05/01/2011

OS IRMÃOS DO CANGAÇO: A MORTE DE ANTONIO E LIVINO




OS IRMÃOS DO CANGAÇO: A MORTE DE ANTONIO E LIVINO.

A poesia contada é a mesma cantada. Não há como não falar de LAMPIÃO, se não tiver uma dose de terror, medo, dor e sangue...Não há como falar de Lampião se não tiver um qualquer de festa, coragem, alegria e suor. suor que por muitas vezes lavava o chão manchado pelo sangue de inocentes derramado pela passagem da polícia conhecida por volante, especializada em espalhar pânico entre os sertanejos, disceminando a propaganda enganosa de que sua caça simbolizava a opressão.
O quinto trabalho de Pádua de Queiróz, publicado pela gráfica JABRIVAS, com a tiragem de 15.000 exemplares esgotou em menos de um mês. OS IRMÃOS DO CANGAÇO: A MORTE DE ANTONIO E LIVINO. É um presente ofertado por este poeta, aqueles que buscam respostas de infinitas perguntas sobre o cangaço. E escrito dessa forma poética, podemos dirimir algumas dúvidas
de quem realmente o povo tinha medo naquela época em que valia a Lei ditada.
MARIA MARLI - POETISA CEARENSE.



OS IRMÃOS DO CANGAÇOS:A MORTE DE ANTONIO E LIVINO
POETA PÁDUA DE QUEIRÓZ

Eu peço ao divino Deus
neste momento em questão
que ilumine minha mente
com a luz da inspiração
para através de meu verso
escrever o meu protesto
e também minha opinião.

Neste Brasil de Antonio
Conselheiro e Lampião,
Patativa do Assaré
e Luis Rei do baião
muita gente logo esquece
o nome de quem merece
ser lembrado até então.

Sou poeta cearense
sou artista popular
minha poesia é a arma
que eu uso pra lutar
através de meu repente
eu defendo a minha gente
que não deixa de sonhar.

Mas é obrigado a votar
e escolher seu semelhante
que eleito logo esquece
de ajudar seu semelhante
no mundo civilizado
excluido e abandonado
não tem paz um só instante.

É tratado como um bicho
já extinto no País
não tem direito a saúde
vive doente e infeliz
não tem direito ao direito
nascer pobre é um defeito
hoje o rico é quem diz.

E foi por esse descaso
ou melhor esse abandono
que no Nordeste surgiu
Em cada lugarejo um dono
tomando propriedades
cometendo atrocidades
expulsando a cada ano.

Toda pessoa de bem
que vivia no Sertão
trabalhando em suas terras
na lavoura e criação
até o "coronel" deixar
ele era a lei do lugar
e exigia a submissão.

quem perdia o que era seu
ou sofria humilhação
se embrenhava na Caatinga
em busca de proteção
ninguém queria vingança
mas aquela gente tão mansa
não tinha outra opção.

A não ser roubar do rico
o que o rico lhe roubou
fazendo valer a lei
que o próprio coronel ditou
e nesse tempo e espaço
nascia assim o cangaço
que ao Nordeste assombrou.

Eu conheço tanta história
de cangaceiro valente
que agiam sempre em grupo
no Nordeste antigamente
Mas só um foi o maior
não foi bom, nem foi pior
não houve outro igualmente.

Virgulino era seu nome
sua alcunha, LAMPIÃO
que ainda jovem fugiu
junto com seus dois irmãos
Antonio e Livino Ferreira
Que na vida cangaceira
Procuraram proteção.

Assumiu logo o comando
de um grupo de cangaceiros
quando atirava a noite
clareava o terreiro
com inteligencia e malícia
foi o terror da polícia
que caçava esse guerreiro.

No dia quatro de Junho
essa data é verdadeira
Que Virgulino assumiu
o bando de Sinhô Pereira
Mil novecentos e vinte e dois
que o destino lhe impôs
a árdua vida cangaceira.

O cangaço era visto
aos olhos dos governantes
como uma simples desordem
de uns coitados ignorantes
e toda aquela rebeldia
logo, logo acabaria
nada tinha de importante.

Mas Lampião era esperto
E tão bem auxiliado
era mesmo imbativel
com os seus irmão ao lado
Antonio na retaguarda
e Livino na vanguarda
não temia ser emboscado.

Por ser rápido e eficiente
como uma metralhadora
foi entregue a vanguarda
do bando para "Vassoura"
e por esse apelido
Livino ficou conhecido
entre a horda acolhedora.

Antonio também era dono
de uma grande liderança
e cobria a retaguarda
do bando numa matança
por acreditar que um dia
a paz enfim reinaria
foi chamado de "Esperança".

Inumeráveis batalhas
foram por eles travadas
porém três anos depois
sua fé foi abalada
em uma luta em Flores
Lampião sentiu as dores
do fim de sua vanguarda.

