou,

Com o Capitão Virgulino

Que logo lhe perguntou:

Pra onde tu vai, meu sincero?

Não minta pra mim, eu espero

E ele não amarelou:

 

Vim esconder meu cavalo

para o senhor não tomar.

Lampião disse: não tema.

Seu cavalo eu vou levar,

Eu gostei muito da cor

Depois mande um portador

Que eu devolvo o "animá".


Realmente Lampião

Devolveu o animal,

Embora muito cansado

Pra tristeza de Zé Vidal.

Mas cumpriu o prometido

Mesmo sendo um bandido

Tinha palavra e moral.

 

Ao contrário da polícia

conhecida por volante,

Caçadores de cangaceiros

Eram brutais e ignorantes,

Na lei da perversidade

Ao chegarem numa cidade

Saqueavam num instante.

 

Não respeitavam ninguém

Criança, padre e senhora,

Com o aval do governo

Do Ceará e de fora,

Pra difamar LAMPIÃO

Praticavam no sertão

A violência que devora.

 

Pois enquanto Virgulino

Se divertia em Tabuleiro,

Os macacos do Governo

No encalce do cangaceiro,

Semeavam dor e medo

Roubando-lhe então sossego

Deixando sangue no terreiro.

 

E Lampião desconfiado

Da paz naquele lugar,

Chamou a cobra "Moreno"

Dizendo: vou me mandar!

Chama os outros, e vambora

Os macacos não demora

Logo, logo vão chegar.


E pela estrada do governo

Atual PADRE ACELINO,

Desapareceu o bando

Do Capitão Virgulino.

Se mandou pra Iracema

Cidadezinha pequena

Do seu sertão nordestino.

 

No Ano de Vinte e Sete

No dia treze de agosto,

Um grupo de cangaceiros

Com outro comando no posto,

Em Tabuleiro de Areia

Fez vogar a LEI DA PEIA

Da violência e desgosto.

 

Lampião que era poeta

E compositor de primeira

Quando saqueava as Vilas

Cantava mulher rendeira

E “É Lamp, Lamp, Lampião”

Que era seu maior refrão

Cantado pela cabroeira.

 

Onde houvesse opressão

Ele logo aparecia

Dava auxilio em dinheiro

Ao pobre que padecia

Respeitava as donzelas

E não deixava que elas

Fosse frutos de serventia.

 

No ano de vinte e nove

Virgulino, o Lampião

Provou porque era mesmo

"O Governador do Sertão"

Quando passou em Sergipe

Simplesmente, acredite

Sem disparar um rojão.


Com o seu grupo formado

De nove "cabras" valentes:

Volta Seca e Ezequiel,

Moderno e Arvoredo na frente,

Fortaleza e Gavião,

Zé Baiano, Gato e Mourão

Chegaram então de repente.

 

Lá na pequena Carira

E escreveu ao delegado

Felismino Dionisio

Mostrando ser educado

Pedindo autorização

Mas o delegado, em vão

Já havia se ausentado.

 

Seis soldados possuía

Todo destacamento

Da pequena Carira

Então naquele momento.

Mas somente dois ficaram

Os demais se debandaram

Fugindo daquele evento.

 

Quando Lampião ficou

Sabendo do acontecido

Elogiou a coragem

Dos soldados destemidos

E foi ele pessoalmente

Parabenizar, com presentes

Aos seus novos protegidos.

 

Porque um homem valente

Não se devia matar

Era preciso viver

No Sertão para honrar

A fama de "cabra macho"

Cabra de coragem e facho

Era pra cria botar.


E ali o povo sem medo

Foi conhecer Lampião

Que sob salva de palmas

De toda população

Seguiu meio desconfiado

O seu rumo intencionado

Sumindo na escuridão.

 

Pernoitou naquela noite

Na casa de um fazendeiro

Que acolheu sem protesto

O grupo de cangaceiros

Que de manhã bem cedinho

Rumou para sobradinho

Agradecendo ao "coiteiro".

