EU SÓ SEI QUE FOI ASSIM
Eu
queria ser João Grilo
Sabido
que ele só
Mas
na realidade eu pareço
Com
o seu amigo Chicó
Eu
confesso sou medroso
E
por demais mentiroso
Minto
tanto que dá dó.
Por
isso preste atenção
Na
minha arte de rimar
Mas
antes eu sei que é preciso
Um
café com letras tomar
Para
aguçar a memória
Pois
faz parte da historia
“O
homem de Taperoá”.
Ariano
Vilar Suassuna
Dramaturgo,
ensaísta,
Poeta
e professor,
Paraibano
romancista
Na
arte de escrever
Não
me acanho em dizer
Foi
o maior dos artistas.
Ele empunhou a bandeira
Do Nordeste cultural
Criando em Pernambuco
O movimento armorial
Com o único objetivo
O apoio expressivo
A cultura regional.
Música, dança e teatro,
Literatura de Cordel
As raízes nordestina
Ariano foi fiel
E nossa grande fortuna
É a arte que Suassuna
Deixou ao partir pro Céu.
Baturité, minha terra
De gente maravilhosa
Vou lhe contar uma história
E que não ficou famosa
Que um dia acorreu comigo
Preste atenção no que digo
Não vá pensar que é prosa.
Eu ainda era menino
Mas me lembro muito bem
No Bairro do Putiú
Perto da estação do trem
Eu brincava com o wedney
Com um brinquedo que ganhei
Chamado de “vai-e-vem”.
Nisso o povo ia passando
Vendo nós dois animados
Eu de um lado do trilho
E meu amigo do outro lado
Com aquele novo brinquedo
Tranquilamente sem medo
Eu estava mesmo encantado.
Era uma bola bicuda
Transpassada por cordão
Sorriamos de orelha a orelha
Com tamanha diversão
Se eu puxava ela ia
Se ele puxava ela vinha
Êita, que animação!
Mas algo naquela hora
Estava acontecendo
Começou a chegar gente
Lá na estação correndo
Todo mundo na cidade
E com aquela novidade
Nem estávamos percebendo.
Toda aquela agitação
Todo aquele aperreio
Foi quando eu ouvi um grito:
Meninos, saiam do meio
Que o trem das sete horas
Tá chegando ali agora
E totalmente sem freio!
Eu olhei para o wedney
Que também olhou pra mim
Eu disse: Nossa senhora!
Que desgraceira sem fim!
Eu só vi o trem chegando
E o maquinista apitando
Foi exatamente assim.
Foi tão rápido o acontecido
O trem sem freio apitando
E era gente correndo
E era gente gritando
Porem eu não senti medo
Não larguei o meu brinquedo
Fiquei ali segurando.
Do outro lado do trilho
O wedney sustentou
Em suas mãozinhas o vai-e-vem
No momento o trem passou
Eu só senti um puxão
E um tremor em minha mão
E foi ai que o trem parou.
Um fumaceiro danado
Cobriu todo o ambiente
Eu tentei mais não vi nada
Que estava a minha frente
Um silencio sepulcral
Tomou conta do local
Não ouvi um “pio” de gente.
É um milagre! É um milagre!
Começaram a gritar.
E os passageiros do trem
depressa a desembarcar
Correndo em direção a praça
E de repente a fumaça
Dissipou-se no ar.
Foi ai que eu percebi
Que ainda eu tinha na mão
A cordinha do vai-e-vem
E ali eu dei um puxão
E o wedney do outro lado
Disse: puxe com cuidado
Pra que tanta afobação!
Ei, Padinha, desse jeito
Você vai me derrubar
Deixe de brutalidade
Assim eu não vou mais brincar!
Fique com o seu vai-e-vem
Olha só, até o trem
Chegou para atrapalhar!
Foi quando chegou ali
O chefe da estação
Dizendo então para nós:
Queremos uma explicação!
E não deixem pra depois
Como é que vocês dois
Pararam a composição?
E eu sem entender nada
E o wedney também
Devagar fomos enrolando
O brinquedinho vai-e-vem
Nós estávamos “P” da vida
Por ter sido interrompida
A brincadeira pelo trem.
Cada qual foi pra sua casa
Porque já era noitinha
O Wedney pra casa dele
E eu fui pra casa minha
Eu guardei o meu brinquedo
E guardei esse segredo
Não contei pra minha mãezinha.
Só que esse ocorrido
Nunca foi noticiado
No jornal da capital
Do meu querido estado
Nem rádio e televisão
Nenhuma notificação
Do tal trem desgovernado.
Eu tinha só onze anos
Mas ainda eu guardo em mim
Lembranças da minha infância
Que parece não ter fim
Sou poeta nordestino
Mas te digo “Seu menino”
EU SÓ SEI QUE FOI ASSIM!
Ariano Suassuna
É hoje homenageado
Vai o homem e fica a obra
Como o maior legado
Eu sou Pádua de Queiróz
E Deus proteja todos nós
Até logo e obrigado!
BATURITÉ – 19/11/2017
Pádua de Queiróz
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