23/10/2019

CORDEL DO POETA ABELARDO NOGUEIRA DEDICADO AO CHICO SOARES, QUE COMPLETOU 101 ANOS


CHICO SOARES 100 ANOS. UMA HISTÓRIA DE VIDA.
Poeta Abelardo Nogueira - Aracoiaba - Ce, setembro de 2018
Peço  licença aos leitores
Que gostam de apreciar
As coisas da sua terra
O povo do seu lugar
A nossa literatura
A cultura popular.


Qualquer um bom nordestino
Nascido nesse torrão
Pois, não desconhece a sina
Nem usa de ingratidão
Não apaga da memória
Nem tira do coração.


Não importa quantas linhas
A forma como se deu
O lugar do seu enredo
O tempo que aconteceu
Feliz de quem nesta vida
Sua historia escreveu.


Cada um em cumprimento
Do modo que lhe convém
Ao resgatar seu passado
Outra vez vive, porém
Ter historia pra contar
É bom. Pior quem não tem.


Portanto, em mais um versejo
No formato de cordel
Faço jus a esta causa
Num importante papel
Ao falar de um ser humano
Para o qual tiro o chapéu.


O Mestre Chico Soares
De Lagoa de São João
Que ousa do privilégio
De gozar desta benção:
Completa Cem primaveras
Nesta peregrinação.


Um século de existência
Só quem vive, pra contar
Sabe do peso da lida
Do que teve que enfrentar
Pra ser reto, bom e digno
Sem cair nem fraquejar.


Este Ser enciclopédico
De feitos conjunturais
Requer ao biografar
Registros especiais
Que nos remete ao período
Do regresso dos seus pais.


Sua mãe, Maria Alves
Mariá ou mariana
Sendo Catolé do Rocha
A terra da qual emana
Foi uma grande mulher
Uma grão paraibana.


Seu pai nasceu em Exu
A terra de Gonzagão
Porém, foi seu percussor
E daquela região
fugiu para o Ceará
por causa do Lampião.


José Soares não tinha
Instinto de cangaceiro
Não queria fazer parte
Daquele triste roteiro
Que apavorava o sertão
E o Nordeste brasileiro.


Foi vendido num comboio
Com mais dois veio amarrado
No distrito de Vazante
Pela sorte ironizado
Como se fosse objeto
Ali foi negociado.


Mil novecentos e treze
Eis o ano em que chegou.
Em quatorze, Mariá,
Logo também aportou
Com ela José Soares
Em dezesseis se casou.


Sete filhos conceberam
Conforme bem procedeu
Em Varjota se criaram
E Vazante os acolheu,
Deles, foi Chico Soares,
O primeiro que nasceu.


Oito anos se passaram
Naquele belo torrão.
Mas, em busca de melhoras
Embora, na região,
A família se mudou
Pra Lagoa de São João.


Foram eles pioneiros
Vindos de outro lugar
Abeirando a lagoa
Com terras pra trabalhar
Numa simples moradia
Vieram a se instalar.


Tudo cresceu sem demora
Tão logo a prole aumentou,
Seu Chico, jovem formoso,
Às donzelas, encantou,
Até a própria beleza
Por ele se apaixonou.


Um moço bem apanhado
Olhos azuis, cativante...
De virtudes valiosas
Cujo vigor, invejante
Em seu corpo emoldurado
Saltava-se ao semblante.


As mulheres cobiçavam
Convenhamos afirmar:
Um mancebo como ele
Nunca se viu no lugar,
Por isso todas queriam
Pois, com ele se casar.


Foi assim que ocorreu
Por espontânea vontade.
E, com Francisca das Chagas
Da própria localidade
Seu Chico, então se casou
Com vinte anos de idade.


Juntos se completavam
Naquela constelação.
Seu Chico e Dona Chagas
Lidavam na criação
Aos filhos nunca faltava
Amor e dedicação.


Escola não conheceu
Porém, vale ressaltar,
Em apenas sete dias
Aprendeu a soletrar
Portanto, em uma semana
Veio a se alfabetizar.


Esforçado no trabalho
A coragem lhe valia
De tudo um pouco plantava
Boa safra produzia
Várias espécies criava
Para sua serventia.


Plantava milho e arroz
Além de fava e feijão
Mandioca e macaxeira
E também o algodão
Pra consumo e para venda
Em outra repartição.


Criava boi e cavalo
Um jumento, uma burrinha
Bode, porco e ovelha
Peru, capote e galinha
Dava gosto só de ver
No terreiro da cozinha.


Desafiava o perigo
Tal gigante aventureiro
Era o mato a sua praia
O cavalo um companheiro
Pegando boi na caatinga
Na profissão de vaqueiro.


O seu feito de coragem
Por tempos representou
Sinal de força e bravura
Nas lutas que o consagrou
Como um herói do sertão
Que sua marca deixou.