 

Na entrada da Cidade

Sergipana, entrincheirou

Lampião todo o seu bando

E por um portador mandou

Um bilhete ao Intendente

Solicitando urgente

E assim ele relatou:

 

"Estou em missão de paz

Por favor venha aqui.

Se não vier entro a bala

E acabo com tudo ai..."

A Cidade apavorada

Ficou com as mãos atadas

Tendo Lampião ali.

 

O Prefeito comunicou

Ao delegado a questão

Que respondeu: Tu tá doido,

Vá receber o Capitão!

O destacamento fugiu

No meio do mato sumiu

Com medo de Lampião!


Ele nem mesmo pensou

Duas vezes no assunto

Chamou o dito emissário

E com ele partiu junto

Para a entrada da Cidade

E disse sem autoridade:

O que queres, lhe pergunto?

 

Lampião, disse: Prefeito,

Me escute afinal.

“Vocês diz” que sou bandido

Mas não ando fazendo mal

A quem mal não me faz

Por isso fique em paz

E bote no meu embornal.

 

Vinte conto de réis

Somente pra me ajudar.

Que eu prometo Prefeito

Nenhum estrago causar,

A vida de Cangaceiro

Sem comer, bala e dinheiro

Não tem como se sustentar!

 

E o prefeito lhe alegou

Não possuir tal quantia,

O comércio enfraquecido

Com a seca que consumia.

E Lampião sem demora

Retrucou na mesma hora:

Também vivo essa agonia!

 

São quatorze anos de seca

Sendo nove de Cangaço,

Me dê ao menos seis contos

Não me cause embaraço.

Para tudo tem um jeito

Me ajude, seu Prefeito

E mal nenhum eu lhe faço!


E saíram em comissão:

O prefeito e o delegado,

O padre e o telegrafista

Em busca do solicitado.

Nos comércios e fazendas

Arrecadaram a renda

Conforme o estipulado.

 

A receber o dinheiro

Com muita satisfação,

Agradeceu comovido

Dizendo assim Lampião:

Eu sei que foi de bom grado

Por isso muito obrigado

Gente de bom coração!

 

E na madrugada partiu

Seguindo pra Aquidabã

Chegando nessa Cidade

Com o Sol da Alta manhã

Onde foi bem recebido

Nem parecia um "bandido"

Arrodeado de fã.

 

O prefeito e o juiz,

E o povo todo festeiro

Prestaram grande homenagem

Ao maior dos Cangaceiros,

Que rumou para Bahia

Levando como dizia:

"Coragem, bala e dinheiro!"

 

Em mil novecentos e trinta

Em meados de Fevereiro

Lampião necessitando

Os serviços de sapateiro

Para concertar as cangas

E encomendar bugigangas

Apetrechos cangaceiros:


Apragatas, barbicachos,

Cinturões de cartucheiras,

Bruacas, chapéus e tiras,

Embornais e bandoleiras...

E mandou que Luís Pedro

Fosse de manhã bem cedo

Com mais dois da cabroeira.

 

Como estavam acampados

No raso da Catarina

Vendo os quimbembes velhos

Totalmente em ruinas

Aproveitaria o descanso

No cenário seco e manso

Naquela dura rotina.

 

E Luís Pedro Partiu

Naquele seco caminho

Ladeado por Cambaio

E por Vicente Marinho

Encomendar o serviço

E depois pagar por isso

Se fosse rápido e certinho.

 

O sapateiro escolhido

Diziam: tudo remenda!

Chamava-se, Zé de Neném

Seria dele a encomenda.

E Zé tinha em sua casa

Um lindo Anjo sem asa

Uma verdadeira prenda.

 

Seu nome, Maria Alina

Apelido, Maria de Déia

Que casada há oito anos

Sonhava com uma epopeia,

Coisa talvez impossível

Pois seu marido insensível

Desprezava essa ideia.


Só pensava em bater sola

Porque era seu ofício

E viver naquele Sertão

Já era um sacrifício

Sua mulher simplesmente

Já pensava diferente:

Aquilo era um desperdício!

 

Homem era Lampião

Que combatia e dançava,

Em Carira e Sobradinho

E em Aquidabã mandava,

Bandido de coração nobre

Fiel protetor dos pobres

Que todo Sertão respeitava!