Num combate de três horas
balas raspando no "cuco"
a polícia entrou em fuga
e Vassoura, então maluco
subiu num grande lajedo
pra ver borrar-se de medo
os fujões de Pernambuco.

Um soldado que ficara
chamado de "Zé Inaço"
fez pontaria e acertou
Vassoura no espinhaço
Com esse tiro mortal
Livino elí se deu mal
caindo em seu próprio laço.

E antes do último suspiro
a Deus pediu seu perdão
e para a Nossa Senhora
lhe pediu a intercessão
e por fim pediu Livino
Para Antonio e Virgulino
Justiça pro seu Sertão.

E pra ser corpo não ser
profanado pelo o inimigo
Lampião cortou a cabeça
de seu irmão, seu amigo
e mesmo pra alguém tão rude
aquela macabra atitude
o deixou tão constrangido.

E no dia vinte e cinco
do Natal de vinte e seis
Esperança, finalmente
encontrava a sua vez
a sua paz tão sonhada
numa tarde mal-fadada
num ato de insensatez.

Na fazenda Poço do Ferro
um dos coitos de Lampião
o seu bando descançava
das últimas lutas então
quando houve o ocorrido
Antonio Ferreira ferido
despediu-se de seu irmão.

Virgulino que estava
bem distante no momento
quando ouviu o estampido
parecia até com um vento
e ao chegar encontrou
Antonio que lhe contou
o triste acontecimento.

Pois brincava com Luis Pedro
seu amigo de confiança
disputando uma rede
porque queria Esperança
nela poder se deitar
e começou a brincar
como se fosse criança.

Luis que estava deitado
com um rifle em sua mão
foi puxado por Antonio
que derrubou-lhe no chão
a arma então disparou
e mortalmente acertou
porém sem ter intenção.

E disse mais: meu irmão
se você gosta de mim
eu quero que de hoje
você goste tanto assim
do nosso compadre Luis
pra ninguém ser infeliz
porque chegou o meu fim.

Meu compadre Luis Pedro
não abandone nosso irmão.
Luis Pedro disse: eu juro
Olhando pra Lampião
Meu compadre eu juro a vós
nem a morte separa nós
nas lutas neste Sertão.

Ao desprender-se do corpo
de Antonio já sem vida
Lampião olhou pra Luis
que com a vós estremecida
disse para Virgulino:
me mate sou assassino.
Mas lampião em seguida.

Abraçou com Luis Pedro
com tristeza e comoção
dizendo: tenha coragem
me dê aqui sua mão
porque de agora em diante
você pra mim é importante
como foi o meu irmão.

Luis você não tem culpa
não aumente a desgraça
Antonio com certeza está
ao lado da Divina Graça
foi morar com Mãe e Pai
e com Livino que em paz
agora mesmo lhe abraça.

Depois sepultou Antonio
Junto a um pé de cajarana
a dor da sua familia
troturava sua alma humana
e com um punhal na mão
desafiou a assombração
por mais de duas semanas.

E seguido por seus cabras
rumou para o Ceará
mas ninguém compreendia
o que estava a falar
e nas estradas do Sertão
vagou louco o capitão
que não podia chorar.

Um mês depois do ocorrido
a policia descobriu
a cova de Antonio Ferreira
e o comandante pediu
que arrancasse com o facão
a cabeção e então
municiou seu fuzil.

e ordenou que numa estaca
aquela cabeça fincasse
mandando aos soldados
que todos nela atirasse
e deixaram-na abandonada
na beira de uma estrada
pra mostrar pra quem passasse.

Que o cangaço já era
que ele era o melhor
cangaceiro não prestava
não tinha alma e o pior
era filho de chocadeira
raça ruim desordeira
espécie de marca maior.

Manuel Neto era o chefe
dessa força policial
que agia em Pernambuco
sem escrúpulo, sem moral
E assim tão desumano
profanou um corpo humano
dessa forma irracional.

Assim era a policia
grande força desordeira
irmã contrária ao cangaço
fazendo à própria maneira
equipada, armada e forte
espalhando medo e morte
tendo a Lei como bandeira.

Muitas vezes Lampião
sepultava os inimigos
encomendando suas almas
para serem absolvidos
porque não era fraterno
deixa-lo sofrer no inferno
como sofrem os excluídos.

Que vivem no meu Sertão
sem ter direito ao direito
sem terra e se comida
mas elegendo o Prefeito,
Governador e Presidente
depositando nessa gente
o seu sonho já desfeito.

Sou poeta por que sou
nasci assim e acredito
que meu verso é um Dom
de Deus Pai do Infinito
Fraternidade e razão
tenho fé que meu Sertão
ainda será mais bonito.


Pádua de Queiróz

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