02/01/2011

PÁDUA DE QUEIRÓZ

para VARNECI NASCIMENTO
que definiu com muita propriedade a literatura de cordel:
"....dificil de escrever, porém fácil de entender."


LAMPIÃO EM SERGIPE - 1929

No ano de vinte e nove
Virgulino, o Lampião
Provou porque era mesmo
"O Governador do Sertão"
Quando passou em Sergipe
Simplesmente, acredite
Sem disparar um rojão.

Com o seu grupo formado
De nove "cabras"valentes:
Volta Seca e Ezequiel,
Moderno e Arvoredo na frente,
Fortaleza e Gavião,
Zé Baiano,Gato e Mourão
Chegaram então de repente.

Lá na pequena Carira
E escreveu ao delegado
Felismino Dionisio
Mostrando ser educado
Pedindo autorização
Mas o delegado, em vão
Já havia se ausentado.

Seis soldados possuia
Todo destacamento
Da pequena Carira
Então naquele momento.
Mas somente dois ficaram
Os demais se debandaram
Fugindo daquele evento.

Quando Lampião ficou
Sabendo do acontecido
Elogiou a coragem
Dos soldados destemidos
E foi ele pessoalmente
Parabenizar,com presentes
Aos seus novos protegidos.

Porque um homem valente
Não se devia matar
Era preciso viver
No Sertão para honrar
A fama de "cabra macho"
Cabra de coragem e facho
Era pra cria botar.

E ali o povo sem medo
Foi conhecer Lampião
Que sob salva de palmas
De toda população
Seguiu meio desconfiado
O seu rumo intencionado
Sumindo na escuridão.

Pernoitou naquela noite
Na casa de um fazendeiro
Que acolheu sem protesto
O grupo de cangaceiros
Que de manhã bem cedinho
Rumou para sobradinho
Agradecendo ao "coiteiro".

Na entrada da Cidade
Sergipana, entrincheirou
Lampião todo o seu bando
E por um portador mandou
Um bilhete ao Intendente
Solicitando urgente
E assim ele relatou:

"Se quiser que eu entre em paz
Por favor venha até aqui.
Se não vier entro a bala
E acabo com tudo ai..."
A Cidade apavorada
Ficou com as mãos atadas
Tendo Lampião ali.

O Prefeito comunicou
Ao delegado a questão
Que respondeu:Tu tá doido,
Vá receber o Capitão!
O destacamento fugiu
No meio do mato sumiu
Com medo de Lampião!

Ele nem mesmo pensou
Duas vezes no assunto
Chamou o dito emissário
E com ele partiu junto
Para a entrada da Cidade
E disse sem autoridade:
O que queres,lhe pergunto?

Lampião, disse:Prefeito,
Me escute afinal.
Vocês diz que sou bandido
Mas não ando fazendo mal
A quem mal não me faz
Por isso fique em paz
E bote no meu embornal.

Vinte conto de réis
Somente pra me ajudar.
Que eu prometo Prefeito
Nenhum estrago causar,
A vida de Cangaceiro
Sem comer,bala e dinheiro
Não tem como se sustentar!

E o prefeito lhe alegou
Não possuir tal quantia,
O comércio enfraquecido
Com a seca que consumia.
E Lampião sem demora
Retroncou na mesma hora:
Também vivo essa agonia!

São quatorze anos de seca
Sendo nove de Cangaço,
Me dê ao menos seis contos
Não me cause embaraço.
Para tudo tem um jeito
Me ajude, seu Prefeito
E mal nenhum eu lhe faço!

E sairam em comissão:
O prefeito e o delegado,
O padre e o telegrafista
Em busca do solicitado.
Nos comércios e fazendas
Arrecadaram a renda
Conforme o estipulado.

A receber o dinheiro
Com muita satisfação,
Agradeceu comovido
Dizendo assim Lampião:
Eu sei que foi de bom grado
Por isso muito obrigado
Gente de bom coração!

E na madrugada partiu
Seguindo pra Aquidabã
Chegando nessa Cidade
Com o Sol da Alta manhã
Onde foi bem recebido
Nem parecia um "bandido"
Arrodiado de fã.

O prefeito e o juiz,
E o povo todo festeiro
Prestaram grande homenagem
Ao maior dos Cangaceiros,
Que rumou para Bahia
Levando como dizia:
"Coragem,bala e dinheiro!"

inn memória de PEDRO CHAVES PITOMBEIRA.

POETA PÁDUA DE QUEIRÓZ

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns! Por mais um trabalho fantástico. e fico muito honrado pela homenagem ao Pitombeira.

Cesar Pitombeira.