 

Luís Pedro, ouviu tudo

E contou pra Lampião

Que lhe disse: meu compadre,

Com essa eu não bulo não

E toda mulher casada

Deve é ser respeitada

Não mudo de opinião!

 

E Luís disse: Vá lá,

Somente pro Senhor ver

Essa mulher que eu falo

Juro não vai esquecer,

Aquele rosto tão belo

Parece um Anjo singelo

Que no Sertão foi viver!

 

E continuou Luís Pedro:

O marido nem dá bola!

Ela até me confessou

Que a noite ele não consola,

Sua solidão de mulher

Porém se o Senhor quiser

Na estrada mete sua sola.


Lampião falou: seu cabra

Vamos deixar de conversa,

Não se fala mais no assunto

Eu não entro numa dessa

Tá na hora de dormir

Amanhã vamos sair

Mas pra ir buscar as peças.

 

No Raso da Catarina

O Sol nasceu diferente,

E depois de muito tempo

O Nordeste, sorridente.

Tudo então parecia

Que a Paz e a Harmonia

Triunfava novamente.

 

Com um uniforme impecável

Lenço em volta ao pescoço,

Perfumado e barbeado

Parecia até mais moço

Lampião apareceu

E com o jeito só seu

Ordenou sem alvoroço:

 

Compadre Luís vá chamar

Bem ligeiro, Beija-Flor!

Pensativo Luís disse:

Isso é mesmo o amor.

O nosso Rei a tardinha

Vai conhecer sua Rainha

E ele é merecedor!

 

E ao chegar na porteira

Da casa do sapateiro

Nem deu tempo desmontar

O chefe dos cangaceiros,

Quando apareceu cheirosa

A mais bela e mais formosa

Do Nordeste brasileiro.


Lampião admirado

Nem queria acreditar,

Seria mesmo verdade

Ou estava a sonhar.

E sorrindo de contente

Viu ali na sua frente

O verdadeiro amor brotar.

 

Que - que Ma - Maria Bonita!

Ele falou gaguejando.

E lhe estendendo a mão

Num gesto cumprimentando.

Era só felicidade

Que sem ter dificuldade

Rápido foi desmontando.

 

E pra sentar-se a sombra

Ela então o convidou,

E para ouvir a conversa

Até o tempo parou.

Maria falava tudo

E Lampião quase mudo

Criou coragem e falou:

 

É verdade que você

Tem coragem de ir comigo?

Ela respondeu: vou sim,

E não temo o perigo.

E se o Senhor quiser

Eu serei sua mulher

E vou embora contigo!

 

Lampião disse: mulher

Casada que já tem dono...

Ela interrompeu dizendo:

Eu vivo no abandono.

Quero viver a seu lado

Como dois apaixonados,

Esse sim é o meu plano!


Dona Déia que estava

Espiando na janela,

Inspirou aliviada

Vendo sua filha tão bela

Ao lado de Lampião

Governador do Sertão

Totalmente escravo dela.

 

E convidou o casal

Para comer na cozinha.

Enquanto Zé de Neném

O seu trabalho mantinha.

Com certeza receoso

Nem sentia o cheiro gostoso

Do queijo, café, farinha,...

 

Mesmo espiando tudinho

Que estava acontecendo

Zé de Neném só olhava

E a sola ia batendo.

Lampião despreocupado

Por Maria apaixonado

Viu o Sol se escondendo.

 

Voltou para o acampamento

Mas antes disse a Maria:

Amanhã bem cedo eu volto

Antes do nascer do dia.

Você vai morar comigo

Vou enfrentar o perigo

Mas na sua companhia!

 

Nem bem o dia raiou

Lampião já estava lá,

Na porta do sapateiro

E antes de dizer, olá.

Maria veio correndo

E pra ele foi dizendo:

Eu não fico mais por cá!


Zé de Neném que tomava

Seu mingau de Carimã,

Parecia um agricultor

Ouvindo o som da Acauã.

Enquanto lá fora a harmonia

Dos primeiros raios do dia

Embelezava a manhã.