Sócio na cooperativa
De Aracoiaba, e vendeu
Toda sua produção
Por muito tempo e perdeu
O pagamento ou dinheiro
Porém, nunca recebeu.


Vazante e Rua do fogo
Foi onde morou primeiro.
Encosta, Volta e Varjota
E seguindo seu roteiro
Em Pajuçara se deu
Pois, um fato corriqueiro.


Imaginem os leitores
Seu Chico pra variar,
Foi tangendo uma porca
Até aquele lugar
Chegando por lá, ficou
E se esqueceu de voltar.


Ficou cuidando da porca
Enquanto isso também
Morava de frente à linha
Perto da estação do trem
Somente para contar
O povo no vai e vem.


Em suas tantas proezas
A uma se fez menção:
Levantava com os dentes
Uma saca de feijão
Pesando sessenta quilos
Sem triscar sequer, a mão


Um típico sertanejo
A quem não falta esperteza
Usa sua inteligência
A qual dispõe com franqueza
Para entender os fenômenos
Presentes na natureza


Sabe  das experiências
Se chove ou não no roçado
Há quase sessenta anos
O que diz é comprovado
Virou Profeta da chuva
Conhecido em todo Estado.


Sua fama já cresceu
Ao longo do interior
O Secretário Piúba
Reconheceu seu valor
E agora virou amigo
Até do Governador.


Outrora mascava fumo
Era moda corriqueira
Comprava fumo de rolo
Na bodega ou na feira
Fazias os seus cigarros
Fumava a semana inteira.


Quando ia tirar leite
Já botava o avental
Acendia seu peduro
E fazia um fumaçal
Pra espantar os mosquitos
Que havia lá no curral.


Em tempos de noite fria
Esquentar-se era o mais certo.
Ao invés de fazer fogo
E se acocorar bem perto
Tomava uma zinebra
Pro mode ficar esperto.


Era contador, de fato
Interprete talentoso
Dava vida a muitas lendas
Causuísta fabuloso
Um fenômeno na arte
Das estórias de trancoso.


Boa prosa não faltava
Em qualquer situação
Sempre fora convidado
Pois, em toda região
Para animar as noitadas
Nas debulhas de feijão.


O primeiro filiado
Ao partido do PT
Aqui em Aracoiaba
E, para melhor dizer
Até hoje vota no Lula
Jamais veio a se vender.


Nunca elegeu um Prefeito
Por uma simples razão:
Não apoiava a direita
Nem se fosse um ricão
Embora perdesse o voto
Votava na oposição.


Aliás, um grande exemplo
Que nos honra, por sinal
Na conjuntura presente
No Brasil do lamaçab  l
Quantos Chicos precisamos
No Congresso Nacional.


Prestativo, entretanto,
Por de mais hospitaleiro
Quem chegar em sua casa
Sendo ou não interesseiro
Qualquer coisa ele oferece
Se duvidar, dá dinheiro.


Desta forma desconhece
A tal da economia
Prato cheio, mesa farta
Rede nova e água fria
E quem não acreditar
Vá lhe visitar um dia.


Seu Chico aprendeu no tempo
Que Senhora e Senhor
Era sinal de respeito
E um gesto promissor
A palavra tinha honra
E honra tinha valor.


Um cumpridor do destino
Da sorte não se furtava
Duas vezes se casou
Igualmente enviuvava
Hoje lembra com apreço
As coisa que partilhava.


A sua segunda esposa
Dona Luzia Pereira
Uma grande baluarte
Outra nobre companheira
Cedo partiu lhe deixando
Para sorte derradeira.


Seis filhos foram as dádivas
Do enlace venturoso
São parte de uma história
De um enredo valoroso
Premiado pelo OSCAR
Por ser o melhor ESPOSO.


Quantos prêmios ganharia
Pelo que empreendeu
Foram tantas provações
Os feitos que concorreu
As vitórias auferidas
Nas batalhas que venceu.


Em Cem anos de existência
Neste plano consequente
Palmilhou muitos caminhos
Não parou, seguiu em frente,
De tudo restou saber
Ser a vida o seu presente.


Nas linhas deste relato
No seu vasto paginar
É certo que ainda tem
Muita coisa a acrescentar
Talvez outros tantos livros
Para tudo registrar.


Contudo, embora singelo
Neste meu distinto plano
Muito me honra falar
Deste grande ser humano
Que hoje colhe as benesses,
Presente do Soberano.


Qual distinto cidadão
Que jamais, sem se cansar
Todos nós com muito amor
E gratidão singular
Viemos agradecer
E lhe parabenizar.


Ao Mestre Chico Soares
Nessa alegria contida
A Deus ainda pedimos
Caso seja merecida
Apenasmente uma graça:
Mais uns Cem anos de vida.

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