 

Zé olhou para a janela

E falou com a voz serena,

Até mesmo a escolta

De Lampião sentiu uma pena.

Maria, tu vai me deixar?

E Lampião, sem se importar

Partiu com sua pequena.

 

Porém deixou uma carta

Escrita com a própria mão,

Pra que todo mundo soubesse

Que ele não era ladrão,

Relatando que Maria

Foi pra sua companhia

Por sua própria opção.

 

Com uma grande festança

Lampião comemorou,

Xaxado, xote e polca

Naquela noite dançou,

Com sua Maria Bonita

Toda enfeitada de fita

Virgulino se Casou.

 

Já era nove da noite

A peitíca e o bacural

Entretidos espiavam

De cima de um pé de pau.

Quando Lampião e Maria

De fininho escapulia

Para noite nupcial.


Com a entrada de Maria

Na rotina do cangaço

Quem tivesse sua mulher

Oficializasse os laços

Lampião deu o direito

A todos no mesmo leito

Ocupar o mesmo espaço.

 

Algumas eu tenho em mente

Eis aqui a relação:

Sila com Zé Sereno,

Maninha com Gavião,

Rosinha com Mariano,

Lídia com Zé Baiano,

E Leolina com Azulão.

 

Maroca com Mané Moreno,

Aldina com Paturí,

Catarina com Sabonete,

Dussanto com Alecrim,

E o tempo ía passando

E a tropa aumentando

Maria com Jurití.

 

Lilí com Moita Brava,

Veronquinha com Beija-Flor,

Entre tantas que aprenderam

A enfrentar o terror,

Mocinha mulher de Medalha

Não fugia da batalha

Defendendo o seu amor.

 

Foram mulheres que o amor

Moldou para aquele cenário

Neném foi de Luís Pedro,

Adília foi de Canário,

Dora foi de Arvoredo

E desconhecia o medo

Do cangaço ex -solitário.


Enfrentavam uma luta,

Sem temer uma abordagem...

Por isso a essa mulheres

Eu presto esta homenagem.

Apesar da triste sorte

Muitas encontraram a morte

Mas morreram com coragem.

 

A morte de Lampião

Foi numa luta travada

Na fazenda de Angicos

Que até hoje é falada

Dizem que ele morreu

De um veneno que bebeu

Outros falam em cilada.

 

Porque a policia depois

De abater o bandido

Desfigurou sua cabeça

Que do corpo dividido

Não entregou o cangaceiro

Morto, porém inteiro

Para ser reconhecido?

 

Sei que viram Lampião

Em Goiás e no Amapá

Comprando e vendendo gado

Como vivia a sonhar

E na minha opinião

O tempo matou Lampião

Que não pode escapar.

 

Quem conhece essa história

De uma vida tão sofrida

Pode então me responder

Esta pergunta esquecida:

Quem acendeu Lampião

Nas noites do meu sertão

Procurando uma saída?


 

O GOVERNADOR DO SERTÃO

 

Virgulino Ferreira, alcunha Lampião

Foi o rei do cangaço, aqui neste sertão.

Matador implacável, exímio atirador

Ao punhal e parabélum jurou eterno amor.

E compôs canções “pros cabras” dançar

E pelos sertões vivia a cantar:

Acorda Maria Bonita

Levanta e faz o café

Que os “macaco do governo”

Já estão de pé!

 

Odiado e querido assim ele viveu

No reino da caatinga que a justiça esqueceu

Eu já fiz mil perguntas, mas ninguém respondeu:

Quem foi que realmente Lampião acendeu?

Pois o Capitão aceso ficou

E por sua mão uma nova lei vogou.

Era uma roda de fogo

Que ao coronel assombrava

E pra não viver de luto

Imposto pagava.

 

Pra ele não importava morrer ou matar

Pernambuco e Bahia, Alagoas e Ceará,

Rio Grande do Norte Lampião enfrentou

Foi tanto tiroteio que o sangue encharcou...

O Nordeste, então que só acalmou

Quando Lampião, enfim apagou.

Sergipe, Fazenda Angicos

Brasil a fora correu

A noticia que ali

Lampião, morreu.